Thursday, November 29, 2007

Piaf - Um Hino ao Amor (La Môme, 2007)

A cantora francesa Edith Piaf faz parte de uma linhagem de intérpretes como a brasileira Elis Regina e a norte-americana Judy Garland. Ou seja, Piaf era uma daquelas artistas que se entregava de corpo e alma à sua arte. Dona de apresentações intensas e extenuantes do ponto de vista físico, a francesa também teve uma vida digna de um roteiro de filme. E é justamente isto que acontece com o lançamento da cinebiografia “Piaf – Um Hino ao Amor”, do diretor Olivier Dahan (que co-escreveu o roteiro do filme ao lado de Isabelle Sobelman).

Nascida na comunidade de Grasse, no ano de 1915, Edith Piaf era filha de um casal ligado à classe artística. A mãe (que, no filme, é interpretada por Clotilde Courou), uma cantora que nunca obteve sucesso, e o pai (interpretado por Jean-Paul Rouve), um contorcionista, não proporcionaram à Edith o crescimento em um lar estável. Quando criança, era negligenciada pela mãe e foi abandonada pelo pai em um bordel; para depois ser reintegrada ao seu convívio tendo que trabalhar se apresentando nas ruas parisienses para ajudar a sustentar os dois.

A grande virada na vida de Piaf aconteceu quando ela conheceu o empresário Louis Leplée (Gerard Depardieu), o dono de uma casa noturna em Paris. Através dele, Edith foi apresentada a personalidades do mundo da música que iriam acompanhá-la até o dia de sua morte (10 de Outubro de 1963, quando a cantora tinha somente 48 anos, mas com uma aparência – e a fragilidade – de uma mulher de 70 anos) e a transformariam na grande intérprete que ela foi – especialmente Raymond Asso (Marc Barbé), o homem que lapidou o dom que a cantora possuía.

No entanto, a maior sacada do diretor Olivier Dahan, em “Piaf – Um Hino ao Amor”, foi encontrar a verdadeira essência da personalidade de Edith Piaf. Mesmo ela tendo sido uma mulher que foi extremamente magoada durante toda a sua vida e, apesar de ter perdido aqueles a quem mais amava – além de Louis Leplée, que ela chamava de seu segundo pai; foram a prostituta Titine (Emmanuelle Seigner), que a amou como se fosse sua mãe; e o boxeador Marcel Cerdan (Jean-Pierre Martins), que foi o homem de sua vida –, a fé inabalável que ela tinha em Santa Teresa nunca a deixou perder a crença no amor. E ela fez desse sentimento a sua maior inspiração, ao cantar músicas sobre o tema que se tornariam verdadeiros clássicos, como “La Vie em Rose”, “Hymme à L’amour”, “Sous le Ciel de Paris”, “Les Amants d’un Jour”, entre tantas outras – porém, no filme, toda a vida de Piaf pode ser sintetizada por uma outra canção, “Non, Je Ne Regrette Rien”, que ela canta emocionada em sua volta aos palcos parisienses na cena que encerra “Piaf – Um Hino ao Amor”.

Mais do que a sua complexa – e interessante – personagem principal, o melhor motivo para se assistir ao filme “Piaf – Um Hino ao Amor” é a interpretação da – desde já favorita ao Oscar 2008 de Melhor Atriz – francesa Marion Cotillard (antes vista em papéis de pequeno destaque em filmes como “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas”, de Tim Burton, e “Um Bom Ano”, de Ridley Scott). Assim como Judy Davis na minissérie “A Vida com Judy Garland” e Helen Mirren no filme “A Rainha”, Cotillard mergulha fundo na alma de seu personagem. Aqui, não existem limites entre atriz e Piaf. As duas são uma só. E é por ela – e pelo excelente trabalho de figurinos, direção de arte e fotografia, que merecem também uma atenção especial do Oscar – que a gente perdoa os erros de transição cometidos pelo diretor Olivier Dahan.

Cotação: 7,0

Piaf - Um Hino ao Amor (La Môme, França, Inglaterra, República Tcheca, 2007)
Diretor(es):
Olivier Dahan
Roteirista(s): Olivier Dahan, Isabelle Sobelman
Elenco: Marion Cotillard, Sylvie Testud, Pascal Greggory, Emmanuelle Seigner, Jean-Paul Rouve, Gérard Depardieu, Clotilde Courau, Jean-Pierre Martins, Catherine Allégret, Marc Barbé, Caroline Silhol, Manon Chevallier, Pauline Burlet, Elisabeth Commelin, Marc Gannot

Wednesday, November 28, 2007

2:37 (2006)

O brilhante – e prematuramente cancelado – seriado “Once and Again”, que foi criado por Marshall Herskovitz (do filme “Em Luta Pelo Amor”) e por Edward Zwick (dos filmes “Tempo de Glória”, “Lendas da Paixão”, “O Último Samurai”, "Diamante de Sangue", dentre outros), marcou época na televisão não só por sua qualidade, como também pelo uso de um recurso narrativo bem interessante. Na medida em que assistíamos ao casal Rick Sammler (Bill Campbell) e Lily Manning (a fantástica Sela Ward) tentando iniciar uma vida a dois com toda a bagagem de um casamento anterior – os filhos e ex-cônjuges eram presença permanente na vida dos dois –, víamos estes mesmos personagens encarando a câmera de uma forma diferente: eles analisavam os acontecimentos de sua vida para um interlocutor (aparentemente nós da platéia) repensando erros e acertos e pesando o quanto tudo isso havia sido fundamental para a formação da própria personalidade deles.

Já o filme “Elefante”, do diretor Gus Van Sant, percorre um caminho bem diferente no que diz respeito ao estilo narrativo. Numa recriação ficcional da tragédia que aconteceu numa escola de Columbine, acompanhamos a rotina separada de alunos de um colégio de segundo grau dos Estados Unidos, sem que eles saibam que dois colegas tramam uma chacina que irá abalar o local.

Mas, você deve estar pensando: o que estas duas obras têm a ver com o filme australiano “2:37”, do diretor e roteirista Murali K. Thalluri? A resposta é: muito. Para contar a história de adolescentes que estudam em uma escola secundarista do sul da Austrália, Thalluri usa justamente o recurso de separar segmentos em que cada estudante é um protagonista, ao mesmo tempo em que coloca estes alunos dando a cara para bater em depoimentos que nos ajudam a entender a personalidade de cada um deles.

Melody (Teresa Palmer, numa excelente atuação), Marcus (Frank Sweet), Luke (Sam Harris), Steven (Charles Baird), Sean (Joel MacKenzie), Sarah (Marni Spillane) e Kelly (Clementine Mellor) são os estudantes cuja rotina acompanharemos. Às 2:37, um (a) aluno (a) – cuja identidade não saberemos até o final – comete suicídio. É este acontecimento que nos permite conhecer o lado sombrio da vida de cada um deles. Relações amorosas, uso de drogas, abuso sexual, negligência familiar, incesto, doenças e humilhações são somente alguns dos temas com os quais seremos confrontados nos 91 minutos de duração do filme.

Baseado em uma experiência pessoal do próprio diretor e roteirista Murali K. Thalluri, “2:37” é o primeiro filme que ele fez e uma grande mostra do potencial que ele tem. Apesar dos assuntos pesados com os quais somos defrontados no decorrer do filme, tudo é abordado com muita sensibilidade e verdade. “2:37” é um filme que mostra como a imersão em nossos próprios problemas nos deixam invisíveis a tudo aquilo que está ao nosso redor. O desfecho chocante e comovente só constata que tudo parece ser tão pequeno diante de experiências que ajudam a definir aquilo o que somos.

Cotação: 9,8

2:37 (2:37, Austrália, 2006)
Diretor(es): Murali K. Thalluri
Roteirista(s): Murali K. Thalluri
Elenco: Teresa Palmer, Joel Mackenzie, Frank Sweet, Clementine Mellor, Charles Baird, Sam Harris, Marni Spillane, Sarah Hudson, Chris Olver, Xavier Samuel, Gary Sweet, Daniel Whyte, Irena Dangov, Olivia Furlong, Michael Griffin

Tuesday, November 27, 2007

Invasores (The Invasion, 2007)

Pode não parecer, à primeira vista, mas o filme “Invasores”, do diretor alemão Oliver Hirschbiegel (com direção adicional de James McTeigue), é mais do que um filme dramático (com toques de ação e ficção científica). A película tem um teor bastante político, na medida em que o seu roteiro – que foi escrito por Dave Kajganich, com base no livro de Jack Finney – tem como personagem principal uma mulher, a psiquiatra Carol Bennell (Nicole Kidman, numa ótima atuação), que acredita poder viver em um mundo melhor, em que os homens deixarão de ser mesquinhos e ambiciosos e as guerras e discordâncias serão apenas lembranças do passado.

“Invasores” mostra, justamente, a transformação – lenta e gradual – dos humanos, que passarão a oferecer a possibilidade real para Carol viver neste mundo em que ela tanto desejava. A mutação começa a acontecer quando uma nave espacial se despedaça ao entrar em contato com a Terra. Do alto escalão – começando pelo ex-marido de Carol, Tucker Kaufman (Jeremy Northam), que possui um cargo de destaque no governo norte-americano – até às partes mais humildes, a maioria dos humanos começa a viver como uma espécie de zumbis, sem esboçar qualquer sentimento.

Imagine então o conflito em que Carol, a mãe amorosa e dedicada do filho Oliver (o talentoso Jackson Bond), se vê envolvida. Ao ver seu sonho transformado em realidade, ela aceita – a custo de muito sofrimento e sacrifício – que este não é o tipo de mundo que gostaria de deixar para o seu filho. Portanto, a grande luta da psiquiatra – no decorrer de “Invasores” – é proteger a si mesma e o pequeno Oliver; ao mesmo tempo em que tenta ajudar o Dr. Ben Driscoll (Daniel Craig) e o Dr. Stephen Galeano (Jeffrey Wright) a encontrar uma cura para a epidemia que atingiu humanos em todo o mundo.

Quando estreou nos cinemas dos Estados Unidos, “Invasores” foi completamente massacrado pela crítica e, em conseqüência disso, nem recebeu a atenção do público. Ao assistirmos ao filme, podemos chegar à conclusão de que a péssima recepção foi extremamente injusta com “Invasores”. O diretor Oliver Hirschbiegel (do excelente “A Queda – Os Últimos Dias de Hitler”) realiza um ótimo trabalho de apresentação da trama. Num conjunto que se estende à edição de Hans Funck e Joel Negron e à música de John Ottman, Hirschbiegel cria um clima de tensão que culmina com a fantástica penúltima cena em que, após sofrer um acidente de carro, Carol tenta levar seu filho Oliver para o mais longe possível daqueles seres que, de inofensivos, nada tinham. A conclusão que se chega após a final de “Invasores” é que a paz, assim como o mundo sonhado por Carol, é somente uma utopia – e nunca uma realidade.

Cotação: 6,5

Invasores (The Invasion, EUA, 2007)
Diretor(es): Oliver Hirschbiegel, James McTeigue
Roteirista(s): David Kajganich
Elenco: Nicole Kidman, Daniel Craig, Jeremy Northam, Jackson Bond, Jeffrey Wright, Veronica Cartwright, Josef Sommer, Celia Weston, Roger Rees, Eric Benjamin, Susan Floyd, Stephanie Berry, Alexis Raben, Adam LeFevre, Joanna Merlin

Monday, November 26, 2007

Entertainment Weekly - Top 25 Stars of 2007

Como sempre faz ao final de cada ano, a revista Entertainment Weekly libera uma lista com o nome dos 25 artistas que se destacaram no mundo do entretenimento. No ano de 2007, a escolha de Entertainer of the Year recaiu sobre a escritora inglesa J.K. Rowling, autora dos livros da série do bruxinho juvenil Harry Potter – cuja última saga “Harry Potter e as Relíquias da Morte” foi lançada em Julho deste ano, vendendo um recorde de 11 milhões de cópias nas primeiras 24 horas após o seu lançamento.

Além de Rowling, estão na lista, na ordem em que aparecem na revista:

25. O ator, roteirista, diretor e produtor George Clooney (“Michael Clayton” e “Ocean’s Thirteen”)
24. O elenco do seriado “The Sopranos”, cuja última temporada foi ao ar neste ano pelo canal HBO.
23. A atriz e ativista Angelina Jolie (“A Mighty Heart”)
22. O ator Will Smith (“I am Legend”)
21. O ator e diretor Tommy Lee Jones (“No Country for Old Men” e “In the Valley of Elah”)
20. The Cable Queens, grupo de atrizes formado por Mary-Louise Parker (“Weeds”), Kyra Sedgwick (“The Closer”), Glenn Close (“Damages”) e Holly Hunter (“Saving Grace”) – todas com seriados de sucesso na TV a cabo norte-americana
19. O ator Matt Damon (“Ocean’s Thirteen” e “The Bourne Ultimatum”)
18. O ator Johnny Depp (“Sweeney Todd – The Demon Barber of Fleet Street”)
17. A atriz Katherine Heigl (“Grey’s Anatomy” e “Knocked Up”)
16. A cantora Carrie Underwood (atualmente, ela é a segunda artista feminina que mais vendeu discos em 2007, só perdendo para Alicia Keys)
15. O cantor e produtor Kanye West (“Graduation” é o álbum mais vendido do ano)
14. O ator Zac Efron (“High School Musical 2” e “Hairspray”)
13. A cantora Rihanna (“Umbrella” é o maior hit do ano)
12. A cantora e atriz Miley Cyrus (“Hannah Montana” e cuja turnê teve ingressos esgotados em questão de minutos)
11. O ator Shia LaBeouf (“Transformers” e “Disturbia”)
10. O ator Will Ferrell e o criador do site “
Funny Ordie” Andy McKay
09. A atriz, roteirista e produtora Tina Fey (“30 Rock”)
08. The Apatow Gang, grupo formado por Judd Apatow, Leslie Mann, Seth Rogen, Jonah Hill e Paul Rudd – os quais foram responsáveis pelos dois filmes de comédia mais bem-sucedidos do ano: “Superbad” e “Knocked Up”
07. The Simpsons, que finalmente estrearam no cinema, em 2007
06. A atriz e cantora Vanessa Williams (“Ugly Betty”)
05. O ator Gerard Butler (“300”)
04. A cantora Amy Winehouse (“Rehab” é um dos maiores sucessos do ano e a cantora é uma das favoritas ao Grammy 2008)
03. O ator, diretor e roteirista Tyler Perry (“Why Did I Get Married?”)
02. O elenco de “Mad Men”, seriado criado por Matthew Weiner (“The Sopranos”) e que vai ao ar, nos EUA, pelo canal AMC, e que conta histórias sobre os bastidores de uma agência de publicidade nos anos 60.
01. A escritora inglesa J.K. Rowling (“Harry Potter e as Relíquias da Morte”)

Para ver uma galeria de fotos com os escolhidos da Entertainment Weekly como Entertainer of the Year entre 1990 e 2006, é só clicar
aqui.

Friday, November 23, 2007

A Companhia (The Company, 2007)

O filme “O Bom Pastor”, do diretor Robert de Niro, faz um retrato sobre a criação e a consolidação da Central Intelligence Agency (CIA), uma agência de investigação criada como conseqüência da Doutrina Truman, a qual, por sua vez, foi idealizada pelo presidente Harry Truman e tinha como objetivo principal determinar o papel dos Estados Unidos como os defensores das nações que se encontravam em perigo. No entanto, o que interessava ao roteiro de Eric Roth era analisar a vida dos homens que trabalhavam na agência e que, de certa maneira, viravam prisioneiros do mundo que eles mesmos criaram – e que era dominado pela mentira e pela solidão.

A minissérie “A Companhia”, do diretor Mikael Salomon, e cujas três partes foram ao ar neste mês pelo canal HBO, faz um retrato sobre o papel da CIA durante a Guerra Fria. Encontramos o mundo dividido em dois pólos opostos: um lado capitalista e outro socialista. Nesta época, toda a pauta de trabalho da CIA ou da KGB (o equivalente soviético do órgão norte-americano) envolvia a espionagem de cada país antagonista, a fim de descobrir os seus segredos. E, quando “A Companhia” começa, já estamos em uma situação de alto risco, afinal a CIA procura o nome do agente infiltrado em seus quadros pela KGB – é esta busca o ponto principal da minissérie e que deflagra a série de acertos e erros cometidos pela agência no decorrer do conflito entre norte-americanos e soviéticos.

O roteiro escrito por Ken Nolan, com base em um livro de Robert Littel, se passa em várias partes do mundo. Temos cenas em Berlim, Washington, Inglaterra, Budapeste, Áustria, Guatemala, Nova York, Miami, Havana e Moscou. No meio disso, três amigos que seguiram caminhos bastante opostos. Leo Kritzky (Alessandro Nivola) ficou em Washington no trabalho burocrático e de ligação direta com a Casa Branca e com o quartel-general da CIA na cidade. Jack McCauliffe (Chris O’Donnell) é um agente de campo, que trabalha como aprendiz de Harvey Torriti (Alfred Molina), o chefe da Divisão Soviética da CIA em Berlim. Yevgeny Tsipin (Rory Cochrane) é o jovem recrutado por Starik (Ulrich Thomsen), da KGB do governo de Josef Stalin, para ser um agente em solo norte-americano e contato principal com o infiltrado dos soviéticos na CIA – o que joga a favor de Yevgeny é o fato de ele ter estudado nos Estados Unidos e, portanto, sabe agir e pensar como um verdadeiro filho da terra do Tio Sam, passando completamente desapercebido aonde quer que vá. E, como veremos nas três partes de “A Companhia”, de uma maneira ou de outra, os desdobramentos das relações já problemáticas entre Estados Unidos e União Soviética está nas mãos – e nas ações – destes três rapazes que se conheceram na prestigiosa Universidade de Yale.

Por ter várias linhas de narração – e todas elas ricas à sua própria maneira –, seria muito fácil para o diretor Mikael Salomon se perder em meio a tantos acontecimentos. No entanto, ocorre justamente o contrário. A edição de Robert A. Ferretti e Scott Vickrey nos deixa completamente envolvidos no relato das relações entre Estados Unidos e União Soviética, bem como no jogo de poder e de intriga que é vivenciado diariamente pelos agentes de ambas as agências de espionagem. “A Companhia”, uma minissérie que contou com a produção executiva dos irmãos Ridley e Tony Scott e foi levada ao ar, nos EUA, pelo canal TNT, é uma obra de alto nível técnico, em que se destacam, além da edição de Ferretti e Vickrey e da direção de Salomon, as performances inspiradas de seu elenco (em especial as de Alfred Molina, Ulrich Thomsen, Alexandra Maria Lara, Rory Cochrane, Chris O’Donnell, Michael Keaton e Alessandro Nivola) e a belíssima trilha sonora composta por Jeff Beal. Se fosse um filme, “The Company” era uma produção digna de Oscar.

Cotação: 9,0

A Companhia (The Company, 2007)
Direção:
Mikael Salomon
Roteiro: Ken Nolan
Elenco: Chris O’Donnell, Alfred Molina, Michael Keaton, Ted Atherton, Alessandro Nivola, Rory Cochrane, Tom Hollander, Ulrich Thomsen, Erika Marozsán, Natasha McElhone, Raoul Bova, Alexandra Maria Lara, Martin Doyle

Thursday, November 22, 2007

Sangue e Chocolate (Blood and Chocolate, 2007)

Assim como outros personagens de contos de suspense lendários, como os vampiros, os lobisomens também tiveram a sua cota de inimigos que tentaram destruí-los de vez. Em “Sangue e Chocolate”, filme da diretora Katja Von Garnier, acompanhamos a história dos lobisomens que se estabeleceram na cidade de Bucareste, Romênia. Lá, o grupo liderado por Gabriel (Olivier Martinez) estabeleceu uma rotina bastante ética e que consiste na caça conjunta e nunca nas ruas da cidade. Os rituais deles são feitos em um local sagrado, de forma que proteja a condição deles e os permita viver uma vida mais próxima do normal, sem a ameaça humana.

Dos membros desse grupo, a que adota uma atitude mais discreta é Vivian (Agnes Bruckner, a atriz de “Um Certo Carro Azul”, que cresceu e está bem parecida com a Katherine Heigl). Ela viu a sua família ser assassinada na sua frente e, por isso, sabe da importância de manter sua condição de lobisomem em segredo. Ela trabalha durante o dia fazendo chocolates e, nos rituais noturnos, foge da procura pela presa e prefere ficar curtindo a liberdade que os passeios como loba lhe proporcionam. No entanto, tanto cuidado fica ameaçado quando ela conhece Aiden (Hugh Dancy), um desenhista de graphic novel bastante interessado pela história dos lobos.

A diretora alemã Katja Von Garnier – que chamou a atenção com o telefilme “Iron Jawed Angels”, da HBO, que contava a história das sufragistas norte-americanas – mostra um esmero técnico no que diz respeito à concepção visual de “Sangue e Chocolate”, no qual se destaca, além da fotografia de Brendan Galvin, a direção de arte de Kevin Phipps. No entanto, o ponto negativo do filme vem na atuação de Olivier Martinez e Bryan Dick (os dois vilões do filme) – ambos bem canastrões – e no roteiro criado por Ehren Kruger (de “O Chamado 2”) e Christopher Landon com base num livro de Annette Curtis Klause. Os roteiristas não conseguem equilibrar de maneira eficiente a proposta de misturar suspense, fantasia e romance.

Cotação: 2,0

Sangue e Chocolate (Blood and Chocolate, EUA, 2007)
Diretor(es): Katja von Garnier
Roteirista(s): Ehren Kruger, Christopher Landon
Elenco: Agnes Bruckner, Hugh Dancy, Olivier Martinez, Katja Riemann, Bryan Dick, Chris Geere, Tom Harper, John Kerr, Jack Wilson, Vitalie Ursu, Bogdan Voda, Kata Dobó, Rodica Mandache, Helga Racz, Lia Bugnar

Wednesday, November 21, 2007

Os Donos da Noite (We Own the Night, 2007)

No início de “Os Donos da Noite”, filme do diretor e roteirista James Gray, vemos uma série de imagens da polícia de Nova York em atividade. Um close no emblema do uniforme dos policiais nos mostra a frase “We Own the Night” (o título original do filme e que, numa tradução quase literal, dá o nome que a película recebeu em português). Aos poucos, Gray nos mostra que, no final da década de 80, em Nova York, a polícia não é a única que domina a noite e está cada vez mais difícil para os policiais exercerem seu trabalho – para se ter uma idéia, a taxa de assassinatos de membros da força vem aumentando consideravelmente.

Nesta conjuntura e, especialmente, na realidade em que está inserido, o gerente da boate El Caribe, Bobby Green (Joaquin Phoenix, ótimo), é obrigado a esconder sua verdadeira origem. Acontece que o nome de família de Green é Grusinsky; e seu pai Albert (Robert Duvall) e seu irmão Joseph (Mark Wahlberg) ocupam lugares de destaque dentro da corporação. Após um tempo afastado do convívio familiar, Bobby é chamado por Joseph, que acaba de assumir uma investigação sobre tráfico de drogas cujo maior alvo é Vadim Nezhinski (Alex Veadov), o sobrinho do dono da boate na qual ele trabalha.

O elemento mais interessante do roteiro criado por James Gray é a discussão que ele faz sobre temas como lealdade, companheirismo, coragem e entrega – qualidades estas que são comuns aos membros da polícia e as quais Bobby terá que encontrar em si mesmo. Neste sentido, “Os Donos da Noite” começa a ter um quê de “Os Infiltrados” (Bobby passa a ser informante da polícia) e de “O Poderoso Chefão” (a partir do momento em que adota este caminho, Bobby percebe que, mesmo tentando fugir de sua família, sua verdadeira identidade estava mais próximo dela do que ele imaginava).

Em “Os Donos da Noite”, o diretor e roteirista James Gray recupera um estilo que ele mesmo mostrou em seu trabalho anterior, “Caminho Sem Volta” (também protagonizado por Mark Wahlberg e Joaquin Phoenix). Através do mergulho no ambiente familiar, Gray toca num ponto fundamental: o de homens que se vêem envolvidos até o pescoço em situações difíceis e a única maneira de conseguir tocar o barco para frente é resolvendo todos os problemas – não importa o custo que eles tenham. Este estilo de Gray é bem diferente. Seus filmes têm um ritmo próprio, e, no caso deste "Os Donos da Noite", os elementos vistos em tela recuperam características que são muito próximas dos filmes policiais clássicos produzidos nos anos 70.

Cotação: 8,5

Os Donos da Noite (We Own the Night, EUA, 2007)
Diretor(es): James Gray
Roteirista(s): James Gray
Elenco: Joaquin Phoenix, Mark Wahlberg, Robert Duvall, Eva Mendes, Tony Musante, Edward Conlon, Antoni Corone, Alex Veadov, Katie Condidorio, Burton Perez, Douglas J. Aguirre, Ashley Avis, Kristy Redford, Fred Burrell, Karl Bury

Tuesday, November 20, 2007

A Loja Mágica de Brinquedos (Mr. Magorium's Wonder Emporium, 2007)

Sabe quando a gente é criança e dá vida aos nossos brinquedos inanimados? Eles passam a voar, a conversar conosco e a desempenhar as atividades que indicamos para eles. Pois então, no meio dos arranha-céus da cidade de Nova York, existe uma loja de construção antiga, decoração vintage (a direção de arte é somente um dos pontos altos deste filme) e que tem uma qualidade ainda mais especial: ela é mágica e os brinquedos que ali estão possuem vida própria – a qual somente é percebida por aqueles que crêem no que é fantástico.

É na loja do Sr. Magorium (Dustin Hoffmann, ótimo) que estaremos na maior parte do filme “A Loja Mágica de Brinquedos”, do diretor e roteirista Zach Helm. Além do dono do estabelecimento, que alega ter mais de 200 anos, ser um inventor e admirador maior das maravilhas do universo, vemos outros personagens bem interessantes – e cheios de conflitos. São eles: Molly Mahoney (Natalie Portman), a gerente da loja e ex-pianista prodígio, mas que nunca confirmou seu potencial; Eric (Zach Mills), um dos clientes mais assíduos do estabelecimento e que não consegue fazer novas amizades com facilidade; e Henry Weston (Jason Bateman), o contador workaholic cético e encarregado de avaliar a loja quando o Sr. Magorium percebe que está chegando a sua hora de partir deste mundo, deixando sua propriedade mais valiosa para Mahoney – para a “revolta” de seus mágicos brinquedos.

O diretor e roteirista Zach Helm não consegue sair da sombra de certas comparações. Na época de “Mais Estranho que a Ficção”, seu trabalho foi ligado ao do roteirista Charlie Kaufman (“Quero Ser John Malkovich”, “Adaptação”, “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”). Com este “A Loja Mágica de Brinquedos”, podemos encontrar um paralelo com o universo fantástico dos filmes de Tim Burton – especialmente com o colorido e a magia de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”. No entanto, entre estes dois trabalhos, um ponto em comum: Zach Helm fala sobre a vida e, principalmente, sobre pessoas que estão tentando se encontrar. No caso particular de “A Loja Mágica de Brinquedos”, só irão embarcar na viagem proposta por Helm, aqueles que se deixarem levar pela sua imaginação.

Cotação: 7,0

A Loja Mágica de Brinquedos (Mr. Magorium's Wonder Emporium, EUA, 2007)
Diretor(es): Zach Helm
Roteirista(s): Zach Helm
Elenco: Ted Ludzik, Natalie Portman, Zach Mills, Dustin Hoffman, Madalena Brancatella, Paula Boudreau, Mike Realba, Steve Whitmire, Liam Powley-Webster, Marcia Bennett, Jason Bateman, Oliver Masuda, Samantha Harvey, Jesse Bostick, Isaac Durnford

Monday, November 19, 2007

Tá Dando Onda (Surf's Up, 2007)

Mais do que um esporte, o surf se transformou em um verdadeiro estilo de vida. Seus praticantes o utilizam como uma forma de entrar em contato direto com a natureza, de ultrapassar os seus limites e de levar uma vida com total liberdade – no qual o mais importante é encontrar um lugar ensolarado, tranqüilo e que tenha, de preferência, ótimas ondas. É neste universo que o filme de animação “Tá Dando Onda”, dos diretores Ash Brannon e Chris Buck, mergulha. Com um roteiro de Lisa Addario, Christian Darren, Don Rhymer e Joe Syracuse acompanhamos um documentário que é feito a respeito dos personagens que participam do Campeonato de Surf Big Z.

O mais importante deles, além do Big Z (dublado por Jeff Bridges) – aquele que foi o maior surfista pingüim de todos os tempos e morreu ao pegar altíssimas ondas –, é o jovem Cadu Maverick (dublado por Shia LaBeouf), que vive em uma comunidade de pingüins, cuidando das pilhas de peixes que são o alimento diário de seus companheiros. Cadu conheceu Big Z ainda na sua infância e foi tocado pelo discurso do grande esportista de que ele deveria acreditar e perseguir seus sonhos. Por isso, Cadu alimenta a vontade de ser surfista – desejo esse que vai de encontro ao que a família deseja para ele – e consegue a oportunidade de seus sonhos quando é descoberto no fim do mundo aonde mora e é levado para participar do Campeonato de Surf Big Z – torneio no qual enfrentará nomes como Tank Evans (Diedrich Bader), João Frango (Jon Heder), entre outros. E é no campeonato que Cadu descobrirá o quanto ainda tem a aprender sobre o esporte e, principalmente, sobre a vida.

“Tá Dando Onda” é um filme de animação bem original, com uma linguagem que vai ser mais bem entendida pelos adultos. A animação fala de bichos-grilo; de gente diferente, mas que é fiel a si mesma e ao estilo de vida que adotou; de seres que não têm medo de enfrentar o perigo e gostam de surpresas. Com uma trilha sonora fantástica (e que conta com músicas de 311, Incubus, Lauryn Hill, Sugar Ray, Pearl Jam, New Radicals, entre outros) e cenas extremamente bem feitas, “Tá Dando Onda” é um filme que coloca o nome da Sony Pictures Animation (também responsável pelo ótimo “A Casa Monstro”) como uma das produtoras mais criativas do gênero. E, em 2007, é a segunda vez que a animação dá banho nos filmes live-action – a primeira aconteceu com o lançamento de “Ratatouille”.

Cotação: 9,5

Tá Dando Onda (Surf's Up, EUA, 2007)
Diretor(es): Ash Brannon, Chris Buck
Roteirista(s): Lisa Addario, Christian Darren, Don Rhymer, Joe Syracuse
Elenco: Shia LaBeouf, Jeff Bridges, Zooey Deschanel, Jon Heder, James Woods, Diedrich Bader, Mario Cantone, Kelly Slater, Rob Machado, Sal Masekela, Ash Brannon, Chris Buck, Brian Posehn, Dana Belben, Reed Buck

Sunday, November 18, 2007

PGA Anuncia Indicados Para TV

O Producers Guild Awards (PGA) fez o anúncio dos indicados para a sua premiação de televisão na quinta-feira, dia 15 de Novembro. A lista é formada pelos seguintes programas:

The Producers Guild of America Producer of the Year Award in Live Entertainment/Competition
"The Amazing Race," CBS
"American Idol," Fox
"The Colbert Report," Comedy Central
"Project Runway," Bravo
"Real Time With Bill Maher," HBO

The Danny Thomas Producer of the Year Award In Episodic Television -- Comedy
"Entourage," HBO
"Extras," HBO
"The Office," NBC
"30 Rock," NBC
"Ugly Betty," ABC

The Norman Felton Producer of the Year Award in Episodic Television -- Drama
"Dexter," Showtime
"Grey's Anatomy," ABC
"Heroes," NBC
"House," Fox
"Lost," ABC
"The Sopranos," HBO

The Producers Guild of America Producer of the Year Award in Non-Fiction Television
"The Deadliest Catch," Discovery Channel
"Extreme Makeover: Home Edition," ABC
"Kathy Griffin: My Life on the D-List," Bravo
"Planet Earth," Discovery Channel
"60 Minutes," CBS

Os vencedores do campo de televisão serão anunciados no dia 14 de Janeiro de 2008, data que também marca a revelação dos indicados ao prêmio principal do PGA, que é entregue ao melhor filme do ano.

Já os ganhadores das categorias de cinema serão anunciados no jantar de gala do Producers Guild Awards, que acontece no dia 02 de Fevereiro de 2008.

Wednesday, November 14, 2007

Golden Globe Awards 2008 - Cecil B. de Mille Award

Desde o início desta década que o prêmio Cecil B. de Mille Award, o qual é outorgado pela Hollywood Foreign Press Association, ganhou uma característica que vai além de homenagear a obra de um artista. O prêmio tem sido dado àqueles profissionais que ainda têm muito a oferecer à indústria cinematográfica. Este é o caso do próximo homenageado com o prêmio: o diretor e produtor Steven Spielberg.

A importância de Spielberg para a indústria cinematográfica é inegável. Criador de filmes inesquecíveis e marcantes, como “Tubarão”, “E.T. – O Extra-Terrestre”, “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, “A Lista de Schindler”, “O Resgate do Soldado Ryan”, dentre tantos outros; Spielberg também fez sua contribuição ao criar – com David Geffen e Jeffrey Katzenberg – o estúdio de cinema Dreamworks, que, recentemente, foi adquirido pela Paramount Pictures.

Um dos nomes mais influentes e aclamados em Hollywood, Spielberg – ao longo de sua carreira – foi o vencedor de seis Globos de Ouro (como diretor e produtor) e, fora estas conquistas, recebeu mais outras doze indicações ao prêmio. Agora, será contemplado com esta glória máxima no dia 13 de Janeiro de 2008, quando a 65ª edição do Globo de Ouro acontecerá em Hollywood.

Além do nome do vencedor do Cecil B. de Mille Award, foi divulgado, pela HFPA, no dia de hoje, a contemplada com o posto de Miss Golden Globe 2008. As escolhidas, geralmente, são filhas ou netas de grandes nomes da indústria do entretenimento. Em 2008, foi contemplada a jovem Rumer Willis – filha mais velha de Bruce Willis e Demi Moore –, de 19 anos, a qual será a responsável pelo palco do Globo de Ouro, entregando os troféus aos vencedores e os encaminhando à sala de imprensa da premiação.

Rumer está começando sua carreira como atriz e, em 2008, poderá ser vista na comédia “I Know What Boys Like”, filme produzido por Adam Sandler, com Anna Faris, Colin Hanks (filho de Tom Hanks) e a ex-American Idol Katharine McPhee no elenco.

O anúncio dos indicados ao Golden Globe Awards 2008 acontecerá no dia 13 de Dezembro de 2007.

Antes Só do que Mal Casado (The Heartbreak Kid, 2007)

De uns tempos para cá, os personagens principais masculinos de filmes de comédia seguem o mesmo estilo. Eles são homens que chegaram a um ponto em que se recusam a assumir responsabilidades maiores – seja do ponto de vista profissional ou pessoal. Eddie Cantrow (Ben Stiller) – o protagonista de “Antes Só do que Mal Casado”, dos diretores Bobby e Peter Farrelly – é um desses caras. Ele mora em San Francisco, tem uma loja de produtos esportivos, mas se recusa a dar um passo maior e se casar com uma boa garota. Eddie já foi noivo por cinco anos e, ao assistir ao casamento de sua ex com um outro rapaz, começa a se sentir mais favorável aos apelos de seu pai (Jerry Stiller) e do amigo Mac (Rob Corddry) para que ele dê “um pulo no escuro” e comece uma vida ao lado de uma mulher interessante.

É aí que entra Lila (Malin Akerman, perfeita em todas as cenas em que aparece), a mulher que, na teoria, é a perfeição em pessoa. Ninguém acredita que ela possa estar interessada em Eddie. E o improvável acontece: os dois se casam e partem com destino à lua-de-mel numa praia paradisíaca localizada no Cabo San Lucas. No entanto, é justamente a partir deste momento em que o pesadelo de Eddie começa: Lila, na realidade, é uma garota completamente inconveniente e cheia de hábitos que se revelam estranhos demais para seu marido. A encruzilhada de Eddie – que não esperava que o casamento fosse ser tão difícil – piora ainda mais quando ele conhece Miranda (Michelle Monaghan) e estabelece uma conexão natural com ela logo de cara.

Ao contrário dos filmes de comédia produzidos por Judd Apatow (“O Virgem de 40 Anos”, “Ligeiramente Grávidos” e “Superbad – É Hoje”), os feitos pelos irmãos Bobby e Peter Farrelly (que co-escreveram o roteiro de “Antes Só do que Mal Casado” com Scott Armstrong, Leslie Dixon e Kevin Barnett) não apelam para um lado mais sensível. Os Farrelly gostam de cenas que são fruto daquilo que os atores chamam de comédia física. Em “Antes Só do que Mal Casado”, vemos vários momentos como esse, com destaque para a cena em que Eddie se queima com uma água-viva e para a outra em que ele tenta entrar nos EUA como um dos muitos mexicanos que querem atravessar a fronteira entre os dois países de forma ilegal.

Mais do que reunir um bom elenco, que tenha perfeito timing cômico, um outro elemento importante num filme de comédia é a empatia que se estabelece de forma instantânea entre público e personagens. Infelizmente, este não é o caso de “Antes Só do que Mal Casado”. Por mais que a gente, no início, espere – e torça – para que o casamento de Eddie e Lila dê certo, nunca que poderemos concordar com o que acontece após o personagem de Ben Stiller conhecer Miranda. Dar em cima de uma outra mulher em plena lua-de-mel, mesmo que a sua esposa seja um horror, é um golpe baixíssimo. Além desse pequeno fator, “Antes Só do que Mal Casado” conta com um outro elemento que age mais contra o filme do que a favor: o roteiro, que é a prova de que os irmãos Farrelly e seus três colegas deveriam prestar mais atenção ao que a turma de Judd Apatow faz. Comédia não é só apelar para situações que causam o riso fácil. É, principalmente, criar uma história com personagens reais, vivenciando situações que colocam um colorido diferente naquilo que vivemos em nosso próprio dia-a-dia.

Cotação: 2,0

Antes Só do que Mal Casado (The Heartbreak Kid, EUA, 2007)
Diretor(es):
Bobby Farrelly, Peter Farrelly
Roteirista(s): Scot Armstrong, Leslie Dixon, Bobby Farrelly, Peter Farrelly, Kevin Barnett
Elenco: Ben Stiller, Michelle Monaghan, Jerry Stiller, Malin Akerman, Carlos Mencia, Rob Corddry, Stephanie Courtney, Ali Hillis, Kathy Lamkin, Nicol Paone, Joel Bryant, E.E. Bell, Lauren Bowles, Natalie Carter, Leslie Easterbrook

Tuesday, November 13, 2007

Leões e Cordeiros (Lions for Lambs, 2007)

Desde a primeira cena de “Leões e Cordeiros”, do diretor Robert Redford, fica bem claro a importância que a imprensa teve para os desdobramentos de tudo o que aconteceu nos últimos seis anos dentro dos Estados Unidos da América. A partir do momento em que começaram a colocar no ar as primeiras imagens dos atentados de 11 de Setembro, a imprensa foi o termômetro oficial da opinião pública norte-americana: após a dor e o luto pelas vítimas, veio o apoio irrestrito à Guerra Contra o Terror (que começou no Afeganistão e, hoje, está no Iraque) e, posteriormente, a contestação a tudo o que consistia a política interna e externa dos Estados Unidos – a ponto de o governo atual ser considerado como tudo aquilo que os norte-americanos devem evitar daqui para a frente.

O roteiro de Matthew Michael Carnahan entra no coração do Partido Republicano, símbolo da moralidade e segurança, para contar uma história em que se olha para trás para consertar os erros do presente. Portanto, o roteirista nos leva de volta ao Afeganistão, país aonde uma tropa comandada pelo Coronel Falco (Peter Berg) vai colocar em prática o plano criado pela estrela republicana – o Senador Jasper Irving (Tom Cruise, numa atuação muito boa) – para recolocar a Guerra Contra o Terror nos eixos, ou seja, para devolver aos norte-americanos um sentimento de vitória que eles tanto precisam.

É a partir desta trama central que vemos uma série de outras histórias se desenrolando. Em Washington, o Senador Irving tenta vender sua nova estratégia de guerra à jornalista Janine Roth (Meryl Streep). Em uma universidade da Califórnia, o professor de Ciências Políticas Stephen Malley (Robert Redford) tenta fazer com seu aluno descrente Todd Hayes (Andrew Garfield) volte a se importar e a acreditar que mudanças podem ser possíveis. Já no Afeganistão, acompanhamos o desenrolar do plano de Irving, especialmente as complicações dele envolvendo a dupla de amigos – e ex-alunos de Malley – Ernest Rodriguez (Michael Peña) e Arian Finch (Derek Luke).

“Leões e Cordeiros” é um filme que sofre bastante com a transição entre certos pontos das histórias, mas, no geral, o resultado obtido por Robert Redford é bom. O ponto alto do filme, além do roteiro de Matthew Michael Carnahan (que toca mesmo na atual grande ferida da sociedade norte-americana), é o elenco. No ano que antecede as eleições para presidente dos Estados Unidos, a mensagem que o roteiro deixa para os norte-americanos é muito importante e ressoa de maneira profunda na última cena do filme, em que a face pensativa do estudante Todd Hayes é o reflexo de tudo aquilo que o diretor Robert Redford quer causar em seu público. Ele quer que os norte-americanos reflitam e, principalmente, decidam qual é papel deles no meio disso tudo.

Cotação: 7,0

Leões e Cordeiros (Lions for Lambs, EUA, 2007)
Diretor(es): Robert Redford
Roteirista(s): Matthew Michael Carnahan
Elenco: Robert Redford, Meryl Streep, Tom Cruise, Michael Peña, Andrew Garfield, Peter Berg, Kevin Dunn, Derek Luke, Larry Bates, Christopher May, David Pease, Heidi Janson, Christopher Carley, George Back, Kristy Wu

Monday, November 12, 2007

Lendo - Canto dos Malditos

“Basta entrarmos numa ala proibida, onde permanecem confinados e escondidos dos olhos dessa sociedade de normais as vítimas do desleixo profissional, para ver que experiências e abusos indiscriminados causam ao ser humano! Crime não é apenas matar o nosso semelhante. É também deixá-lo inútil, matando sua iniciativa e vontade própria, transformando-o numa besta humana” (Austregésilo Carrano Bueno)

Década de 70. Curitiba. Um grupo de jovens estudantes vive alheio ao regime Militar e se reúne em uma loja de revelação de fotografias para viverem noites de sexo, drogas e rock ‘n roll. Um desses jovens é Austregésilo Carrano Bueno, filho de classe média de uma família curitibana, dono de uma cabeleira e de uma beleza que chamavam a atenção. Carrano cresceu em um lar de pais que não dialogavam com ele e é justamente esta falta de diálogo que o levará a passar pela experiência que modificará a sua vida: uma internação em um hospício, após seu pai descobrir o vício do filho em maconha, para que ele pudesse se livrar das drogas.

“Canto dos Malditos”, livro que ele mesmo escreveu, relata as lembranças de Carrano sobre os mais de três anos em que ficou internado em hospitais psiquiátricos do Paraná e do Rio de Janeiro. Através de suas memórias, o autor denuncia a realidade dos manicômios brasileiros, dos psiquiatras nacionais, que, ao invés de tratarem os pacientes, os entopem de remédios, os deixando completamente paralisados e incapazes de fazer atividades essenciais do dia-a-dia, como as necessidades básicas, por exemplo. Além disso, Carrano revela a experiência mais traumática pela qual passou nos anos de internação: 21 aplicações de eletrochoque, cujos efeitos até hoje ele sente em sua saúde.

O livro escrito por Carrano foi adaptado para o cinema, em 2001, num filme chamado “Bicho de Sete Cabeças”, da diretora Laís Bodansky e do roteirista Luiz Bolognesi. Na época, o filme ficou conhecido como o ponto da virada na carreira do ator Rodrigo Santoro, que conquistou vários prêmios pela sua interpretação de Neto e viu a possibilidade de fazer uma carreira como ator de cinema internacional em Hollywood. No entanto, o filme de Bodansky serve mesmo como um complemento à obra de Carrano. Se o livro “Canto dos Malditos” tem um tom de desabafo, de ódio mesmo de uma pessoa que não consegue perdoar aqueles que tanto prejudicaram sua vida, sua juventude e as oportunidades que ele tinha para crescer naquele momento; o filme “Bicho de Sete Cabeças” aborda tudo isso através de um distanciamento necessário do roteirista e diretor em relação ao personagem Neto. É ele que tem a missão mais difícil: a de contar a história de Carrano, a de fazer com que a denúncia dele seja vista e tenha penetração usando essa capacidade que o cinema tem de atingir a muitas pessoas. E a história que é contada tanto por livro, quanto por filme é uma daquelas que tem que ser conhecida para causar as mudanças que são tão necessárias em nosso país.

Canto dos Malditos (2001)
Autor:
Austregésilo Carrano Bueno
Editora: Rocco

Bicho de Sete Cabeças (Bicho de Sete Cabeças, Brasil, 2001)
Diretor(es):
Laís Bodanzky
Roteirista(s): Luiz Bolognesi
Elenco: Rodrigo Santoro, Othon Bastos, Cássia Kiss, Daniela Nefussi, Jairo Mattos, Altair Lima, Lineu Dias, Caco Ciocler, Gero Camilo, Marcos Cesana, Luis Miranda, Valeria Alencar, Gustavo Machado, Cláudio Carneiro

Friday, November 09, 2007

12 Filmes de Animação Submetidos à Academia para o Oscar 2008

12 filmes de animação foram inscritos na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas e estão concorrendo às cinco indicações na categoria de Melhor Filme de Animação, no 80th Annual Academy Awards, que acontecerão no dia 24 de fevereiro de 2008, no Kodak Theatre, em Los Angeles, com apresentação de Jon Stewart.

São eles:

- "Alvin and the Chipmunks", do diretor Tim Hill

- "Aqua Teen Hunger Force Colon Movie Film for Theaters", de Matt Maiellaro e Dave Willis

- "Bee Movie – A História de uma Abelha", de Steve Hickner e Simon J. Smith

- "A Lenda de Beowulf", do diretor vencedor do Oscar Robert Zemeckis

- "A Família do Futuro", de Stephen J. Anderson

- "Persepolis", de Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi, e também representante da França na luta por uma indicação à Melhor Filme Estrangeiro

- "Ratatouille", de Brad Bird

- "Shrek Terceiro", de Chris Miller

- "Os Simpsons – O Filme", de David Silverman

- "Tá Dando Onda", de Ash Brannon e Chris Tuck

- "Tekkonkinkreet", de Michael Arias

- "As Tartarugas Ninja – O Retono", de Kevin Munroe

Da lista submetida à Academia, o Cinéfila por Natureza acredita que serão indicados os seguintes filmes:

A Lenda de Beowulf
Persepolis
Ratatouille

As indicações ao Oscar serão anunciadas no dia 22 de Janeiro de 2008.

Thursday, November 08, 2007

Espíritos 2 - Você Nunca Está Sozinho (Alone, 2007)

Quando a indústria cinematográfica descobriu os filmes de terror japoneses, todo um novo mercado se abriu para o cinema asiático. E, logo, também foi descoberto que a Tailândia produzia bons filmes neste gênero. No ano passado, a Playarte distribuiu – no Brasil – um filme chamado “Espíritos – A Morte Está ao seu Lado” (2004), dos diretores Banjong Pisanthanakum e Parkpoom Wangpoom. Um ano depois, a Downtown não perde tempo e já lança a continuação deste sucesso intitulada “Espíritos 2 – Você Nunca Está Sozinho”, também dirigida pela dupla.

Se, no primeiro filme, a trama era inspirada em “Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado” e contava a história do casal Tun e Jane, que passam a ser atormentados pelas lembranças de uma noite em que atropelaram alguém; na continuação, o tema principal são sentimentos como amor, ciúme e inveja. Por meio de flashbacks acompanhamos a história das irmãs gêmeas siamesas Pim e Ploy (ambas interpretadas por Masha Wattanapanich quando mais velhas). Por terem nascido com esta condição, fica claro para a platéia, desde o início, que elas compartilham muito mais do que laços afetivos. As irmãs têm uma convivência harmoniosa até que conhecem Vee (Namo Tongkummerd quando jovem e Vittaya Wasukrapaisan quando mais velho), que se apaixona perdidamente por Pim. O relacionamento que se estabelece entre Vee e Pim é fundamental para a decisão de Pim em se separar da irmã.

Quando “Espíritos 2 – Você Nunca Está Sozinho” começa, Vee e Pim estão noivos, mas nós não vemos nenhum sinal de Ploy. Pelas conversas do casal, a gente entende que ela está morta. A felicidade do casal é interrompida quando Pim encontra a mãe (Ratchanoo Bunchootwong) seriamente doente e começa a ser atormentada pelas lembranças dos acontecimentos que levaram à morte de Ploy, a qual, por sua vez, tem tudo a ver com as circunstâncias envolvendo o encontro das duas irmãs com Vee.

Assim como fizeram no primeiro filme da série, em “Espíritos 2 – Você Nunca Está Sozinho”, os diretores Banjong Pisanthanakum e Parkpoom Wangpoom apostam num terror psicológico e em cenas que querem pegar o espectador desprevenido. Mas, a dupla surpreende a platéia com a reviravolta final, em que o inimigo é mais real do que se pensava. Os quinze minutos finais do filme são interessantes e muito bem feitos e fazem com que esta continuação valha a pena.

Cotação: 4,0

Espíritos 2 - Você Nunca Está Sozinho (Alone, Tailândia, 2007)
Diretor(es):
Banjong Pisanthanakun, Parkpoom Wongpoom
Roteirista(s): Banjong Pisanthanakun, Parkpoom Wongpoom
Elenco: Masha Wattanapanich, Ratchanoo Bunchootwong, Namo Tongkumnerd, Vittaya Wasukraipaisan, Masha Wattanapanitch

Wednesday, November 07, 2007

O Vidente (Next, 2007)

Em 2002, naquela que seria a sua primeira parceria com o astro Tom Cruise, o diretor Steven Spielberg fez a adaptação de um conto de Philip K. Dick e o transformou no filme “Minority Report – A Nova Lei”. Nele, Cruise interpreta o chefe de um dos setores da Polícia que consegue antever os crimes antes que eles aconteçam. Quando o personagem interpretado por Cruise se vê no meio de uma dessas previsões, ele começa a questionar o sistema. No entanto, antes de contestar este uso de mensagens mediúnicas pela polícia na prevenção de crimes, Dick escreveu um outro conto, o qual foi adaptado pelos roteiristas Gary Goldman, Jonathan Hensleigh e Paul Bernbaum no filme “O Vidente”, do diretor Lee Tamahori.

Quando fazia seu show diário de mágica na cidade de Las Vegas, nunca que Cris Johnson (Nicolas Cage, também produtor do filme) imaginava que sua vida iria mudar completamente. Além do dom para fazer truques, Cris consegue visualizar seu futuro imediato – aquilo que ele irá acontecer com ele com, no máximo, dois minutos de antecedência. É esta qualidade de Johnson que mais interessa a Callie Ferris (Julianne Moore), uma agente do FBI bem casca grossa. Ela está com a corda no pescoço, sendo pressionada por seus superiores a encontrar o paradeiro de uma bomba atômica que caiu nas mãos de um grupo terrorista russo e que pode causar a morte de cerca de oito milhões de pessoas na Califórnia. Ferris acredita que Cris é o único que pode socorrê-la. O problema é que Cris não está nem um pouco interessado em ajudá-la. Ele quer mais é passar seu tempo com Liz (Jessica Biel). E ainda deixa bem claro que só ajudará o FBI se o objeto de sua afeição estiver em perigo.

O neozelandês Lee Tamahori é um bom diretor de filmes de ação, como ficou provado em seus trabalhos anteriores (“XXX 2 – Estado de Emergência” e “007 – Um Novo Dia Para Morrer”). Em “O Vidente”, Tamahori prova, em duas grandes cenas (a tentativa de fuga de Cris do hotel Cliffhanger e no confronto final entre mocinhos e bandidos em busca da bomba), todo esse seu potencial. No mais, o filme é praticamente um atestado da inércia em que se encontra a carreira do ator Nicolas Cage, um dos que mais trabalha em Hollywood, com média de três lançamentos por ano. Ele, que aparece em quase todas as cenas de “O Vidente”, está completamente inexpressivo. É incrível como ele insiste em tentar ser um herói de ação, quando todo mundo sabe que ele foi feito para interpretar tipos comuns, como o trambiqueiro de “Os Vigaristas”, o policial de “As Torres Gêmeas”, o homem de negócios inusitados em “O Senhor das Armas” e o homem do tempo de “O Sol de Cada Manhã”.

Cotação: 3,0

O Vidente (Next, EUA, 2007)
Diretor(es): Lee Tamahori
Roteirista(s): Gary Goldman, Jonathan Hensleigh, Paul Bernbaum
Elenco: Nicolas Cage, Julianne Moore, Jessica Biel, Thomas Kretschmann, Tory Kittles, José Zúñiga, Jim Beaver, Jason Butler Harner, Michael Trucco, Enzo Cilenti, Laetitia Danielle, Nicolas Pajon, Sergej Trifunovic, Charles Chun, Patricia Prata

Tuesday, November 06, 2007

Os Mensageiros (The Messengers, 2007)

Quem acompanha de perto os lançamentos no gênero de terror, tem uma idéia perfeita do jeito como a indústria cinematográfica hollywoodiana faz negócios atualmente. Se não existe um material original, várias saídas podem ser encontradas. Algumas delas são: apelar para as franquias (“Jogos Mortais” já está na sua quarta parte, “O Albergue” na segunda e a série “Halloween” foi ressuscitada neste ano), para as histórias originadas em filmes do cinema oriental (os exemplos são: “O Chamado”, “O Grito”, “Água Negra”), para os remakes (“A Morte Pede Carona”, “O Massacre da Serra Elétrica”) ou convidar diretores estrangeiros para oferecer suas visões ao gênero (o brasileiro Walter Salles, além dos japoneses Takashi Shimizu e Hideo Nakata, são alguns nomes que dirigiram filmes de terror em Hollywood). O caso de “Os Mensageiros”, de Oxide Pang Chun e Danny Pang (que aqui assinam como Pang Brothers), é ainda mais especial porque contém diretores estrangeiros dirigindo um filme de terror cuja trama é apenas um apanhado de todos os elementos que podem ser vistos em excesso em outras películas do gênero.

A família Solomon deixa toda a sua vida em Chicago para trás em busca de uma cidade mais calma e pacífica no interior, aonde eles possam se unir mais como família. Nunca está claro para nós o motivo da mudança, mas o que fica subentendido é que pode ter algo a ver com a filha mais velha de Roy (Dylan McDermott, que ficou famoso no seriado “The Practice”) e Denise (Penelope Ann Miller), a jovem Jess (Kristen Stewart). Portanto, não é surpresa para eles verem a filha começar a relatar estranhos acontecimentos que acontecem pela nova morada da família. Para eles, isso é somente mais um ato de rebeldia dela. E não ajuda em nada o fato de que a única testemunha de Jess é seu irmão mais novo, Ben (os irmãos Evan e Theodore Turner) – que não fala nenhuma palavra desde que esteve envolvido em um acidente com a irmã mais velha.

Quem assistiu “Assombração”, sabe que os irmãos Pang têm uma atenção especial aos detalhes. Em “Os Mensageiros”, vemos a mesma preocupação com o visual do filme, com a maneira como eles apresentam as ameaças à família Solomon. E, mesmo com o desfecho completamente trivial, nada parece ser premeditado. Ou seja, todos os detalhes da trama escrita por Mark Wheaton (com base numa história de Todd Farmer) são revelados no momento certo. E, curiosamente, o filme dialoga profundamente com uma das obras mais famosas desse novo terror: “O Chamado 2”. Assim como Rachel (Naomi Watts), a mãe que luta profundamente para que seu filho Aidan (David Dorfman) esteja em completa segurança; a heroína de “Os Mensageiros”, a jovem Jess, quer mesmo lutar para mostrar a seus pais que eles podem confiar nela novamente, que ela aprendeu a lição. E quando Kristen Stewart olha para o vilão do filme e diz “we are not your family”, o que vem instantaneamente à nossa mente é Naomi Watts dizendo “I’m not your fucking mummy” para a menina Samara Morgan (Daveigh Chase). E é justamente a talentosa Kristen Stewart (muitos irão se lembrar dela como a filha de Jodie Foster em “O Quarto do Pânico”) o que de melhor “Os Mensageiros” tem para nos oferecer.

Cotação: 5,5

Os Mensageiros (The Messengers, EUA, Canadá, 2007)
Diretor(es): Oxide Pang Chun, Danny Pang
Roteirista(s): Mark Wheaton
Elenco: Kristen Stewart, Dylan McDermott, Penelope Ann Miller, John Corbett, Evan Turner, Theodore Turner, William B. Davis, Brent Briscoe, Dustin Milligan, Jodelle Ferland, Michael Daingerfield, Tatiana Maslany, Shirley McQueen, Anna Hagan, Blaine Hart

Monday, November 05, 2007

1408 (1408, 2007)

Apesar de ser um escritor especialista em fenômenos paranormais – suas obras são guias com os hotéis e cemitérios mais mal-assombrados dos EUA –, o escritor Mike Enslin (John Cusack) não é um crente. Ele não acredita na existência de fantasmas ou de Deus. É somente mesmo um contador de histórias. Toda esta falta de fé vai ser colocada em prova durante uma noite que Enslin passa no quarto 1408 do hotel Dolphin, em Nova York. Na sua estadia no hotel, Enslin será advertido pelo gerente Gerald Olin (Samuel L. Jackson) de que não entre no quarto – que foi o local de muitas tragédias sem explicações. De nada adiantam os avisos do gerente e o filme de suspense “1408”, do diretor Mikael Hafstrom, acompanha esta noite que mudará para sempre a vida do escritor.

Assim como acontece com muitos outros personagens principais de filmes de suspense, Mike Enslin tem um grande trauma em sua vida. Ele largou a vida ao lado da esposa Lily (Mary McCormack, conhecida pelas participações especiais em seriados como “ER” e “The West Wing”), após a morte da filha única Katie (Jasmine Jessica Anthony). Na realidade, ao que tudo indica, Enslin nunca confrontou seu sofrimento pela morte da filha; e preferiu fugir de tudo e viver uma vida errante, indo de um quarto de hotel a outro. E a morte de Katie tem muito a ver com tudo o que o escritor vai passar dentro do quarto mal-assombrado.

“1408” tem um roteiro escrito com base em um conto do autor Stephen King, o qual deve grande parte do seu sucesso ao cinema, que adaptou quase 30 de suas histórias. Algumas delas são bastante conhecidas como “Carrie, A Estranha”, “O Iluminado”, “Conta Comigo”, “Louca Obsessão”, “Cemitério Maldito”, “Um Sonho de Liberdade”, “O Aprendiz” e “À Espera de um Milagre”. Nos últimos anos, com “A Janela Secreta” e “O Apanhador de Sonhos”, vimos as histórias de King sendo adaptadas em filmes de qualidade questionável. “1408”, ao contrário das duas últimas obras citadas, é um bom filme de suspense com uma direção competente de Mikael Hafstrom, uma ótima atuação de John Cusack e que rende momentos que deixam o nosso coração batendo mais acelerado e que dão uma bela tremedeira em nossas pernas.

Cotação: 5,5

1408 (1408, EUA, 2007)
Diretor(es): Mikael Håfström
Roteirista(s): Matt Greenberg, Scott Alexander, Larry Karaszewski
Elenco: John Cusack, Mary McCormack, Jasmine Jessica Anthony, Alexandra Silber, Tony Shalhoub, Emily Harvey, Noah Lee Margetts, Samuel L. Jackson, William Armstrong, Paul Birchard, Chris Carey, Len Cariou, Gil Cohen-Alloro, George Cottle, Paul Kasey

Sunday, November 04, 2007

Preview - Pride and Glory

A New Line Cinema acaba de lançar o site oficial do filme “Pride and Glory”, do diretor Gavin O’Connor (do filme “Desafio no Gelo”, com Kurt Russell), e que conta com um grande elenco formado por Colin Farrell, Edward Norton, Noah Emmerich, Jon Voight, Jennifer Ehle e Lake Bell. Além de sinopse e fotos, o site oferece uma olhada no primeiro - e ótimo - trailer oficial do filme.

“Pride and Glory”, cujo roteiro é de Gavin O’Connor e Joe Carnahan (de “Narc” e “A Última Cartada”), mexe com sentimentos como a verdade, a mentira, a lealdade e a traição ao contar a história de uma família de policiais que vive em Nova York. Um tiroteio causa a morte de alguns membros da força e cabe a Ray Tierney (Edward Norton) fazer a investigação do caso. Seguindo as pistas, ele encontra um lado podre da polícia, especialmente de seu irmão mais velho (Noah Emmerich) e de seu cunhado (Colin Farrell); e Ray vai ter que tomar uma atitude: defender aquilo em que acredita ou entrar no jogo sujo.

O filme estréia, nos cinemas dos EUA, no dia 14 de Março de 2008.

O trailer de "Pride & Glory" está aqui:


Friday, November 02, 2007

Lendo - As Mentiras que os Homens Contam

“A melhor política é sempre contar a verdade – a não ser, é claro, que você seja um mentiroso excepcional” (Jerome K. Jerome)

Na linguagem jornalística, a crônica é um texto que possui grande influência literária (na medida em que permite ficção, fantasia e crítica em suas linhas) e que tem como objetivo dialogar com o leitor através do retrato de uma situação que faz parte do dia-a-dia das pessoas. No Brasil, o escritor gaúcho Luís Fernando Veríssimo é, sem dúvida alguma, um dos maiores nomes da crônica brasileira.

Nascido em Porto Alegre, Veríssimo teve uma grande influência no pai, o escritor Érico Veríssimo (autor de obras como “Clarissa” e “O Tempo e o Vento”), e fez, na realidade, da observação da rotina diária a sua maior fonte de inspiração. O livro “A Mentira que os Homens Contam” faz justamente uma reunião de todas as crônicas que Veríssimo publicou a respeito do tema mentira.

Em comum entre todas as crônicas, o fato de que homens protagonizam as histórias. Ou seja, o tempo todo Veríssimo brinca com esse senso comum de que os homens são uns mentirosos. Mas, o que chama a atenção é o fato de que são poucas as crônicas que tratam de relacionamentos amorosos, de homens que enrolam suas mulheres para curtir o carnaval, de homens que mentem na hora da cantada ou de homens que levam uma vida dupla.

No geral, as crônicas tratam mesmo de situações do dia-a-dia, de mentiras que são contadas por uma questão de sobrevivência ou em prol do bom convívio social: pessoas que confundem os nomes umas das outras, ou que fingem saber os segredos de outras, ou que fingem estar bem para outras, ou que querem parecer cultas (quando não o são), entre tantos outros casos.

Assim como num filme que reúne diversas histórias, dirigidas por vários diretores, o livro “As Mentiras que os Homens Contam” sofre com o fato de que algumas crônicas são excelentes, algumas são medianas e outras chegam a ser esquecíveis. De qualquer maneira, o livro é perfeito para aqueles que querem somente um pouco de diversão. Uma leitura leve, rápida e que é marcante justamente pelo olhar descontraído que seu autor joga em cima do cotidiano brasileiro.

“As Mentiras que os Homens Contam” (2000)
Autor: Luís Fernando Veríssimo
Editora: Objetiva

Thursday, November 01, 2007

Baixio das Bestas (2007)

Em uma das primeiras cenas do filme “Baixio das Bestas”, do diretor Cláudio Assis, dois senhores idosos conversam sobre um programa de televisão que assistiram. Eles estavam espantados com a maneira promíscua como as mulheres se apresentavam e acreditavam que faltava para elas um “homem de peia”, alguém que colocasse as rédeas nos momentos certos. Este é o retrato perfeito da comunidade aonde o filme se passa, a qual vive em meio a costumes retrógrados e decadentes, aonde os homens tratam as mulheres de maneira bastante humilhante.

Para apresentar o roteiro de Hilton Lacerda, o diretor Cláudio Assis utiliza um recurso narrativo que foi visto recentemente no filme “Cão Sem Dono”, de Beto Brant e Renato Ciasca. São vários segmentos dentro de um único filme. Existe uma parte que acompanha os dois amigos Cícero (Caio Blat) e Everardo (Matheus Nachtergaele), que passam o dia bebendo, arrumando encrenca e abusando das prostitutas da região – as quais são representadas pelo trio Marcélia Cartaxo, Hermylla Guedes (de “O Céu de Suely”) e Dira Paes (do seriado “A Diarista”). E temos uma outra que acompanha a vida na localidade descrita no primeiro parágrafo, em especial a de um senhor idoso que mora com a neta Auxiliadora (Mariah Teixeira) e que, nas horas vagas da menina, faz com que ela se exponha no posto de gasolina para atrair a atenção de caminhoneiros dispostos a pagar uma boa nota para somente passar a mão na jovem. No meio disso tudo, temos Maninho (Irandhir Santos), que, para a desgraça do senhor idoso, decide construir uma fossa no quintal dele, expondo toda essa comunidade à podridão humana que, antes, ficava escondida entre quatro paredes.

O diretor Cláudio Assis (que fez “Amarelo Manga”) é um exemplar do tipo que acredita que, no cinema, se pode tudo. Em “Baixio das Bestas”, o diretor abusa da exposição do corpo nu para mostrar que, de uma certa forma, todas aquelas pessoas são somente o reflexo de um choque cultural e do contraste entre o que é considerado moral ou imoral. O tempo todo o diretor brinca com a chegada do futuro. Para os da comunidade descritas no início do texto, o progresso vem da usina que poderá se instalar por lá. Para pessoas como a jovem Auxiliadora, o futuro é ainda mais difícil e representado pelo fato de que ela é a mina de ouro para “cabras safados" como o seu avô e os dois amigos Cícero e Everardo. O problema é que, infelizmente, todas essas boas idéias ficam perdidas dentro de um filme de caráter puramente experimental.

Cotação: 3,8

Baixio das Bestas (Baixio das Bestas, Brasil, 2007)
Diretor(es): Cláudio Assis
Roteirista(s): Hilton Lacerda
Elenco: Caio Blat, Conceição Camaroti, Marcélia Cartaxo, Hermila Guedes, Matheus Nachtergaele, Dira Paes, Fernando Teixeira, Samuel Vieira, Mariah Teixeira, João Ferreira