Tuesday, March 27, 2007

Atirador (Shooter, 2007)


Em 29 de Agosto de 2005, estreou nos Estados Unidos um seriado cuja premissa era muito engenhosa. Um cara com ficha policial e com motivos de sobra para assassinar o irmão da vice-presidente dos Estados Unidos é o escolhido por uma organização internacional para ser o culpado do crime, mesmo sem tê-lo cometido. Condenado à pena de morte e sem conseguir fazer com que os outros acreditem na sua história, ele só pode contar com a ajuda do irmão mais novo, que foi o engenheiro responsável pela reforma da prisão aonde ele se encontra e que comete um crime para ficar encarcerado no mesmo presídio. No entanto, esse sacrifício entre irmãos não é o elemento mais importante de “Prison Break”, uma das séries mais bem-sucedidas do canal Fox dos Estados Unidos. O que mais chama a atenção de nós, telespectadores, é o fato de que, mesmo após fugirem do presídio, os dois irmãos ficam em uma prisão ainda maior, pois, além de viverem em fuga, eles assistem às pessoas que tentam provar a inocência do irmão mais velho serem misteriosamente assassinadas.

O roteiro de “Atirador”, filme do diretor Antoine Fuqua, foi escrito por Jonathan Lemkin com base em um livro de Stephen Hunter, mas tem muito da premissa inicial do seriado “Prison Break”. Bob Lee Swagger (Mark Walhberg, no seu primeiro filme após a indicação ao Oscar 2007 de Melhor Ator Coadjuvante) é o atirador perfeito treinado pelo exército norte-americano. Bob era colocado, ao lado do observador Donnie Fenn (Lane Garrison), nas piores missões. Numa delas, a dupla é abandonada pelos superiores em plena guerra e o resultado é a morte de Donnie e a precoce aposentadoria de Bob, que fica traumatizado com o ocorrido.

Três anos depois, Bob é o pacato morador de uma área montanhosa e sua companhia mais freqüente é o cachorro de estimação. Sua rotina é alterada quando recebe a visita do coronel Isaac Johnson (Danny Glover), que lhe revela o plano para assassinar o presidente dos Estados Unidos que foi descoberto pela CIA. Johnson precisa que Bob colabore com a agência no sentido de dizer se é possível para um atirador fazer um tiro fatal de uma certa distância. Após colaborar com a CIA, Bob vê que foi vítima de uma armadilha. Na condição de homem mais procurado dos Estados Unidos, Bob começa uma luta para provar a sua inocência.

O diretor Antoine Fuqua sempre foi conhecido pelos ótimos filmes de ação que fez, dentre os quais se destacam “Dia de Treinamento” e “Lágrimas do Sol”. Após o fracasso que foi “Rei Arthur”, o diretor reencontra o seu melhor num terreno que lhe é extremamente familiar. “Atirador” é um filme que, na maior parte do tempo, prende a atenção da platéia e que possui um excelente trabalho de concepção e execução das cenas de ação. Pode não ser um dos melhores filmes do gênero, mas, com certeza, vai satisfazer os fãs que adoram curtir um filme cheio de adrenalina.

Cotação: 6,3

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Tuesday, March 20, 2007

Norbit (2007)


Para os comediantes, não existem limites na hora de fazer comédia. Eles não hesitam em transformar sua voz ou sua aparência – algumas vezes até para interpretar múltiplos personagens. Tome como exemplo os casos dos irmãos Shawn e Marlon Wayans nos filmes “As Branquelas” e “O Pequenino” e de Tyler Perry em “O Diário de uma Louca”. Eddie Murphy também está bem familiarizado com esse jeito de fazer comédia, afinal em “O Professor Aloprado” entrou na pele de três personagens e em “O Príncipe em Nova York” interpretou outros tantos.

Em “Norbit”, do diretor Brian Robbins, filme que Eddie Muprhy estrela, produz e roteiriza (ao lado de Charles Q. Murphy, Jay Sherick e David Ronn); o comediante interpreta três personagens. Norbit, o primeiro deles, é bem parecido com um dos personagens que ele interpretou em “Os Picaretas”, uma vez que é ingênuo e facilmente enganado pelos outros. Sr. Wong, o segundo deles, é o dono do orfanato/restaurante chinês em que Norbit cresceu. E Rasputia, o terceiro deles, é a esposa ciumenta de Norbit.

A trama do filme apresenta Norbit como um perfeito “loser”. Norbit tem uma aparência física distinta (óculos grandes, um cabelo afro) e foi abandonado ainda bebê pelos pais. Ele cresceu sendo humilhado pelos colegas – só teve um descanso dessas brincadeiras quando estava ao lado de Kate, uma amiga do orfanato que acabou sendo adotada por uma família; e, posteriormente, na companhia de Rasputia, a garota que o pega para ser, literalmente, a sua “bitch”.

O acontecimento mais importante de “Norbit” é a volta de Kate (Thandie Newton) à cidade aonde cresceu, pois ela acabou de vender seu negócio de moda e quer comprar o orfanato do Sr. Wong. Ao reencontrá-la, Norbit vê a oportunidade perfeita para tomar as rédeas de sua vida e, de quebra, reconquistar o seu amor de infância. Mas, para isso acontecer, Norbit tem que ter a coragem de abandonar Rasputia, de enfrentar a perseguição de seus cunhados e de estragar os planos de Deion Hughes (Cuba Gooding Jr.), o noivo oportunista de Kate.

Quando “Norbit” estreou nas salas de cinema dos Estados Unidos nas semanas que antecederam o Oscar (prêmio para o qual Eddie Murphy estava indicado pela sua performance como ator coadjuvante no filme “Dreamgirls – Em Busca de um Sonho”), a imprensa muito especulou sobre se o sucesso do filme nas bilheterias poderia prejudicar as chances de ganhar a estatueta dourada. Esta discussão era totalmente imprópria no período, pois, se tinha algo que poderia tirar o Oscar de Murphy, não era o seu histórico cinematográfico, e sim a sua conhecida atitude arrogante no meio. Antipatias à parte, o que todos esperam é que Murphy utilize a sua indicação ao Oscar para fazer projetos que sejam desafiantes, e não as mesmas comédias de sempre. Ele já provou que tem talento para isso.

Cotação: 1,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, March 17, 2007

O Último Rei da Escócia (The Last King of Scotland, 2006)


Idi Amin Dada marcou seu nome na história como líder de uma das ditaduras mais sangrentas da história de Uganda. Assim como muitos outros governantes que acabam se perpetuando no poder nos países que formam o continente africano, Amin conquistou a liderança política de Uganda fazendo a promessa de um governo para o povo. Assim como muitos outros governantes que deixam o poder subir às suas mentes, Amin logo se esquece de suas promessas iniciais e reprisa as cenas de violência, censura e cerceamento que são tão conhecidas dos africanos. É justamente este personagem complexo, carismático e contraditório, o objeto principal do filme “O Último Rei da Escócia”, do diretor Kevin MacDonald.

A história do filme é contada pelo ponto de vista de Nicholas Garrigan (o excelente James McAvoy), jovem recém-formado em Medicina, e que ainda não sabe lidar com as pressões de sua família ou com os caminhos que o seu pai julga serem os melhores a se seguir. Nicholas ainda é inocente a ponto de pensar que pode mudar o mundo, por isso ele embarca rumo à Uganda, no continente africano, aonde trabalhará em uma missão coordenada pelo médico David Merrit (Adam Kotz) e sua esposa Sarah (Gillian Anderson).

Na África, Nicholas encontra um mundo completamente diferente do que conhecia. A alegria do povo esconde, na realidade, a escassez de recursos, a pobreza, a miséria e, principalmente, a violência. O contraste é ainda maior quando – a convite do presidente Idi Amin Dada (Forest Whitaker, numa performance que lhe rendeu o Oscar 2007 de Melhor Ator) – Nicholas vai para a capital do país (Kampala), um local mais moderno e organizado. Seduzido pela confiança que é depositada nele pelo próprio Amin, Nicholas abandona o idealismo e se entrega ao sistema quando aceita ser o médico particular do presidente e de sua família, bem como o conselheiro político do ditador.

No momento em que decidiu deixar a Escócia para ir à África, Nicholas julgou estar deixando uma prisão (que era dominada pelos valores e pelas expectativas de seus pais) para ir para uma terra aonde ele poderia ser livre para aprender e aproveitar a sua juventude. Mal ele sabia que, ao aceitar trabalhar para o regime, estaria entrando em uma outra prisão. E esta nova realidade é sufocante, dolorida e decepcionante. O isolamento de Nicholas se agrava ainda mais quando ele se envolve com uma das esposas de Idi Amin Dada, a bela Kay (Kerry Washington).

O excelente roteiro de “O Último Rei da Escócia” foi baseado no livro de Giles Foden e escrito pela dupla Jeremy Brock e Peter Morgan. Este último também foi o autor do roteiro de “A Rainha”, filme do diretor Stephen Frears. Os dois filmes têm em comum o teor político. A diferença entre eles é que, em “A Rainha”, o povo tem uma maior influência na política. “O Último Rei da Escócia” dialoga mais com filmes como “Diamante de Sangue”, de Edward Zwick, e “Hotel Ruanda”, de Terry George. Nestes três filmes, o homem branco é a ponte pela qual o mundo fica conhecendo a verdadeira realidade do continente africano. Os filmes dão voz àqueles que não podem falar. O chato é saber que, provavelmente, os nossos filhos e netos continuarão a assistir filmes como estes; afinal os governos do hemisfério norte continuam a ignorar aqueles que ajudaram a construir, praticamente, todas as nações do mundo.

Cotação: 9,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Tuesday, March 13, 2007

O Motoqueiro Fantasma (Ghost Rider, 2007)


Toda a trama do filme “O Motoqueiro Fantasma”, do diretor e roteirista Mark Steven Johnson, se baseia em uma lenda que afirma que o diabo possui um ajudante que ganhou o nome de motoqueiro fantasma. Esse auxiliar trabalha na terra, durante a noite, e se alimenta dos pecados das almas daqueles que fugiram do inferno. Geralmente, o motoqueiro fantasma é alguém que fez um pacto com o demônio. O trabalho que eles desempenham é só uma maneira que o diabo arrumou para coletar a sua dívida.

No filme, a bola da vez é Johnny Blaze (Matt Long quando jovem e Nicolas Cage quando adulto), que faz um show de acrobacias em motocicletas com o pai Barton Blaze (Brett Cullen). Quando descobre que o pai está com um câncer em estágio avançado, Johnny recebe a visita de Mefisto (Peter Fonda), o diabo em si, que o faz uma proposta “irrecusável”: ter a saúde do pai em troca de sua alma. Assim que o trato é feito, Johnny logo percebe que sua vida será pautada por muito sofrimento – afinal, ele perde as pessoas que mais amava: o pai (que morre ao fazer uma das acrobacias do show) e a namorada Roxanne Simpson (Raquel Alessi quando jovem e Eva Mendes quando adulta).

Quando a platéia reencontra Johnny Blaze, ele fez fama e riqueza como o mais importante astro de acrobacias em moto que o mundo conhece. E ele ainda tem uma personalidade que vai de encontro ao estereótipo do motociclista: ele é fã da música dos The Carpenters, não bebe e é um consumidor ferrenho de jujubas. Além disso, Johnny tem medo e temor de que, um dia, Mefisto venha cobrar a sua parte no trato. E o demônio aparece no pior momento – o do reencontro com Roxanne – para pedir que Johnny o ajude a se livrar de seu filho Blackheart (Wes Bentley, o sumido ator de “Beleza Americana”), que quer tomar o lugar do pai como dono das maldades humanas.

“O Motoqueiro Fantasma” é um daqueles filmes que vai fazer parte do segundo escalão de películas com heróis da Marvel Comics (“Demolidor – O Homem Sem Medo”, outro filme dirigido por Mark Steven Johnson, é um representante desse segmento mais “pobre”). A execução dada pelo diretor é muito interessante, mas o filme peca em elementos importantíssimos, como roteiro e elenco. A princípio, a história de “O Motoqueiro Fantasma” não parece ter muitas ambições, mas fica muito difícil acreditar na transformação de um homem que só queria ter a sua vida de volta em um herói que luta contra o demônio.

A platéia não acredita nesta transformação, pois o diretor Mark Steven Johnson não consegue tirar de seus atores (com exceção de Eva Mendes) interpretações convincentes. Wes Bentley e Peter Fonda estão no piloto automático e parece que tiveram seus rostos congelados. Não se sente qualquer emoção, raiva ou repúdio na interpretação deles. O mesmo é o caso de Nicolas Cage, um ator que tinha tudo para ser um dos grandes astros do cinema atual, mas que, depois do Oscar de Melhor Ator pela sua interpretação em “Despedida em Las Vegas”, mais tomou decisões erradas do que acertadas.

Cotação: 0,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, March 10, 2007

Dreamgirls - Em Busca de um Sonho (Dreamgirls, 2006)


Quando o musical “Dreamgirls – Em Busca de um Sonho” chegar ao fim do seu primeiro ato, provavelmente as platéias brasileiras não vão fazer a mínima idéia sobre a importância que a cena que eles acabaram de assistir tem. Esse é o momento em que Effie Melody White (Jennifer Hudson) canta “And I’m Telling You I’m Not Going”, uma das canções mais clássicas – e lindas - da história da Broadway.

“And I’m Telling You I’m Not Going” é o ápice emocional da história de “Dreamgirls – Em Busca de um Sonho”. Um ponto de transição crucial entre dois momentos. Se essa cena desse errado, não é exagero dizer que todo o filme iria por água abaixo. Talvez por isso o cuidado extremo do diretor e roteirista Bill Condon (um dos muitos presentes na noite de estréia do musical na Broadway, em 1981, a serem enfeitiçados por toda a inovação do espetáculo criado pelo diretor Michael Bennett, pelo letrista Tom Eyen e pelo compositor Henry Krieger), que, além de escalar com zelo sua Effie (Jennifer Hudson foi a escolhida entre mais de setecentas candidatas), trabalhou extensivamente com sua atriz e equipe cada verso, frame e instante do canto de Effie. Depois de assistirmos à cena na tela grande, fica a certeza de que o esforço de Condon valeu a pena, pois este é um dos momentos mais poderosos da história dos filmes de gênero musical – e, por quê não, de qualquer outro estilo.

A música sobre rejeição e sobre sonhos despedaçados que é entoada por Effie cai como uma luva para a trama de “Dreamgirls – Em Busca de um Sonho”, filme que retrata a trajetória do grupo Dreamettes – que é formado, além da já citada Effie, por Deena Jones (Beyoncé Knowles) e por Lorrell Robinson (Anika Noni Rose) – em busca do sucesso. Ao longo de uma década, a platéia irá acompanhar a luta delas para chegar ao topo com todas as glórias e percalços que fazem parte desse caminho.

A sorte das Dreamettes irá mudar quando elas conhecem o empresário Curtis Taylor Jr. (Jamie Foxx), que logo as toma como protegidas e lhes dá a chance de ouro: trabalhar como backing vocal de Jimmy “Early” Thunder (Eddie Murphy), um cantor de sucesso. É justamente de Curtis a polêmica decisão de afastar a temperamental, talentosa e curvilínea Effie (que também é sua amante) dos vocais principais do grupo (que, agora, se chama The Dreams) em prol da linda Deena, que, na mente empresarial de Curtis, tem mais apelo comercial – levando àquela cena crucial sobre a qual falei no início do texto.

A partir daí, “Dreamgirls – Em Busca de um Sonho” se divide em duas linhas narrativas: a principal, que acompanha a jornada rumo ao sucesso de Deena Jones – que foi promovida também ao posto de esposa de Curtis – and the Dreams (com Michelle Morris, que é interpretada por Sharon Leal, no lugar de Effie) e a secundária, que mostra a decadência daqueles – Effie, Jimmy e o empresário Marty Madison (Danny Glover) – que viram seus sonhos serem aniquilados pelo faro empresarial – correto, porém cruel – de Curtis.

O filme tem muitos pontos positivos. O primeiro deles se encontra no lado técnico. A fotografia de Tobias A. Schliesser, os figurinos de Sharen Davis e a direção de arte de John Myhre, Tomas Voth e Nancy Haigh são extremamente luxuosas e nos fazem embarcar numa viagem por toda a história da virada da música negra americana a partir da chegada da gravadora Motown e do empresário Barry Gordy Jr. Há que se valorizar também o trabalho de direção de Bill Condon, que conduz com maestria o seu filme. No entanto, o segundo ato de “Dreamgirls – Em Busca de um Sonho” revela aquilo que fica escondido no primeiro ato: a má construção dos personagens e a correria para se dar um desenrolar à história.

O elenco de “Dreamgirls – Em Busca de um Sonho” é um show à parte. Todos os atores (com exceção de Jamie Foxx) estão à vontade em seus papéis. Talvez isso aconteça, pois o tema do filme é muito próximo de suas próprias realidades (a história do musical, por exemplo, é levemente baseada na trajetória de Diana Ross and the Supremes). Beyoncé Knowles, através de sua vivência no Destiny’s Child, conhece muito bem a dura rotina de um grupo (e toda dedicação, ciúme e intriga que nele existe). Além disso, ela ainda tem um Curtis na sua vida – o pai Mathew Knowles, que controla à mão de ferro a carreira da filha e era o empresário de seu antigo grupo. Jennifer Hudson também sabe o que é ser rejeitada – isso aconteceu com ela na terceira temporada do reality show "American Idol" – e todas essas sensações, além do trabalho particular com Bill Condon, fazem com que ela componha a sua Effie de maneira estupenda, numa das melhores performances femininas de 2006. Eddie Murphy, assim como Jimmy “Early” Thunder também conhece os altos e baixos da carreira no show business.

"Dreamgirls – Em Busca de um Sonho” é um filme que celebra a música e, principalmente, o mecanismo por trás do show business. Por esta razão, não se tem a necessidade da associação da trama do filme ao movimento social negro dos anos 60 ou à Guerra do Vietnã. Através de Effie, Deena, Lorrell, Michelle, Curtis, Jimmy, Marty, C.C. (o irmão compositor de Effie White, interpretado por Keith Robinson); Bill Condon mostra os preços – altos, às vezes – que os nossos sonhos cobram. Ao mesmo tempo revela também que, não importa o quanto esses sonhos sejam altos, vale a pena vivê-los.

Cotação: 7,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Monday, March 05, 2007

Anjos da Vida - Mais Bravos que o Mar (The Guardian, 2006)


Filmes como “Brigada 49”, de Jay Russell, e “Anjos da Vida – Mais Bravos que o Mar”, do diretor Andrew Davis, nos mostram que a vida daqueles que se dedicam a salvar vidas é muito difícil. O caminho percorrido até a formação como bombeiro ou como nadador da Guarda Costeira é tortuoso, humilhante e exige da pessoa um enorme sacrifício. A compensação vem do momento em que se está no campo de atuação, com a adrenalina em cima. Talvez só eles mesmos consigam decifrar todos esses sentimentos que vêm à tona após a salvação de uma vida.

Em “Anjos da Vida – Mais Bravos que o Mar”, somos apresentados a dois personagens que, apesar da diferente faixa etária, possuem muita coisa em comum. Ben Randall (Kevin Costner) é o mais brilhante nadador que já passou pela Guarda Costeira, dono de recordes e um homem completamente devotado à sua profissão – tanto que colocou em risco o casamento com a namorada de infância Helen (Sela Ward). Já Jake Fischer (Ashton Kutcher) é um jovem recruta da Escola de Elite da Guarda Costeira, nadador talentoso e cheio de títulos estaduais. Ou seja, Jake tem tudo para ser o novo Ben.

O caminho deles dois se cruza quando Ben é encaminhado ao posto de instrutor da Escola de Elite depois de um resgate mal-sucedido em que perdeu a sua equipe. Nestas cenas de treinamento dos recrutas, o diretor Andrew Davis segue à risca o manual de “filmes de treinamento” e coloca os seus recrutas sob o comando de superiores que irão levá-los ao limite de seus estados físico e psicológico. A diferença vem da maneira como é construído o relacionamento entre Ben e Jake. O primeiro está se sentindo ameaçado pelo vigor físico e pela qualidade do jovem nadador. O segundo entra no treinamento com uma postura um tanto arrogante, mas, na medida em que o treinamento vai se concretizando, ele passa a entender que ser um nadador de resgate exige que ele seja menos egoísta e mais altruísta.

"Anjos da Vida – Mais Bravos que o Mar” é um filme que tem algumas qualidades. A direção de Andrew Davis é ótima, especialmente nas cenas de resgate no mar. No entanto, o filme peca na insistência em transformar seus personagens, especialmente Ben Randall, em figuras um tanto míticas. É por causa disso que o filme começa a se perder na sua meia hora final, quando as cenas criadas pelo roteirista Ron L. Binkerhoff soam um tanto forçadas. Tentar encontrar um propósito heróico por trás das ações de Ben e da impetuosidade de Jake é muito errado. Salvar vidas é uma vocação que alcança pouca gente. Aqueles que tem esse dom já são heróis por natureza. Não precisa que filmes como “Anjos da Vida – Mais Bravos que o Mar” nos mostrem isso.

Cotação: 4,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, March 03, 2007

Letra e Música (Music and Lyrics, 2007)


Todo mundo sabe que o show business adora uma boa “comeback story”. Nos três primeiros meses de 2007, a indústria assistiu algumas histórias triunfantes de retorno. Na música, após sofrerem protestos, boicotes e ameaças devido a uma declaração de oposição à Guerra do Iraque, o grupo country Dixie Chicks foi “vingado” no Grammy Awards ao vencer as três principais categorias da noite (álbum, gravação e música do ano). No cinema, vimos o comediante Eddie Murphy e a antiga estrela infantil Jackie Earle Haley serem reconhecidos através de indicações para diversas premiações.

A comédia romântica “Letra e Música”, do diretor e roteirista Marc Lawrence, trata não só de uma “comeback story”, como também mostra o momento único em que um talento nato é descoberto. Alex Fletcher (Hugh Grant), nos anos 80, era o tecladista e compositor da banda inglesa PoP!, que teve alguns sucessos no currículo. Como é comum no mundo da música, o sucesso de Fletcher e seu grupo viraram apenas uma lembrança quando o vocalista do PoP! decidiu abandonar a banda. Após anos vivendo no esquecimento, Fletcher volta à tona com o revival dos anos 80 e relembra seus antigos sucessos em shows em feiras agropecuárias, reuniões de colégio, festivais, parques temáticos, etc.; cantando para um público formado basicamente por donas-de-casa ansiosas em reviver um momento de suas juventudes.

A oportunidade de ouro que Alex Fletcher tanto queria para voltar ao topo aparece quando o empresário da popstar Cora Corman (Haley Bennett) o convida para escrever uma canção para ela. No entanto, o ponto forte de Alex é a melodia. Ele precisa que alguém escreva os versos para ele. E esse alguém será Sophie Fisher (Drew Barrymore), a garota que cuidava das plantas do apartamento dele e que trabalhava no spa da irmã (Kristen Johnston, a hilária atriz que fazia parte do elenco do seriado “3rd Rock From the Sun”), mas que revela uma vocação para a escrita.

“Letra e Música” é uma típica comédia romântica aonde o mocinho conhece a mocinha, eles se apaixonam, brigam e se reconciliam no final. O tempo inteiro a platéia não escapa da idéia de que “já assistimos a este filme antes”. Aqui, Drew Barrymore interpreta, pela enésima vez, a garota confusa, de jeito abobalhado e romântico; enquanto Hugh Grant reprisa o papel do galã de meia idade que ainda não sabe o que quer. No final, fica muito difícil gostar de um filme em que o melhor momento é o clipe de “PoP Goes My Heart” que é mostrado nos créditos iniciais e finais de “Letra e Música”.

Cotação: 4,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Thursday, March 01, 2007

Uma Verdade Inconveniente (An Inconvenient Truth, 2006)


Muitas pessoas devem ter pensado, logo após ele ter perdido aquela controversa eleição para presidente dos Estados Unidos, em 2000, que a carreira política de Al Gore havia terminado. Entretanto, o mundo dá muitas voltas. Gore tomou a derrota política como estímulo para se dedicar por completo a uma causa que sempre foi muito próxima de seu coração: o ambientalismo. Desde então, ele tem viajado o mundo, apresentando por mais de mil vezes uma série de slides que versam sobre a interferência nociva do homem no meio-ambiente e sobre quais os efeitos que essa intervenção terá nas nossas vidas. Foi justamente dessas palestras que nasceu o documentário vencedor do Oscar 2007, “Uma Verdade Inconveniente”, do diretor Davis Guggenheim.

No documentário, Guggenheim equilibra imagens da palestra de Al Gore com vídeos e depoimentos do dia-a-dia do ex-vice-presidente dos Estados Unidos em que ele enumera o seu histórico com o tema do meio-ambiente (numa paixão que começou ainda pequeno na vivência na fazenda da família e se consolidou mais tarde na faculdade e na luta no congresso e na vice-presidência do país), bem como momentos cruciais de sua vida pessoal (o acidente com o filho caçula e a morte da única irmã) que o fizeram lutar ainda mais por essa causa.

Toda a argumentação de Al Gore parte de uma simples pergunta: “qual o mundo que você gostaria de deixar para os seus filhos?”. Esse é um questionamento pertinente e todas as respostas que Gore oferece são muito bem fundamentadas em índices, pesquisas, artigos e reportagens. O ex-vice-presidente refuta as críticas aos teóricos que defendem a urgência da preservação do meio-ambiente. Gore ainda soluciona as dúvidas gerais do público sobre o tema e faz com que a gente entenda a importância de brigar por esta causa.

“Uma Verdade Inconveniente” é um documentário informativo, elucidativo e impressionante em certos momentos. A idéia por trás do filme é muito interessante. Se Al Gore não pode dar as palestras em todas as cidades do mundo, com o filme ele poderá fazer com que a sua mensagem alcance um número muito maior de pessoas. Ao fazer com que nós tomemos uma atitude positiva diante do tema do aquecimento global e dos danos do homem no meio-ambiente, “Uma Verdade Inconveniente” acaba dialogando muito com “A Rainha”, um outro filme que mostra que um ato pode fazer muita diferença em se tratando da política.

“Uma Verdade Inconveniente” é o tipo de filme que deve ser visto por todos e que deve ser passado nas escolas, faculdades e associações comunitárias. O cuidado com o planeta é uma necessidade urgente. Ainda não se convenceu? Fique então com as palavras de Al Gore ao receber o Oscar de Melhor Documentário no último dia 25 de fevereiro: “Meus caros americanos e pessoas ao redor do mundo, nós precisamos resolver o problema da crise climática. Essa não é uma questão política, é uma questão moral. Nós temos tudo que nós precisamos para começar, com a exceção da vontade de agir. E este é um recurso renovável, vamos renová-lo”.

Cotação: 9,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies