Saturday, September 30, 2006

As Torres Gêmeas (World Trade Center, 2006)


Numa das – poucas – passagens bonitas do filme “A Dama na Água”, do diretor e roteirista M. Night Shyamalan, a ninfa Story (Bryce Dallas Howard) afirma que os seres humanos pensam que estão sozinhos no mundo até que existem acontecimentos que nos unem de uma forma irreversível. Os atentados terroristas de 11 de Setembro foram um desses acontecimentos. Neste dia, o mundo todo parou em frente à televisão para acompanhar o passo a passo de algo que todos achavam ser impossível acontecer e para o qual ninguém estava preparado – inclusive as autoridades norte-americanas.

O que se sucedeu neste dia em particular ainda é um assunto muito doloroso para muitas pessoas, especialmente para os norte-americanos. Aos poucos, foram surgindo livros e programas de TV que mostravam os bastidores dos atos terroristas. Cinco anos depois chegou a vez de Hollywood explorar o tema a seu modo. Nos dois filmes lançados sobre o tema – “Vôo United 93”, de Paul Greengrass, e “As Torres Gêmeas”, de Oliver Stone –, o foco estão nos heróis – naqueles que foram “altruístas” a ponto de se sacrificarem em prol de um bem maior (evitar a morte de mais pessoas inocentes) ou naqueles que viram o bem no meio de tanto mal.

“As Torres Gêmeas” joga o olhar sob a cidade de Nova York e os seus heróis – até aquele dia – anônimos (os policiais). As primeiras cenas do filme retratam os policiais enquanto eles deixam as suas famílias e partem rumo a mais um dia de trabalho como outro qualquer – em que o ponto mais “arriscado” seria a expulsão de algum mendigo de algum local. Logo o chão começa a tremer e, com o mínimo de informações possíveis, os policiais da autoridade portuária partem para o World Trade Center – local onde o Sargento John McLoughlin (Nicolas Cage) reúne a equipe formada por Will Jimeno (Michael Pena, o chaveiro de “Crash – No Limite”), Antonio Rodrigues (Armando Riesco), Dominick Pezzulo (Jay Hernandez), Christopher Amoroso (Jon Bernthal) e Giraldi (Danny Nucci) para entrar na torre cinco do World Trade Center e resgatar o máximo possível de pessoas.

O diretor Oliver Stone opta por não mostrar nenhuma cena dos aviões se chocando com a torre – afinal, esta imagem já está completamente solidificada em nossa mente. Para ele – e para nós da platéia – o momento mais chocante (e novo) será acompanhar o desespero que se instala naqueles que estavam na torre quando os dois prédios que formavam o World Trade Center começam a colapsar. Outro elemento importante – e poderoso – da narrativa de “As Torres Gêmeas” começa a acontecer a partir do momento em que passamos a seguir o desespero de Allison (Maggie Gyllenhaal) e Donna (Maria Bello), as esposas de Jimeno e McLoughlin (os únicos da equipe de policiais a sobreviver), que estão em busca de notícias dos dois.

O 11 de Setembro não é o primeiro acontecimento histórico dos Estados Unidos a ser retratado em filme pelo diretor Oliver Stone. Ele já abordou o Vietnã (nos filme “Platoon” e “Nascido em 4 de Julho”) e o assassinato do presidente John Fitzgerald Kennedy (no filme “JFK – A Pergunta que Não Quer Calar”) e sempre apresentou as suas teorias conspiratórias sobre tais temas. Stone surpreende com “As Torres Gêmeas”, pois optou por contar de forma direta e sem floreios sua história (o roteiro de Andrea Berloff foi desenvolvido com base nos depoimentos daqueles que estiveram presentes nas duas torres no dia 11 de Setembro). No único momento em que ele é Oliver Stone (na cena em que Will Jimeno vê Jesus Cristo), a situação soa manipuladora e destoa do trabalho que ele acaba construindo em “As Torres Gêmeas”.

Mais do que contar a história de dois sobreviventes, “As Torres Gêmeas” retrata metaforicamente como uma cidade pode mudar devido a um único acontecimento. E não foi só Nova York que mudou a partir do dia 11 de Setembro de 2001. O mundo todo se transformou e não foi mais o mesmo desde aquele fatídico dia.

Cotação: 9,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Tuesday, September 26, 2006

Obrigado por Fumar (Thank You For Smoking, 2005)


Não existe indústria mais massacrada do que a do cigarro. Em relação a este assunto, a maioria das pessoas adota a posição única de condenar o vício em cigarros, por causa dos males que este produto faz à saúde. De uns tempos para cá, a situação ficou tão crítica que até mesmo aqueles que fumam assumem o vício, mas com uma posição envergonhada frente ao olhar de reprovação dos outros do tipo “fumo, mas estou tentando parar”.

Entretanto, existe ainda um outro lado – o da própria indústria de cigarros – que defende que o vício é uma atitude cool. Afinal, atores famosos e idolatrados no mundo todo fumam. Modelos que representam todo um ideal de vida glamuroso fumam. Músicos, cantores que são mundialmente famosos fumam. É ao fazer uso desse tipo de imagem – e ao atingir um público jovem que tem todo o potencial de mercado – que a indústria do cigarro mantém a sua sobrevivência.

Nick Naylor (Aaron Eckhart, numa performance inspirada) – o personagem principal do filme “Obrigado por Fumar”, do diretor e roteirista Jason Reitman (filho do cineasta Ivan Reitman) – teria, então, o trabalho mais ingrato do mundo: ele é o porta-voz oficial e o vice-presidente da Academia de Estudos do Tabaco (que é sustentada pela indústria de cigarros e, como o próprio nome já diz, estuda os efeitos do cigarro no homem para a indústria poder se defender da melhor maneira das acusações que são desferidas contra ela diariamente). Por ofício, Nick faz uma peregrinação quase religiosa por todos os meios de comunicação tentando convencer as pessoas do inconcebível: fumar faz bem à saúde.

Nós da platéia podemos pensar que, por fazer o que faz, Nick é um homem sem caráter. Pelo contrário, ele possui princípios morais, mas é flexível em relação a eles quando está trabalhando. Ele tem uma verdadeira vocação para aquilo que faz: é cara de pau, competente, tem carisma e sabe argumentar. Por outro lado, o mesmo bombardeio que a indústria do tabaco sofre é vivenciado por Nick em sua vida pessoal. Ele é divorciado (sua esposa não perde a oportunidade de criticar o seu trabalho), tem um relacionamento distante com o filho Joey (Cameron Bright, de “Reencarnação”) e seus amigos mais próximos são Polly Bailey (Maria Bello), a porta-voz oficial da indústria do álcool, e Bobby Jay Bliss (David Koechner), o porta-voz oficial da indústria das armas – o grupo se autodenomina de “Os Mercadores da Morte”.

Na trama que é desenvolvida no decorrer de “Obrigado por Fumar”, a platéia assiste Nick no momento em que ele tenta estabelecer um relacionamento mais próximo com seu filho Joey. Ele passa a levar o menino nos seus compromissos de trabalho. É a partir do contato que se inicia entre os dois e dos questionamentos que o filho começa a fazer a respeito da profissão do pai que Nick começa a perceber que sua profissão tem uma importância maior do que ele imaginava. Após dar uma entrevista bombástica sobre os bastidores da indústria do tabaco para a repórter Heather Holloway (Katie Holmes) e ser convocado para prestar depoimento em uma audiência pública no Congresso (que quer adicionar o rótulo de veneno às embalagens de cigarro), Nick tem que tomar uma decisão: ou segue no caminho que já está ou parte para novos vôos.

O diretor e roteirista Jason Reitman coloca um olhar irônico não só na vida de Nick Naylor, como também na realidade da indústria do tabaco e nos métodos que eles se utilizam para vender seu produto (sobra, como sempre, para a própria indústria cinematográfica, que é bem alfinetada por Reitman). O eixo maior de sua trama não é essa crítica, e sim tentar desvendar qual a importância do trabalho de Nick. A questão é jogada justamente para nós da platéia: se todos nós temos informações suficientes sobre os cigarros, os males que o vício causa para a nossa saúde; por quê precisamos dos Nick Naylors da vida? A resposta para essa pergunta é que eles existem justamente para colocar pimenta nesse jogo doido que é a vida da gente e nesse monte de teorias com as quais a gente entra em contato e julga como indefectíveis.

Cotação: 6,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Monday, September 25, 2006

O Pequenino (Little Man, 2006)


A família Wayans está presente – com sucesso – em diversos ramos do entretenimento. Keenan Ivory Wayans (uma espécie de mentor da família) foi um dos criadores do lendário programa televisivo “In Living Colour” (que revelou o talento de Jennifer Lopez, na época uma dançarina), que contava com seu irmão Damon Wayans no elenco – posteriormente, Damon ficaria conhecido com o seriado “My Wife and Kids”. Já Marlon e Shawn Wayans (os astros de cinema da família) foram responsáveis pelo retorno do gênero da paródia com os sucessos “Todo Mundo em Pânico” e “Todo Mundo em Pânico 2”. Para Marlon e Shawn, não existe limite na hora de fazer comédia. Depois de se vestirem como patricinhas em “As Branquelas”, Shawn agora empresta o rosto para um anão em “O Pequenino”, filme dirigido por Keenan Ivory Wayans.

O filme conta a história de Calvin “Bebezão” Sims (Shawn Wayans), um ladrão de postura firme e que coloca qualquer um no seu devido lugar. O fato de ele ser anão ajuda Calvin a desempenhar de melhor maneira o seu serviço, pois faz com que ele sempre passe despercebido. É assim que ele, depois de sair da prisão, consegue roubar um diamante valioso. Na fuga da joalheria, Calvin e seu parceiro Percy (Tracy Morgan, que fez parte do elenco do “Saturday Night Live”) quase são pegos pela polícia. Para despistar os guardas, Calvin acaba colocando o diamante na bolsa de Vanessa (Kerry Washington, de “Ray”). Quando o chefão do crime Sr. Walken (Chazz Palminteri) entra no encalço de Calvin e de Percy, o primeiro tem uma idéia brilhante: fingir ser um bebê abandonado – Vanessa e seu marido Darryl (Marlon Wayans) estão naquele ponto importante de um casamento: o de decidir se este é o momento certo para ter o primeiro filho – e recuperar o diamante que está escondido na bolsa de Vanessa.

É justamente quando Calvin se transforma num bebê de tamanho e desenvolvimento incomum e passa a viver o cotidiano do casal Darryl e Vanessa que “O Pequenino” entra num rumo já bem conhecido daqueles que tiveram a oportunidade de assistir a algum dos filmes dos irmãos Wayans. Entre uma e outra piada grosseira e de mau gosto, são inseridos momentos delicados que mostram que o bandidão Calvin tem coração.

Em comparação com “As Branquelas” – um filme bobo, porém divertidíssimo e com algumas cenas inesquecíveis -, “O Pequenino” é um retrocesso. O roteiro do filme (que foi escrito por Keenan Ivory, Marlon e Shawn Wayans) não convence, pois é cheio de furos (o roubo do diamante está sendo super noticiado na TV, mas nem Vanessa, nem Darryl, nem os amigos deles e nem mesmo os policiais que participam de uma das cenas do filme chegam a reconhecer Calvin). A impressão que se tem é a de que os irmãos Wayans querem ocupar o espaço deixado pelos irmãos Bobby e Peter Farrelly desde que eles decidiram fazer filmes mais “adultos”. Os Wayans querem ser agora os reis do politicamente incorreto, mas acabam indo sempre parar na vulgaridade.

Cotação: 2,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, September 23, 2006

O Diabo Veste Prada (The Devil Wears Prada, 2006)


Por mais que a jornalista e escritora Lauren Weisberger tente negar, existe muito dela em Andrea Sachs, a personagem principal do seu primeiro romance “O Diabo Veste Prada”, cuja adaptação cinematográfica dirigida por David Frankel estreou nesta semana nas salas de cinema de todo o Brasil. Lauren nasceu e cresceu em uma pequena cidade da Pensilvânia e formou-se jornalista pela prestigiada Universidade de Cornell. Logo após a formatura, Lauren foi para Nova York tentar um emprego em alguma publicação. Ela não conseguiu um emprego como jornalista, e sim um trabalho como assistente da poderosa e lendária Anna Wintour, editora da “Vogue” americana (um emprego que “milhões de garotas dariam tudo para ter”).

As primeiras cenas do filme “O Diabo Veste Prada” fazem questão de frisar o quão diferente é o mundo de Andrea Sachs (Anne Hathaway, ótima) das mulheres que vivem a realidade da fictícia revista “Runway” (local aonde Andy fará entrevista na cena seguinte). Enquanto a primeira não tem a mínima noção de moda e não faz nenhum tipo de dieta, as últimas são antenadas com as últimas tendências do mundo fashion e passam o dia à base de água e cigarros. Mas, então, o que diabos Andrea foi fazer na “Runway”? Nem ela sabe dizer o por quê, mas, para Andy, fica claro que trabalhar como a assistente da poderosa editora Miranda Priestly (Meryl Streep, que adiciona mais uma grande performance à sua vasta carreira) será uma oportunidade única e inesquecível – em todos os sentidos.

O trabalho como assistente – bem como a própria Miranda – logo se transformarão em uma espécie de decepção para Andy. Ela é uma mera “faz-tudo” da editora (compra o café e o almoço, pega as roupas na lavanderia, leva o cachorro para passear, compra os presentes das gêmeas e marca os compromissos de Miranda). No entanto, Andy segue firme no propósito de agüentar o ano de trabalho com a poderosa editora, afinal, depois disso, todas as portas do mundo do jornalismo se abrirão para ela.

Entretanto, na medida em que Miranda Priestly vai confiando mais em Andy, a aspirante a jornalista se vê cada vez mais imersa no mundo que – antes – ela repudiava. É a partir do momento em que Andy passa a se vestir com marcas famosas e caras (o trabalho de figurinos feito por Patricia Field, ex-stylist do programa “Sex and the City”, é fantástico e digno de uma indicação ao Oscar 2007), a ir à festas glamurosas, a conhecer gente interessante e a viajar com Miranda para a semana de moda de Paris, que “O Diabo Veste Prada” entra na sua segunda fase. O resultado dessa mudança de Andy é que a vida pessoal dela ficará em segundo plano e o seu relacionamento com o doce Nate (Adrien Grenier, do seriado “Entourage”) fica ameaçado.

Por baixo de todos os diálogos afiados de “O Diabo Veste Prada”, o filme relata um conflito interessante e atualíssimo. Quando entramos no mercado de trabalho – no mundo competitivo em que vivemos -, por mais que tenhamos as melhores intenções, ou somos consumidos por um ideal de sucesso que não queremos (mas que nos é cobrado), ou permanecemos fiéis às nossas crenças, mesmo que isso não nos leve a lugar nenhum.

“O Diabo Veste Prada” relata esse conflito por prismas diferentes. O filme retrata o fim de diversos sonhos – o de Emily (a grata surpresa Emily Blunt), a outra assistente de Miranda, em ir para a semana de moda de Paris com a chefe; e o de Nigel (o eterno coadjuvante Stanley Tucci), segundo na linha de sucessão da “Runway”, em ter as rédeas de sua vida e carreira. Ao mesmo tempo, “O Diabo Veste Prada” mostra qual o custo que pagamos para realizar esses sonhos: Miranda é uma profissional competentíssima, que fez a “Runway” ser o que é, mas ganha a fama de intragável e vê a sua vida amorosa fracassar. E, através da figura de Andy, o filme mostra alguém que está no meio daquele conflito principal e quer o sucesso, mas prefere permanecer fiel aos seus princípios.

No final de tudo, o que “O Diabo Veste Prada” nos mostra é que não importa se você queira ser aquele no comando ou aquele que executa. O importante é você ser feliz naquilo que você faz.

Cotação: 8,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Monday, September 18, 2006

Xeque-Mate (Lucky Number Slevin, 2006)


Toda grande história de vingança do cinema envolve um homem que perdeu aquilo que ele mais amava na vida. Esse também é o caso da maioria dos personagens de “Xeque-Mate”, filme do diretor Paul McGuigan. O diretor começa o seu filme destilando uma série de cenas que mostram a morte de diversas pessoas.

Logo após, a platéia encontra Goodkat (Bruce Willis) em uma cena que poderia ser classificada como o prólogo de “Xeque-Mate”. Goodkat conversa com um homem enquanto ele aguarda o horário de sua viagem. Ele conta a história de um golpe que aconteceu da seguinte maneira: Max era um homem que sonhava em ter uma casa com um bonito jardim. Num belo dia, seu tio escuta uma história de um homem, que, por sua vez, escutou de outro, e assim por diante; que afirmava que um senhor havia dopado um cavalo e que apostar nesse animal era lucro na certa. Max vê, nessa oportunidade, a sua chance de ouro e aposta tudo aquilo que tinha na corrida. O problema foi que o cavalo morreu no meio do páreo e ele passou a dever mais do que o que tinha apostado. Sem poder pagar sua dívida, Max, além de ser morto, viu a sua família ser assassinada também.

Desta pequena história partimos para uma outra – aquela que seria a principal trama de “Xeque-Mate”. Slevin (Josh Hartnett) perdeu o emprego, a namorada e o apartamento tudo num mesmo dia. Ele decide, então, viajar para outra cidade para ficar no apartamento de seu amigo Nick Fisher. Chegando na nova cidade, Slevin é assaltado e vê que sua maré de azar não acabou definitivamente quando dois mafiosos – Chefe (Morgan Freeman) e Rabino (Ben Kingsley) – o confundem com o próprio Nick – que desapareceu – e cobram uma dívida de jogo. Para se livrar da morte, Slevin tem que matar o filho de Rabino para vingar a morte do filho do Chefe.

Num primeiro momento, todas as linhas narrativas de “Xeque-Mate” são independentes uma da outra. No entanto, na medida em que o roteiro de Jason Smilovic vai se desenrolando, a platéia começa a ver a conexão entre tudo o que aconteceu. Nesse sentido, o roteiro de “Xeque-Mate” é um dos pontos altos do filme, pela sua criatividade e capacidade de surpreender. O outro ponto positivo do filme é a direção de Paul McGuigan – que estreou no irregular “Paixão à Flor da Pele”, que também contava com Josh Hartnett no elenco. McGuigan bebe na fonte de Quentin Tarantino e, apesar de criar uma cópia, deixa seu filme com um certo ar de originalidade.

Também é bom destacar as excelentes atuações do elenco de “Xeque-Mate”. Josh Hartnett, um ator que já pecou muito nas escolhas de papéis (“Divisão de Homicídios” e “Pearl Harbor”), empresta para Slevin todo um carisma e faz com que a platéia nunca sinta pena do seu personagem por ele ter estado no local errado na hora errada. Ben Kingsley e Morgan Freeman estão perfeitos como os dois chefões da máfia local. Até Lucy Liu (que interpreta o interesse amoroso do personagem de Hartnett) tem a oportunidade de mostrar seu talento. A única peça destoante é Bruce Willis. Depois de começar 2006 bem, com uma ótima atuação em “16 Quadras”, de Richard Donner, Willis está apenas burocrático como Goodkat.

Cotação: 8,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Wednesday, September 13, 2006

Serpentes a Bordo (Snakes on a Plane, 2006)


Existem filmes que, muitas vezes, ultrapassam aquele relacionamento normal que existe entre platéia e película e que passam a ser objetos de culto. Na maior parte das vezes, os filmes considerados cult – como “Blade Runner – O Caçador de Andróides”, de Ridley Scott, e “Clube da Luta”, de David Fincher – possuem algumas características em comum: receberam críticas mistas, tiveram performances péssimas de bilheteria e alcançaram o sucesso no mercado de vídeo/DVD. O caso de “Serpentes a Bordo”, filme do diretor David R. Ellis (“Celular – Um Grito de Socorro”), é quase único, pois, mesmo antes de ser feito, o filme já atraía uma legião de fãs.

A história por trás da produção de “Serpentes a Bordo” é ainda mais interessante. O filme, apesar de ter conseguido um astro do porte de Samuel L. Jackson, vivia engavetado nos estúdios New Line. Foi somente graças ao lobby de Jackson (que passou a dizer em programas de TV que seu próximo filme iria ser esse) e aos blogs da Internet que as filmagens de “Serpentes a Bordo” começaram.

O filme, é claro, trata do pânico e das mortes causadas pela presença de um monte de cobras num vôo que ia do Havaí para Los Angeles. No entanto, por trás dessa trama principal existe uma outra: Edward King (Byron Lawson) é um bandido que há muito tempo vem sendo investigado pela polícia norte-americana. No Havaí, ele mata o promotor do seu caso. Por acidente, o jovem Sean Jones (Nathan Philipps) testemunha o crime e passa a ser o alvo principal de Kim. É por causa dele, que está indo para Los Angeles testemunhar no caso contra Kim - Samuel L. Jackson interpreta o agente do FBI que está fazendo a sua escolta -, que o avião será atacado pelas temidas criaturas rastejantes.

Os aviões sempre foram considerados um dos meios de transporte mais seguros do mundo. Depois dos atentados terroristas de 11 de setembro, a segurança nos aeroportos passou a ser ainda mais rígida. Por essa razão, fica difícil acreditar na trama de “Serpentes a Bordo”. No entanto, quando se tenta deixar de lado toda a bizarrice que é o roteiro desse filme, dá até para a platéia se divertir, se assustar e também ficar impressionada com a capacidade que os roteiristas John Hefferman, Sebastian Gutierrez e David Dalessandro tiveram em anabolizar a trama de “Serpentes a Bordo”. No entanto, a mesma pergunta ficará na mente de todos aqueles que forem assistir a este filme: por quê tanto barulho em torno de algo tão ruim?

Cotação: 1,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, September 09, 2006

O Maior Amor do Mundo (2006)


Durante a maior parte de “O Maior Amor do Mundo”, filme dirigido e roteirizado por Carlos Diegues, o personagem principal Antônio (José Wilker quando mais velho e Max Fercondini quando mais novo) é um mistério para a platéia – e, talvez, até para ele próprio. Também pudera, afinal Antônio passou a vida fugindo de conflitos, de relacionamentos e, principalmente, do envolvimento emocional com as pessoas com quem compartilhava o seu dia-a-dia. Ou seja, falta a Antônio uma identidade própria, pois ele se esconde por trás de sua personalidade introvertida.

Por esta razão, é importante mencionar que “O Maior Amor do Mundo”, na realidade, retrata uma grande jornada de autodescoberta pela qual Antônio passará. Para ser mais clara, as atitudes que Antônio têm no decorrer do filme são mais uma reação à primeira notícia que irá mudar a sua vida: a descoberta de um tumor inoperável no cérebro – o que o deixa na terrível situação de ter que conviver com a noção de que sua morte é somente uma questão de tempo.

A descoberta da doença coincide com uma viagem – a última – que Antônio vai fazer ao Brasil, país natal que ele deixou para trás. Antônio é um astrofísico que mora em Boston e que vai receber uma medalha de honra ao mérito, provavelmente, das mãos do próprio presidente da República. Ele, portanto, aproveita a ocasião para visitar seu pai, o maestro Antônio (Sérgio Britto quando mais velho e Marco Ricca quando mais novo) – um homem tão distante quanto seu filho –, e divide com ele o seu destino.

A revelação faz com que o pai de Antônio dê para ele a segunda notícia que irá abalar a sua vida: ele gostaria que seu filho tivesse conhecido a mãe biológica – tendo em vista que Antônio foi adotado pelo maestro e sua esposa Carolina (Deborah Evelyn) quando ainda era bebê. Isso desperta algo que andava adormecido em Antônio e ele começa a busca pelo paradeiro de sua mãe, e entra em contato com o mundo e as pessoas – Mãe Santinha (Lea Garcia), Luciana (Taís Araújo), Flora (Ana Sophia Folch) e o garoto Mosca (Sérgio Malheiros) – com as quais ele deveria ter vivido. Em decorrência disso, Antônio encontra a sua identidade quando passa a questionar a sua vida e, de certa maneira, ser grato por todas as oportunidades que ele teve.

“O Maior Amor do Mundo” chega a ser um filme lento e de desenvolvimento meio confuso. No entanto, o filme consegue deixar bem claro para a platéia que os acontecimentos retratados pelo roteiro são um reflexo direto da vida que Antônio teve. O filme muda de curso quando Antônio passa a derrubar as suas barreiras e começa – antes tarde do que nunca – a viver de verdade. Chega a ser incrível ver a transformação pela qual ele passa. Isso é mérito direto da excelente atuação de José Wilker, um ator de personalidade expansiva e, até certo ponto, espalhafatosa. Ele está tão imerso e contido no seu personagem que em nenhum momento nós chegamos a reconhecê-lo. Ele é Antônio.

Cotação: 6,0

Crédito Foto: Yahoo! Cinema

Wednesday, September 06, 2006

Trair e Coçar é só Começar (2006)


“Trair e Coçar é Só Começar”, peça escrita pelo ator Marcos Caruso (que atualmente está no centro de todas as atenções na novela “Páginas da Vida”, interpretando o marido da vilã personificada por Lília Cabral), estreou nos palcos em 1986 e até hoje é encenada. Por essa razão, a peça está no Guiness Book, o livro dos recordes, como a peça que está em cartaz há mais tempo no Brasil. O espetáculo ficou também marcado por ter revelado o talento da atriz Denise Fraga como comediante e, seguindo a linha de “Irma Vap – O Retorno”, faz a transição dos palcos para o cinema.

O filme “Trair e Coçar é Só Começar” foi dirigido por Moacyr Góes e adaptado pelo próprio Caruso e sua parceira habitual Jandira Martini. A história se passa no decorrer de um dia, quase sempre no mesmo espaço – o Edifício Caruso – e é centrada na empregada doméstica Olímpia (Adriana Esteves), que trabalha na casa da arquiteta Inês (Bianca Byington) e do cardiologista Eduardo (Cássio Gabus Mendes). Assim como muitas das suas colegas de trabalho, Olímpia é meio intrometida e confusa – características essas que serão importantíssimas para o desenvolvimento da trama de “Trair e Coçar é Só Começar”.

Inês está comemorando quinze anos de casada com Eduardo. Aproveitando a ausência do seu marido – que está em um congresso médico –, Inês prepara um jantar surpresa de comemoração; e, para isso, conta com a ajuda de sua amiga Lígia (Mônica Martelli), que é casada com Cristiano (Mário Schoemberger), o melhor amigo de Eduardo. Entretanto, os planos de Inês começam a ir por água abaixo quando Eduardo chega antes do esperado em casa. E é justamente em decorrência da tentativa de Olímpia em evitar que o jantar de comemoração seja arruinado que os personagens de “Trair e Coçar é Só Começar” entram numa série de encontros, desencontros e confusões – todos eles envolvendo suspeitas de adultério.

O trailer de “Trair e Coçar é Só Começar” causava a impressão de que este filme seria um sério candidato ao título de uma das piores películas de 2006; mas ele acaba surpreendendo. Se Adriana Esteves não tem a qualidade de uma Denise Fraga, ela acaba suprindo a desconfiança inicial entregando uma performance de timing cômico perfeito. O roteiro do filme, por mais absurdo que pareça, é bem desenvolvido e seu desfecho não deixa nenhuma pergunta sem resposta. A única ressalva vai para a direção burocrática de Moacyr Góes que, esteticamente, transforma seu filme num programa de TV. Mesmo assim, é muito bom que nós possamos ser surpreendidos de vez em quando.

Cotação: 4,0

Crédito Foto: Yahoo! Cinema

Tuesday, September 05, 2006

A Casa Monstro (Monster House, 2006)


Todo mundo já teve na vida algum vizinho chato, daquele tipo que tolhava a criatividade da criançada da vizinhança, proibindo brincadeiras em seu quintal ou qualquer tipo de barulho perto de sua casa. D.J. (dublado por Mitchell Musso na versão original) possui um vizinho, que mora na casa em frente à sua, que é exatamente assim. Epaminondas (dublado por Steve Buscemi na versão original) é um senhor de meia-idade, viúvo e que mora sozinho em uma casa de aparência velha, mal cuidada e cheia de avisos como “afaste-se” e “cuidado” no seu quintal. A criança que tem a audácia de ignorar tais avisos vai embora da casa de Epaminondas sem algum brinquedo favorito.

A “diversão” principal de DJ é observar os movimentos de Epaminondas e saber quantas crianças ele magoou num determinado dia. No dia do Halloween, quando seus pais decidem viajar, DJ começa a brincar com seu amigo Bocão (dublado por Sam Lerner na versão original). Acidentalmente, Bocão deixa a sua bola de basquete cair justamente no quintal de Epaminondas. É nesse momento em que DJ irá presenciar de perto aquilo que só via de longe. No entanto, enquanto dá uma bronca em DJ, Epaminondas começa a passar mal e cai durinho da silva no chão como se estivesse morto.

Após a “morte” de Epaminondas (a platéia só vai ter certeza de que ele estava morto ou não numa seqüência fundamental para o final de “A Casa Monstro”, animação do diretor Gil Kenan), DJ percebe que a paz ainda não voltou para a sua vizinhança, pois uma série de fenômenos estranhos começa a ocorrer na casa de Epaminondas – o que faz com que ele, Bocão e a garota Jenny (dublada por Spencer Locke na versão original), que perdeu seu carrinho de doces no quintal da casa, pensem que a mesma é amaldiçoada. Na tentativa de desvendar esse mistério, os três irão embarcar em uma jornada por um mundo estranho e marcado pela desilusão com o amor.

“A Casa Monstro” é um filme de animação completamente diferente de muitos que já assistimos – a começar pela técnica de animação que foi empregada na película. É claro que “A Casa Monstro” é um filme dirigido para as crianças e seus pais, mas, ao contrário de outros filmes do gênero, não possui um roteiro leve e divertido. “A Casa Monstro” fará com que as crianças entrem em contato com o seu lado assustador e receoso. E é muito bom que existam filmes assim, pois é importante mostrar para a criançada que, às vezes, o mundo pode ser, sim, triste. A questão mais interessante é fazê-las perceber também que todos esses momentos obscuros pelos quais passamos podem ser superados. E isso “A Casa Monstro” faz com maestria.

Cotação: 6,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, September 02, 2006

A Dama na Água (Lady in the Water, 2006)


A estréia como diretor e roteirista do indo-americano M. Night Shyamalan foi arrebatadora. “O Sexto Sentido” é um filme que possui uma trama inteligente e que pegava o espectador desprevenido – tendo em vista que ninguém esperava que o filme terminasse daquela maneira. O resultado foi que Shyamalan virou um grande nome da noite para o dia – e seus filmes seguintes estrearam rodeados por um espectro de curiosidade e expectativa.

“Corpo Fechado” – um favorito da crítica – e “Sinais” tiveram uma boa bilheteria, mas não tiveram metade do impacto que “O Sexto Sentido” teve. Já “A Vila”, foi um filme que teve a compreensão da crítica, mas foi odiado pelo público, que não viu graça nenhuma em acompanhar um filme de suspense cujo maior segredo é revelado no meio da trama. Teria M. Night Shyamalan perdido a mão ou se tornado um cineasta incompreendido? A pré-produção de “A Dama na Água” só veio colocar mais lenha na fogueira – afinal, em decorrência de diferenças criativas, o diretor e roteirista encerrou uma parceria de longos anos com os estúdios Disney e migrou para a Warner Bros.

O roteiro de “A Dama na Água” foi sendo construído por M. Night Shyamalan na medida em que ele contava histórias de ninar para seus filhos dormirem. Essa influência está bastante explicitada no prólogo do filme, quando o diretor e roteirista usa gravuras para retratar a relação do homem com a água – no início, a água servia como uma espécie de guia para os humanos. Com o tempo, estes quiseram ir morar em locais cada vez mais longe das águas, por isso o mundo entrou em parafuso e os homens se voltaram uns contra os outros.

De acordo com M. Night Shyamalan, um anjo das águas visita os homens de vez em quando para passar uma mensagem para eles, de forma que o curso da humanidade seja modificado. É isso o que irá acontecer com Cleveland Heep (Paul Giamatti), zelador de um prédio na Filadélfia em que moram tipos estranhos. Heep sabe de tudo sobre os outros, os quais, por sua vez, pouco sabem sobre a vida dele. Quando Cleveland começa a notar uma movimentação estranha na piscina do prédio durante a noite, ele descobre a criatura narf Story (Bryce Dallas Howard, atriz revelada pelo diretor e roteirista no filme “A Vila”). Ela veio para a terra para deixar uma mensagem para o escritor (o próprio Shyamalan) de um livro sobre os problemas culturais do mundo. Depois que a mensagem é transmitida, todos no prédio têm que se unir para ajudar Story a voltar para o seu Mundo Azul.

“A Dama na Água” retoma um tema recorrente na filmografia de M. Night Shyamalan. Assim como os personagens de seus outros filmes, Cleveland Heep e os moradores do prédio no qual ele trabalha buscam algo em que acreditar. O filme faz referência aos Estados Unidos de hoje – um país envolvido em uma guerra interminável – e mostra através de suas ações que as pessoas têm a possibilidade de mudar o curso dos acontecimentos, pois elas nunca estão sozinhas – numa cena que é uma das passagens mais lindas de “A Dama na Água”.

O filme ainda faz referências à relação complicada que se estabeleceu entre M. Night Shyamalan e os críticos (o ator Bob Balaban, inclusive, interpreta um crítico de cinema, que é uma espécie de narrador interno do filme e antecipa alguns acontecimentos; para, depois, ser desmentido pelo roteiro criado por Shyamalan). É como se o diretor e roteirista quisesse dizer a todos que ele é o dono de sua carreira e que ele controla aquilo que faz. “A Dama na Água” é um filme complicado – talvez o pior da carreira de Shyamalan – e, tenho certeza, que será incompreendido por muitos – fato que não impede que outros considerem este filme como uma obra-prima; neste caso, se isso for verdade, o tempo se encarregará de colocá-lo em seu devido lugar.

Cotação: 5,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Friday, September 01, 2006

Casseta e Planeta - Seus Problemas Acabaram!!! (2006)


O grupo de humoristas que formam o Casseta e Planeta – Bussunda (que faleceu, em 2006, na Alemanha, enquanto cobria a Copa do Mundo), Reinaldo, Hélio de la Peña, Cláudio Manoel, Beto Silva, Marcelo Madureira, Hubert e Maria Paula –, há quatorze anos, entram todas as terças-feiras nas casas de milhões de brasileiros através de seu programa de televisão, transformando em motivos de riso o cotidiano e os problemas crônicos do nosso país. Em 2003, o grupo fez a transição da televisão para o cinema com o filme “Casseta e Planeta – A Taça do Mundo é Nossa”, do diretor Lula Buarque de Holanda. O resultado foi que o filme foi uma decepção geral.

Para a segunda incursão do grupo no cinema, no filme “Casseta e Planeta – Seus Problemas Acabaram!!!”, os Cassetas convidaram José Lavigne, o diretor do programa do grupo na TV, para dirigir o filme. Ao mesmo tempo, os Cassetas trabalham com um roteiro-base, que conta a história da batalha judicial entre o advogado Botelho Pinto (Murilo Benício) contra as Organizações Tabajara, cujos produtos prejudicaram as vidas de dois usuários. No entanto, este roteiro – ao contrário do que ocorreu com o primeiro filme do grupo – dialoga com o programa de TV, pois traz personagens conhecidos do público, como o Capitão Calcinha, Fucker e Sucker, Seu Creysson, Chicória Maria e os dois personagens da Sauna Gay. Além disso, “Casseta e Planeta – Seus Problemas Acabaram!!!” ainda traz a participação especial de Juliana Paes, Luana Piovani e Marcos Pasquim e tira uma onda com filmes como “Cidade de Deus”.

Porém, apesar de trabalhar com elementos e pessoas que são familiares ao universo do grupo Casseta e Planeta, o filme ainda sofre com os mesmos problemas vistos em “Casseta e Planeta – A Taça do Mundo é Nossa”. O roteiro de “Casseta e Planeta – Seus Problemas Acabaram!!!” é fraco e as piadas são extremamente sem graça. As únicas coisas que podemos tirar de proveito do filme são as performances de Murilo Benício e Maria Paula. Conhecido por ser uma personalidade chata, Benício surpreende ao aceitar tirar um sarro de si mesmo e se colocar em um papel ridículo. Só ele encarou “Casseta e Planeta – Seus Problemas Acabaram!!!” da maneira como ele deveria ser visto: como uma obra descompromissada e nada séria.

Cotação: 1,0

Crédito Foto: Yahoo! Cinema