A cantora francesa Edith Piaf faz parte de uma linhagem de intérpretes como a brasileira Elis Regina e a norte-americana Judy Garland. Ou seja, Piaf era uma daquelas artistas que se entregava de corpo e alma à sua arte. Dona de apresentações intensas e extenuantes do ponto de vista físico, a francesa também teve uma vida digna de um roteiro de filme. E é justamente isto que acontece com o lançamento da cinebiografia “Piaf – Um Hino ao Amor”, do diretor Olivier Dahan (que co-escreveu o roteiro do filme ao lado de Isabelle Sobelman).
Nascida na comunidade de Grasse, no ano de 1915, Edith Piaf era filha de um casal ligado à classe artística. A mãe (que, no filme, é interpretada por Clotilde Courou), uma cantora que nunca obteve sucesso, e o pai (interpretado por Jean-Paul Rouve), um contorcionista, não proporcionaram à Edith o crescimento em um lar estável. Quando criança, era negligenciada pela mãe e foi abandonada pelo pai em um bordel; para depois ser reintegrada ao seu convívio tendo que trabalhar se apresentando nas ruas parisienses para ajudar a sustentar os dois.
A grande virada na vida de Piaf aconteceu quando ela conheceu o empresário Louis Leplée (Gerard Depardieu), o dono de uma casa noturna em Paris. Através dele, Edith foi apresentada a personalidades do mundo da música que iriam acompanhá-la até o dia de sua morte (10 de Outubro de 1963, quando a cantora tinha somente 48 anos, mas com uma aparência – e a fragilidade – de uma mulher de 70 anos) e a transformariam na grande intérprete que ela foi – especialmente Raymond Asso (Marc Barbé), o homem que lapidou o dom que a cantora possuía.
No entanto, a maior sacada do diretor Olivier Dahan, em “Piaf – Um Hino ao Amor”, foi encontrar a verdadeira essência da personalidade de Edith Piaf. Mesmo ela tendo sido uma mulher que foi extremamente magoada durante toda a sua vida e, apesar de ter perdido aqueles a quem mais amava – além de Louis Leplée, que ela chamava de seu segundo pai; foram a prostituta Titine (Emmanuelle Seigner), que a amou como se fosse sua mãe; e o boxeador Marcel Cerdan (Jean-Pierre Martins), que foi o homem de sua vida –, a fé inabalável que ela tinha em Santa Teresa nunca a deixou perder a crença no amor. E ela fez desse sentimento a sua maior inspiração, ao cantar músicas sobre o tema que se tornariam verdadeiros clássicos, como “La Vie em Rose”, “Hymme à L’amour”, “Sous le Ciel de Paris”, “Les Amants d’un Jour”, entre tantas outras – porém, no filme, toda a vida de Piaf pode ser sintetizada por uma outra canção, “Non, Je Ne Regrette Rien”, que ela canta emocionada em sua volta aos palcos parisienses na cena que encerra “Piaf – Um Hino ao Amor”.
Mais do que a sua complexa – e interessante – personagem principal, o melhor motivo para se assistir ao filme “Piaf – Um Hino ao Amor” é a interpretação da – desde já favorita ao Oscar 2008 de Melhor Atriz – francesa Marion Cotillard (antes vista em papéis de pequeno destaque em filmes como “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas”, de Tim Burton, e “Um Bom Ano”, de Ridley Scott). Assim como Judy Davis na minissérie “A Vida com Judy Garland” e Helen Mirren no filme “A Rainha”, Cotillard mergulha fundo na alma de seu personagem. Aqui, não existem limites entre atriz e Piaf. As duas são uma só. E é por ela – e pelo excelente trabalho de figurinos, direção de arte e fotografia, que merecem também uma atenção especial do Oscar – que a gente perdoa os erros de transição cometidos pelo diretor Olivier Dahan.
Cotação: 7,0
Piaf - Um Hino ao Amor (La Môme, França, Inglaterra, República Tcheca, 2007)
Diretor(es): Olivier Dahan
Roteirista(s): Olivier Dahan, Isabelle Sobelman
Elenco: Marion Cotillard, Sylvie Testud, Pascal Greggory, Emmanuelle Seigner, Jean-Paul Rouve, Gérard Depardieu, Clotilde Courau, Jean-Pierre Martins, Catherine Allégret, Marc Barbé, Caroline Silhol, Manon Chevallier, Pauline Burlet, Elisabeth Commelin, Marc Gannot
Nascida na comunidade de Grasse, no ano de 1915, Edith Piaf era filha de um casal ligado à classe artística. A mãe (que, no filme, é interpretada por Clotilde Courou), uma cantora que nunca obteve sucesso, e o pai (interpretado por Jean-Paul Rouve), um contorcionista, não proporcionaram à Edith o crescimento em um lar estável. Quando criança, era negligenciada pela mãe e foi abandonada pelo pai em um bordel; para depois ser reintegrada ao seu convívio tendo que trabalhar se apresentando nas ruas parisienses para ajudar a sustentar os dois.
A grande virada na vida de Piaf aconteceu quando ela conheceu o empresário Louis Leplée (Gerard Depardieu), o dono de uma casa noturna em Paris. Através dele, Edith foi apresentada a personalidades do mundo da música que iriam acompanhá-la até o dia de sua morte (10 de Outubro de 1963, quando a cantora tinha somente 48 anos, mas com uma aparência – e a fragilidade – de uma mulher de 70 anos) e a transformariam na grande intérprete que ela foi – especialmente Raymond Asso (Marc Barbé), o homem que lapidou o dom que a cantora possuía.
No entanto, a maior sacada do diretor Olivier Dahan, em “Piaf – Um Hino ao Amor”, foi encontrar a verdadeira essência da personalidade de Edith Piaf. Mesmo ela tendo sido uma mulher que foi extremamente magoada durante toda a sua vida e, apesar de ter perdido aqueles a quem mais amava – além de Louis Leplée, que ela chamava de seu segundo pai; foram a prostituta Titine (Emmanuelle Seigner), que a amou como se fosse sua mãe; e o boxeador Marcel Cerdan (Jean-Pierre Martins), que foi o homem de sua vida –, a fé inabalável que ela tinha em Santa Teresa nunca a deixou perder a crença no amor. E ela fez desse sentimento a sua maior inspiração, ao cantar músicas sobre o tema que se tornariam verdadeiros clássicos, como “La Vie em Rose”, “Hymme à L’amour”, “Sous le Ciel de Paris”, “Les Amants d’un Jour”, entre tantas outras – porém, no filme, toda a vida de Piaf pode ser sintetizada por uma outra canção, “Non, Je Ne Regrette Rien”, que ela canta emocionada em sua volta aos palcos parisienses na cena que encerra “Piaf – Um Hino ao Amor”.
Mais do que a sua complexa – e interessante – personagem principal, o melhor motivo para se assistir ao filme “Piaf – Um Hino ao Amor” é a interpretação da – desde já favorita ao Oscar 2008 de Melhor Atriz – francesa Marion Cotillard (antes vista em papéis de pequeno destaque em filmes como “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas”, de Tim Burton, e “Um Bom Ano”, de Ridley Scott). Assim como Judy Davis na minissérie “A Vida com Judy Garland” e Helen Mirren no filme “A Rainha”, Cotillard mergulha fundo na alma de seu personagem. Aqui, não existem limites entre atriz e Piaf. As duas são uma só. E é por ela – e pelo excelente trabalho de figurinos, direção de arte e fotografia, que merecem também uma atenção especial do Oscar – que a gente perdoa os erros de transição cometidos pelo diretor Olivier Dahan.
Cotação: 7,0
Piaf - Um Hino ao Amor (La Môme, França, Inglaterra, República Tcheca, 2007)
Diretor(es): Olivier Dahan
Roteirista(s): Olivier Dahan, Isabelle Sobelman
Elenco: Marion Cotillard, Sylvie Testud, Pascal Greggory, Emmanuelle Seigner, Jean-Paul Rouve, Gérard Depardieu, Clotilde Courau, Jean-Pierre Martins, Catherine Allégret, Marc Barbé, Caroline Silhol, Manon Chevallier, Pauline Burlet, Elisabeth Commelin, Marc Gannot