Saturday, November 12, 2005

Cidade Baixa (2005)



Os créditos iniciais de “Cidade Baixa”, de Sérgio Machado, já prevêem o maior dos conflitos que irão existir no filme. O diretor utiliza um recurso muito interessante no momento em que ele apresenta a sua dupla de atores principais: Lázaro Ramos X Wagner Moura. O uso do “X” coloca os dois atores em lados opostos de um ringue, em uma luta constante – seja por causa dos personagens que interpretam ou, na melhor das hipóteses, em um duelo de atuações (afinal, Ramos e Moura são dois dos melhores talentos da nova geração de atores brasileiros).

Em “Cidade Baixa”, os dois amigos na vida real interpretam os também inseparáveis Deco e Naldinho. A dupla é proprietária de um barco de pesca e ganha a vida transportando mercadorias de uma cidade baiana à outra. Em uma destas viagens, Deco e Naldinho vão conhecer a bela e sensual Karina (Alice Braga, a Angélica de “Cidade de Deus”). A garota trabalha como prostituta, quer ir para Salvador para “pegar um gringo antes do Carnaval” e acaba pegando carona no barco dos dois amigos.

Enquanto partem rumo à Salvador, Deco e Naldinho se envolvem com Karina. O triângulo amoroso irá continuar na capital baiana, com os dois amigos se revezando em carícias com Karina, ao mesmo tempo em que quebram o princípio que fundamenta a amizade deles: o de que nenhuma mulher irá se meter no caminho dos dois. No entanto, Karina cumpre bem o seu papel de principal vértice do triângulo amoroso e envolve Deco e Naldinho no seu jogo de sedução, pondo um amigo contra o outro ao fazer nascer os sentimentos de desconfiança e traição entre eles.

“Cidade Baixa” se passa justamente no submundo de Salvador, num local marcado pela intriga, pela violência, pelo ciúme, pela luxúria e pelo sexo. O roteiro de Sérgio Machado e Karim Ainouz (o mesmo de “Madame Satã”) irá enfatizar principalmente algo que existe em excesso neste submundo: a intensidade – seja na amizade entre Deco e Naldinho, na paixão que eles sentem por Karina e na própria personalidade dos três personagens. Por isso mesmo, o que se sobressai no filme é a performance de Lázaro Ramos, Wagner Moura e Alice Braga. A química existente entre eles torna verossímeis todos os acontecimentos retratados na tela e justificam também o sentimento que invade Deco, Naldinho e Karina no final de “Cidade Baixa”. A impressão que se tem no término do filme é a de que acabamos de assistir à dramatização de uma história de Nelson Rodrigues; mas uma que traz uma resignação e que deixa nas mãos dos espectadores a responsabilidade de finalizar a história.

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