Saturday, May 27, 2006

X-Men - O Conflito Final (X-Men - The Last Stand, 2006)


Nos dois primeiros filmes da série “X-Men”, os seres humanos e os mutantes viviam num mundo completamente dividido. Enquanto se discutia a relevância da convivência entre as duas espécies, o problema ia ficando ainda mais grave. Se os humanos podiam levar uma vida normal, o mesmo não podia ser dito a respeito dos mutantes – que, ainda confusos a respeito de suas condições e após serem abandonados pelas suas famílias e amigos, iam viver na isolada escola do professor Xavier (Patrick Stewart), aonde esperavam encontrar a segurança necessária para começar todo um trabalho de aceitação de quem eles realmente eram e aonde eles aprendiam a usar os seus poderes para o bem da humanidade. Mesmo assim, ainda existiam divergências dentro da própria classe dos mutantes. O grupo liderado por Magneto (Ian McKellen) preferia apregoar o uso dos poderes para o mal e declaravam guerra contra tudo e contra todos.

"X-Men – O Confronto Final” – a terceira parte da série –, do diretor Brett Ratner, se passa justamente num momento em que esta divisão entre humanos e mutantes pode estar prestes a acabar. O governo norte-americano se mostra mais aberto ao diálogo com o grupo – criando inclusive um departamento dedicado somente aos mutantes. Entretanto, a união pode vir a um preço muito caro. Um pai atormentado pelo estado mutante de seu filho elege como causa de sua vida a descoberta de uma cura para o gene mutante. A cura é encontrada numa criança (Cameron Bright, de “Reencarnação”). A partir deste momento, tem-se o início de um conflito final entre os humanos e os mutantes; e, pela primeira vez, os mutantes enfrentam o dilema de ter que escolher entre continuarem a ser pessoas especiais ou poderem ter uma vida normal em sociedade.

Neste sentido, “X-Men – O Confronto Final” representa uma grande jornada a ser passada tanto para os seres humanos quanto para os mutantes – personagens como Wolverine (Hugh Jackman), Tempestade (Halle Berry) e Jean Grey (Famke Janssen) estão mais fortes, sábios, conscientes, resistentes e poderosos. E, como em toda jornada, todos estes personagens passarão por momentos de decepção, tristeza, perdas, dúvidas, desolação e angústia até o triunfo finalmente acontecer.

Brett Ratner é um diretor muito interessante. Ele marcou o seu nome na indústria ao dirigir clipes para artistas como Mariah Carey e Madonna. Trilhou seu caminho no cinema comercial ao criar a bem-sucedida franquia “A Hora do Rush” (estrelada por Jackie Chan e Chris Tucker que, pasmem, é o ator mais bem pago de Hollywood no presente momento). Ratner calou a boca dos críticos que torceram o nariz para a sua escolha como o diretor de “Dragão Vermelho” ao criar um universo de muito suspense e que colocava o Hannibal Lecter novamente na sua posição de vilão mais doentio do cinema. E, com “X-Men – O Confronto Final” (um filme que ele aceitou fazer em cima da hora, depois da desistência do inglês Matthew Vaughn), prova que é um diretor que sabe fazer um filme de ação – na minha opinião este é o melhor da série – que não menospreza a inteligência de seu espectador. Apesar de Brett Ratner oferecer à platéia um senso de fechamento à história dos mutantes, o diretor ainda deixa um gostinho de quero mais – o qual é reforçado pela cena que é mostrada após os créditos finais do filme; por isso, nem pense em se levantar da cadeira antes das luzes da sua sala de cinema serem acesas.

Cotação: 9,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Wednesday, May 24, 2006

Tapete Vermelho (2006)


Não dá para falar no cinema brasileiro sem mencionar o nome do ator, diretor e produtor Amácio Mazzaropi. De origem humilde, ele foi o responsável pela criação de uma indústria cinematográfica brasileira independente (tendo em vista que ele mesmo financiava e distribuía as suas produções) e bem-sucedida. Mazzaropi foi a primeira grande estrela cinematográfica nacional e, com seus filmes, procurava falar para o povo sobre temas – até então – controversos como o divórcio, o racismo, a religião, a política, dentre outros. E, apesar de todo o sucesso, Mazzaropi nunca obteve o reconhecimento das chamadas elites intelectuais, que preferiram ignorar as suas obras.

O filme “Tapete Vermelho”, de Luiz Alberto Pereira, não é uma cinebiografia de Amácio Mazzaropi; e sim presta uma homenagem ao tipo que ele imortalizou: o do Jeca Tatu (aquele homem matuto que habita as áreas rurais do Brasil). No filme, o Jeca é representado pela figura de Quinzinho (Matheus Nachtergaele, provando aqui sua posição de ator camaleônico, que pode interpretar qualquer tipo de personagem), homem sonhador e trabalhador que mora no seu pequeno pedaço de terra ao lado da esposa Zulmira (Gorete Milagres, mais conhecida pelo seu trabalho como a empregada doméstica Filó, que fez carreira em diversos programas humorísticos da televisão brasileira) e do filho Neco (Vinícius Miranda).

Com a proximidade do aniversário de seu filho Neco, Quinzinho decide que chegou o momento certo de colocar uma promessa que fez ao seu pai em prática: a de que Quinzinho um dia, assim como seu pai fez com ele, iria levar seu filho para a cidade grande para assistir a um filme de Mazzaropi no cinema. Mesmo contra a vontade de Zulmira, Quinzinho embarca numa viagem do interior até à cidade grande na companhia de sua família. Quando Quinzinho e sua família começam a entrar em contato novamente com as grandes cidades, encontram uma realidade bastante diferente da que imaginavam – os cinemas deram espaços às lojas de departamentos ou às igrejas evangélicas (e quando eles existem só passam os grandes lançamentos) e pessoas de má fé se aproveitam da boa vontade e da inocência da família de Quinzinho. No meio disso tudo, o diretor Luiz Alberto Pereira ainda consegue colocar uma mensagem de fundo social quando faz com que o trabalhador rural Quinzinho se relacione com um grupo de trabalhadores rurais sem-terra – numa série de seqüências que poderiam muito bem ter sido retiradas do filme.

“Tapete Vermelho” é um road movie que, além de retratar a jornada de crescimento da família de Quinzinho, faz uma crônica de um estilo de vida simples e bucólico. “Tapete Vermelho” é um filme que fala sobre gente de verdade, que merece um tratamento digno e não ser objetos de chacota. Enfim, “Tapete Vermelho” é um filme que mostra que existe a possibilidade de amadurecer sem que sejam perdidas a ternura, a esperança e a simpatia que tanto caracterizam o povo brasileiro. Além disso, faz um belo trabalho para chamar a atenção de uma nova platéia de cinéfilos de volta aos filmes de Mazzaropi, que, em decorrência de um velho costume brasileiro, perderam o seu valor, a sua importância e o seu lugar de direito na indústria cinematográfica nacional.

Cotação: 6,0

Crédito Foto: Yahoo! Cinema

Saturday, May 20, 2006

O Código Da Vinci (The DaVinci Code, 2006)


Há cerca de dois anos atrás, um filme (“A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson) estreava em meio a inúmeras polêmicas – especialmente as que queriam acusar o filme de ser anti-semita e de distorcer a realidade dos fatos que cercavam a crucificação de Jesus Cristo. As mesmas reações extremas aconteceram quando, em 2003, o escritor norte-americano Dan Brown lançou o seu livro de ficção “O Código da Vinci”, que trazia uma trama que afirmava que toda a Igreja Católica foi fundamentada em uma crença mentirosa. Em conseqüência disso, o autor enfrentou uma leva de críticas que vieram desde a própria Igreja Católica, até os historiadores e a Opus Dei (milionária seita da Igreja Católica que prega a autoflagelação, para que seus seguidores sintam o mesmo que Jesus Cristo sentiu no momento da crucificação).

Quem já teve a oportunidade de ler o livro “O Código Da Vinci” sabe que esta é uma obra que dialoga muito com a linguagem cinematográfica. A narrativa de Dan Brown é ágil, sabe prender a atenção do leitor e, principalmente, segue um estilo bastante figurativo (se apoiando muito nas ilustrações). Ou seja, em praticamente cada capítulo do livro, o leitor pode visualizar de maneira muito clara toda a ação da história. Seria inevitável – ainda mais depois do fenômeno cultural que o livro se tornou, ocasionando o lançamento de programas de TV e de livros que se dedicavam a destrinchar cada pista do código criado por Dan Brown – que esta obra fosse adaptada por um grande estúdio cinematográfico. E foi justamente isto que aconteceu quando o diretor Ron Howard, o produtor Brian Grazer e o roteirista Akiva Goldsman (que trabalharam juntos em “Uma Mente Brilhante” e “A Luta Pela Esperança”) uniram suas mentes para transpor para as grandes telas esta história naquele que é o mais aguardado filme de 2006.

Para aqueles que não entraram em contato com o fenômeno “O Código Da Vinci”, a história do livro/filme é a seguinte: o curador do Museu do Louvre, Jacques Saunière, é assassinado pelo monge Silas (Paul Bettany, excelente) – que está a serviço da Opus Dei e de um misterioso mestre. O diretor da polícia francesa Bezu Fache (Jean Reno) entra em contato com o professor de Simbologia Religiosa da universidade de Harvard Robert Langdon (Tom Hanks) – que estava em Paris dando uma palestra – para que ele possa ajudá-los a desvendar uma série de símbolos que foram deixados por Saunière na cena do crime. Sem saber que é considerado o suspeito número um da polícia francesa, Langdon recebe a ajuda da neta de Saunière e criptógrafa Sophie Neveu (Audrey Tautou) para tentar provar a sua inocência e, por tabela, desvendar as pistas deixadas pelo curador do Louvre.

As pistas que Jacques Saunière deixou no museu do Louvre faziam parte de um plano do curador para manter escondido um segredo que poderia abalar as bases da religião mais popular do mundo – a Católica. Saunière era o Grão-Mestre de uma sociedade secreta conhecida como Priorado de Sião. De acordo com a história do livro/filme, um dos membros mais importantes do Priorado de Sião foi o pintor Leonardo Da Vinci e, nas suas obras, ele deixou inúmeras pistas que levavam a crer que Jesus Cristo foi casado com Maria Madalena e que os dois tiveram uma filha; formando, assim, uma dinastia secreta que foi protegida com afinco pelos Cavaleiros Templários e, posteriormente, pelos membros do Priorado. E, ao longo dos anos, uma guerra foi travada entre os conhecedores do segredo e os membros da Igreja – que, obviamente, gostariam que o segredo fosse completamente destruído. Essa é a guerra que também será travada por Robert Langdon e Sophie Neveu no decorrer do livro/filme.

O filme “O Código Da Vinci” faz realmente uma transposição perfeita da obra literária para a linguagem cinematográfica. O diretor Ron Howard e o roteirista Akiva Goldsman souberam condensar toda a trama do filme em uma história que se faz compreensível tanto para aqueles que leram e que não leram o livro de Dan Brown. Howard e Goldsman ainda conseguem simplificar a apresentação de tramas que demoram uma eternidade para serem elucidadas por Dan Brown no livro – como a origem de Silas, a razão por trás da claustrofobia de Robert Langdon e o por quê de Sophie Neveu ter cortado relações com o avô Saunière. No entanto, a maior contribuição que Howard e Goldsman fazem com o seu filme é mostrar como o código criado por Dan Brown é simples e não tem nada de extraordinário. Isso levanta uma grande questão: por quê, então, o livro (e, certamente, o filme) obtiveram tanto sucesso? Talvez a resposta por trás de tudo isso esteja no fato de que as pessoas buscam constantemente acreditar e crer em alguma coisa que esteja além daquilo que nós conseguimos realmente enxergar – mesmo que essa crença esteja baseada em fatos verdadeiros ou ficcionais.

Cotação: 7,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Thursday, May 18, 2006

As Férias da Minha Vida (Last Holiday, 2006)


Georgia Byrd (Queen Latifah) trabalha como vendedora de utensílios de cozinha em uma grande loja de departamentos do Estado de Louisiana. Ela é uma daquelas pessoas que vê a vida passar diante de seus olhos e não faz nada – principalmente por causa de sua timidez. Georgia cozinha pratos sofisticados, mas não pode comê-los, pois sempre está de dieta. Georgia é completamente apaixonada pelo colega de trabalho Sean Williams (LL Cool J), mas não tem coragem de se declarar. Nem mesmo quando está participando do coral de sua igreja, Georgia deixa de ser uma pessoa apática.

Tudo isto está prestes a mudar quando Georgia, depois de sofrer um pequeno acidente no trabalho, passa por uma bateria de exames e é desenganada pelo seu médico; descobrindo, assim, que só tem três semanas de vida. A notícia cai como uma bomba na vida de Georgia e, após uma primeira fase de negação, ela decide aceitar seu destino e procura viver pela primeira vez. Dessa maneira, vemos Georgia sacando todo o seu dinheiro do banco e embarcando com destino à República Checa – país aonde irá se hospedar na suíte presidencial de um hotel de luxo e passará a fazer tudo aquilo que ela tinha vontade de realizar e que estava no seu livro de possibilidades (uma espécie de diário dos sonhos que, um dia, Georgia esperava realizar).

É justamente a máxima de “viver cada dia como se fosse o último” que dá a tônica de “As Férias da Minha Vida”, novo filme do diretor Wayne Wang (o mesmo de “Encontro de Amor”). No filme, vemos a extrovertida e engraçada atriz Queen Latifah interpretando uma personagem diametralmente oposta à sua persona da vida real. Latifah está muito discreta e vestida em roupas que conferem um caráter severo à sua Georgia. No entanto, apesar de ser uma personagem apática, Georgia conquista logo a simpatia da platéia, pois todos nós nos solidarizamos com a situação que ela está vivendo.

“As Férias da Minha Vida” é um filme que possui um roteiro meio amargo, no sentido de que equilibra com perfeição os momentos felizes com os tristes. E é certamente nessas cenas mais intimistas em que se sobressai a excelente atuação de Queen Latifah. “As Férias da Minha Vida” marca a credencial dela em Hollywood como uma atriz que pode se sair muito bem tanto nos dramas como nas comédias; e que, principalmente, mostra que Latifah agüenta a responsabilidade de carregar sozinha um filme nas costas.

Cotação: 8,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Tuesday, May 16, 2006

Crianças Invisíveis (All the Invisible Children, 2005)

Convidar um número variado de diretores para falar sobre um mesmo tema não é uma novidade para a indústria cinematográfica. Isso foi feito, por exemplo, no filme “11’09’’01”, quando onze diretores de diversas partes do mundo contaram histórias que mostravam os efeitos dos atentados terroristas de 11 de Setembro nas suas respectivas nações. Na realidade, esse é um recurso narrativo muito interessante, pois oferece ao espectador a possibilidade de ver diversos pontos de vista sobre um mesmo assunto. “Crianças Invisíveis” repete esta fórmula e reúne sete diretores para falar a respeito dos problemas que as crianças enfrentam no seu dia-a-dia.

O primeiro episódio de “Crianças Invisíveis” (“Tanza”) é dirigido pelo algeriano Mehdi Charef e fala sobre Tanza, um menino que vive em uma comunidade africana dominada por uma disputa interna. Tanza é somente um dos muitos meninos a serem recrutados para a luta armada em idade tenra, mas o que Charef quer mostrar é que, mesmo portando uma arma, esses meninos possuem sonhos, vontades e ídolos comuns a todas as crianças (num determinado momento do episódio, o close na arma de um dos garotos revela um adesivo de Ronaldo Fenômeno).

O segundo episódio de “Crianças Invisíveis” (“Blue Gipsy”) é dirigido pelo bósnio Emir Kusturica e conta a história de um garoto filho de ciganos ladrões e que se sente mais à vontade e em segurança no reformatório do que nas ruas. O terceiro episódio do filme (“Jesus Children of America”) é dirigido pelo norte-americano Spike Lee e conta a história de Blanca, uma garota filha de pais viciados em drogas e portadores do vírus HIV, que não sabe que ela mesma também porta o vírus e que sofre com as chacotas dos colegas de escola.

O quarto episódio de “Crianças Invisíveis” (“João e Bilú”) é dirigido pela brasileira Kátia Lund (que co-dirigiu “Cidade de Deus”) e que conta a história de um menino e uma menina que sustentam a família catando papelão, latinhas, vidros e metais. Na realidade, esse episódio mostra como o brasileiro sempre arruma um jeitinho para superar as suas adversidades (João e Bilú criam um jogo e começam a ganhar dinheiro com ele numa feira popular). O quinto episódio do filme (“Jonathan”) é dirigido pelos ingleses Ridley e Jordan Scott (pai e filha) e conta a história de um fotógrafo de guerra que tenta apelar para o seu lado criança para encontrar a sua paz interior.

O sexto episódio de “Crianças Invisíveis” (“Ciro”) é dirigido pelo italiano Stefano Veneruso e conta a história de dois amigos que fazem roubos na rua. Esse é mais um episódio que mostra crianças que são frutos de uma família desintegrada e dialoga especialmente com o primeiro episódio do filme (“Tanza”), pois mostra novamente uma criança que, apesar de entrar em contato permanente com a violência, continua a manter uma inocência e os seus sonhos vivos.

O sétimo – e último episódio – de “Crianças Invisíveis” (“Song Song and Little Cat”) foi dirigido pelo chinês John Woo. Neste episódio, duas realidades são colocadas em xeque: a de Song Song, menina rica que tem todas as suas vontades satisfeitas, mas não se contenta com nada; e a de Little Cat, menina que foi abandonada pela mãe e criada por um mendigo. Little Cat pouco tem, mas valoriza o que possui e não se esquece de sonhar com uma realidade melhor para si mesma. Esse episódio é o mais poderoso de todos, pois toca num ponto que todos nós conhecemos: o de que nós só valorizamos aquilo que temos quando o perdemos – ou seja, nós deveríamos valorizar aquilo que temos, pois muitas pessoas dariam tudo para ter o mesmo que nós.

“Crianças Invisíveis” foi um filme feito por uma parceria entre o governo italiano, a UNICEF e o WFF (World Food Programme). É difícil tentar entender as pretensões por trás de um filme como esse, mas fica subentendido que os envolvidos queriam chamar a atenção para as questões relacionadas às crianças do mundo e as infâncias que elas estão vivendo. “Crianças Invisíveis”, infelizmente, não consegue ser bem-sucedido, pois sofre com a irregularidade dos episódios – que ora apelam para a poética (caso do dirigido por Ridley e Jordan Scott), ora para o humor (caso do de Emil Kusturica) e ora para uma verdade ficcionalizada (caso dos episódios de Mehdi Charef, Spike Lee, Kátia Lund, Stefano Veneruso e John Woo). Se for para causar impacto e fazer a diferença, o filme perfeito seria o documentário “Falcão – Meninos do Tráfico” (que foi apresentado no programa “Fantástico”), do rapper MV Bill e de Celso Athayde, que não quer mascarar a verdade e a mostra como ela é.

Cotação : 5,0

Crédito Foto: Yahoo! Cinema

Wednesday, May 10, 2006

O Albergue (Hostel, 2005)


Apesar de ter sido vendido ao público como um filme de terror completamente diferente dos outros do gênero, “O Albergue”, filme escrito e dirigido por Eli Roth (com a chancela do produtor executivo Quentin Tarantino), repete todas as fórmulas que puderam ser vistas pela platéia nos filmes de terror que foram lançados mais recentemente. Ou seja, na primeira hora de “O Albergue”, poucas coisas significativas acontecem (o diretor retrata o dia-a-dia de seus personagens para colocar a platéia dentro do universo que eles habitam) e, de repente, quando a platéia menos espera, uma série de situações bizarras começam a acontecer de maneira a justificar a classificação do filme como sendo do gênero de terror.

No caso particular de “O Albergue”, os protagonistas do filme são três jovens imaturos e inconseqüentes – Paxton (Jay Hernandez, que foi o par romântico de Kirsten Dunst no ótimo “Gostosa/Loucura”), Oli (Eytor Gudjonsson) e Josh (Derek Richardson) – que estão viajando de férias pela Europa no melhor estilo mochileiros. Paxton, Oli e Josh estão em busca de aventuras com mulheres, festas e drogas. Em Amsterdã, depois de uma noitada que quase termina mal, eles conhecem Alexei, um cara meio estranho que, sabendo das verdadeiras intenções da viagem dos rapazes, sugere um destino perfeito: um albergue na Eslováquia – aonde eles, supostamente, encontrarão tudo aquilo que eles procuram. E é justamente no albergue eslovaco que o filme “O Albergue” alcança o seu clímax.

Nos primeiros momentos de “O Albergue”, a trama do filme não parece ter sentido algum. O filme oscila entre cenas que parecem saídas de uma comédia adolescente e outras que parecem ter saído de um filme adulto. No entanto, os últimos quarenta minutos de “O Albergue” mostram a que o filme veio. No melhor estilo “Jogos Mortais”, a platéia entra em contato com os vilões do filme (pessoas que buscam uma maneira de dar vazão ao seu instinto de violência) em cenas de ritmo ágil, de extremo sangue frio (em determinado momento, Paxton consegue manter a racionalidade para pegar os dedos que foram serrados de sua mão) e que conseguem ser eficientes no sentido de chocar (é bom frisar que elas não chegam a assustar) o espectador.

O que irrita é a necessidade que o diretor e roteirista Eli Roth tem em dar um fechamento à sua história. Aqueles que estão acostumados a assistir filmes de terror sabem que, nesse gênero, os mocinhos podem sobreviver a todo tipo de ameaça e vilão; mas, mesmo depois de estarem livres de qualquer perigo, sempre existe uma única certeza: a de que aquela sensação incômoda de que algo de ruim está prestes a acontecer novamente está sempre à espreita. Isso não acontece com o sobrevivente de “O Albergue”, que, depois de fazer a sua mini-vingança, tem a certeza de que poderá continuar a sua vida da maneira como ela sempre foi.

Cotação: 3,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, May 06, 2006

Missão Impossível III (Mission: Impossible III, 2006)


Com o perdão do trocadilho, fazer “Missão Impossível III” foi quase uma tarefa impossível para o astro e produtor Tom Cruise e sua parceira, a produtora Paula Wagner. Joe Carnahan (“Narc”), o primeiro diretor escalado para o trabalho, abandonou o barco quando o filme já estava num estágio bem avançado da pré-produção – aparentemente porque não concordava com a visão criativa de Cruise. O episódio só fez aumentar a fama de controlador que o superastro possui. No entanto, essa teoria começa a vir abaixo quando se assiste ao que J. J. Abrams (o segundo – e definitivo – diretor escalado para o filme) fez com “Missão Impossível III”. Tudo no filme leva a sua marca – a começar pela equipe técnica. Nomes como os dos roteiristas Alex Kurtzman e Roberto Orci, o do compositor Michael Giacchino, o da diretora de elenco April Webster e o do diretor de arte Scott Chambliss trabalham com o diretor no seriado “Alias”. Até mesmo na frente das câmeras vemos rostos conhecidos do universo de Abrams, como a atriz Keri Russell (que foi a protagonista de seu seriado “Felicity”) e de Greg Grunberg (o melhor amigo de Abrams e que trabalhou em todas as séries dele).

No entanto, a maior das marcas de J. J. Abrams a estar presente em “Missão Impossível III” – e, por conseqüência, a maior contribuição que ele oferece à série – é a humanização dos personagens, especialmente a do agente Ethan Hunt (Cruise). Neste momento, pela segunda vez, aparece uma conexão com o trabalho que Abrams desenvolve em “Alias” – uma série que, apesar de retratar o dia-a-dia de agentes da CIA, ou seja, as missões que eles desempenham e os inimigos que eles combatem dentro e fora da Agência; tem o foco voltado para os relacionamentos pessoais desses agentes com as suas famílias, os seus amores, os seus colegas de trabalho e os seus inimigos. Em muitos episódios de “Alias”, inclusive, as vidas pessoais dos agentes chegam a se confundir com as missões que eles têm que realizar.

Por causa disso, em “Missão Impossível III”, vemos um Ethan Hunt bem diferente do que nos acostumamos a ver nos dois filmes anteriores da série. O roteiro do filme não se resume somente a retratar a missão e o inimigo que o agente têm de enfrentar. Pela primeira vez, se procura aprofundar o personagem. Portanto, na terceira parte de “Missão Impossível”, a platéia conhece a vida pessoal de Ethan Hunt. Desde que o agente conheceu a enfermeira Julia (Michelle Monaghan) – de quem Ethan ficou noivo –, ele não participa mais de trabalhos de campo e prefere se dedicar ao treinamento de novos agentes da IMF. Entretanto, Ethan é obrigado a voltar ao batente quando a agente e ex-aluna sua Lindsey Ferris (Russell) é seqüestrada e, conseqüentemente, executada por Owen Davian (Philip Seymour Hoffman, o vencedor do Oscar de Melhor Ator em 2006). Hunt se vê ainda mais envolvido na missão de capturar Davian depois que ele seqüestra Julia. É neste momento em particular que Hunt vê o seu mundo cair, pois, como agente, Ethan nunca teve a oportunidade de ter relacionamentos reais. Mas, ao conhecer Julia, Hunt vê, de maneira concreta, uma chance de ter uma vida até certo ponto normal – desde que ele consiga manter a noiva protegida da sua segunda vida, o que ele conseguia fazer até Davian aparecer.

“Missão Impossível III” é um filme que nasceu cercado de expectativas. A película pode significar a recuperação da carreira de Tom Cruise – que vem patinando desde que o astro se divorciou de Nicole Kidman e passou a fazer declarações e aparições na mídia polêmicas e, até certo ponto, patéticas. Ao mesmo tempo, “Missão Impossível III” também pode consagrar de vez J. J. Abrams como uma das mentes mais criativas da indústria do entretenimento nos dias atuais – tendo em vista que ele já é o rei da televisão norte-americana com o sucesso estrondoso que é “Lost”. Neste sentido, pode-se dizer que a missão dos dois foi completamente cumprida, pois “Missão Impossível III” é um filme de primeira qualidade – com cenas de ação bem dirigidas e uma história cativante.

Cotação: 9,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Thursday, May 04, 2006

Gatão de Meia Idade (2006)


O designer Cláudio (Alexandre Borges) acredita que um homem é feito da soma de todos os relacionamentos que ele já teve. Neste sentido, Cláudio pode se considerar um homem muito experiente, afinal ele teve inúmeros relacionamentos. O filme “Gatão de Meia Idade”, do diretor Antonio Carlos da Fontoura, retrata exatamente o estilo de vida de homens como Cláudio, que se divertem tomando cerveja com os amigos enquanto discutem detalhes de suas aventuras amorosas.

No decorrer do filme, a platéia irá entrar em contato com as diversas mulheres da vida de Cláudio. Dentre elas, as mais constantes são a sua mãe, a ex-mulher Betty (Julia Lemmertz, esposa de Borges na vida real) e a filha Duda (Renata Nascimento). Existem também aquelas que passaram rapidamente pela vida de Cláudio, como a executiva sênior (Ângela Vieira), a estudante patricinha (Thaís Fersoza), a motociclista com trejeitos masculinos (Cristiana Oliveira), as sensíveis (Alexia Deschamps e Rita Guedes), a gostosona (Paula Burlamaqui), a milionária (Lavínia Vlasak), dentre muitas outras beldades que fazem participações especiais em “Gatão de Meia Idade”.

Todos esses relacionamentos servem muito bem para ilustrar a personalidade do próprio Cláudio – um homem que não consegue se envolver emocionalmente com uma mulher, que acredita que a quantidade é sinônimo de qualidade e que nunca se sente sozinho. A solidão só irá começar a ameaçar Cláudio quando Betty começa a namorar um empresário (Antônio Grassi) e passa a viajar freqüentemente para Miami – cidade para onde ela pretende se mudar com a filha Duda. Quando Cláudio enxerga a possibilidade de não ter um relacionamento diário com a filha e quando ele vê seu domínio sob as mulheres ser ameaçado com o surgimento de um Don Juan bem mais jovem que ele (Márcio Kieling), Cláudio ameaça ensaiar uma transformação que nunca irá se concretizar na realidade.

Baseado no personagem criado pelo desenhista Miguel Paiva (também criador da Radical Chic), “Gatão de Meia Idade” é um filme que não funciona, pois, aparentemente, foi feito no formato errado. Por ter um roteiro que é uma reunião de várias esquetes, deveria ter sido adaptado para um formato de sitcom (as chamadas comédias de situações) – e, mesmo se fosse um programa de televisão, não conseguiria arrancar o mínimo de risadas dos telespectadores. Nem Alexandre Borges, um ator carismático e ele próprio um gatão de meia idade, consegue oferecer um pouco de qualidade ao filme.

Cotação: 2,0

Crédito Foto: Yahoo! Cinema

Selvagem (The Wild, 2006)


Os estúdios Walt Disney marcaram seu nome na história do cinema ao lançar filmes de animação como “Bambi”, “Fantasia”, “Branca de Neve e os Sete Anões”, “A Dama e o Vagabundo” e “A Bela e a Fera”. Tais filmes foram (e continuam a ser) o sinônimo de padrão de qualidade no gênero. No entanto, nos dias atuais, os filmes do estúdio Disney parecem que pararam no tempo e não acompanharam a evolução técnica do gênero de animação. Ou seja, é certo dizer que os estúdios Disney têm levado uma verdadeira surra da concorrência – a mais notável delas é o estúdio Pixar, que lançava seus filmes pela Disney e foi recentemente comprado pela companhia do Mickey.

“Selvagem”, filme do diretor Steve “Spaz” Williams, é mais uma tentativa dos estúdios Disney para provarem que ali ainda se fazem bons filmes de animação. O filme está cheio de boas intenções, mas, além de não chegar ao nível das outras películas do gênero, deixa uma péssima impressão de que se trata de um plágio descarado. No filme, o leão Sansão (Kiefer Sutherland na versão original) e seu filho Ryan vivem no zoológico de Nova York – local aonde são as atrações principais ao lado da girafa Bridget (Janeane Garofalo na versão original), do esquilo Benny (James Belushi na versão original), do coala Nigel (Eddie Izzard na versão original) e da sucuri Larry (Richard Kind na versão original).

O roteiro de “Selvagem” prefere enfocar a dinâmica familiar existente entre Sansão e Ryan. Sansão se vangloria de um passado mentiroso como leão na selva e critica Ryan por ainda não conseguir rosnar forte como um verdadeiro leão. Cansado de receber as críticas do pai, Ryan procura um local mais sossegado sem saber que, na realidade, acabou indo parar num contêiner que seria embarcado num navio rumo à África. Assim que nota o sumiço de Ryan, um desesperado Sansão parte em busca do filho e, com a ajuda dos amigos do zoológico, também parte para o continente africano – local aonde eles conhecerão novas espécies e amadurecerão.

Portanto, “Selvagem” é uma mistura de “Madagascar” com “Procurando Nemo”, dois filmes que obtiveram bastante sucesso nas bilheterias. No entanto, o filme é fraco e nem consegue repetir aquilo que fez dos filmes de animação dos estúdios Disney marcos do gênero – uma vez que as personagens de “Selvagem” não possuem carisma e não estão bem definidas, as situações e a narrativa do filme não são criativas, as canções não são memoráveis e o ritmo do filme é extremamente lento. Talvez, depois de mais um erro, seja o momento certo para a Disney pensar em modificar a sua receita de sucesso, pois, claramente, ela não está mais dando certo.

Cotação: 4,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies