Tuesday, May 22, 2007

Maria Antonieta (Marie Antoinette, 2006)

Maria Antonieta foi a arquiduquesa da Áustria e a rainha da França até a Revolução Francesa, que levou o povo ao poder sob os princípios da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Quando rainha, Maria Antonieta – mesmo exercendo uma grande influência política sob seu marido – foi bastante impopular, pois não tinha sensibilidade para entender as necessidades de seu povo, que, por sua vez, não entendia os gastos exorbitantes de sua soberana. É este personagem complexo e fascinante o objeto de estudo da cinebiografia “Maria Antonieta”, da diretora e roteirista Sofia Coppola.

Coppola nos apresenta este personagem de uma maneira bastante interessante. No primeiro ato, Maria Antonieta (Kirsten Dunst, na melhor atuação de sua carreira) é somente uma jovem austríaca inexperiente, que é enviada para a França para se casar com Luís Augusto (Jason Schwartzman), o herdeiro do trono francês. O casamento, além de selar a aliança entre o povo austríaco e francês, tem como objetivo principal produzir um novo herdeiro para o reino da França. Esta mudança é muito abrupta e de difícil adaptação para Maria Antonieta, que tem que deixar para trás qualquer objeto que a faça se lembrar de seu lar e de suas origens. Ela tem que abraçar uma nova vida, num novo local com toda uma leva de novos – e ridículos – costumes.

Sofia Coppola retrata com competência o conflito destes dois jovens – Luís Augusto e Maria Antonieta – que foram metidos num casamento sem estarem preparados para isto. Sem privacidade ou clima favorável para se conhecerem melhor, os dois viram a piada do ano na corte, já que Luís não consegue consumar o casamento com a sua jovem e bela esposa.

No segundo ato, já com Luís XVI elevado ao posto de rei da França e, por conseqüência, Maria Antonieta como rainha do país, as posições se invertem. Sofia Coppola, então, mostra o deslumbre que a jovem sente no seu novo papel – e o qual é representado pela luxúria e pelos gastos excessivos com roupas, festas e jogos. Pela primeira vez, Maria Antonieta leva uma vida independente de seu marido – e, curiosamente, é assim que os dois vão ficar mais próximos do que nunca e irão constituir a tão sonhada família.

O filme todo, na realidade, trata do choque entre vida adolescente e vida adulta. Maria Antonieta era uma criança quando se casou. Após se tornar rainha, tentou recuperar o tempo perdido e viveu com intensidade. Mesmo assim, ela demonstra, no final, maturidade suficiente para entender qual o seu verdadeiro papel e o que as pessoas esperam que ela faça. A história de Maria Antonieta seria atemporal – talvez, por isso, Sofia Coppola tenha optado pelo uso de uma trilha sonora contemporânea.

O que fica claro para a platéia no decorrer de “Maria Antonieta” é a identificação que se estabeleceu entre a personagem e a diretora e roteirista Sofia Coppola. O que ela demonstra no filme é a maturidade de uma cineasta que sabe o que quer. Tecnicamente, “Maria Antonieta” é um dos filmes mais belos dos últimos anos. Os figurinos da vencedora do Oscar 2007 Milena Canonero; a fotografia de Lance Acord; a direção de arte de Pierre Duboisberranger, Anne Seibel e K. K. Barrett e as locações do filme são primorosas. Os erros cometidos por Coppola aparecem mais no quarto final de “Maria Antonieta”, quando a rapidez por concluir a história acaba por colocar a platéia diante de uma série de acontecimentos que ficam mal esclarecidos. Esta é uma obra subestimada e que deve ser levada a sério, pois não é nenhum capricho adolescente.

Cotação: 7,2

Crédito Foto: Yahoo! Movies

17 comments:

Otavio Almeida said...

No fim das contas, Kamila, MARIA ANTONIETA foi bem recebido aqui no Brasil, não? Foi subestimado lá fora e pelo meu blog :-)

Bom, vc sabe... eu já acho que não consigo levar o filme a sério justamente por seus caprichos adolescentes.

Bjs!

PS: Jogão amanhã, hein! Vc vai ver? Milan X Liverpool...

Kamila said...

Otávio, não vi o filme sendo bem recebido por aqui.

Esta semana foi muito estranha mesmo para mim. Os dois filmes que eu não esperava nada ("Pecados Íntimos" e "Maria Antonieta") me surpreenderam positivamente. Especialmente o último. Não sou fã mesmo da Sofia Coppola, mas saí do cinema com minha visão sobre ela completamente mudada.

E, com certeza, assistirei ao jogão amanhã. A partir das 14hs., minha tevê estará ligada na partida.

Anonymous said...

Aeeeehhhh! :-D Eu disse que era maravilhoso, neh? Vc nao amou, mas pelo visto gostou do filme e saiu satisfeita da sala... Estah otima a resenha, pelo que tu escreveu, pensei que seria um "8,0". Como eu jah tinha dito lah no blog do Otavio na epoca do lancamento do filme, nao gosto muito da Kirsten Dunst, mas nas maos da Coppola ela rende horrores como atriz! A melhor atuacao da carreira dela, sem duvida (seguida por "As Virgens Suicidas" e "Entrevista com Vampiro").

E concordo com o que vc disse sobre a diretora, ela jah sabe (e muito) o quer nessa carreira. Ah, e vi outros criticos dizendo algo parecido, com relacao ao fim abrupto e as elipses que nao funcionam tao bem, mas isso nao me incomodou em nada (sou suspeita, gostei muito do filme..:)

Soh estreias boas em Natal, hein?:)

Kamila said...

Romeika, não posso reclamar das estréias da semana por aqui. Foram tão boas que chega me assustaram! Adorei a ótima surpresa que as salas de cinema daqui proporcionaram para os cinéfilos.

Eu admito que gostei bastante de "Maria Antonieta". Acho que é o melhor filme que a Sofia Coppola fez até agora.

Otavio Almeida said...

Puxa, minha visão foi completamente diferente da sua, Kamila. Embora eu tb não seja fã da Sofia Coppola, saí do cinema com minha opinião mudada sobre ela. E mudou para pior.

Ei, se quiser me mandar uma notinha sobre o jogão, eu coloco lá no blog (com seu nome, claro).

Bjs!

Museu do Cinema said...

A minha tb Kamila, não vi nada disso que enxergou no filme, o filme é bom, mas ele mesmo se acha um grande filme, coisa que tá muito longe de ser, sem duvida o pior de todos os filmes da diretora.

Kamila said...

Cassiano e Otávio, gosto muito quando a gente encontra reações tão diversas a um filme como estou notando as nossas em relação à "Maria Antonieta". Gostaria somente que vocês explicassem o por quê de não terem gostado do filme.

Otávio, jogão o de hoje. Fiz um textinho. Depois te mando.

Otavio Almeida said...

Oi Kamila! Valeu! Manda pra ottavioalmeida@hotmail.com

Sobre MARIA ANTONIETA, meu problema é gostar de um cinema mais clássico. Ser contrário à experiências que não acrescentam nada ao cinema. Não é algo que Kubrick fazia. Ou que David Lynch faz. Mas "brincar" com o cinema levam algumas pessoas sedentas pelo "diferente" a confundir essas "experiências" com o bom cinema. A contribuição da verdadeira originalidade deve ser pela linguagem. E vamos lá, né? Sofia não é nem mesmo Francis Ford.

Entenda o que quero dizer, querida: quando se é original de verdade (pela linguagem cinematográfica), eu tenho que admitir. Pode parecer estranho no começo. Mas tenho que admitir. É o caso de Spike Jonze e Charlie Kaufman, em QUERO SER JOHN MALKOVICH, por exemplo. Aquilo sim é ser original. Aquilo sim é subverter os roteiros clássicos de Hollywood. E eles não montaram QUERO SER JOHN MALKOVICH como videoclipe ou exploraram delírios visuais. Se a regra do "diferente" estivesse no visual ou na estética, BLADE RUNNER já teria perdido o posto de "última grande ficção científica". Ele seria batido por "Matrix", por exemplo.

Entendeu o que eu penso?

Bjs,

Museu do Cinema said...

O meu problema com o filme não é tão argumentativo quanto do Otávio, como já disse no meu blog e aqui no comentário acima, acho que o filme pensa que é algo que ele não é definitivamente, ou seja, um filme épico, para entrar para a história sobre o tema, e o filme é muito longe disso, ela (Sofia) peca justamente nisso, em querer tornar o filme algo grandioso, são duas cenas especificas que detalho no meu comentário, em que ela quer provar que é filha de Francis.

Wiliam Domingos said...

Este filme em nenhum momento me interessou....na verdade odeio filmes com muita exuberância em figurinos e palácios e tal, prefiro algo mais sujo, como "Amores Brutos"...mas é claro, sempre há exceções!
Atée mais...
http://eco-social.blogspot.com/

Otavio Almeida said...

Ei, Kamila! Saca só: http://zona-do-agriao.blogspot.com/

Bjs! E obrigado!

Kamila said...

Otávio, entendi perfeitamente o seu ponto de vista. Foi bem explicadinho mesmo. Eu nem cometeria o deslize de comparar Sofia com Francis Ford. Acho que "Maria Antonieta" é um projeto ousado, e concordo quando você diz que "Maria Antonieta" não apresenta nada de novo.

Concordo também com o Cassiano. "Maria Antonieta" não é um épico, mas também não é um "Fantasma da Ópera" (um filme em que o visual era a única coisa boa). O filme tem conteúdo.

William, mesmo não gostando de filmes pomposos, sugiro que você dê uma conferida em "Maria Antonieta".

Túlio Moreira said...

Kamila, realmente foi a melhor atuação de Kirsten Dunst até agora. E é imperdoável a Academia deixar isso passar em branco, nem mesmo lhe indicando à estatueta (o mesmo pecado foi cometido em outro filme de Sofia Coppola, quando Scarlett Johansson ficou de fora das premiações).

No mais, "Maria Antonieta" me conquistou profundamente e, ao contrário do que tem acontecido com a maioria dos filmes que vejo ultimamente, tem crescido enormemente na minha lembrança. Já é cotado para aparecer em listas futuras dos melhores dos anos 2000.

Bjão e bom fim de semana!

Anonymous said...

se você quiser me adicionar no msn
leuzzcn@hotmail.com :*

Kamila said...

Túlio, eu até perdôo a Academia ter esquecido Kirsten Dunst neste ano, pois o ano de atrizes em 2006 foi cheio de fortes interpretações e as cinco indicadas ao Oscar foram muito merecedoras disso.

Acho que, para mim, "Maria Antonieta" não vai ser tão marcante como foi para você. Vai ficar guardado na minha lembrança como o filme em que Sofia Coppola finalmente chamou minha atenção.

Beijo e bom final de semana!!!

Alex Gonçalves said...

Os comentários a respeito de “Maria Antonieta” estão muito divididos, o que comprova certo receio para aqueles que estão indefinidos sobre o que esperar do filme, e eu acabo me incluindo nesta lista. Particularmente, Sofia Coppola não possui nenhuma característica especial como diretora, pois não gosto de “As Virgens Suicidas”. E “Encontros e Desencontros” oferece um ângulo do amor autêntico, mas nada que o torne um filme verdadeiramente genial. A mistura de passado com elementos contemporâneos em “Maria Antonieta” ao menos sugere um filme muito mais ousado e interessante do que os anteriores da diretora. Verei em breve.

Kamila said...

Veja mesmo, Alex. Eu não achava nada de mais na Sofia Coppola. Achava que ela era muito super estimada. Depois de "Maria Antonieta", passei a enxergar certas qualidades no trabalho dela como cineasta.