Mauro (o estreante Michel Joelsas), que vivia com sua família em Belo Horizonte, provavelmente estava por fora de tudo isto que estava acontecendo. Para ele, o fato mais importante do ano era a realização da Copa do Mundo de 1970, no México. O garoto recebe até com muita resignação e sem fazer muitos questionamentos a notícia de que seus pais vão tirar umas “férias prolongadas” (eles eram militantes contra a ditadura e precisavam sumir por um tempo) e que ele vai ficar em São Paulo, no bairro do Bom Retiro, na companhia do avô paterno (uma participação especial de Paulo Autran).
O mundo que Mauro encontra no bairro do Bom Retiro é completamente diferente daquele que ele conhecia. O bairro, que é habitado por famílias de origens judaica e italiana, tem muita gente idosa, alguns jovens e poucas crianças. Mauro vai experimentar ali muita solidão, a qual será agravada quando o seu avô falecer e quando ele não conseguir se adaptar muito bem à pessoa de Shlomo (o excelente Germano Haiut), que acolhe o menino em sua casa e inicia uma busca pelos pais dele.
O que é mais interessante no filme de Cao Hamburger é acompanhar a transformação, o amadurecimento de Mauro. Aos poucos, ele deixa de ser o menino inseguro que passava os dias ao lado do telefone esperando a ligação dos pais e começa a aproveitar a vida, a brincar, se encontrar e descobrir quem ele é e o que ele pretende fazer. Tudo isso, tendo como pano de fundo a Copa de 1970 e o brilhantismo daquele time, que parava o país e unia todos – não importando raça, sexo, classe e crenças – numa só voz.
Quando a gente fala sobre o cinema brasileiro, uma reclamação parece constante: os roteiros da maioria dos filmes são pobres e chegam – em alguns casos – a fazer sentido só para nós brasileiros. Poucos filmes produzidos no país têm uma mensagem universal, que pode chegar a qualquer lugar do mundo e encontrar uma identidade. “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” é um desses filmes de valor universal. A sua simplicidade é somente um dos elementos que o transforma numa experiência única, mas o seu maior ponto forte é a capacidade de contar uma história que tem ressonância em qualquer pessoa, em qualquer lugar. Filmes como esse deveriam ser regra em nossa indústria, e não exceção.
Cotação: 9,0
Crédito Foto: Yahoo! Cinema
26 comments:
Acabo de postar sobre o mesmo filme lá no ACP e o Fernando me disse que tinhas dado a mesma nota e vim aqui ler. Ótimo texto, resumiu bem o que eu senti vendo o filme, o valor universal realmente existe em O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, prova disso é ele ter sido selecionado pra mostra competitiva do Festival de Berlim deste ano. Que venha o prestígio internacional.
Túlio, obrigada. É até normal para nós, brasileiros, não termos muito contato com o cinema que é produzido aqui. Afinal de contas, ele não tem o mesmo alcance de um filme de Hollywood. Mas, acho importante que a gente assista e valorize o que tem sido produzido de bom.
Bob, vou passar lá para comparar as nossas opiniões. É sempre bom ler interpretações diferentes sobre uma mesma obra. Valeu pela visita!
Perdi esse flme nos cinemas...Aliás,ano passado minha cota de filmes nacionais foi zero,assisti quase nada de produção nacional e os que vi naum foram muito bons.Esse O ANO Q MEUS PAIS SAIRAM DE FERIAS e O CÉU DE SUELY me parecem excelentes pedidas...
Kamila, assista Babel! Vale muito a pena.
Wanderley, eu quero muito assistir “O Céu de Suely”, mas não faço a mínima idéia de quando o filme irá estrear aqui. Cassiano, o mesmo caso é o de “Babel”. Quero ver, mas dependo da data de estréia do filme por aqui.
Pronto, acabei de verificar as estréias da semana por aqui e "Babel" está entre elas.
Primeiro compromisso do final de semana: assistir "Babel".
Beijo!
'O ano em que meus pais sairam de férias' é um filme muito bonito! Gosto de filmes nacionais mais assim também..
Muito bom seu post!
beju!
Kamila, esse era um dos filmes que eu mais quis assistir em 2006, mas infelizmente não deu... Quem sabe eu vejo em dvd mais tarde. Ah, assisti "Babel" ontem, e apesar de ter gostado do filme me arrisco a dizer que esse foi o trabalho menos empolgante na filmografia do Inárritu, e da trilogia "Amores Brutos"/"21 Gramas"/"Babel", o último é o mais fraco dos três, não chegando nem perto da excelência dos outros.
Ei, você viu o meu último e-mail?
Romeika, acabei de responder ao seu e-mail. Li ontem mesmo, mas estava ocupadíssima e não pude responder. Hoje, com mais calma e mais tempo, deu para te enviar a resposta.
Vou assistir "Babel" no sábado mesmo. Até agora, evitei ler o máximo de críticas que posso para já não ir contaminada para o cinema, tendo que esperar certas coisas, sensações. Já basta o que eu já sei (e já é muito) sobre esse filme.
Continue mandando notícias!
Valeu Victor. Depois quero entrar em contato com você para tirar umas dúvidas sobre o Blogger Awards.
Kamila, no Bloggers Awards valem só os filmes que foram lançados no Brasil em 2006, ok?!
Independente se você viu em 2007 nos cinemas, se o dia de lançamento foi em 2006 tá valendo!
Bejus!
Oi Kamila! Belo texto, como sempre!Ainda não vi esse filme... Tem um cliente aqui na assessoria que é um dos patrocinadores de O ANO EM QUE MEUS PAIS SAIRAM DE FÉRIAS, mas ninguém me deu convite... aí naquela correria para ver o que sai de enlatado, eu perdi o Cao Hamburguer... Falha minha, mas me comprometo a corrigi-la em breve.
Bjs!
Nesse caso, Victor, acho que te enviarei nesta semana mesmo minha lista de votação.
Otávio, corrija urgentemente esta falha. "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias" é um filmaço.
Beijos.
Acho que dessa nova safra do cinema nacional, O Ano... é o melhor filme.
Um filme lindo, bem construído e, felizmente, reconhecido no festival de Berlim. Uma das melhores coisas que o cinema nacional produziu nos últimos tempos.
P.S: crítica da semana em claquete (http://claque-te.blogspot.com): Déjà Vu, de Tony Scott.
Abraços do crítico da caverna.
Cassiano e o Roberto, concordo plenamente com o comentário dos dois.
Assisti esse filme esperando nada, e ele me surpreendeu..Foi simplesmente um dos melhores filmes que vi no cinema. Sei que pode parecer exagero mas é mto bom mesmo. Ótima critica, Kamila...
,
Beijoooos
Kamila, hoje a noite, lá pelas oito, eu publico o seu "Preview" sobre Eu nunca serei sua mulher. O trailer é muito engraçado e acho mesmo que vai ser um grande filme-despretensioso desse ano.
bjo!
OPS, o anônimo ae fui eu!
Túlio.
Opa, Túlio. Passarei lá agora para ler.
kamila, acredite, eu gostei muito do trailer. Acho que porque usei a expressão "clichê" no texto você deve ter pensado que não gostei muito. O trailer é impagável, mas as comédias românticas (a maioria) sempre têm alguma coisa de repetitivo. Mas estou querendo muito conferir esse filme - isto é, se ele estrear por aqui...
Ah, em Goiânia, as estréias da semana foram A Grande Família e Perfume. Babel estreou por aí?
bjo!
Túlio, as estréias da semana aqui foram "Babel", "A Grande Família" e "Perfume". Gostaria de poder assistir ao primeiro e último filme, mas, infelizmente, não poderei assistir e não sei se, quando eu puder, eles ainda estarão em cartaz.
Beijo.
Vou corrigir isso sim, Kamila! Obrigado pela dica. Já descobri uma sala que ainda está exibindo o filme aqui em SP.
Bjs e bom final de semana!
Que bom - e que sorte -, Otávio.
Beijos e bom final de semana!
Puxa, aqui em Goiânia vai estrear uma mostra esquizofrênica que vai exibir o primeiro filme do Lynch, acho que chama Easerhead... pena que a sessão começa às 0h30 (por isso é que é esquizofrênica).
Grande final de semana pra você, Kamila.
Beijo!
Aqui em Natal, nesta semana, vai ter um festival de filmes cult, só com aquelas podreiras de filmes de terror. A mostra vai ser aberta com um dos filmes do Zé do Caixão.
Beijo e bom final de semana para você também!
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