Tuesday, August 29, 2006

Miami Vice (2006)


O seriado “Miami Vice”, que foi criado por Anthony Yerkovich, foi ao ar de 1984 a 1989. Muita gente hoje se lembra do seriado como o ápice da cafonice dos anos 80 – representado pela figura de Don Johnson e seu figurino formado pelos ternos de cor pastel, pelas camisas berrantes e pelo mocassim sem meia. No entanto, o seriado foi um dos marcos recente da televisão norte-americana, pois apresentou o mundo da polícia de Miami com uma linguagem ágil e com a opção por não suavizar no retrato da tríade sexo, drogas e violência.

Michael Mann foi produtor executivo da série e dirigiu alguns dos episódios de “Miami Vice”. Porém, surpreendentemente, ele nunca pensou em levar o seriado para a grande tela. Isso só aconteceu depois que Mann recebeu uma idéia de Jamie Foxx. Apesar de ser baseado no seriado de TV, não podemos considerar o filme “Miami Vice” (que além de ser dirigido foi escrito por Michael Mann) como uma transposição do seriado para a grande tela; e sim como o relato de uma nova história – afinal, o tráfico de drogas evoluiu desde os anos 80 e hoje é mais pesado e globalizado.

James “Sonny” Crockett (Colin Farrell, que traz um bigode e cabelo cafonas no lugar do figurino brega) e Ricardo Tubbs (Jamie Foxx) são detetives e parceiros na polícia de Miami. Na maior parte das vezes, Crockett e Tubbs trabalham em operações que os levam a locais luxuosos com a presença de muitas mulheres bonitas e sensuais. Além disso, os dois estão sempre a bordo de carros luxuosos (uma Ferrari para ser mais precisa), lanchas velozes e aviões. Ou seja, o estilo de vida de Sonny e Ricardo é muito bom e caro – o que faz com que a platéia levante suspeitas acerca de como os dois têm acesso a isso tudo, tendo em vista que o salário de um detetive de polícia não é lá essas coisas.

Após a morte de um dos informantes de Sonny e Ricardo em uma força tarefa que reunia várias porções da polícia dos Estados Unidos, os dois irão assumir – no lugar da força tarefa – a direção da operação que pretende desbaratar a estrutura de negócio do maior traficante de drogas da América Latina. Dessa maneira, Sonny e Ricardo se tornam cúmplices do traficante e assumem a função de transportar as mercadorias do bandido. É justamente no desenrolar dessa operação que a platéia pode confirmar que a essência de Sonny e Ricardo foi mantida no roteiro de Michael Mann. Enquanto o último é a parte mais responsável e confiável da parceria; o primeiro se deixa levar pela emoção e pela paixão – características ressaltadas quando Sonny começa a se envolver com Isabella (Gong Li), a mulher do chefão do tráfico.

“Miami Vice” é um filme que carrega toda a estética dos filmes dirigidos por Michael Mann. A fotografia tem o estilo documental – e isso ganha força na decisão de Mann de filmar em locações reais ao invés de utilizar os estúdios. Os vilões (especialmente José Yero, personagem interpretado por John Ortiz) se tornam personagens mais interessantes do que os protagonistas em determinados momentos do filme. “Miami Vice” também não economiza nas cenas de violência – que são muito gráficas –, mas isso teria que ser assim, pois a guerra travada todos os dias pelas forças policiais e pelos traficantes é tão ou mais pesada do que a retratada pelo filme. Enfim, “Miami Vice” é um modelo a ser seguido no que diz respeito aos filmes que são adaptações de séries de televisão. Afinal, o filme aqui é uma peça totalmente independente – e tão boa quanto – da série.

Cotação: 7,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Wednesday, August 23, 2006

O Libertino (The Libertine, 2005)


A trama do filme “O Libertino”, do diretor Laurence Dunmore, se passa no século 17, numa época em que a Inglaterra era governada pelo rei Charles II (John Malkovich). Nesse período, o rei Charles II permitiu o pleno desenvolvimento das atividades artísticas (especialmente as teatrais) e de um estilo de vida boêmio, que era marcado pelo uso exagerado de bebidas alcoólicas e pela liberdade sexual. O poeta John Wilmot (Johnny Depp), também conhecido como Conde de Rochester, era um representante fiel desse modo de viver.

Melhor amigo do rei Charles II, Johnny se casou com Elizabeth Malet (Rosamund Pike), uma mulher rica que ele raptou, mas não conseguia deixar de lado o uso de bebidas ou os encontros com as prostitutas. Por causa do alvoroço causado pelo rapto que o levou ao casamento com Elizabeth, Johnny passou um tempo afastado do reino – local para onde ele retorna depois que o rei Charles II o chama para que ele possa escrever um grande épico que represente o espírito de seu reino. No entanto, o foco de Johnny está todo voltado para a atriz Lizzy Barry (Samantha Morton), que é um fiasco de público. O Conde de Rochester se apaixona, então, pela atriz e começa a se dedicar com afinco à tarefa de transformá-la em uma grande atriz – numa época, vale lembrar, em que as mulheres tinham uma série de restrições para subirem nos palcos.

No prólogo de “O Libertino”, Johnny conversa com a platéia e avisa: provavelmente, os homens o odiarão, enquanto as mulheres o amarão. Na verdade, acredito que os atos de Johnny até o momento em que ele escreve a grande peça pornográfica sobre a corte inglesa (ao invés do grande épico que o rei Charles II tinha em mente) não causam nenhum sentimento na platéia. A partir do momento em que Johnny aparece – depois de uma série de acontecimentos mal explicados pelo roteiro – com o rosto desfigurado, sem conseguir se locomover e vivendo como um médico charlatão (tudo uma conseqüência de seu pesado estilo de vida), ele começa a estabelecer um envolvimento com a platéia, pois o público finalmente entende que tudo aquilo que ele fez foi parte de uma busca pessoal de Johnny pelo senso de se sentir amado pelas pessoas.

O personagem de John Wilmot foi feito sob medida para o ator Johnny Depp. Somente ele possui o carisma necessário para entregar as falas sarcásticas e irônicas de seu personagem sem atrair a antipatia da platéia. Somente ele conseguiria mergulhar neste universo obscuro e intrigante que é habitado pelo Conde de Rochester. Depp não é o único a brilhar em “O Libertino”. Samantha Morton e Rosamund Pike também se destacam como as duas mulheres da vida de Johnny. O filme ainda possui um belo trabalho de composição de figurinos, de fotografia e de direção de arte. Mas peca justamente no desenvolvimento do roteiro escrito por Stephen Jeffreys com base na peça que ele mesmo escreveu – especialmente na hora final de “O Libertino”.

Cotação: 4,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, August 19, 2006

Protegida por um Anjo (Half Light, 2006)


Houve uma época em que Demi Moore era considerada como uma das estrelas de cinema mais famosas do mundo. Seus filmes, quando eram lançados, causavam curiosidade no público e, algumas vezes, eram sucessos de bilheteria. Depois de fazer algumas más escolhas (como os filmes “Striptease” e “Até o Limite da Honra”), Moore fez o que poucos atores fariam: deixou de lado a carreira, foi viver num rancho no interior dos Estados Unidos e se dedicou por completo ao papel de mãe das três filhas que têm com o ex-marido, o também ator Bruce Willis. Moore só interrompia sua rotina para fazer poucos filmes. Um desses retornos aconteceu no filme “As Panteras – Detonando” e, três anos depois do lançamento desse filme, Moore está de volta à grande tela em “Protegida por um Anjo”, do diretor e roteirista Craig Rosenberg.

Em “Protegida por um Anjo”, Demi Moore interpreta a famosa escritora norte-americana Rachel Carlson, que vive em Londres com o marido, o também escritor Brian (Henry Ian Cusick, que fez uma participação especial na segunda temporada da série “Lost” interpretando Desmond), e o filho Thomas (Beans El-Balawi), que é fruto do primeiro relacionamento da escritora. Quando a platéia vê Rachel pela primeira vez, ela está lidando com a redação de seu próximo livro e com as frustrações de seu marido, que viu um livro seu ser rejeitado novamente por uma editora.

Após uma tragédia familiar (a morte do filho Thomas em decorrência de um afogamento), Rachel viu não só o seu casamento ruir, como também o desaparecimento de qualquer vontade que ela tinha para escrever. Por sugestão de sua amiga jornalista Sharon (a péssima Kate Isitt), Rachel se muda para uma casa isolada numa pequena cidade do interior da Inglaterra, aonde ela espera reencontrar a paz para poder recomeçar a sua vida e voltar a escrever. Os desejos de Rachel ameaçam não se tornar realidade quando ela começa a sentir a presença de Thomas e, em alguns momentos, chega até a receber mensagens do filho morto – é nesse momento em que “Protegida por um Anjo” começa a dialogar com “Ghost – Do Outro Lado da Vida”, o filme que catapultou o nome de Demi Moore para a fama.

A trama criada pelo diretor e roteirista Craig Rosenberg para “Protegida por um Anjo” se desenrola muito bem no primeiro e no segundo ato do filme (que retratam a angústia de Rachel ao sentir o espírito do filho próximo de si e o nascimento de um romance entre a escritora e o faroleiro interpretado por Hans Matheson) – são também nestes dois atos que se destaca a belíssima trilha sonora composta por Brett Rosenberg (e que tem influência da música minimalista, com seus acordes repetitivos e poucas variações). No entanto, quando “Protegida por um Anjo” chega ao seu terceiro – e último – ato (que retrata o desenvolvimento de uma trama criminal), Rosenberg perde o controle sob seu filme.

Faltou sensibilidade a Craig Rosenberg para perceber que o ponto alto da história de “Protegida por um Anjo” era a busca de uma mulher pela paz que ela perdeu. Quando o filme foge desse foco, a platéia se dispersa e perde toda aquela identificação inicial que foi estabelecida com a trama. Incomoda também a facilidade com que Rachel reencontra seu propósito de vida depois de vivenciar uma série de situações ruins. Não estou dizendo que isso é impossível de acontecer, mas, na vida real, a bonança demora muito para acontecer depois que uma tempestade passa na vida de uma pessoa.

Cotação: 3,0

Crédito Foto: Yahoo! Cinema

Tuesday, August 15, 2006

Click (2006)


Hoje em dia, cada vez menos as pessoas têm tempo para se dedicar com afinco às suas atividades pessoais e profissionais. Em conseqüência disso, as pessoas acabam privilegiando – em diferentes momentos de suas vidas – ou o lado profissional ou o lado pessoal. Esse não é o caso do arquiteto Michael Newman (Adam Sandler), que coloca sempre o trabalho (e a possibilidade de se tornar sócio da empresa em que está empregado) em primeiro lugar, em detrimento de sua esposa Donna (Kate Beckinsale, que tem seu talento completamente mal aproveitado neste filme) e dos filhos Ben (Joseph Castanon) e Samantha (Tatum McCann).

Enquanto controla a mão de ferro a sua vida profissional, tomando cuidado com cada passo que dá, Michael experimenta um certo descontrole em sua vida pessoal. Ele não consegue nem dar a atenção certa à esposa e aos filhos, quanto mais descansar em seu próprio lar. Por isso, em um momento de raiva, Michael sai pela noite em busca de uma loja que lhe venda um controle remoto universal – do tipo que controla todos os equipamentos eletrônicos. Ele encontra o tal produto na loja “Bad, Bath & Beyond” com o “vendedor” Morty (Christopher Walken). No entanto, ao invés de facilitar a vida de Michael, o controle remoto universal vai só trazer ainda mais descontrole para a vida do arquiteto, afinal o produto tem a capacidade de controlar todos os acontecimentos de sua vida.

Quem assistiu ao trailer de “Click”, filme do diretor Frank Coraci, e teve a oportunidade de assistir ao filme em si, saberá que o trailer vende um filme completamente diferente daquele que a platéia acaba assistindo. Enquanto a platéia assiste Michael se divertindo feito uma criança ao descobrir os recursos infinitos do seu controle remoto universal, “Click” é um filme bastante engraçado. No entanto, quando o filme entra em um viés mais dramático em que é mostrado o preço que Michael paga ao avançar no tempo para conseguir de maneira mais rápida aquilo que ele mais desejava (a promoção no trabalho), “Click” se perde nas suas próprias armadilhas para querer ser levado mais à sério.

Ao que tudo indica, o ator e produtor Adam Sandler tomou como exemplo profissional o seu amigo (e também) comediante Jim Carrey. Tanto Sandler quanto Carrey tiveram um começo de carreira parecido e participaram de programas de televisão antes de alcançarem a fama e o sucesso fazendo filmes de comédia. Carrey deu um passo à frente de seus companheiros comediantes quando abraçou papéis de cunho mais dramático (como os do filme “O Show de Truman” e “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”) alcançando o reconhecimento que lhe faltava – o da crítica. Já Sandler colheu elogios pela sua performance em “Embriagado de Amor”, filme do diretor Paul Thomas Anderson; e, desde então, só tem feito os filmes que são produzidos pela sua própria produtora (a Happy Madison). “Click” é o seu “Todo Poderoso” (filme em que Carrey interpreta um jornalista que recebe os poderes divinos das mãos do próprio Deus), mas ainda falta a Sandler o carisma que Carrey possui – e isso, infelizmente, Sandler não pode copiar do amigo.

Cotação: 3,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Wednesday, August 09, 2006

Assombração (Gwai Wik, Re-Cycle, 2006)


Sem dúvida alguma, os filmes de terror mais populares da atualidade são aqueles produzidos nos países do Oriente. Todos esses filmes possuem alguns elementos em comum: um roteiro que fala em uma maldição e em alguém que tem que acabar com ela. “Assombração”, filme dos diretores Oxide Pang Chun e Danny Pang, apresenta uma trama que foge de todos esses clichês.

Ting-Yin (Angelica Lee) é uma escritora que usa o codinome Chu Xun e cujos três primeiros livros se tornaram best-sellers no sudeste asiático – um deles, inclusive, chegou a ser adaptado para o cinema. Quando o agente de Chu Xun, Lawrence (Lawrence Chou), anuncia o próximo livro da escritora – que falará sobre forças sobrenaturais –, ela começa a perceber a existência de uma série de acontecimentos estranhos na sua vida e que acabarão atrapalhando-a no processo de construção de seu livro.

Ao mesmo tempo, logo após receber a visita de alguém de seu passado – e com quem Chu Xun esteve envolvida romanticamente –, a escritora entra em uma espécie de viagem pelo seu inconsciente e passa a entrar em contato com tudo aquilo que ela reprimiu ao longo dos anos. Esse acontecimento marca também o nascimento de um conflito em que a escritora – bem como a platéia de “Assombração” – tem dificuldades de distinguir o que é real do que é imaginário.

A primeira impressão que se tem é a de que realmente “Assombração” se diferencia dos outros filmes de terror produzidos nos países orientais. Ledo engano. No filme, encontramos a presença do medo representada pelos telefonemas estranhos, pelas mechas soltas de cabelo e pela água em excesso (não conheço a cultura do oriente, mas gostaria realmente de saber o por quê desses elementos serem utilizados como representantes fiéis do sentimento do medo). Quando “Assombração” entra na jornada de Chu Xun pelo seu inconsciente, o roteiro (que já era sofrível) se transforma numa reunião de fatos sem nexo algum. Mesmo com todos os problemas, ainda se podem ver algumas qualidades em “Assombração”: a maquiagem dos seres bizarros (e nada assustadores) que Chu Xun encontra no seu inconsciente está perfeita; e os efeitos visuais (especialmente na última seqüência da escritora no seu inconsciente) são muito bem feitos.

Cotação: 1,0

Crédito Foto: Yahoo! Cinema

Sentinela (The Sentinel, 2006)


Quem nunca ouviu falar do Serviço Secreto dos Estados Unidos, com certeza achará os trinta primeiros minutos de “Sentinela”, filme do diretor Clark Johnson (“S.W.A.T. – Comando Especial”), bastante didáticos. Neles, são apresentados a função principal dos agentes do Serviço Secreto norte-americano: cuidar da segurança do presidente do país (David Rasche) e de sua família. Um dos agentes mais experientes e importantes da atual equipe do Serviço Secreto é Pete Garrison (Michael Douglas, que também é o produtor do filme).

Pete Garrison se torna o inimigo número um de seus companheiros de trabalho – especialmente do agente David Breckinridge (Kiefer Sutherland, o Jack Bauer da popular série “24 Horas”) e da novata Jill Marin (Eva Longoria, a Gabrielle Solis do seriado “Desperate Housewives”) – depois que a morte do agente Charlie Merriweather (interpretado pelo próprio diretor do filme Clark Johnson) revela um plano para assassinar o presidente dos Estados Unidos. A partir deste momento, a trama de “Sentinela” se divide no retrato de duas guerras: a maior, que é travada pela equipe do Serviço Secreto para evitar a morte do presidente e conseguir a prisão de Garrison; e uma segunda guerra a ser travada de maneira particular (mas nem por isso menos importante do que a primeira) por Garrison para provar a sua inocência e evitar que o seu romance com a primeira-dama dos Estados Unidos (Kim Basinger) seja descoberto.

Após assistir “Sentinela”, você provavelmente ficará com a sensação de que já viu algum filme parecido com esse antes. Um deles é “Na Linha do Fogo”, do diretor Wolfgang Petersen, que coloca Clint Eastwood como um agente do Serviço Secreto que tem que superar suas próprias limitações físicas (decorrentes de sua idade) e mentais para evitar a morte do presidente dos Estados Unidos em um atentado. O diretor Clark Johnson compensa a mesmice de seu roteiro com uma direção segura e que mantém o clima de tensão desde a primeira cena até à conclusão do maior conflito de “Sentinela”. É bom também prestar atenção aos vários erros presentes em “Sentinela” – podem-se notar equívocos de continuidade (especialmente numa cena em que a personagem de Eva Longoria começa vestindo uma roupa e termina com outra) e, principalmente, de construção do roteiro (os agentes do Serviço Secreto conseguem antever cada passo que o presidente dos Estados Unidos dá, mas não conseguem perceber que a primeira-dama estava tendo um caso extraconjugal?).

Cotação: 4,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, August 05, 2006

Zuzu Angel (2006)


Atualmente, a moda brasileira (bem como as nossas modelos) vivem um momento especial, de reconhecimento e interesse internacional. Entretanto, esta não foi a primeira vez que esse fenômeno foi notado. Em 1971, a estilista mineira radicada no Rio de Janeiro Zuzu Angel projetou a moda brasileira pelo mundo afora, quando as suas coleções alcançaram sucesso em cidades como Nova York.

A cinebiografia “Zuzu Angel”, do diretor Sergio Rezende (que também co-escreveu o roteiro do filme ao lado de Marcos Bernstein), não retrata este momento em particular da vida da estilista Zuzu Angel, e sim a luta da mãe Zuzu Angel na busca pelo corpo de seu filho Stuart Edgard Angel Jones (Daniel de Oliveira), um militante político em plena época da ditadura militar no Brasil, e que foi preso, torturado e assassinado pelos agentes do Centro de Informações da Aeronáutica – sendo, posteriormente, declarado como desaparecido político.

A ditadura militar não é um território desconhecido pelo diretor Sergio Rezende – tendo em vista que ela já foi tema de um de seus filmes, “Lamarca”, de 1994 (Paulo Betti, inclusive, que interpretou o guerrilheiro neste filme faz uma pequena participação em “Zuzu Angel”). Por esta razão, Rezende toma a decisão acertada de, em “Zuzu Angel”, enfocar somente a batalha pessoal de Zuzu Angel. Tal batalha moveu autoridades políticas nacionais e internacionais e afetou profundamente a vida pessoal e profissional da estilista. Zuzu sempre foi ciente das atividades políticas de seu filho Stuart, mas, assim como a maioria dos brasileiros no período da ditadura militar, ela preferia se manter à margem de tudo o que estava acontecendo. Se o Brasil vivia um período político obscuro, as roupas criadas por Zuzu Angel retratavam as belezas naturais e a vivacidade do país. É somente após o desaparecimento de Stuart que Zuzu acorda para a situação confusa e caótica vivida no Brasil e passa a se manifestar naquilo que ela sabia fazer de melhor: suas roupas, que passam a estampar figuras inocentes, mas que, ao mesmo tempo, contestavam o momento político do país.

“Zuzu Angel” é um filme que tem um eixo emocional muito bem definido e ele é representado pela figura da atriz Patrícia Pillar, que está presente em quase todas as cenas do filme e, em conseqüência disso, interage com quase todos os (excelentes) atores que participam da trama (como Luana Piovani, Alexandre Borges, Othon Bastos, Leandra Leal, Regiane Alves, Ângela Vieira, Ângela Leal, Flávio Bauraqui, Nélson Dantas, Fernanda de Freitas, Antônio Pitanga, Aramis Trindade, Caio Junqueira, dentre outros). Poder interpretar Zuzu Angel – uma personagem difícil, pois sua trajetória de vida é cheia de facetas e de nuances – é a oportunidade da vida de Pillar, que é acostumada a ser uma coadjuvante de luxo nos seus trabalhos na televisão. E a atuação que ela proporciona é, literalmente, de entrega emocional e, se já não era difícil se identificar com a cruzada pessoal de Zuzu Angel, fica ainda mais complicado não se envolver com tudo aquilo que a estilista passou depois de vê-la pelos olhos de Patrícia Pillar.

O filme “Zuzu Angel” se transforma numa importante peça histórica para nos lembrar de que houve um tempo em que as pessoas eram perseguidas simplesmente por defenderem os ideais nos quais acreditavam. A luta de Zuzu Angel foi igual à de muitas outras mães que também perderam os seus filhos nos porões da ditadura militar brasileira; a diferença é que Zuzu tinha os meios – e os contatos – disponíveis para conseguir ser ouvida. É triste perceber que gente como ela e Stuart tiveram que morrer para que nós tivéssemos o direito de nos expressar livremente e defendermos aquilo que achamos ser o mais correto. Nossas crenças são uma arma poderosa e, em ano de eleições, é bom que nós as sigamos para termos um país justo e, quem sabe, mais digno – fazendo com que a luta de Stuart, Zuzu e tantos outros não tenha sido em vão.

Cotação: 9,6

Crédito Foto: Yahoo! Cinema

Wednesday, August 02, 2006

Bandidas (2006)


Sara Sandoval (Salma Hayek), como toda jovem rica, é uma pessoa pedante e mimada. Filha do dono de um banco, ela está de volta à sua pequena cidade do México depois de dez anos estudando na Europa. Maria Alvarez (Penélope Cruz), ao contrário, é uma jovem pobre e que só entende dos assuntos do campo (ofício que aprendeu ao ajudar seu pai nos cuidados com a fazenda da família). Maria compensa a sua falta de educação com muita malícia e malandragem para lidar com os obstáculos do dia-a-dia.

Estas mulheres tão distintas são as protagonistas do filme “Bandidas”, dos diretores Joachim Roenning e Espen Sandberg, e irão se juntar para derrubar um plano que tem arruinado as vidas dos habitantes da cidade mexicana aonde as duas moram. O Sr. Jackson (Dwight Yoakam, que rouba a cena toda vez em que aparece) é o representante de um banco de Nova York que aparece na cidade de Sara e Maria para tomar as terras dos habitantes que estão devendo dinheiro ao banco local. As terras desapropriadas serão utilizadas para a construção de uma ferrovia. Na sua jornada pessoal, o Sr. Jackson não aceita um não como resposta e quem se coloca no caminho dele (como é o caso dos pais de Sara e Maria) pode acabar seriamente machucado ou até morto.

Por mais que sejam diferentes, Sara e Maria possuem personalidades que se complementam e é justamente a mistura das duas que irá se sobressair quando, juntas, elas decidem assaltar os bancos representados pelo Sr. Jackson; repassando, dessa maneira, o dinheiro para que a população possa saldar as suas dívidas e recuperar as suas terras. Mas se engana quem pensa que “Bandidas” é um filme que exalta o girl power. Pelo contrário, o roteiro do francês Luc Besson (que também produz o filme) e Robert Mark Kamen aproveita a união de Sara e Maria para difundir todos os conceitos que os homens possuem em relação às mulheres. A amizade que nasce entre as duas é cheia de rivalidade, ciúme e inveja (ainda mais quando entra em cena o perito em ciências criminais interpretado por Steve Zahn). “Bandidas” assume de vez o seu lado de “filme para garotos” quando se aproveita dos figurinos apertados para valorizar os atributos físicos de Salma Hayek e Penélope Cruz e quando insere Sara e Maria numa disputa pela atenção de um homem (a qual é marcada por uma desnecessária guerra de beijos).

Em certos momentos, “Bandidas” lembra muito os filmes do diretor Robert Rodriguez (especialmente “El Mariachi”, “A Balada do Pistoleiro” e “Era uma Vez no México”). Estão lá no filme a trilha baseada nas músicas típicas mexicanas, a fotografia que explora as cores fortes, a presença das mulheres sensuais e, principalmente, a sensação de justiça que é trazida pela vingança. No entanto, essa é somente uma grande impressão, pois os diretores Joachim Roenning e Espen Sandberg não têm metade do talento de Rodriguez. No final, “Bandidas” é somente uma cópia mal feita de um produto de melhor qualidade.

Cotação: 3,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies