Thursday, December 28, 2006

Lista de Desejos para 2007

Para finalizar, como é de costume nessa época, as pessoas tendem a fazer listas com aquilo que gostariam de fazer ou de conquistar no ano novo que se inicia. Para ser coerente com o tema deste blog – cinema – vou fazer minha lista de desejos, com os filmes que eu mais anseio assistir em 2007.

Lista de Desejos Para 2007 (aqui, a ordem é de preferência mesmo)

01. Dreamgirls (EUA, 2006)
Diretor: Bill Condon
Elenco: Jamie Foxx, Beyoncé Knowles, Eddie Murphy, Danny Glover, Anika Noni Rose, Keith Robinson, Sharon Leal e apresentando Jennifer Hudson.
Se você quiser assistir ao trailer de “Dreamgirls”, clique aqui.

02. Shut Up and Sing (EUA, 2006)
Diretoras: Barbara Kopple e Cecilia Peck (filha do ator Gregory Peck)
Elenco: Martie Maguire, Natalie Maines e Emily Robison.
Se você quiser assistir ao trailer de “Shut Up and Sing”, clique aqui.

03. The Painted Veil (EUA, 2006)
Diretor: John Curran
Elenco: Naomi Watts, Edward Norton, Liev Schreiber, Diana Rigg, Toby Jones.
Se você quiser assistir ao trailer de “The Painted Veil”, clique aqui.

04. Babel (EUA, México, 2006)
Diretor: Alejandro Gonzalez-Iñarritu
Elenco: Brad Pitt, Cate Blanchett, Gael Garcia Bernal, Adriana Barraza, Rinko Kikuchi.
Se você quiser assistir ao trailer de “Babel”, clique aqui.

05. Zodiac (EUA, 2007)
Diretor: David Fincher
Elenco: Jake Gyllenhaal, Mark Ruffalo, Robert Downey Jr., Brian Cox, Anthony Edwards, Chloe Sevigny.
Se você quiser assistir ao trailer de “Zodiac”, clique aqui.

06. The Bourne Ultimatum (EUA, 2007)
Diretor: Paul Greengrass
Elenco: Matt Damon, Joan Allen, David Strathairn, Julia Stiles, Paddy Considine.

07. Letters From Iwo Jima (EUA, 2006)
Diretor: Clint Eastwood
Elenco: Ken Watanabe, Kazunari Ninomiya, Shido Nakamura.

08. Evening (2007)
Diretor: Lajos Koltai (diretor de fotografia de filmes como “Adorável Julia” e “Malèna”)
Elenco: Eileen Atkins, Glenn Close, Toni Collette, Hugh Dancy, Claire Danes, Vanessa Redgrave, Natasha Richardson, Meryl Streep, Patrick Wilson.

09. Grind House (EUA, 2007)
Diretores: Robert Rodriguez e Quentin Tarantino
Elenco: Naveen Andrews, Josh Brolin, Rosario Dawson, Rose McGowan, Freddy Rodriguez, Kurt Russell, Marley Shelton, Tracie Thoms.
Se você quiser assistir ao trailer de "Grind House", clique aqui.

10. American Gangster (EUA, 2007)
Diretor: Ridley Scott
Elenco: Russell Crowe, Denzel Washington, Josh Brolin, Carla Gugino.

Faltou espaço para "Notes on a Scandal" (2006, Inglaterra, dir. Richard Eyre), "Little Children" (EUA, 2006, dir. Todd Field), “The Last King of Scotland” (EUA, Inglaterra, 2006, dir. Kevin MacDonald), “Half Nelson” (EUA, 2006, dir. Ryan Fleck), “Pride & Glory” (EUA, 2007, dir. Gavin O’Connor), “Atonement” (2007, dir. Joe Wright), “The Assassination of Jesse James” (EUA, 2007, dir. Andrew Dominic), “A Mighty Heart” (2007, dir. Michael Winterbottom), “Sin City 2” (EUA, 2007, dir. Robert Rodriguez e Frank Miller), “My Blueberry Nights” (2007, dir. Wong Kar Wai), “Curse of the Golden Flower” (Hong Kong, China, 2006, dir. Zhang Yimou), “The Good German” (EUA, 2006, dir. Steven Soderbergh), “The Good Shephard” (EUA, 2006, dir. Robert de Niro), “Goya’s Ghosts” (Espanha, 2006, dir. Milos Forman), “Fur – An Imaginary Portrait of Diane Arbus” (EUA, 2006, dir. Steven Sheinberg), “The Pursuit of Happyness" (EUA, 2006, dir. Gabriele Muccino), dentre muitos outros, que fazem parte do meu interesse cinematográfico para o próximo ano, e merecem uma citação.

Gostaria de desejar a todos e às suas famílias um 2007 cheio de realizações e de bênçãos. Obrigada pela visita, pelas discussões e, espero que, em 2007, possamos ver e debater uma maioria de boas histórias, para variar um pouco.

Os Melhores de 2006

O ano de 2006 para o cinema foi, praticamente, uma reprise do ano de 2005. Bons filmes nos meses de janeiro, fevereiro e março (na temporada que antecipa o Oscar); alguns filmes eletrizantes nos meses de maio, junho e julho (a temporada do Verão norte-americano) e a volta dos bons filmes nos meses de outubro, novembro e dezembro (novamente, o início da temporada que antecede o Oscar). Nesse ínterim, alguns filmes interessantes, muitos descartáveis e a prova de que a crise que abala a indústria cinematográfica é muito mais grave do que se pensa – tendo em vista a quantidade de refilmagens e de péssimas idéias de roteiro que aportaram nas salas de cinema de todo o mundo.

A lição que fica é a de que está cada vez mais raro encontrar e contar de maneira adequada uma boa história.

Como fizemos no final de 2005, esta é a hora de fazermos aquelas listas com os melhores e piores de 2006. Vamos começar, então, com aquilo que de melhor foi produzido em termos de cinema neste ano que está terminando.

10 Melhores Filmes de 2006 (de acordo com a data de lançamento nos cinemas brasileiros)

01. A Rainha (The Queen, Inglaterra, França, Itália, 2006, dir. Stephen Frears)
02. Vôo United 93 (United 93, França, Inglaterra, EUA, 2006, dir. Paul Greengrass)
03. Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, EUA, 2006, dir. Jonathan Dayton e Valerie Faris)
04. Boa Noite, e Boa Sorte (Good Night, and Good Luck, EUA, 2005, dir. George Clooney)
05. O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain, EUA, 2005, dir. Ang Lee)
06. Zuzu Angel (Brasil, 2006, dir. Sérgio Rezende)
07. Superman – O Retorno (Superman Returns, Austrália, EUA, 2006, dir. Bryan Singer)
08. Orgulho e Preconceito (Pride & Prejudice, Inglaterra, 2005, dir. Joe Wright)
09. Johnny & June (Walk the Line, EUA, 2005, dir. James Mangold)
10. A Marcha dos Pinguins (March of the Penguins, La Marche de L´Empereur, França, 2005, dir. Luc Jacquet)

Melhores Atuações Masculinas de 2006 (em ordem alfabética, não por ordem de preferência)

Christian Bale, O Grande Truque
Paul Dano, Pequena Miss Sunshine
Leonardo DiCaprio, Os Infiltrados
Aaron Eckhart, Obrigado por Fumar
Hugh Jackman, O Grande Truque
Sergi López, O Labirinto do Fauno
Jack Nicholson, Os Infiltrados
Edward Norton, O Ilusionista
Michael Sheen, A Rainha
Patrick Wilson, MeninaMá.com

Melhores Atuações Femininas de 2006 (em ordem alfabética, não por ordem de preferência)

Abigail Breslin, Pequena Miss Sunshine
Penélope Cruz, Volver
Maggie Gyllenhaal, As Torres Gêmeas
Anne Hathaway, O Diabo Veste Prada
Helen Mirren, A Rainha
Ellen Page, MeninaMá.com
Patrícia Pillar, Zuzu Angel
Blanca Portillo, Volver
Meryl Streep, O Diabo Veste Prada e A Última Noite

Os Piores de 2006

Agora, vamos ao que de pior foi produzido pelo cinema no ano de 2006.

10 Piores Filmes de 2006 (de acordo com a data de lançamento nos cinemas brasileiros)

01. Casseta e Planeta – Seus Problemas Acabaram (Brasil, 2006, dir. José Lavigne)
02. Uma Comédia Nada Romântica (Date Movie, EUA, 2006, dir. Aaron Seltzer)
03. Assombração (Gwai Wik, Re-Cycle, Tailândia, Hong Kong, 2006, dir. Oxide Pan Chung e Danny Pang)
04. O Sacrifício (The Wicker Man, Alemanha, EUA, 2006, dir. Neil LaBute)
05. Instinto Selvagem 2 (Basic Instinct 2, Alemanha, Espanha, Inglaterra, EUA, 2006, dir. Michael Caton-Jones)
06. Gatão de Meia Idade (Brasil, 2005, dir. Antônio Carlos da Fontoura)
07. O Pequenino (Little Man, EUA, 2006, dir. Keenan Ivory Wayans)
08. Fica Comigo Esta Noite (Brasil, 2006, dir. João Falcão)
09. O Albergue (Hostel, EUA, 2005, dir. Eli Roth)
10. Todo Mundo em Pânico 4 (Scary Movie 4, EUA, 2006, dir. David Zucker)

Piores Atuações Masculinas de 2006 (em ordem alfabética, não por ordem de preferência)

Orlando Bloom, Piratas do Caribe 2 – O Baú da Morte
Adam Campbell, Uma Comédia Nada Romântica
James Franco, Flyboys
LL Cool J, As Férias da Minha Vida
Thiago Lacerda, Se Eu Fosse Você
Vinícius Miranda, Tapete Vermelho
Nathan Phillips, Serpentes a Bordo
Adam Sandler, Click
Marlon Wayans, O Pequenino
Luke Wilson, Minha Super Ex-Namorada

Piores Atuações Femininas de 2006 (em ordem alfabética, não por ordem de preferência)

Katie Beahan, O Sacrifício
Cindy Cheung, A Dama na Água
Cameron Diaz, O Amor Não Tira Férias
Kate Isitt, Protegida por um Anjo
Juliana Knust, Achados e Perdidos
Angelica Lee, Assombração
Bai Ling, Um Cara Quase Perfeito
Camila Pitanga, Mulheres do Brasil
Fiona Shaw, A Dália Negra
Sharon Stone, Instinto Selvagem 2

Wednesday, December 27, 2006

O Amor Não Tira Férias (The Holiday, 2006)


A diretora e roteirista Nancy Meyers é uma verdadeira estudiosa dos relacionamentos humanos. Nos seus dois últimos filmes, “Do que as Mulheres Gostam” e “Alguém Tem que Ceder”, as relações entre os homens e as mulheres nas suas diferentes formas – a profissional, a amorosa e a de amizade – foram os temas principais. O mesmo é o caso de “O Amor Não Tira Férias”, seu mais novo filme.

A trama do filme gira em torno de duas mulheres. A londrina Iris (Kate Winslet), jornalista especializada em reportagens sobre casamentos, que é romântica e cometeu o “erro” de se apaixonar perdidamente pelo colega de trabalho Jasper (Rufus Sewell, o coadjuvante de luxo do ano de 2006) – que não corresponde ao sentimento e, ainda por cima, vai se casar. E a norte-americana Amanda Woods (Cameron Diaz), uma montadora de trailers de filmes, que é viciada em trabalho, fria e distante e possui um relacionamento com o compositor Ethan (Edward Burns) – que está traindo-a com uma recepcionista de 24 anos.

A decepção com os homens faz com que Iris e Amanda tomem uma decisão drástica: a de se afastar de tudo e de todos durante a época do Natal. As duas, então, entram em um programa de intercâmbio de casas. Dessa forma, Iris troca o seu bucólico, simples e aconchegante chalé no interior da Inglaterra pelo luxo, conforto e grandiosidade da mansão de Amanda; e vice-versa.

Como diz o velho ditado: se uma porta se fecha, outras irão se abrir. No caso particular de Iris e Amanda, isso irá acontecer de forma literal e as transformações pelas quais as duas irão passar englobarão muito mais do que a mudança de ares. Ao conhecer o roteirista aposentado de Hollywood Arthur Abbott (Eli Wallach), seus amigos, e o compositor Miles (Jack Black), Iris se tornará uma mulher confiante, com ótima auto-estima e pronta para amar novamente. Já Amanda, que conhece Graham (Jude Law), o irmão de Iris, vivenciará o amor da maneira mais idealizada possível.

Em “O Amor Não Tira Férias”, Nancy Meyers criou duas tramas paralelas que estão muito bem unidas, pois falam sobre o amor de uma maneira real. Claro que, durante o filme, veremos aqueles tão conhecidos clichês do cinema, mas, para “O Amor Não Tira Férias”, o que importa é perceber – na sua mais pura forma – que a receita para amar passa, em primeiro lugar, pelo amor próprio. O clima do filme é leve e divertido, e toda essa descontração está colocada na grande tela pelo ótimo elenco do filme, em especial Kate Winslet (como é bom vê-la genuinamente bela e feliz num filme), Jack Black, Eli Wallach, Jude Law e pelas atrizes mirins Miffy Englefield e Emma Pritchard (que participam de um dos momentos mais legais de “O Amor Não Tira Férias”). A única que destoa do resto do elenco é Cameron Diaz, que, em nenhum momento, consegue despertar a simpatia pela sua Amanda.

Cotação: 7,8

Crédito Foto: IMDB

Tuesday, December 26, 2006

Eragon (2006)


Desde o sucesso dos filmes da trilogia “O Senhor dos Anéis”, do diretor neozelandês Peter Jackson, os estúdios de cinema têm procurado uma nova franquia no estilo aventura e fantasia. Alguns candidatos já foram apresentados, como “Desventuras em Série”, do diretor Brad Silberling, e “As Crônicas de Nárnia – O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa”, do diretor Andrew Adamson. Agora, chegou a vez de “Eragon”, do diretor Stefen Fangmeier, se submeter ao julgamento do público.

Baseado no livro do jovem prodígio Christopher Paolini, “Eragon” se passa numa terra dominada por um único rei chamado Galbatorix (John Malkovich). Todos os focos de resistência contra o regime se encontram isolados e controlados. Estes grupos persistem pela esperança de que a lenda de que os Cavaleiros do Dragão irão ressurgir se torne realidade.

É isto o que irá acontecer quando o jovem fazendeiro Eragon (Ed Speelers) encontra o que aparenta ser uma pedra preciosa. O tempo irá revelar que, na verdade, a pedra é o ovo de um dragão. O nascimento de Safira (dublada pela atriz Rachel Weisz) é a confirmação de que a lenda era verdadeira e que Eragon dará início a uma nova linhagem de Cavaleiros do Dragão.

Este acontecimento marca o início de duas novas etapas na trama de “Eragon”. A primeira acompanha a transformação do corajoso e tolo Eragon em um grande cavaleiro e mago – tendo como mentor, o ex-cavaleiro Brom (Jeremy Irons). A segunda acompanha a luta do rei Galbatorix e de seu maior “soldado”, o horripilante Durza (Robert Carlyle) – um homem possuído por entidades demoníacas – para impedir que Eragon transforme a lenda em realidade e, em conseqüência disso, coloque o seu domínio em xeque.

O diretor Stefen Fangmeier privilegia muito o desenvolvimento da trama adaptada pelo roteirista Peter Buchman. Poucas são as cenas de combate, mas quando elas acontecem são muito bem feitas e dirigidas. No entanto, o que mais se sobressai em “Eragon” é o seu elenco. De um lado, encontramos atores mais experientes, como John Malkovich, Jeremy Irons, Robert Carlyle e Djimon Hounsou (que interpreta o líder de um dos grupos de resistência ao regime de Galbatorix). Do outro, se encontram atores mais jovens e com pouca experiência, como Ed Speelers, Garrett Hedlund (que interpreta Murtagh, o filho de um Cavaleiro de Dragão que traiu a sua ordem) e Sienna Guillory (que interpreta a princesa Arya). Os mais veteranos, especialmente Carlyle (cujo personagem, sem dúvida alguma, é a melhor coisa de “Eragon”), roubam a cena. Os novatos, por sua vez, não comprometem e Speelers prova que poderá, no futuro, carregar o filme sozinho.

E, assim como em “Desventuras em Série” e “As Crônicas de Nárnia – O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa”, se o material for interessante e conseguir atrair um bom diretor e um elenco competente, “Eragon” tem potencial para se transformar em uma franquia rentável. Entretanto, falta ao filme encontrar-se na grande tela. Existe a necessidade de se afastar um pouco de suas semelhanças com “O Senhor dos Anéis” e, especialmente, “Guerra nas Estrelas”. Para ter sucesso, “Eragon” precisa ter uma identidade própria.

Cotação: 7,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Tuesday, December 19, 2006

Por Água Abaixo (Flushed Away, 2006)


Os estúdios Aardman ficaram conhecidos pelas suas animações em massa, em especial com o filme “Wallace & Gromit – A Batalha dos Vegetais” (que ganhou o Oscar 2006 de Melhor Filme de Animação). Na nova investida deles no cinema, “Por Água Abaixo”, dos diretores David Bowers e Sam Fell, os animadores da Aardman abandonam a técnica de massinha e voltam a uma animação mais tradicional.

O filme conta a história de Roddy St. James (dublado por Hugh Jackman na versão original), um ratinho de estimação que vive no maior conforto (com direito à “gaiola” própria e roupas chiques) em uma mansão em Kensington, um bairro nobre de Londres. Apesar de todo luxo, Roddy é um ratinho muito solitário e que só interage com seres inanimados como bonecas e bonecos. Essa condição irá se agravar mais quando Roddy fica sozinho em casa depois que a família que cuida dele decide viajar.

O dia de Roddy como rei da mansão acaba quando o rato de esgoto Sid (dublado por Shane Richie na versão original) invade a sua morada. Sid é sujo, mal-educado e desleixado – tudo o que um morador de Kensington não é. Roddy começará a se dedicar a expulsá-lo de sua casa, mas o tiro acaba saindo pela culatra quando Roddy é descartado por água abaixo por Sid e acaba indo parar numa Londres subterrânea, local aonde os ratos de esgoto moram.

É nesse mundo subterrâneo que Roddy conhecerá Rita (dublada por Kate Winslet na versão original), uma ratinha malandra, independente e cheia de iniciativa. Ela está metida em problemas com Sapão (dublado na versão original por Ian McKellen), o qual, por sua vez, está querendo colocar em prática um plano que destruirá com o mundo – e com a vida – dos ratos de esgoto. O contato com Rita, com a família dela e com os diversos tipos de ratos que formam a Londres subterrânea fazem com que Roddy repense seus valores e contemple a vida ao lado de seres que podem retrucar seus cumprimentos, suas palavras e seus gestos.

“Por Água Abaixo” é um filme que mantém o padrão Aardman de qualidade. Suas cenas são muito bem feitas e dirigidas – especialmente aquelas que retratam a perseguição que os capangas de Sapão fazem ao navio de Rita. No entanto, o filme tem personagens que não possuem carisma (as lesmas cantoras são as personagens mais chatas já feitas para um filme de animação). E empatia é um elemento fundamental para um filme cujo público-alvo maior são as crianças. Sem isso, fica difícil para “Por Água Abaixo” fazer uma conexão com a platéia e fazer com que ela se envolva em sua história.

Cotação: 5,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, December 16, 2006

007 - Cassino Royale (Casino Royale, 2006)


A última aparição do agente 007 James Bond no cinema, no filme “007 – Um Novo Dia Para Morrer”, foi um verdadeiro sucesso. Mas, ninguém poderia imaginar que os produtores da série estavam insatisfeitos com os filmes da franquia, que pouco atraíam um público jovem e consumidor de todos os produtos derivados de um filme como esse (em especial, os jogos de videogame). Portanto, contrariando a tese de que “em time que está ganhando, não se mexe”, os produtores trocaram a parte mais visível dos filmes – o diretor (saiu Lee Tamahori e entrou Martin Campbell, que dirigiu “007 Contra GoldenEye”) e, na decisão mais polêmica de todas, o ator principal (saiu Pierce Brosnan e entrou Daniel Craig). A escolha de Craig (bom ator de filmes como “Estrada Para Perdição” e “Sylvia – Paixão Além das Palavras”) deixou os fãs do agente mais charmoso do cinema desconsolados.

A estratégia seguinte foi copiar algo feito com sucesso em outro personagem mitológico do cinema: Batman. Assim como Christopher Nolan fez em “Batman Begins”, a proposta era começar do zero e esquecer os outros filmes. A melhor saída, então, foi usar como fonte de inspiração o livro de Ian Fleming que trouxe o agente pela primeira vez (“Cassino Royale”). Os produtores chamaram de volta os roteiristas de “007 – Um Novo Dia Para Morrer”, Neal Purvis e Robert Wade, e convocaram o premiado roteirista Paul Haggis (de “Menina de Ouro”) para lapidar a história criada pelos dois. O resultado é “007 – Cassino Royale”, filme que marca o início de uma nova era para James Bond.

O filme é dividido em três atos. No primeiro, Bond acabou de ser promovido por M. (Dame Judi Dench) à agente 00 (com licença para matar). A missão dele é vigiar um terrorista pequeno, mas ele acaba desvendando um plano maior. Sob a liderança de Le Chiffre (Mads Mikkelsen), diversos grupos terroristas, que estão espalhados pelo mundo, investem em ações na bolsa de valores com o objetivo de ganhar dinheiro para financiar novos ataques. O plano deles é investir em uma empresa que constrói aviões e destruir o mais novo protótipo deles, de forma a fazer com que as ações da companhia despenquem e eles ganhem milhões. É óbvio que isso não irá acontecer, pois Bond acaba com os planos do grupo.

Fato que nos leva ao segundo ato de “007 – Cassino Royale”. Com todos os grupos terroristas no seu encalço, Le Chiffre tem que arrumar outra maneira de recuperar o dinheiro que perdeu. Por isso, ele cria um torneio de pôquer no Cassino Royale de Montenegro. E é claro que James Bond – agora na companhia da bela contadora do Ministério da Fazenda inglês Vesper Lynd (a atriz francesa Eva Green) – estará participando do torneio para dificultar a vida de Le Chiffre e deixá-lo em uma situação ainda mais desesperadora.

No terceiro ato, depois que a maioria dos conflitos de “007 – Cassino Royale” já estão resolvidos, James Bond ousa vislumbrar uma vida comum ao lado de Vesper (por quem ele se apaixonou). Aqui, podemos fazer um paralelo com outro agente secreto do cinema, Jason Bourne (intepretado por Matt Damon nos filmes “A Identidade Bourne”, “A Supremacia Bourne” e, em breve, “The Bourne Ultimatum”). Assim como Bourne, Bond aprenderá que levar uma vida normal é impossível para alguém como ele, pois ele nunca conseguirá confiar em ninguém e o seu passado nunca o deixará em paz.

“007 – Cassino Royale” é um filme bem-sucedido no seu propósito de renascer James Bond. O personagem nos é apresentado de uma maneira completamente diferente daquela que conhecíamos e, no filme, testemunhamos todo o seu processo de transformação. Os acontecimentos retratados neste filme serão de fundamental importância para as futuras continuações. Entender o que se passa com o homem por trás do smoking é fundamental para compreendermos a maneira como ele desempenha as tarefas às quais é designado. E essa é a maior contribuição que “007 – Cassino Royale” nos faz. Mudar às vezes é bom, e esse filme é a maior prova disso.

Cotação: 8,2

Crédito Foto: Movies Yahoo!

Monday, December 11, 2006

A Última Noite (A Prairie Home Companion, 2006)


O diretor, roteirista e produtor Robert Altman era um daqueles poucos profissionais do cinema que podia se orgulhar de ter, no seu currículo, filmes dos mais diversos gêneros – para se ter uma idéia, até faroestes ele fez. Apesar de sempre ter sido um cineasta aclamado pela crítica, Altman nunca viu seus filmes serem sucessos comerciais. Mesmo assim, conquistou uma legião de fãs entre os cinéfilos.

Nos últimos anos, era notável que o estado de saúde de Robert Altman estava ficando delicado. Durante a produção de “A Última Noite” – aquele que acabaria sendo o último filme dele na cadeira de diretor –, isso ficou ainda mais claro (tanto que, para finalizar o filme, Altman precisou da ajuda do amigo diretor Paul Thomas Anderson). Nesta película, Altman retrata aquele momento que o artista mais teme: o fechar das cortinas, o fim do espetáculo. Muitos aqui enxergam na trama do filme, uma própria metáfora com o momento vivido pelo diretor naquele instante particular: estaria ele fazendo o seu último filme? Teria ele pique para criar outras novas obras? Na realidade, ninguém ao certo saberá se Robert Altman realmente compreendia que “A Última Noite” seria o seu derradeiro filme.

Assim como em muitos de seus outros filmes, Altman reuniu ao seu redor um grande elenco, formado por Meryl Streep e Lily Tomlin (como as irmãs Yolanda e Rhonda Johnson), Woody Harrelson e John C. Reilly (como a dupla Dusty e Lefty), Lindsay Lohan (como Lola Johnson, a filha de Yolanda), Garrison Keillor (que também escreveu o roteiro de “A Última Noite” e interpreta a si mesmo), Tommy Lee Jones (como o interventor da grande corporação de emissoras de rádio), Virginia Madsen (como um anjo), Kevin Kline (como o chefe de segurança do teatro) e Maya Rudolph (como a produtora do programa), dentre outros. Também como é de costume nos filmes do diretor, todos os atores terão o seu momento para brilhar.

Este grupo interpreta um conjunto de artistas cantores de música country/bluegrass; de locutores, produtores e funcionários de uma emissora de rádio que, após mais de trinta anos juntos, fará a última transmissão do programa “A Prairie Home Companion” – que, à moda dos programas antigos de rádio, é transmitido ao vivo de um teatro com a presença de uma platéia.

“A Última Noite” se divide em dois planos de ação: o que acontece nos bastidores e o que acontece no palco. Nos camarins, existe a nostalgia, o encontro com as origens de cada uma dessas pessoas. No palco, como se lá fosse o local magnético de um encontro único, ocorre a magia, o deleite e a emoção embaladas por uma série de lindas – e, em alguns casos, divertidas – canções. Todos estes elementos realmente formam uma grande metáfora sobre o fim. O interessante é perceber que nenhum personagem encara a despedida, mesmo sabendo que ela irá acontecer. É aquele velho conceito de que o show tem que continuar.

Quando “A Última Noite” estreou nos cinemas de minha cidade, Robert Altman já havia falecido. Se assistir a um filme dele em circunstâncias normais já seria muito especial, fazer isso agora transforma essa experiência em algo inesquecível. Após a morte de um dos personagens de “A Última Noite”, vemos aqueles que permaneceram discorrendo sobre qual a maneira correta de se lembrar de alguém. Garrison Keillor diz que gostaria que as pessoas não se sentissem obrigadas a se lembrar dele. No caso de Altman, ele estará vivo para sempre nas memórias daqueles que assistiram aos seus filmes. Seu legado permanecerá eterno por inúmeras gerações.

Cotação: 8,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, December 09, 2006

Volver (2006)


Depois de dois filmes (“Fale com Ela” e “Má Educação”) que mergulhavam no universo masculino, o diretor e roteirista espanhol Pedro Almodóvar retorna a um mundo que ele ama e conhece como ninguém: o das mulheres. No filme “Volver”, Almodóvar aborda como as questões de vida e de morte afetam a vida de três mulheres oriundas de uma mesma aldeia espanhola – e que já é misteriosa por si só, pois, reza a lenda, que seus habitantes ficam loucos com grande facilidade.

Quando a gente conhece as três mulheres de “Volver”, dá para começar a entender o por quê da existência da linha tênue entre sanidade e loucura. Raimunda (Penélope Cruz, que recentemente ganhou o prêmio de melhor atriz no European Film Awards pela sua performance neste filme) e Sole (Lola Dueñas) perderam os pais em um incêndio e, na primeira oportunidade que tiveram, abandonaram a aldeia e foram para Madrid. No início do filme, elas – na companhia de Paula (Yohana Cobo), filha de Raimunda – estão no vilarejo polindo e limpando o túmulo de seus pais. Após fazerem isso, as duas aproveitam e visitam a Tia Paula (Chus Lampreave) – o único parente vivo que elas têm –, que vive sozinha e está louca e doente.

Agustina (Blanca Portillo) também perdeu a mãe, que está desaparecida, e mantém pouco contato com a irmã, que está mais interessada em obter atenção e sucesso. Assim como a sua genitora, que era hippie, Agustina tem uma personalidade exótica e planta e fuma maconha como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Mas, você deve estar se perguntando, o que Agustina tem a ver com Raimunda e Sole? Agustina é a vizinha de Tia Paula e cuida dela, verificando se ela está bem e se ela terá o pão de cada dia para comer.

A vida destas três mulheres dará uma guinada de 360 graus quando Raimunda chega em casa e encontra Paco (Antonio de la Torre), seu marido, morto pela filha depois deste ter tentado abusar sexualmente dela; quando Agustina recebe o diagnóstico de que está com um câncer terminal; e quando Tia Paula morre e Sole volta à aldeia para cuidar do enterro e das coisas de sua tia, e acaba se deparando com o fantasma de sua mãe (Carmen Maura), que parte com a filha de volta à Madrid, pois, aparentemente, ela ainda tem algumas coisas para resolver no mundo dos vivos. Em comum nestes casos é a necessidade que cada mulher tem em dar um fechamento a algum capítulo doloroso de sua vida. Ou seja, algumas portas se fecharão, enquanto outras irão se abrir.

Quando você perde alguém que você amava muito, de certa maneira, você acaba se acostumando a viver sem ele (a). Como? Ou você passa batido pela vida (como Sole), ou você opta por seguir com ela (como o trator Raimunda, que numa cena esconde o corpo do marido em um freezer, e, em seguida, está fazendo um almoço para trinta pessoas). Mas existe também aquela situação em que você fica estagnada (como Agustina) e só pode continuar a viver depois de entender tudo pelo que você passou.

No entanto, “Volver” não se interessa por isso. O roteiro de Pedro Almodóvar (que é muito bem encenado pelas suas atrizes) quer desvendar o momento em que se decide voltar à vida. Pensemos um pouco na mãe de Raimunda e Sole. Como voltar a um mundo em que você não existe? Como viver e sentir dessa maneira? Talvez o maior propósito de sua presença, da sua volta, é devolver às filhas – e, de certa forma, à Agustina – a vida que elas deixaram para trás. E, a partir do momento em que se tem a volta, a ausência passa a ser insuportável. Isso é muito bem ilustrado na frase mais tocante de “Volver”, em que Raimunda olha para sua mãe e diz: “Preciso de você, mamãe. Não sei como consegui viver tanto tempo sem você”.

Cotação: 9,3

Crédito Foto: Yahoo! Movies

O Ilusionista (The Illusionist, 2006)


A data de estréia inicial de “O Ilusionista”, do diretor e roteirista Neil Burger, no Brasil, seria o dia 17 de novembro. No entanto, a estréia de “O Grande Truque”, filme de Christopher Nolan, nas salas de cinema brasileiras, modificou todo o esquema armado pela Focus Filmes, a distribuidora do primeiro filme no país. E, realmente, ter adiado a estréia de “O Ilusionista” foi a decisão mais acertada que eles poderiam ter tomado. Mesmo assim, toda a visão que teremos sobre o filme de Burger será contaminada pelas nossas impressões sobre o filme de Nolan.

Por se tratar de filmes com um tema principal em comum – a mágica –, tanto “O Ilusionista” quanto “O Grande Truque” possuem alguns pontos convergentes. O personagem principal de “O Ilusionista”, Edward Abramowitz (Edward Norton, que compõe o seu personagem como se ele fosse um homem morto por dentro, um tanto frio e racional), vê a sua vida mudar depois de um encontro com um misterioso mágico. Ele pode não ser um showman como Robert Angier, mas tem a competência de um Alfred Borden. Já com a alcunha de Eisenheim, o Ilusionista, ele se transformou em um mágico com grandes poderes – o de parar o acelerar o tempo seria o mais incrível deles.

O segundo ponto convergente entre os dois filmes encontra-se no ponto de mudança da história. Nos dois filmes, a perda do ser amado causa transformações permanentes na vida dos personagens principais. Eisenheim, por exemplo, abandona a sua cidade natal (Viena) depois de ser proibido de ver o amor de adolescência, vaga pelo mundo e só depois de quinze anos retorna ao lar para reencontrar o seu grande amor, a Duquesa Sophie (Jessica Biel), que agora está prometida ao príncipe herdeiro da Áustria, Leopold (Rufus Sewell). O reencontro fará com que Eisenheim comece a utilizar os seus poderes para o seu próprio proveito (para separar Sophie de Leopold) e, nesse caso, ele não hesitará em transpor nenhum limite.

O terceiro ponto em comum diz respeito ao modo como os dois diretores resolveram contar as suas histórias. Nos dois filmes, há o uso de flashback. Também em ambos os filmes, cabe a um personagem a tarefa de nos guiar pela trama. Em “O Ilusionista”, isso é responsabilidade de Walter Uhl (Paul Giamatti), inspetor-chefe da polícia austríaca, apaixonado por mágicas, e que é designado pelo príncipe Leopold para acompanhar todos os passos de Eisenheim. No decorrer do filme, Uhl viverá um grande conflito: fazer o que é correto ou o que é esperado dele.

A platéia que assiste à “O Ilusionista” fica com a impressão de que o filme não tem nada de extraordinário. Uma hora, ele é uma história de amor clássica, em outro momento um drama, depois um suspense e, por fim, um thriller político. No final, quando todas as peças são colocadas em seus devidos lugares, temos a sensação de que passamos, mais uma vez, por um grande truque.

“O Ilusionista” é um filme à moda antiga. Essa não é uma película para entreter, como “O Grande Truque”. Por esta razão, “O Ilusionista” não é um filme para qualquer pessoa. Escrito e dirigido com competência por Neil Burger, o filme conta com grandes atuações de seu elenco e merece, no mínimo, indicações ao Oscar de melhor direção de arte (a maior parte das cenas foi filmada em locações reais na cidade de Praga), melhor figurino e melhor trilha sonora (a de Philip Glass é a mais perfeita feita para um filme, até agora, no ano de 2006). Se você for assistir à “O Ilusionista”, sente com calma na poltrona do cinema e preste muita atenção na trama, pois filmes como esse – e como “O Grande Truque” – são únicos.

Cotação: 8,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Monday, December 04, 2006

Jesus - A História do Nascimento (The Nativity Story, 2006)


O livro mais importante da história da humanidade é a Bíblia. Dentro dele, existe uma riqueza de personagens e de histórias, as quais muitas já foram contadas à exaustão pelo cinema. No entanto, ainda existe uma história que permanece carente de uma boa interpretação: a de Maria, a jovem escolhida por Deus para ser a mãe de Jesus. O filme “Jesus – A História do Nascimento”, da diretora Catherine Hardwicke, se propõe a contar um pouco da história dela.

A trama do filme se passa no período de um ano, ou seja, desde o momento em que o anjo Gabriel (Alexander Siddig, de “Syriana – A Conquista do Petróleo”) aparece para Maria (Keisha Castle-Hughes, que recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz por sua interpretação em “A Encantadora de Baleias”) e informa-a sobre a sua missão, até quando o rei Herodes (Ciáran Hinds, do seriado “Roma”) ordena que seus soldados matem qualquer menino de, no máximo, dois anos de idade que esteja na cidade de Belém – de forma a impedir que a profecia que afirmava que, de um homem humilde, iria nascer o maior de todos os homens se concretizasse.

Nesse primeiro momento, “Jesus – A História do Nascimento” se divide em diversas linhas narrativas: a principal, que acompanha o dia-a-dia de Maria em Nazaré e as secundárias, que acompanham Herodes e os três Reis Magos em sua busca pelo Messias. É justamente neste primeiro momento que o filme vive o seu instante mais rico, pois o roteirista Mike Rich usa a imaginação para tentar mostrar o conflito que se passou na cabeça de Maria e de José (Oscar Isaac) a partir do momento em que ela ficou grávida.

Vejamos: Maria, uma jovem virgem, se casa com José, um rapaz jovem e trabalhador. O casamento não é bem recebido por Maria e só poderá ser consumado após um ano de relacionamento, no qual cada um deles viverá em casas separadas. Ao saber que terá a missão de carregar o filho de Deus, Maria abandona a cidade de Nazaré e parte para a casa de sua tia Isabel (Shohreh Aghdashloo, indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo filme “Casa de Areia e Névoa”), a mãe do futuro apóstolo João, em busca de conselhos.

Quando Maria volta à Nazaré, já com a barriga bem saliente, o escândalo está armado. Ninguém (nem mesmo os membros de sua própria família) acreditam na história que ela conta sobre o anjo e sobre o filho de Deus e, por conseqüência disso, Maria vira a vergonha da comunidade. José, a princípio, a renega e, somente após receber também a visita do anjo Gabriel, é que ele aceita Maria de volta e decide criar o filho dela como se fosse seu.

Num segundo momento, a trama de “Jesus – A História do Nascimento” acompanha Maria e José na viagem que eles fazem de Nazaré até Belém, por causa da resolução de Herodes de que todo homem tem que voltar com a sua família para a sua cidade natal. É a partir desta cena que o filme começa a virar uma adaptação mais literal de toda a história que conhecemos através da Bíblia.

A diretora Catherine Hardwicke ficou famosa pelos filmes que abordavam o universo jovem e urbano, como “Aos Treze” e “Os Reis de Dogtown”. Com “Jesus – A História do Nascimento”, a diretora abraça uma história e uma maneira de fazer cinema que é mais convencional. Quase que não reconhecemos traços de seu estilo neste filme. Pode parecer estranho, já que estamos falando da adaptação de uma história que todos nós conhecemos de cor e salteado, mas o que mais falta à “Jesus – A História do Nascimento” é originalidade. Tudo parece uma repetição de algo que já foi visto. E, para quem está acostumado a assistir aos filmes de Hardwicke, isto é muito decepcionante.

Cotação: 7,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, December 02, 2006

O Labirinto do Fauno (El Laberinto del Fauno, Pan's Labyrinth, 2006)


Muito já se foi discutido aqui sobre a última estratégia da indústria cinematográfica de Hollywood: convidar roteiristas e diretores estrangeiros para fazerem filmes nos Estados Unidos. No entanto, existe um outro fenômeno ocorrendo com certa freqüência no cinema: a volta de diretores aos seus países de origem para fazer filmes. Isso aconteceu, em 2001, com o cineasta mexicano Alfonso Cuarón e seu “E Sua Mãe Também”; e, em 2002, com o diretor australiano Phillip Noyce e seu “Geração Roubada”. Nos dois casos, os filmes foram recebidos pela crítica com aclamação e deram outro gás às respectivas carreiras de ambos os diretores.

Se formos prestar atenção na lista de filmes submetidos à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para a categoria de melhor filme estrangeiro, veremos outros dois nomes conhecidos que fizeram essa transição de volta para casa: o do diretor holandês Paul Verhoeven (com o filme “Black Book”) e o do diretor mexicano Guillermo Del Toro (com “O Labirinto do Fauno”). Este último fez carreira nos EUA ao realizar estilosos filmes de ação baseados em personagens de histórias em quadrinhos como “Blade – O Caçador de Vampiros”, “Blade 2” e “Hellboy”. Com “O Labirinto do Fauno”, Del Toro mostra que continua estiloso e violento, mas, ao mesmo tempo, ele oferece um lado suave, pois seu filme tem muitos elementos advindos dos contos de fadas.

Explico: no início de “O Labirinto do Fauno”, somos apresentados ao conto de uma princesa que vivia em um mundo triste e obscuro. O sonho dela era conhecer o mundo real. Ao conseguir encontrar a luz produzida pelo mundo real, a princesa vê o seu passado ser apagado de sua memória. Ela morre e deixa a esperança no seu pai de que, um dia, ela irá reencarnar em um outro ser ou sob outra forma.

Em seguida, conhecemos a história da menina Ofelia (Ivana Baquero) que, assim como a princesa do conto de fadas, vive num mundo obscuro (a Espanha do regime de Franco). Sua mãe (Ariadna Gil) está casada e grávida de um capitão do regime (Sergi López, numa excelente performance). As duas estão indo ao encontro dele no seu quartel-general (uma casa nas montanhas). Ofelia guarda ainda uma outra semelhança com a princesa: ela sonha com o mundo que só conhece através dos livros que lê.

Logo logo, o mundo fantástico que Ofelia só conhecia através dos livros irá invadir a sua vida real. Os seres do mundo da princesa acreditam que a garotinha é a reencarnação da menina falecida e começam a passar tarefas, de modo que Ofelia possa provar que pode assumir o lugar da princesa ao lado de seu pai. Essa história vai ao segundo plano quando Ofelia começa a perceber que o seu mundo real é ainda mais complicado e precisa de consertos urgentemente. É a partir desse momento que a platéia irá assistir a um filme tenso, violento e cheio de sub-tramas (como a que coloca Mercedes – interpretada por Maribel Verdú, de “E Sua Mãe Também” –, a empregada do capitão, como informante de um grupo de resistência ao regime franquista) que, em nenhum momento, prejudicam o desenvolvimento da trama principal.

“O Labirinto do Fauno” é o melhor filme realizado por Guillermo Del Toro (que, além de assinar a direção, fez o roteiro e a produção da película). A execução dele é praticamente perfeita – com destaque para a fotografia de Guillermo Navarro, a trilha de Javier Navarrete e a direção de arte de Eugenio Caballero. O filme tem uma moral belíssima e prova que se pode abordar assuntos delicados se apelando para a fantasia. Só nos resta ver se esta visão de Del Toro não é um pouco arrojada demais para a Academia, pois este é um filme que merece reconhecimento.

Cotação: 8,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies