Saturday, April 29, 2006

Terapia do Amor (Prime, 2005)


“Terapia do Amor”, filme escrito e dirigido por Ben Younger, retrata a jornada de Rafi Gardet (Uma Thurman), uma mulher de 37 anos que leva uma vida sofisticada na cidade de Nova York. Rafi acaba de se divorciar e, com a ajuda de sua psicanalista Lisa Metzger (Meryl Streep), tenta colocar a sua vida nos eixos. Como uma maneira positiva de encarar o divórcio, Rafi passa a ver a sua “liberdade” como a desculpa perfeita para colocar em prática todos os planos (o mais importante deles é ter um filho) que havia deixado de lado nos nove anos de relacionamento com o marido.

No entanto, uma alternativa mais interessante aparece no caminho de Rafi quando ela conhece o jovem David Bloomberg (Bryan Greenberg), de 23 anos. David tem uma certa ingenuidade e um caráter impetuoso que atraem Rafi instantaneamente. Ele é tudo aquilo de que ela precisa naquele momento. Entretanto, na medida em que o relacionamento dos dois deixa de ser uma diversão e passa a ser encarado de maneira mais séria, Rafi começa a questionar se David tem maturidade suficiente para oferecer para ela aquilo que ela realmente deseja – segurança, divisão de responsabilidades, companheirismo, amor e, é claro, a possibilidade de formar uma família.

A partir do momento em que esse primeiro conflito é desencadeado, “Terapia do Amor” deixa de ser uma comédia romântica e passa a ser uma tragicomédia familiar, pois procura dar mais ênfase à construção de suas personagens - e, por consequência, dos relacionamentos que se estabelecem entre elas. Dessa maneira, a platéia fica sabendo que David também tem os seus próprios conflitos – ele foi criado em uma família judaica tradicional e tudo o que David realmente deseja ser e fazer vai de encontro às convicções de sua família. Mas, nenhum desses conflitos se equipara ao de Lisa Metzger, afinal a psicanalista de Rafi descobre que o jovem que está deixando sua paciente nas nuvens é seu filho querido – por essa razão, Lisa não sabe se deve se comportar como a terapeuta de Rafi ou como a mãe de David.

Uma coisa é você assistir “Terapia do Amor” sem ter visto o trailer do filme. E outra completamente diferente é você assistir “Terapia do Amor” tendo visto o trailer do mesmo. Com certeza, a experiência da descoberta entre a conexão inesperada entre os três personagens centrais de “Terapia do Amor” é mais excitante para aqueles que se encaixam no primeiro caso. No entanto, para aqueles que estão no segundo time, o filme guarda surpresas interessantes. “Terapia do Amor” não é uma típica comédia romântica. O filme trata de situações reais, de conflitos verdadeiros e tem um desfecho verossímil. Por isso mesmo, pode decepcionar a platéia acostumada aos filmes de comédia romântica mais “comuns” e que retratam relacionamentos idealizados e amores impossíveis – e, por quê não, irreais.

Cotação: 6,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Tuesday, April 25, 2006

16 Quadras (16 Blocks, 2006)


Os cinéfilos de plantão se acostumaram a assistir ao ator Bruce Willis interpretando um certo tipo de herói de filmes de ação. Os seus personagens eram fortes, viris e decididos; possuíam senso de humor; e, ainda assim, conseguiam salvar o mundo de uma grande ameaça. Em “16 Quadras”, filme do diretor Richard Donner (responsável pela série “Máquina Mortífera”), Willis interpreta um tipo completamente diferente do seu normal. Seu Jack Mosley, um profissional que está em completa decadência tanto na vida pessoal como na profissional, é um homem de visual desleixado e que carrega uma proeminente barriguinha – um visual que lembra bastante o que os cinéfilos irão encontrar em breve no ator Vin Diesel (um outro herói de filme de ação) no filme “Find Me Guilty”, de Sidney Lumet.

Em “16 Quadras”, Jack Mosley tem uma função aparentemente muito simples: ele tem que transportar, por 16 quadras da cidade de Nova York, o jovem Eddie Bunker (Mos Def, talvez o mais talentoso dos rappers transformados em atores) até um tribunal de justiça. Estes seriam os 118 minutos mais simples da vida de Jack, no entanto Eddie é uma testemunha importantíssima de um caso contra policiais corruptos (alguns deles, inclusive, são amigos de Jack) – os quais querem ver Eddie morto antes de ele chegar ao tribunal. Ou seja, Eddie é um alvo móvel e Jack, sofrendo pressões de todos os lados e correndo contra o tempo, decide fazer aquilo que é o mais correto.

A trama de “16 Quadras” é muito similar à do filme “Assalto à 13ª DP”, do diretor Jean-François Richet. Nos dois filmes, os protagonistas são policiais, que fizeram algo de errado na sua carreira e entraram em completa decadência; mas que, no decorrer do desenvolvimento das tramas dos respectivos filmes, possuem a oportunidade de se redimirem e de brilhar novamente. No entanto, as semelhanças entre os dois filmes param por aí. “16 Quadras” pode oferecer a errada suposição de que se trata de mais uma história de redenção do herói errante; quando, na realidade, o filme não é tão simples assim e retrata uma fábula que ilustra a possibilidade de que o ser humano mude aspectos de sua personalidade.

“16 Quadras” é um dos melhores filmes de ação a estrearem nos últimos tempos. Além de possuir uma excelente trama, conta com atores inspirados. Bruce Willis, Mos Def e David Morse (que interpreta o ex-parceiro de Jack Mosley e um dos policiais corruptos que se interessam em ver Eddie Bunker morto) estão na sua melhor forma. O mesmo acontece com o diretor Richard Donner, que, depois de errar feio com o fraco “Linha do Tempo”, volta a um território que lhe é conhecido – o dos filmes policiais – e se redime ao mostrar que ainda existem diversas maneiras para se explorar um gênero que é tão clássico quanto os faroestes norte-americanos.

Cotação: 9,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, April 22, 2006

Instinto Selvagem 2 (Basic Instinct 2, 2006)


A carreira da atriz norte-americana Sharon Stone pode ser dividida em antes e depois de “Instinto Selvagem”, filme que foi lançado em 1992. A película, que foi dirigida por Paul Verhoeven, colocava a atriz em cenas pra lá de quentes com o ator Michael Douglas. Depois deste filme, Sharon experimentou dias de glória, que culminariam com a indicação ao Oscar de Atriz Coadjuvante, em 1996, pela sua excelente interpretação como a esposa de Robert De Niro no filme “Cassino”, de Martin Scorsese. De lá para cá, Stone deu uma atenção mais especial à sua vida pessoal; mas, mesmo assim, ainda passou por maus bocados – incluindo um sério problema de saúde – e agora, para tentar recuperar a sua carreira, decidiu apelar para “Instinto Selvagem 2”, uma seqüência que vinha sendo adiada há tempos pelos produtores do filme.

“Instinto Selvagem 2”, do diretor Michael Caton-Jones, tem uma trama muito similar à do primeiro filme. A escritora de romances de mistérios Catherine Trammell (Stone) está mais uma vez envolvida com problemas com a lei. Depois dos acontecimentos retratados no primeiro filme, ela se mudou para Londres, aonde se transforma na suspeita número 01 do assassinato de Kevin Franks. A polícia inglesa não tem nenhuma pista que ligue a escritora ao crime e, para tentar arrancar algum detalhe da acusada, Roy Washburn – o policial encarregado da investigação – chama o psiquiatra Michael Glass (David Morrissey) para fazer uma avaliação psicológica de Catherine.

Quando encontra com Catherine pela primeira vez, Michael é um psiquiatra que está vivendo o auge de sua carreira profissional. Ele publica artigos freqüentemente e é o favorito para assumir uma vaga de professor em uma universidade da Inglaterra. Ele é íntegro e respeita a ética da sua profissão. Ou seja, no papel, Michael é o candidato perfeito para enfrentar a personalidade manipuladora, controladora, sedutora e ousada de Catherine. Mas, na prática, assim como o detetive Nick Curran em “Instinto Selvagem”, Michael se deixa influenciar pela persona marcante de Catherine e entra em um jogo de manipulação que faz com que o psiquiatra acredite que é ele quem está no controle da situação; quando, na realidade, quem está ditando as regras do jogo é a própria Catherine.

Se “Instinto Selvagem 2” foi um veículo feito para reavivar a carreira de Sharon Stone – e, talvez, para provar para a própria atriz que ela ainda é o símbolo sexual de quatorze anos atrás –, o tiro da atriz saiu pela culatra. O filme é muito fraco. Se Paul Verhoeven conseguiu manter o mínimo de dignidade no primeiro filme, Michael Caton-Jones ignora aquela linha tênue que separa o bom gosto da vulgaridade. No seu “Instinto Selvagem 2”, a barreira mais simples é ultrapassada e o filme, como um todo, fica igual aos livros escritos por Catherine Trammell: uma peça de ficção de quinta categoria.

Cotação: 2,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Wednesday, April 19, 2006

O Sol de Cada Manhã (The Weather Man, 2005)


Dave Spritz (Nicolas Cage), o personagem principal do filme “O Sol de Cada Manhã”, do diretor Gore Verbinski, é o típico produto de uma sociedade fragmentada. Ele é um homem que está claramente em crise. Dave, aparentemente, tem uma vida estável e um bom trabalho como o “homem do tempo” de uma emissora de TV de Chicago. No entanto, quando o próprio Dave começa a fazer uma análise de sua vida, a platéia chega à conclusão de que ele vive pisando em cima de cascas de ovos.

Todos os relacionamentos de Dave são extremamente delicados. Com os seus telespectadores, por exemplo, o “homem do tempo” não sabe como se portar. Dave não quer ter a obrigação de ser simpático sempre e de ter que responder as mesmas perguntas sobre como será o clima no dia de hoje. Por causa disso, ele recebe, com freqüência, gestos de “carinho”, como ver serem atirados em sua direção restos de bebidas e de comida. A situação se complica quando a platéia observa o relacionamento familiar de Dave. Diante do pai Robert (Michael Caine) – um escritor vencedor de inúmeros prêmios literários –, e da ex-esposa Noreen (Hope Davis) e dos filhos Mike e Shelly; Dave tenta sempre parecer algo que não é e busca a aceitação daqueles a quem mais ama pelas maneiras erradas.

A maré de azar de Dave continua a partir do momento em que ele começa a receber uma série de notícias ruins. Seu pai está com câncer terminal, sua esposa está prestes a se casar novamente e seus filhos estão envolvidos em uma série de problemas – Mike acabou de sair da reabilitação e Shelly é constantemente humilhada pelos colegas de escola. Uma luz aparece quando Dave recebe uma proposta para ser o novo “homem do tempo” do “Hello America”, um programa matutino jornalístico de muito sucesso. No entanto, antes de aceitar a proposta de trabalho e de se mudar para Nova York, Dave irá entrar em uma jornada de autodescoberta e, ao tentar consertar o que existe de errado em seus relacionamentos, Dave começa a aceitar quem ele verdadeiramente é e, dessa forma, poderá se tornar uma pessoa melhor.

“O Sol de Cada Manhã” foi um filme que passou despercebido pelas salas de cinema dos Estados Unidos. Isso foi muito injusto com este filme. “O Sol de Cada Manhã” é um excelente trabalho mais intimista de Gore Verbinski – um diretor que ficou mais conhecido pelos seus filmes de maior apelo comercial, como “O Chamado” e “Piratas do Caribe – A Maldição do Pérola Negra” – e que conta com uma grande atuação de Nicolas Cage, que está perfeito ao interpretar um homem contido que libera suas emoções em poucos momentos. Não deixe que a mesma trajetória discreta se repita nas salas de cinema do Brasil. Descubra “O Sol de Cada Manhã”, pois ele merece ser encontrado.

Cotação: 8,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Tuesday, April 18, 2006

Armações do Amor (Failure to Launch, 2006)


Uma das comédias românticas mais bem-sucedidas dos últimos anos foi “Hitch – Conselheiro Amoroso”, do diretor Andy Tennant, e no qual Will Smith interpretava um cara boa-pinta que tinha o objetivo de ajudar os homens a conquistarem as mulheres que eles consideravam como sendo os amores de suas vidas; mas que se atrapalhava completamente quando ele mesmo estava controlando as rédeas do jogo amoroso. No filme “Armações do Amor”, do diretor Tom Dey, Sarah Jessica Parker interpreta uma espécie de Hitch de saias, mas os dois personagens atuam de maneiras completamente diferentes.

Paula (Parker) é uma espécie de “intermediadora profissional”, ou seja, ela é contratada pelos pais de algum homem que teima em não sair da residência oficial da família para simular uma espécie de relacionamento amoroso com seu filho e, em conseqüência disso, fazer com que ele ganhe uma auto-estima e queira começar uma vida mais independente bem longe da proteção e da segurança que o lar paterno e materno oferecem. A mistura de negócios com prazer sempre aconteceu de uma maneira muito natural para Paula, mas, a partir do momento em que ela é contratada para “ajudar” Tripp (Matthew McConaughey), um vendedor de barcos de 35 anos, a mescla de trabalho e prazer se transformará em um composto altamente explosivo.

Um dos elementos mais interessantes de “Armações do Amor” é que o filme revela os dois lados opostos da sua história com a mesma importância. De um lado estão os tipos formados por Tripp e seus amigos Ace (Justin Bartha, que fez o infame “Contato de Risco” com o então casal Jennifer Lopez e Ben Affleck) e Demo (Bradley Cooper, conhecido do público pela sua participação no seriado “Alias”) – homens que preferem “ter uma casa legal para voltar à noite” e que se recusam a enfrentar uma vida mais séria e responsável. E do outro, os pais dessas pessoas; seres ansiosos para ver os filhos fora de suas casas (sem sofrerem qualquer ameaça da “síndrome do ninho vazio”, que afeta muitos casais que se vêem sozinhos novamente depois que os filhos vão embora) e ganhando amadurecimento ao cometerem erros e acertos.

Esse é somente um dos diferenciais de “Armações do Amor”, uma típica comédia romântica com todas aquelas situações que são de praxe nos filmes do gênero, mas que consegue deixar uma boa impressão na platéia, pois apresenta para os espectadores, com bom humor e senso total de realidade, uma situação que poderia ser considerada patética por qualquer pessoa normal – o fato de que um homem adulto não quer abandonar a segurança, o conforto e a comodidade do lar dos pais.

Cotação: 7,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Wednesday, April 12, 2006

Irma Vap - O Retorno (2006)


“Irma Vap – O Retorno” é um filme cheio de talentos na frente e por trás das câmeras. A diretora Carla Camurati (que co-escreveu o roteiro do filme ao lado de Melanie Dimantas e de Adriana Falcão), por exemplo, é a responsável por aquilo que os críticos definem como o início da retomada do cinema brasileiro – quando ela lançou o filme “Carlota Joaquina – A Princesa do Brazil”, em 1995. Já os atores Marco Nanini e Ney Latorraca são dois monstros sagrados do teatro e da televisão brasileiras. Os dois entraram para o Guiness Book, o Livro dos Recordes, com “O Mistério de Irma Vap”, peça que ficou onze anos em cartaz e foi vista por cerca de dois milhões de espectadores – e, por isso mesmo, se tornou a peça que ficou por mais tempo sendo encenada.

Mesmo assim, “Irma Vap – O Retorno”, não é uma adaptação da famosa peça teatral; pelo contrário, o roteiro do filme a utiliza para fazer o retrato de uma nova história. Em “Irma Vap – O Retorno”, um famoso produtor teatral, depois de amargar muitos fracassos de bilheteria, falece; e seu filho ao lado de seu sócio (Marcos Caruso), como forma de homenagearem-no, decidem remontar aquela que foi a sua peça mais famosa: “O Mistério de Irma Vap”. O roteiro de “Irma Vap – O Retorno” segue justamente todo o processo de montagem da nova versão da peça.

E esse processo começará com alguns percalços. Quem detém os direitos da peça teatral é o ator Tony Albuquerque (Nanini), que ficou paralítico depois de um atropelamento. Tony depende diretamente da irmã Cleide (também interpretada por Nanini), uma ex-estrela infantil que ficou conhecida como “A Pequena Grande Cantora”. Para convencer Cleide a assinar os papéis de cessão dos direitos autorais da peça, os dois produtores teatrais convocam Darcy (Latorraca), o ator que contracenou com Tony na primeira versão de “O Mistério de Irma Vap” e que atualmente é um diretor teatral.

Depois dessa primeira parte, “Irma Vap – O Retorno” se dedica ao processo de montagem da peça e mostra, com detalhes, o trabalho de um diretor teatral, ao ressaltar a sua importância para a construção do perfil dos personagens e para o conseqüente trabalho que será realizado pelos atores. É também, neste momento, que Ney Latorraca e Marco Nanini abrem espaço para os jovens talentos Thiago Fragoso e Fernando Caruso – que interpretarão os papéis que foram deles na peça.

É por esses e outros detalhes que “Irma Vap – O Retorno” é um filme que faz uma grande homenagem ao meio do teatro. É nesse meio em especial que brilha a figura do ator. Por esta razão, no filme, o trabalho da diretora Carla Camurati – apesar de ser excelente – não chama muito a atenção. Ela deixa todo o filme pronto para os atores. São eles que brilham. E, assim como acontece no teatro, são eles que irão receber os louros finais da platéia.

Nota: 8,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, April 08, 2006

V de Vingança (V for Vendetta, 2006)


Toda a ação de “V de Vingança”, do diretor James McTeigue, se passa em uma Inglaterra futurista, dona do poderio político do mundo. Um país aonde o medo é a principal matéria-prima do governo, que planta histórias mentirosas na imprensa para fomentar este sentimento, com o objetivo de lembrar ao povo por quê eles precisam tanto daquele tipo de governo. Um país aonde não existe liberdade e a população tem os seus direitos mínimos cassados – a rotina do povo está sujeita a um toque de recolher diário e à vigilância dos homens-dedo.

Ou seja, a história do filme poderia muito bem estar sendo passada nos Estados Unidos atuais (que, em “V de Vingança”, são uma nação em decadência, justamente como conseqüência para uma série de guerras que eles começaram a viver a partir do início da década de 2000). Ou, até mesmo, ser situada na Alemanha nazista – o governante máximo da Inglaterra de “V de Vingança” é o chanceler Adam Sutler, que usa um símbolo muito próximo da suástica do governo de Adolf Hitler e que fez dos homossexuais inimigos número um de seu regime.

Por causa disso, não é surpresa nenhuma observar que os dois personagens principais de “V de Vingança” são duas vítimas desse sistema de governo. Evey Hammond (Natalie Portman) é uma jovem que trabalha na emissora de televisão do governo inglês e que viu o seu irmão ser morto em decorrência de um ataque biológico e seus pais ativistas políticos serem presos e mortos. Já o “herói” do filme, V (Hugo Weaving), foi um dos que, na condição de prisioneiro, sofreu nas mãos do governo de Sutler; e, depois de ganhar a sua liberdade, decidiu entrar numa cruzada em busca da vingança e, mais precisamente, da justiça que deixou de existir a partir do momento em que Sutler ascendeu ao poder na Inglaterra.

A partir das ações de V, o roteiro do filme deixa claro qual é a sua intenção: mostrar que as idéias têm o poder de mudar o mundo e de que o povo é o motor principal para que estas mudanças aconteçam. Para os Irmãos Wachowski (autores do roteiro de “V de Vingança”), é o governo que tem que temer a população, e não o contrário. Dessa forma, “V de Vingança” é feito de muitas frases de grande efeito; porém, com certeza, as ações que a platéia vê serem retratadas no filme não devem ser usadas como fonte de inspiração. Existem melhores maneiras para se enfrentar governos intransigentes do que ficar explodindo prédios que representam anos e anos da história social e política de alguns países.

Os Irmãos Wachowski mudaram o curso do cinema contemporâneo quando lançaram, em 1999, o filme “Matrix”. Para suceder a trilogia do predestinado Neo, eles escolheram a história de “V de Vingança”, que foi baseada nos quadrinhos de Alan Moore. Uma história atual e procedente, mas que, nas mãos de James McTeigue, perde muito de sua força. Poucas cenas realmente são memoráveis, como aquela em que Evie sai na chuva, em que V enfrenta os homens de Creedy e em que o Parlamento inglês é explodido. É melhor prestar atenção mesmo ao roteiro do filme, que pode ser resumido perfeitamente por uma frase que o personagem V repete muito no decorrer de “V de Vingança”: “os artistas usam as mentiras para contar a verdade”.

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Tuesday, April 04, 2006

Quando um Estranho Chama (When a Stranger Calls, 2006)


O diretor Wes Craven é considerado o mestre no gênero de terror. Craven é o responsável pela criação de uma das figuras mais míticas do gênero, o assassino Freddy Kruger, estrela da série “A Hora do Pesadelo”. Craven também viu o renascimento do gênero de terror, quando ele se uniu ao roteirista Kevin Williamson (criador do seriado “Dawson`s Creek”) e idealizou a série “Pânico”. Neste filme, o diretor e o roteirista criaram uma cena que ficaria marcada na história do gênero: Drew Barrymore interpretava uma estudante que entrava numa espécie de jogo pelo telefone – uma brincadeira que começou inocente até evoluir para a morte da personagem que a atriz interpretava.

“Quando um Estranho Chama”, do diretor Simon West – apesar de ter sido baseado no roteiro do filme “Mensageiro da Morte”, que foi lançado em 1979 –, meio que estica a cena de Drew Barrymore em “Pânico”. Jill Johnson (Camilla Belle) é uma estudante do colegial que não está vivendo uma boa fase – ela acabou de ser traída pelo namorado com a sua melhor amiga, Tiffany. Além disso, a garota extrapolou todos os limites na sua conta de celular. Em decorrência disso, Jill recebe um castigo do pai: não poderá usar seu celular ou dirigir seu carro durante um mês e, para completar, perderá a maior festa do ano, pois foi obrigada a passar a noite trabalhando como babá. Esta seria mais uma noite normal de trabalho para Jill, se não fosse uma série de telefonemas estranhos que ela começa a receber e que tiram o seu sossego.

"Quando um Estranho Chama” é um filme que reúne alguns elementos que são típicos de filmes de terror. A casa na qual Jill trabalhará durante a noite, por exemplo, é muito estranha; fica localizada no meio do nada; é bastante espaçosa, com muitos ambientes; e, por causa disso, é extremamente solitária – tendo em vista que, dentro da residência, mal dá para se ver os outros habitantes da casa (a empregada Rosa, além das duas crianças que estão sob a responsabilidade da estudante). Jill é a típica heroína dos filmes de terror, ou seja, é esperta e, depois de um susto inicial, se revela bastante corajosa para enfrentar o seu algoz. O inimigo de Jill também é um elemento recorrente dos filmes do gênero: no decorrer de “Quando um Estranho Chama”, Jill e a platéia mal vêem o seu rosto, não sabem quem ele é, mas conhecem a sua voz de maneira íntima. Tanto Jill quanto a platéia sabem que o inimigo é extremamente perigoso, mas nunca fica certa qual é a motivação para o crime que ele está prestes a cometer.

Além de “Quando um Estranho Chama” se inspirar na cena inicial de “Pânico”, podem ser notadas, no decorrer do filme, referências a um outro filme de Wes Craven: “Vôo Noturno”. Assim como neste filme, em “Quando um Estranho Chama” a ação principal do filme se passa dentro de um mesmo ambiente e o tempo de duração da película é extremamente enxuto. No entanto, falta em “Quando um Estranho Chama” um roteiro que não suscite tantas dúvidas na platéia (pouco acontece na maior parte do filme e, de repente, no quarto final da película, tudo começa a ocorrer); o que faz com que o filme de Simon West não consiga obter a qualidade dos filmes dirigidos pelo mestre do terror.

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, April 01, 2006

A Era do Gelo 2 (Ice Age - The Meltdown, 2006)


No filme “A Era do Gelo, um pequeno personagem acabou roubando a cena de toda a história: o esquilo Scrat. O animalzinho, que aparecia em poucos momentos do filme, é o personagem mais persistente de toda a trama da série de animação "A Era do Gelo” – tendo em vista que ele, apesar de todas as dificuldades, nunca desiste de ir atrás de uma noz que ele tanto quer. Em “A Era do Gelo 2”, continuação da animação de 2002, Scrat ganha bem mais espaço na narrativa da história, e continua a servir como ponto de ilustração da trama que é considerada a principal.

Em “A Era do Gelo 2”, o tigre dente-de-sabre Diego (dublado por Márcio Garcia na versão nacional e por Denis Leary na original), o mamute Manny (dublado por Diogo Villela na versão nacional e por Ray Romano na original) e o bicho-preguiça Sid (dublado por Tadeu Mello na versão nacional e por John Leguizamo na original) se preparam para enfrentar um desafio ainda maior. Depois do ápice da Era do Gelo, os três amigos se deparam com a decadência dessa era em decorrência do aquecimento global e do derretimento do gelo – fato que pode ocasionar a destruição do vale aonde os bichos moram. Por causa disso, Diego, Manny e Sid devem reunir suas forças e alertar a todos os animais que moram no vale para que cada um deles procure proteção do dilúvio que está por vir.

Ao mesmo tempo em que lida com o assunto do aquecimento global, “A Era do Gelo 2” também toca em um tema bastante delicado da discussão ambiental: a extinção dos animais. Muitos acreditam que Manny é o único mamute a habitar o vale e que, por isso, a sua espécie deve estar ameaçada de desaparecimento. Quando os três amigos descobrem a presença de Ellie (dublada por Cláudia Jimenez na versão nacional e por Queen Latifah na original), uma mamute que pensa ser um gambá, Manny começa a visualizar a idéia de poder, enfim, perpetuar a sua espécie.

“A Era do Gelo 2”, do diretor brasileiro Carlos Saldanha, é um filme de animação que se diferencia de qualquer outro exemplar do gênero. Além do filme tratar das questões ambientais – que fazem parte da preocupação geral de toda a sociedade –, a animação também faz referências à filmes como “Missão Impossível II” e até mesmo à histórias bíblicas (os animais que vão em bando à procura de proteção contra um dilúvio que poderia destruir o mundo parece mais uma versão meio distorcida da Arca de Noé). Da mesma forma, “A Era do Gelo 2” reforça a figura da família, pois é preciso que Manny, Diego e Sid passem por situações completamente difíceis para que eles finalmente valorizem que o relacionamento que eles estabeleceram é a única fonte de força, apoio e de amor que eles sempre irão conhecer. O resultado de tanta mistura é um filme que irá agradar a platéias de todas as idades.

Crédito Foto: Yahoo! Movies