Thursday, December 28, 2006

Lista de Desejos para 2007

Para finalizar, como é de costume nessa época, as pessoas tendem a fazer listas com aquilo que gostariam de fazer ou de conquistar no ano novo que se inicia. Para ser coerente com o tema deste blog – cinema – vou fazer minha lista de desejos, com os filmes que eu mais anseio assistir em 2007.

Lista de Desejos Para 2007 (aqui, a ordem é de preferência mesmo)

01. Dreamgirls (EUA, 2006)
Diretor: Bill Condon
Elenco: Jamie Foxx, Beyoncé Knowles, Eddie Murphy, Danny Glover, Anika Noni Rose, Keith Robinson, Sharon Leal e apresentando Jennifer Hudson.
Se você quiser assistir ao trailer de “Dreamgirls”, clique aqui.

02. Shut Up and Sing (EUA, 2006)
Diretoras: Barbara Kopple e Cecilia Peck (filha do ator Gregory Peck)
Elenco: Martie Maguire, Natalie Maines e Emily Robison.
Se você quiser assistir ao trailer de “Shut Up and Sing”, clique aqui.

03. The Painted Veil (EUA, 2006)
Diretor: John Curran
Elenco: Naomi Watts, Edward Norton, Liev Schreiber, Diana Rigg, Toby Jones.
Se você quiser assistir ao trailer de “The Painted Veil”, clique aqui.

04. Babel (EUA, México, 2006)
Diretor: Alejandro Gonzalez-Iñarritu
Elenco: Brad Pitt, Cate Blanchett, Gael Garcia Bernal, Adriana Barraza, Rinko Kikuchi.
Se você quiser assistir ao trailer de “Babel”, clique aqui.

05. Zodiac (EUA, 2007)
Diretor: David Fincher
Elenco: Jake Gyllenhaal, Mark Ruffalo, Robert Downey Jr., Brian Cox, Anthony Edwards, Chloe Sevigny.
Se você quiser assistir ao trailer de “Zodiac”, clique aqui.

06. The Bourne Ultimatum (EUA, 2007)
Diretor: Paul Greengrass
Elenco: Matt Damon, Joan Allen, David Strathairn, Julia Stiles, Paddy Considine.

07. Letters From Iwo Jima (EUA, 2006)
Diretor: Clint Eastwood
Elenco: Ken Watanabe, Kazunari Ninomiya, Shido Nakamura.

08. Evening (2007)
Diretor: Lajos Koltai (diretor de fotografia de filmes como “Adorável Julia” e “Malèna”)
Elenco: Eileen Atkins, Glenn Close, Toni Collette, Hugh Dancy, Claire Danes, Vanessa Redgrave, Natasha Richardson, Meryl Streep, Patrick Wilson.

09. Grind House (EUA, 2007)
Diretores: Robert Rodriguez e Quentin Tarantino
Elenco: Naveen Andrews, Josh Brolin, Rosario Dawson, Rose McGowan, Freddy Rodriguez, Kurt Russell, Marley Shelton, Tracie Thoms.
Se você quiser assistir ao trailer de "Grind House", clique aqui.

10. American Gangster (EUA, 2007)
Diretor: Ridley Scott
Elenco: Russell Crowe, Denzel Washington, Josh Brolin, Carla Gugino.

Faltou espaço para "Notes on a Scandal" (2006, Inglaterra, dir. Richard Eyre), "Little Children" (EUA, 2006, dir. Todd Field), “The Last King of Scotland” (EUA, Inglaterra, 2006, dir. Kevin MacDonald), “Half Nelson” (EUA, 2006, dir. Ryan Fleck), “Pride & Glory” (EUA, 2007, dir. Gavin O’Connor), “Atonement” (2007, dir. Joe Wright), “The Assassination of Jesse James” (EUA, 2007, dir. Andrew Dominic), “A Mighty Heart” (2007, dir. Michael Winterbottom), “Sin City 2” (EUA, 2007, dir. Robert Rodriguez e Frank Miller), “My Blueberry Nights” (2007, dir. Wong Kar Wai), “Curse of the Golden Flower” (Hong Kong, China, 2006, dir. Zhang Yimou), “The Good German” (EUA, 2006, dir. Steven Soderbergh), “The Good Shephard” (EUA, 2006, dir. Robert de Niro), “Goya’s Ghosts” (Espanha, 2006, dir. Milos Forman), “Fur – An Imaginary Portrait of Diane Arbus” (EUA, 2006, dir. Steven Sheinberg), “The Pursuit of Happyness" (EUA, 2006, dir. Gabriele Muccino), dentre muitos outros, que fazem parte do meu interesse cinematográfico para o próximo ano, e merecem uma citação.

Gostaria de desejar a todos e às suas famílias um 2007 cheio de realizações e de bênçãos. Obrigada pela visita, pelas discussões e, espero que, em 2007, possamos ver e debater uma maioria de boas histórias, para variar um pouco.

Os Melhores de 2006

O ano de 2006 para o cinema foi, praticamente, uma reprise do ano de 2005. Bons filmes nos meses de janeiro, fevereiro e março (na temporada que antecipa o Oscar); alguns filmes eletrizantes nos meses de maio, junho e julho (a temporada do Verão norte-americano) e a volta dos bons filmes nos meses de outubro, novembro e dezembro (novamente, o início da temporada que antecede o Oscar). Nesse ínterim, alguns filmes interessantes, muitos descartáveis e a prova de que a crise que abala a indústria cinematográfica é muito mais grave do que se pensa – tendo em vista a quantidade de refilmagens e de péssimas idéias de roteiro que aportaram nas salas de cinema de todo o mundo.

A lição que fica é a de que está cada vez mais raro encontrar e contar de maneira adequada uma boa história.

Como fizemos no final de 2005, esta é a hora de fazermos aquelas listas com os melhores e piores de 2006. Vamos começar, então, com aquilo que de melhor foi produzido em termos de cinema neste ano que está terminando.

10 Melhores Filmes de 2006 (de acordo com a data de lançamento nos cinemas brasileiros)

01. A Rainha (The Queen, Inglaterra, França, Itália, 2006, dir. Stephen Frears)
02. Vôo United 93 (United 93, França, Inglaterra, EUA, 2006, dir. Paul Greengrass)
03. Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, EUA, 2006, dir. Jonathan Dayton e Valerie Faris)
04. Boa Noite, e Boa Sorte (Good Night, and Good Luck, EUA, 2005, dir. George Clooney)
05. O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain, EUA, 2005, dir. Ang Lee)
06. Zuzu Angel (Brasil, 2006, dir. Sérgio Rezende)
07. Superman – O Retorno (Superman Returns, Austrália, EUA, 2006, dir. Bryan Singer)
08. Orgulho e Preconceito (Pride & Prejudice, Inglaterra, 2005, dir. Joe Wright)
09. Johnny & June (Walk the Line, EUA, 2005, dir. James Mangold)
10. A Marcha dos Pinguins (March of the Penguins, La Marche de L´Empereur, França, 2005, dir. Luc Jacquet)

Melhores Atuações Masculinas de 2006 (em ordem alfabética, não por ordem de preferência)

Christian Bale, O Grande Truque
Paul Dano, Pequena Miss Sunshine
Leonardo DiCaprio, Os Infiltrados
Aaron Eckhart, Obrigado por Fumar
Hugh Jackman, O Grande Truque
Sergi López, O Labirinto do Fauno
Jack Nicholson, Os Infiltrados
Edward Norton, O Ilusionista
Michael Sheen, A Rainha
Patrick Wilson, MeninaMá.com

Melhores Atuações Femininas de 2006 (em ordem alfabética, não por ordem de preferência)

Abigail Breslin, Pequena Miss Sunshine
Penélope Cruz, Volver
Maggie Gyllenhaal, As Torres Gêmeas
Anne Hathaway, O Diabo Veste Prada
Helen Mirren, A Rainha
Ellen Page, MeninaMá.com
Patrícia Pillar, Zuzu Angel
Blanca Portillo, Volver
Meryl Streep, O Diabo Veste Prada e A Última Noite

Os Piores de 2006

Agora, vamos ao que de pior foi produzido pelo cinema no ano de 2006.

10 Piores Filmes de 2006 (de acordo com a data de lançamento nos cinemas brasileiros)

01. Casseta e Planeta – Seus Problemas Acabaram (Brasil, 2006, dir. José Lavigne)
02. Uma Comédia Nada Romântica (Date Movie, EUA, 2006, dir. Aaron Seltzer)
03. Assombração (Gwai Wik, Re-Cycle, Tailândia, Hong Kong, 2006, dir. Oxide Pan Chung e Danny Pang)
04. O Sacrifício (The Wicker Man, Alemanha, EUA, 2006, dir. Neil LaBute)
05. Instinto Selvagem 2 (Basic Instinct 2, Alemanha, Espanha, Inglaterra, EUA, 2006, dir. Michael Caton-Jones)
06. Gatão de Meia Idade (Brasil, 2005, dir. Antônio Carlos da Fontoura)
07. O Pequenino (Little Man, EUA, 2006, dir. Keenan Ivory Wayans)
08. Fica Comigo Esta Noite (Brasil, 2006, dir. João Falcão)
09. O Albergue (Hostel, EUA, 2005, dir. Eli Roth)
10. Todo Mundo em Pânico 4 (Scary Movie 4, EUA, 2006, dir. David Zucker)

Piores Atuações Masculinas de 2006 (em ordem alfabética, não por ordem de preferência)

Orlando Bloom, Piratas do Caribe 2 – O Baú da Morte
Adam Campbell, Uma Comédia Nada Romântica
James Franco, Flyboys
LL Cool J, As Férias da Minha Vida
Thiago Lacerda, Se Eu Fosse Você
Vinícius Miranda, Tapete Vermelho
Nathan Phillips, Serpentes a Bordo
Adam Sandler, Click
Marlon Wayans, O Pequenino
Luke Wilson, Minha Super Ex-Namorada

Piores Atuações Femininas de 2006 (em ordem alfabética, não por ordem de preferência)

Katie Beahan, O Sacrifício
Cindy Cheung, A Dama na Água
Cameron Diaz, O Amor Não Tira Férias
Kate Isitt, Protegida por um Anjo
Juliana Knust, Achados e Perdidos
Angelica Lee, Assombração
Bai Ling, Um Cara Quase Perfeito
Camila Pitanga, Mulheres do Brasil
Fiona Shaw, A Dália Negra
Sharon Stone, Instinto Selvagem 2

Wednesday, December 27, 2006

O Amor Não Tira Férias (The Holiday, 2006)


A diretora e roteirista Nancy Meyers é uma verdadeira estudiosa dos relacionamentos humanos. Nos seus dois últimos filmes, “Do que as Mulheres Gostam” e “Alguém Tem que Ceder”, as relações entre os homens e as mulheres nas suas diferentes formas – a profissional, a amorosa e a de amizade – foram os temas principais. O mesmo é o caso de “O Amor Não Tira Férias”, seu mais novo filme.

A trama do filme gira em torno de duas mulheres. A londrina Iris (Kate Winslet), jornalista especializada em reportagens sobre casamentos, que é romântica e cometeu o “erro” de se apaixonar perdidamente pelo colega de trabalho Jasper (Rufus Sewell, o coadjuvante de luxo do ano de 2006) – que não corresponde ao sentimento e, ainda por cima, vai se casar. E a norte-americana Amanda Woods (Cameron Diaz), uma montadora de trailers de filmes, que é viciada em trabalho, fria e distante e possui um relacionamento com o compositor Ethan (Edward Burns) – que está traindo-a com uma recepcionista de 24 anos.

A decepção com os homens faz com que Iris e Amanda tomem uma decisão drástica: a de se afastar de tudo e de todos durante a época do Natal. As duas, então, entram em um programa de intercâmbio de casas. Dessa forma, Iris troca o seu bucólico, simples e aconchegante chalé no interior da Inglaterra pelo luxo, conforto e grandiosidade da mansão de Amanda; e vice-versa.

Como diz o velho ditado: se uma porta se fecha, outras irão se abrir. No caso particular de Iris e Amanda, isso irá acontecer de forma literal e as transformações pelas quais as duas irão passar englobarão muito mais do que a mudança de ares. Ao conhecer o roteirista aposentado de Hollywood Arthur Abbott (Eli Wallach), seus amigos, e o compositor Miles (Jack Black), Iris se tornará uma mulher confiante, com ótima auto-estima e pronta para amar novamente. Já Amanda, que conhece Graham (Jude Law), o irmão de Iris, vivenciará o amor da maneira mais idealizada possível.

Em “O Amor Não Tira Férias”, Nancy Meyers criou duas tramas paralelas que estão muito bem unidas, pois falam sobre o amor de uma maneira real. Claro que, durante o filme, veremos aqueles tão conhecidos clichês do cinema, mas, para “O Amor Não Tira Férias”, o que importa é perceber – na sua mais pura forma – que a receita para amar passa, em primeiro lugar, pelo amor próprio. O clima do filme é leve e divertido, e toda essa descontração está colocada na grande tela pelo ótimo elenco do filme, em especial Kate Winslet (como é bom vê-la genuinamente bela e feliz num filme), Jack Black, Eli Wallach, Jude Law e pelas atrizes mirins Miffy Englefield e Emma Pritchard (que participam de um dos momentos mais legais de “O Amor Não Tira Férias”). A única que destoa do resto do elenco é Cameron Diaz, que, em nenhum momento, consegue despertar a simpatia pela sua Amanda.

Cotação: 7,8

Crédito Foto: IMDB

Tuesday, December 26, 2006

Eragon (2006)


Desde o sucesso dos filmes da trilogia “O Senhor dos Anéis”, do diretor neozelandês Peter Jackson, os estúdios de cinema têm procurado uma nova franquia no estilo aventura e fantasia. Alguns candidatos já foram apresentados, como “Desventuras em Série”, do diretor Brad Silberling, e “As Crônicas de Nárnia – O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa”, do diretor Andrew Adamson. Agora, chegou a vez de “Eragon”, do diretor Stefen Fangmeier, se submeter ao julgamento do público.

Baseado no livro do jovem prodígio Christopher Paolini, “Eragon” se passa numa terra dominada por um único rei chamado Galbatorix (John Malkovich). Todos os focos de resistência contra o regime se encontram isolados e controlados. Estes grupos persistem pela esperança de que a lenda de que os Cavaleiros do Dragão irão ressurgir se torne realidade.

É isto o que irá acontecer quando o jovem fazendeiro Eragon (Ed Speelers) encontra o que aparenta ser uma pedra preciosa. O tempo irá revelar que, na verdade, a pedra é o ovo de um dragão. O nascimento de Safira (dublada pela atriz Rachel Weisz) é a confirmação de que a lenda era verdadeira e que Eragon dará início a uma nova linhagem de Cavaleiros do Dragão.

Este acontecimento marca o início de duas novas etapas na trama de “Eragon”. A primeira acompanha a transformação do corajoso e tolo Eragon em um grande cavaleiro e mago – tendo como mentor, o ex-cavaleiro Brom (Jeremy Irons). A segunda acompanha a luta do rei Galbatorix e de seu maior “soldado”, o horripilante Durza (Robert Carlyle) – um homem possuído por entidades demoníacas – para impedir que Eragon transforme a lenda em realidade e, em conseqüência disso, coloque o seu domínio em xeque.

O diretor Stefen Fangmeier privilegia muito o desenvolvimento da trama adaptada pelo roteirista Peter Buchman. Poucas são as cenas de combate, mas quando elas acontecem são muito bem feitas e dirigidas. No entanto, o que mais se sobressai em “Eragon” é o seu elenco. De um lado, encontramos atores mais experientes, como John Malkovich, Jeremy Irons, Robert Carlyle e Djimon Hounsou (que interpreta o líder de um dos grupos de resistência ao regime de Galbatorix). Do outro, se encontram atores mais jovens e com pouca experiência, como Ed Speelers, Garrett Hedlund (que interpreta Murtagh, o filho de um Cavaleiro de Dragão que traiu a sua ordem) e Sienna Guillory (que interpreta a princesa Arya). Os mais veteranos, especialmente Carlyle (cujo personagem, sem dúvida alguma, é a melhor coisa de “Eragon”), roubam a cena. Os novatos, por sua vez, não comprometem e Speelers prova que poderá, no futuro, carregar o filme sozinho.

E, assim como em “Desventuras em Série” e “As Crônicas de Nárnia – O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa”, se o material for interessante e conseguir atrair um bom diretor e um elenco competente, “Eragon” tem potencial para se transformar em uma franquia rentável. Entretanto, falta ao filme encontrar-se na grande tela. Existe a necessidade de se afastar um pouco de suas semelhanças com “O Senhor dos Anéis” e, especialmente, “Guerra nas Estrelas”. Para ter sucesso, “Eragon” precisa ter uma identidade própria.

Cotação: 7,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Tuesday, December 19, 2006

Por Água Abaixo (Flushed Away, 2006)


Os estúdios Aardman ficaram conhecidos pelas suas animações em massa, em especial com o filme “Wallace & Gromit – A Batalha dos Vegetais” (que ganhou o Oscar 2006 de Melhor Filme de Animação). Na nova investida deles no cinema, “Por Água Abaixo”, dos diretores David Bowers e Sam Fell, os animadores da Aardman abandonam a técnica de massinha e voltam a uma animação mais tradicional.

O filme conta a história de Roddy St. James (dublado por Hugh Jackman na versão original), um ratinho de estimação que vive no maior conforto (com direito à “gaiola” própria e roupas chiques) em uma mansão em Kensington, um bairro nobre de Londres. Apesar de todo luxo, Roddy é um ratinho muito solitário e que só interage com seres inanimados como bonecas e bonecos. Essa condição irá se agravar mais quando Roddy fica sozinho em casa depois que a família que cuida dele decide viajar.

O dia de Roddy como rei da mansão acaba quando o rato de esgoto Sid (dublado por Shane Richie na versão original) invade a sua morada. Sid é sujo, mal-educado e desleixado – tudo o que um morador de Kensington não é. Roddy começará a se dedicar a expulsá-lo de sua casa, mas o tiro acaba saindo pela culatra quando Roddy é descartado por água abaixo por Sid e acaba indo parar numa Londres subterrânea, local aonde os ratos de esgoto moram.

É nesse mundo subterrâneo que Roddy conhecerá Rita (dublada por Kate Winslet na versão original), uma ratinha malandra, independente e cheia de iniciativa. Ela está metida em problemas com Sapão (dublado na versão original por Ian McKellen), o qual, por sua vez, está querendo colocar em prática um plano que destruirá com o mundo – e com a vida – dos ratos de esgoto. O contato com Rita, com a família dela e com os diversos tipos de ratos que formam a Londres subterrânea fazem com que Roddy repense seus valores e contemple a vida ao lado de seres que podem retrucar seus cumprimentos, suas palavras e seus gestos.

“Por Água Abaixo” é um filme que mantém o padrão Aardman de qualidade. Suas cenas são muito bem feitas e dirigidas – especialmente aquelas que retratam a perseguição que os capangas de Sapão fazem ao navio de Rita. No entanto, o filme tem personagens que não possuem carisma (as lesmas cantoras são as personagens mais chatas já feitas para um filme de animação). E empatia é um elemento fundamental para um filme cujo público-alvo maior são as crianças. Sem isso, fica difícil para “Por Água Abaixo” fazer uma conexão com a platéia e fazer com que ela se envolva em sua história.

Cotação: 5,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, December 16, 2006

007 - Cassino Royale (Casino Royale, 2006)


A última aparição do agente 007 James Bond no cinema, no filme “007 – Um Novo Dia Para Morrer”, foi um verdadeiro sucesso. Mas, ninguém poderia imaginar que os produtores da série estavam insatisfeitos com os filmes da franquia, que pouco atraíam um público jovem e consumidor de todos os produtos derivados de um filme como esse (em especial, os jogos de videogame). Portanto, contrariando a tese de que “em time que está ganhando, não se mexe”, os produtores trocaram a parte mais visível dos filmes – o diretor (saiu Lee Tamahori e entrou Martin Campbell, que dirigiu “007 Contra GoldenEye”) e, na decisão mais polêmica de todas, o ator principal (saiu Pierce Brosnan e entrou Daniel Craig). A escolha de Craig (bom ator de filmes como “Estrada Para Perdição” e “Sylvia – Paixão Além das Palavras”) deixou os fãs do agente mais charmoso do cinema desconsolados.

A estratégia seguinte foi copiar algo feito com sucesso em outro personagem mitológico do cinema: Batman. Assim como Christopher Nolan fez em “Batman Begins”, a proposta era começar do zero e esquecer os outros filmes. A melhor saída, então, foi usar como fonte de inspiração o livro de Ian Fleming que trouxe o agente pela primeira vez (“Cassino Royale”). Os produtores chamaram de volta os roteiristas de “007 – Um Novo Dia Para Morrer”, Neal Purvis e Robert Wade, e convocaram o premiado roteirista Paul Haggis (de “Menina de Ouro”) para lapidar a história criada pelos dois. O resultado é “007 – Cassino Royale”, filme que marca o início de uma nova era para James Bond.

O filme é dividido em três atos. No primeiro, Bond acabou de ser promovido por M. (Dame Judi Dench) à agente 00 (com licença para matar). A missão dele é vigiar um terrorista pequeno, mas ele acaba desvendando um plano maior. Sob a liderança de Le Chiffre (Mads Mikkelsen), diversos grupos terroristas, que estão espalhados pelo mundo, investem em ações na bolsa de valores com o objetivo de ganhar dinheiro para financiar novos ataques. O plano deles é investir em uma empresa que constrói aviões e destruir o mais novo protótipo deles, de forma a fazer com que as ações da companhia despenquem e eles ganhem milhões. É óbvio que isso não irá acontecer, pois Bond acaba com os planos do grupo.

Fato que nos leva ao segundo ato de “007 – Cassino Royale”. Com todos os grupos terroristas no seu encalço, Le Chiffre tem que arrumar outra maneira de recuperar o dinheiro que perdeu. Por isso, ele cria um torneio de pôquer no Cassino Royale de Montenegro. E é claro que James Bond – agora na companhia da bela contadora do Ministério da Fazenda inglês Vesper Lynd (a atriz francesa Eva Green) – estará participando do torneio para dificultar a vida de Le Chiffre e deixá-lo em uma situação ainda mais desesperadora.

No terceiro ato, depois que a maioria dos conflitos de “007 – Cassino Royale” já estão resolvidos, James Bond ousa vislumbrar uma vida comum ao lado de Vesper (por quem ele se apaixonou). Aqui, podemos fazer um paralelo com outro agente secreto do cinema, Jason Bourne (intepretado por Matt Damon nos filmes “A Identidade Bourne”, “A Supremacia Bourne” e, em breve, “The Bourne Ultimatum”). Assim como Bourne, Bond aprenderá que levar uma vida normal é impossível para alguém como ele, pois ele nunca conseguirá confiar em ninguém e o seu passado nunca o deixará em paz.

“007 – Cassino Royale” é um filme bem-sucedido no seu propósito de renascer James Bond. O personagem nos é apresentado de uma maneira completamente diferente daquela que conhecíamos e, no filme, testemunhamos todo o seu processo de transformação. Os acontecimentos retratados neste filme serão de fundamental importância para as futuras continuações. Entender o que se passa com o homem por trás do smoking é fundamental para compreendermos a maneira como ele desempenha as tarefas às quais é designado. E essa é a maior contribuição que “007 – Cassino Royale” nos faz. Mudar às vezes é bom, e esse filme é a maior prova disso.

Cotação: 8,2

Crédito Foto: Movies Yahoo!

Monday, December 11, 2006

A Última Noite (A Prairie Home Companion, 2006)


O diretor, roteirista e produtor Robert Altman era um daqueles poucos profissionais do cinema que podia se orgulhar de ter, no seu currículo, filmes dos mais diversos gêneros – para se ter uma idéia, até faroestes ele fez. Apesar de sempre ter sido um cineasta aclamado pela crítica, Altman nunca viu seus filmes serem sucessos comerciais. Mesmo assim, conquistou uma legião de fãs entre os cinéfilos.

Nos últimos anos, era notável que o estado de saúde de Robert Altman estava ficando delicado. Durante a produção de “A Última Noite” – aquele que acabaria sendo o último filme dele na cadeira de diretor –, isso ficou ainda mais claro (tanto que, para finalizar o filme, Altman precisou da ajuda do amigo diretor Paul Thomas Anderson). Nesta película, Altman retrata aquele momento que o artista mais teme: o fechar das cortinas, o fim do espetáculo. Muitos aqui enxergam na trama do filme, uma própria metáfora com o momento vivido pelo diretor naquele instante particular: estaria ele fazendo o seu último filme? Teria ele pique para criar outras novas obras? Na realidade, ninguém ao certo saberá se Robert Altman realmente compreendia que “A Última Noite” seria o seu derradeiro filme.

Assim como em muitos de seus outros filmes, Altman reuniu ao seu redor um grande elenco, formado por Meryl Streep e Lily Tomlin (como as irmãs Yolanda e Rhonda Johnson), Woody Harrelson e John C. Reilly (como a dupla Dusty e Lefty), Lindsay Lohan (como Lola Johnson, a filha de Yolanda), Garrison Keillor (que também escreveu o roteiro de “A Última Noite” e interpreta a si mesmo), Tommy Lee Jones (como o interventor da grande corporação de emissoras de rádio), Virginia Madsen (como um anjo), Kevin Kline (como o chefe de segurança do teatro) e Maya Rudolph (como a produtora do programa), dentre outros. Também como é de costume nos filmes do diretor, todos os atores terão o seu momento para brilhar.

Este grupo interpreta um conjunto de artistas cantores de música country/bluegrass; de locutores, produtores e funcionários de uma emissora de rádio que, após mais de trinta anos juntos, fará a última transmissão do programa “A Prairie Home Companion” – que, à moda dos programas antigos de rádio, é transmitido ao vivo de um teatro com a presença de uma platéia.

“A Última Noite” se divide em dois planos de ação: o que acontece nos bastidores e o que acontece no palco. Nos camarins, existe a nostalgia, o encontro com as origens de cada uma dessas pessoas. No palco, como se lá fosse o local magnético de um encontro único, ocorre a magia, o deleite e a emoção embaladas por uma série de lindas – e, em alguns casos, divertidas – canções. Todos estes elementos realmente formam uma grande metáfora sobre o fim. O interessante é perceber que nenhum personagem encara a despedida, mesmo sabendo que ela irá acontecer. É aquele velho conceito de que o show tem que continuar.

Quando “A Última Noite” estreou nos cinemas de minha cidade, Robert Altman já havia falecido. Se assistir a um filme dele em circunstâncias normais já seria muito especial, fazer isso agora transforma essa experiência em algo inesquecível. Após a morte de um dos personagens de “A Última Noite”, vemos aqueles que permaneceram discorrendo sobre qual a maneira correta de se lembrar de alguém. Garrison Keillor diz que gostaria que as pessoas não se sentissem obrigadas a se lembrar dele. No caso de Altman, ele estará vivo para sempre nas memórias daqueles que assistiram aos seus filmes. Seu legado permanecerá eterno por inúmeras gerações.

Cotação: 8,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, December 09, 2006

Volver (2006)


Depois de dois filmes (“Fale com Ela” e “Má Educação”) que mergulhavam no universo masculino, o diretor e roteirista espanhol Pedro Almodóvar retorna a um mundo que ele ama e conhece como ninguém: o das mulheres. No filme “Volver”, Almodóvar aborda como as questões de vida e de morte afetam a vida de três mulheres oriundas de uma mesma aldeia espanhola – e que já é misteriosa por si só, pois, reza a lenda, que seus habitantes ficam loucos com grande facilidade.

Quando a gente conhece as três mulheres de “Volver”, dá para começar a entender o por quê da existência da linha tênue entre sanidade e loucura. Raimunda (Penélope Cruz, que recentemente ganhou o prêmio de melhor atriz no European Film Awards pela sua performance neste filme) e Sole (Lola Dueñas) perderam os pais em um incêndio e, na primeira oportunidade que tiveram, abandonaram a aldeia e foram para Madrid. No início do filme, elas – na companhia de Paula (Yohana Cobo), filha de Raimunda – estão no vilarejo polindo e limpando o túmulo de seus pais. Após fazerem isso, as duas aproveitam e visitam a Tia Paula (Chus Lampreave) – o único parente vivo que elas têm –, que vive sozinha e está louca e doente.

Agustina (Blanca Portillo) também perdeu a mãe, que está desaparecida, e mantém pouco contato com a irmã, que está mais interessada em obter atenção e sucesso. Assim como a sua genitora, que era hippie, Agustina tem uma personalidade exótica e planta e fuma maconha como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Mas, você deve estar se perguntando, o que Agustina tem a ver com Raimunda e Sole? Agustina é a vizinha de Tia Paula e cuida dela, verificando se ela está bem e se ela terá o pão de cada dia para comer.

A vida destas três mulheres dará uma guinada de 360 graus quando Raimunda chega em casa e encontra Paco (Antonio de la Torre), seu marido, morto pela filha depois deste ter tentado abusar sexualmente dela; quando Agustina recebe o diagnóstico de que está com um câncer terminal; e quando Tia Paula morre e Sole volta à aldeia para cuidar do enterro e das coisas de sua tia, e acaba se deparando com o fantasma de sua mãe (Carmen Maura), que parte com a filha de volta à Madrid, pois, aparentemente, ela ainda tem algumas coisas para resolver no mundo dos vivos. Em comum nestes casos é a necessidade que cada mulher tem em dar um fechamento a algum capítulo doloroso de sua vida. Ou seja, algumas portas se fecharão, enquanto outras irão se abrir.

Quando você perde alguém que você amava muito, de certa maneira, você acaba se acostumando a viver sem ele (a). Como? Ou você passa batido pela vida (como Sole), ou você opta por seguir com ela (como o trator Raimunda, que numa cena esconde o corpo do marido em um freezer, e, em seguida, está fazendo um almoço para trinta pessoas). Mas existe também aquela situação em que você fica estagnada (como Agustina) e só pode continuar a viver depois de entender tudo pelo que você passou.

No entanto, “Volver” não se interessa por isso. O roteiro de Pedro Almodóvar (que é muito bem encenado pelas suas atrizes) quer desvendar o momento em que se decide voltar à vida. Pensemos um pouco na mãe de Raimunda e Sole. Como voltar a um mundo em que você não existe? Como viver e sentir dessa maneira? Talvez o maior propósito de sua presença, da sua volta, é devolver às filhas – e, de certa forma, à Agustina – a vida que elas deixaram para trás. E, a partir do momento em que se tem a volta, a ausência passa a ser insuportável. Isso é muito bem ilustrado na frase mais tocante de “Volver”, em que Raimunda olha para sua mãe e diz: “Preciso de você, mamãe. Não sei como consegui viver tanto tempo sem você”.

Cotação: 9,3

Crédito Foto: Yahoo! Movies

O Ilusionista (The Illusionist, 2006)


A data de estréia inicial de “O Ilusionista”, do diretor e roteirista Neil Burger, no Brasil, seria o dia 17 de novembro. No entanto, a estréia de “O Grande Truque”, filme de Christopher Nolan, nas salas de cinema brasileiras, modificou todo o esquema armado pela Focus Filmes, a distribuidora do primeiro filme no país. E, realmente, ter adiado a estréia de “O Ilusionista” foi a decisão mais acertada que eles poderiam ter tomado. Mesmo assim, toda a visão que teremos sobre o filme de Burger será contaminada pelas nossas impressões sobre o filme de Nolan.

Por se tratar de filmes com um tema principal em comum – a mágica –, tanto “O Ilusionista” quanto “O Grande Truque” possuem alguns pontos convergentes. O personagem principal de “O Ilusionista”, Edward Abramowitz (Edward Norton, que compõe o seu personagem como se ele fosse um homem morto por dentro, um tanto frio e racional), vê a sua vida mudar depois de um encontro com um misterioso mágico. Ele pode não ser um showman como Robert Angier, mas tem a competência de um Alfred Borden. Já com a alcunha de Eisenheim, o Ilusionista, ele se transformou em um mágico com grandes poderes – o de parar o acelerar o tempo seria o mais incrível deles.

O segundo ponto convergente entre os dois filmes encontra-se no ponto de mudança da história. Nos dois filmes, a perda do ser amado causa transformações permanentes na vida dos personagens principais. Eisenheim, por exemplo, abandona a sua cidade natal (Viena) depois de ser proibido de ver o amor de adolescência, vaga pelo mundo e só depois de quinze anos retorna ao lar para reencontrar o seu grande amor, a Duquesa Sophie (Jessica Biel), que agora está prometida ao príncipe herdeiro da Áustria, Leopold (Rufus Sewell). O reencontro fará com que Eisenheim comece a utilizar os seus poderes para o seu próprio proveito (para separar Sophie de Leopold) e, nesse caso, ele não hesitará em transpor nenhum limite.

O terceiro ponto em comum diz respeito ao modo como os dois diretores resolveram contar as suas histórias. Nos dois filmes, há o uso de flashback. Também em ambos os filmes, cabe a um personagem a tarefa de nos guiar pela trama. Em “O Ilusionista”, isso é responsabilidade de Walter Uhl (Paul Giamatti), inspetor-chefe da polícia austríaca, apaixonado por mágicas, e que é designado pelo príncipe Leopold para acompanhar todos os passos de Eisenheim. No decorrer do filme, Uhl viverá um grande conflito: fazer o que é correto ou o que é esperado dele.

A platéia que assiste à “O Ilusionista” fica com a impressão de que o filme não tem nada de extraordinário. Uma hora, ele é uma história de amor clássica, em outro momento um drama, depois um suspense e, por fim, um thriller político. No final, quando todas as peças são colocadas em seus devidos lugares, temos a sensação de que passamos, mais uma vez, por um grande truque.

“O Ilusionista” é um filme à moda antiga. Essa não é uma película para entreter, como “O Grande Truque”. Por esta razão, “O Ilusionista” não é um filme para qualquer pessoa. Escrito e dirigido com competência por Neil Burger, o filme conta com grandes atuações de seu elenco e merece, no mínimo, indicações ao Oscar de melhor direção de arte (a maior parte das cenas foi filmada em locações reais na cidade de Praga), melhor figurino e melhor trilha sonora (a de Philip Glass é a mais perfeita feita para um filme, até agora, no ano de 2006). Se você for assistir à “O Ilusionista”, sente com calma na poltrona do cinema e preste muita atenção na trama, pois filmes como esse – e como “O Grande Truque” – são únicos.

Cotação: 8,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Monday, December 04, 2006

Jesus - A História do Nascimento (The Nativity Story, 2006)


O livro mais importante da história da humanidade é a Bíblia. Dentro dele, existe uma riqueza de personagens e de histórias, as quais muitas já foram contadas à exaustão pelo cinema. No entanto, ainda existe uma história que permanece carente de uma boa interpretação: a de Maria, a jovem escolhida por Deus para ser a mãe de Jesus. O filme “Jesus – A História do Nascimento”, da diretora Catherine Hardwicke, se propõe a contar um pouco da história dela.

A trama do filme se passa no período de um ano, ou seja, desde o momento em que o anjo Gabriel (Alexander Siddig, de “Syriana – A Conquista do Petróleo”) aparece para Maria (Keisha Castle-Hughes, que recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz por sua interpretação em “A Encantadora de Baleias”) e informa-a sobre a sua missão, até quando o rei Herodes (Ciáran Hinds, do seriado “Roma”) ordena que seus soldados matem qualquer menino de, no máximo, dois anos de idade que esteja na cidade de Belém – de forma a impedir que a profecia que afirmava que, de um homem humilde, iria nascer o maior de todos os homens se concretizasse.

Nesse primeiro momento, “Jesus – A História do Nascimento” se divide em diversas linhas narrativas: a principal, que acompanha o dia-a-dia de Maria em Nazaré e as secundárias, que acompanham Herodes e os três Reis Magos em sua busca pelo Messias. É justamente neste primeiro momento que o filme vive o seu instante mais rico, pois o roteirista Mike Rich usa a imaginação para tentar mostrar o conflito que se passou na cabeça de Maria e de José (Oscar Isaac) a partir do momento em que ela ficou grávida.

Vejamos: Maria, uma jovem virgem, se casa com José, um rapaz jovem e trabalhador. O casamento não é bem recebido por Maria e só poderá ser consumado após um ano de relacionamento, no qual cada um deles viverá em casas separadas. Ao saber que terá a missão de carregar o filho de Deus, Maria abandona a cidade de Nazaré e parte para a casa de sua tia Isabel (Shohreh Aghdashloo, indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo filme “Casa de Areia e Névoa”), a mãe do futuro apóstolo João, em busca de conselhos.

Quando Maria volta à Nazaré, já com a barriga bem saliente, o escândalo está armado. Ninguém (nem mesmo os membros de sua própria família) acreditam na história que ela conta sobre o anjo e sobre o filho de Deus e, por conseqüência disso, Maria vira a vergonha da comunidade. José, a princípio, a renega e, somente após receber também a visita do anjo Gabriel, é que ele aceita Maria de volta e decide criar o filho dela como se fosse seu.

Num segundo momento, a trama de “Jesus – A História do Nascimento” acompanha Maria e José na viagem que eles fazem de Nazaré até Belém, por causa da resolução de Herodes de que todo homem tem que voltar com a sua família para a sua cidade natal. É a partir desta cena que o filme começa a virar uma adaptação mais literal de toda a história que conhecemos através da Bíblia.

A diretora Catherine Hardwicke ficou famosa pelos filmes que abordavam o universo jovem e urbano, como “Aos Treze” e “Os Reis de Dogtown”. Com “Jesus – A História do Nascimento”, a diretora abraça uma história e uma maneira de fazer cinema que é mais convencional. Quase que não reconhecemos traços de seu estilo neste filme. Pode parecer estranho, já que estamos falando da adaptação de uma história que todos nós conhecemos de cor e salteado, mas o que mais falta à “Jesus – A História do Nascimento” é originalidade. Tudo parece uma repetição de algo que já foi visto. E, para quem está acostumado a assistir aos filmes de Hardwicke, isto é muito decepcionante.

Cotação: 7,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, December 02, 2006

O Labirinto do Fauno (El Laberinto del Fauno, Pan's Labyrinth, 2006)


Muito já se foi discutido aqui sobre a última estratégia da indústria cinematográfica de Hollywood: convidar roteiristas e diretores estrangeiros para fazerem filmes nos Estados Unidos. No entanto, existe um outro fenômeno ocorrendo com certa freqüência no cinema: a volta de diretores aos seus países de origem para fazer filmes. Isso aconteceu, em 2001, com o cineasta mexicano Alfonso Cuarón e seu “E Sua Mãe Também”; e, em 2002, com o diretor australiano Phillip Noyce e seu “Geração Roubada”. Nos dois casos, os filmes foram recebidos pela crítica com aclamação e deram outro gás às respectivas carreiras de ambos os diretores.

Se formos prestar atenção na lista de filmes submetidos à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para a categoria de melhor filme estrangeiro, veremos outros dois nomes conhecidos que fizeram essa transição de volta para casa: o do diretor holandês Paul Verhoeven (com o filme “Black Book”) e o do diretor mexicano Guillermo Del Toro (com “O Labirinto do Fauno”). Este último fez carreira nos EUA ao realizar estilosos filmes de ação baseados em personagens de histórias em quadrinhos como “Blade – O Caçador de Vampiros”, “Blade 2” e “Hellboy”. Com “O Labirinto do Fauno”, Del Toro mostra que continua estiloso e violento, mas, ao mesmo tempo, ele oferece um lado suave, pois seu filme tem muitos elementos advindos dos contos de fadas.

Explico: no início de “O Labirinto do Fauno”, somos apresentados ao conto de uma princesa que vivia em um mundo triste e obscuro. O sonho dela era conhecer o mundo real. Ao conseguir encontrar a luz produzida pelo mundo real, a princesa vê o seu passado ser apagado de sua memória. Ela morre e deixa a esperança no seu pai de que, um dia, ela irá reencarnar em um outro ser ou sob outra forma.

Em seguida, conhecemos a história da menina Ofelia (Ivana Baquero) que, assim como a princesa do conto de fadas, vive num mundo obscuro (a Espanha do regime de Franco). Sua mãe (Ariadna Gil) está casada e grávida de um capitão do regime (Sergi López, numa excelente performance). As duas estão indo ao encontro dele no seu quartel-general (uma casa nas montanhas). Ofelia guarda ainda uma outra semelhança com a princesa: ela sonha com o mundo que só conhece através dos livros que lê.

Logo logo, o mundo fantástico que Ofelia só conhecia através dos livros irá invadir a sua vida real. Os seres do mundo da princesa acreditam que a garotinha é a reencarnação da menina falecida e começam a passar tarefas, de modo que Ofelia possa provar que pode assumir o lugar da princesa ao lado de seu pai. Essa história vai ao segundo plano quando Ofelia começa a perceber que o seu mundo real é ainda mais complicado e precisa de consertos urgentemente. É a partir desse momento que a platéia irá assistir a um filme tenso, violento e cheio de sub-tramas (como a que coloca Mercedes – interpretada por Maribel Verdú, de “E Sua Mãe Também” –, a empregada do capitão, como informante de um grupo de resistência ao regime franquista) que, em nenhum momento, prejudicam o desenvolvimento da trama principal.

“O Labirinto do Fauno” é o melhor filme realizado por Guillermo Del Toro (que, além de assinar a direção, fez o roteiro e a produção da película). A execução dele é praticamente perfeita – com destaque para a fotografia de Guillermo Navarro, a trilha de Javier Navarrete e a direção de arte de Eugenio Caballero. O filme tem uma moral belíssima e prova que se pode abordar assuntos delicados se apelando para a fantasia. Só nos resta ver se esta visão de Del Toro não é um pouco arrojada demais para a Academia, pois este é um filme que merece reconhecimento.

Cotação: 8,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Tuesday, November 28, 2006

Happy Feet - O Pinguim (Happy Feet, 2006)


O diretor George Miller (de filmes como “Babe – O Porquinho Atrapalhado”) fez em dez minutos, o que o diretor Luc Jacquet fez em oitenta e cinco minutos no seu ótimo documentário “A Marcha dos Pingüins”. Ou seja, Miller definiu de modo claro e objetivo um dos costumes mais importantes da vida de um pingüim: a dança do acasalamento, em que os pingüins irão escolher – através do canto – aquele (a) com quem irão passar o resto de sua vida e com quem constituirão família. Após essa dança, enquanto a mulher parte para buscar o alimento, o homem fica cuidando da cria.

Mas, logo, a platéia que está assistindo ao filme de animação “Happy Feet – O Pingüim” irá descobrir que o mundo dos pingüins imperadores não é nada perfeito. Os peixes – alimento principal da espécie - estão escassos e o nascimento de um bebê pingüim diferente irá ameaçar o equilíbrio da grande comunidade de pingüins imperadores.

Como é bem explicado no início de “Happy Feet – O Pingüim”, a etapa mais importante da vida de um pingüim acontece em decorrência do canto. Na comunidade imaginada pelos roteiristas Warren Coleman, John Collee, George Miller e Judy Morris, as crianças pingüins recebem até aulas de canto para melhor se prepararem para este momento. Quando Mano (dublado por Elijah Wood na versão original e por Daniel de Oliveira na versão nacional), filho de Memphis (dublado por Hugh Jackman na versão original) e Norma Jean (dublada por Nicole Kidman na versão original), nasce, o caos se instala na comunidade, pois, além de ser completamente desafinado (e nenhuma aula de canto dará jeito nisso), ele tem um dom único e que destoa do resto da sua comunidade: ele sabe sapatear.

Mano vai, aos poucos, se isolando dos outros habitantes da comunidade, que não aceitam o seu dom da dança; e, especialmente do seu pai, que não aceita que o filho seja diferente. Ele prefere que seu filho se transforme em algo que ele não é. Por esta razão, Mano deixa a comunidade, faz novas amizades e planeja uma volta triunfal ao lar ao decidir partir em busca da razão por trás do “desaparecimento” dos peixes e, assim, poder conquistar o respeito de todos.

“Happy Feet – O Pingüim” é um filme fantástico, na maior parte do tempo. Na meia hora final do filme, ele perde um pouco o ritmo, mas se recupera ao mostrar de maneira bem-humorada o que aconteceria se o homem decidisse consertar um pouco da sua interferência negativa na natureza. Além disso, “Happy Feet – O Pingüim” dá ênfase a um valor extremamente importante – e necessário – para os dias de hoje: a tolerância. É preciso que nós saibamos aceitar e respeitar as diferenças sempre, afinal esta é uma condição primordial também para a consolidação do amor. E é de amor que o mundo precisa.

Cotação: 9,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, November 25, 2006

Flyboys (2006)

Estamos em 1916. A I Guerra Mundial já atingiu grande parte da Europa. Nessa época, o avião era uma invenção recente, mas já havia sido transformado pelo homem em uma máquina de guerra. Os pilotos já eram um novo tipo de herói. O drama de guerra “Flyboys”, do diretor Tony Bill, conta a história de jovens norte-americanos que, sem medo de encarar o desconhecido, embarcaram para a França e se tornaram os primeiros pilotos do país no Esquadrão Lafayette – que era formado exclusivamente por pilotos.

As primeiras cenas de “Flyboys” mostram como era a vida de cada um destes jovens antes do alistamento militar. Blaine Rawlings (James Franco) havia acabado de perder o rancho da família e vai para a guerra para fugir da prisão. William Jensen (Phillip Winchester) vem de uma família de heróis de guerra e deixa a noiva para trás de forma a seguir a tradição familiar. Eugene Skinner (Abdul Salis) é um boxeador de sucesso na França e, para retribuir aquilo que o país lhe trouxe de bom, decide ir lutar por ele. Briggs Lowry (Tyler Labine) vem de uma família rica e vai à guerra para satisfazer uma vontade de seu pai.

Na base do Esquadrão Lafayette, estes jovens conhecerão outros que ali já estavam, como Reed Cassidy (Martin Henderson, numa ótima atuação), o melhor e mais experiente piloto do esquadrão; Eddie Beagle (David Ellison), que tem uma origem meio obscura; e outros que se juntarão à eles, como o religioso Lyle Porter (Michael Jibson) e o inocente Nunn (Pip Pickering); além daqueles que lhe oferecerão o treinamento - um desses instrutores é interpretado pelo ator francês Jean Reno - e que surpreendem por não serem líderes intransigentes, e sim compreensivos.

Já em terras francesas, “Flyboys” começa a acompanhar o treinamento destes pilotos e as primeiras missões que eles desempenham. E, assim como em outros filmes de guerra, mostra como a batalha irá afetar – seja de maneira positiva ou negativa – a vida desses jovens. O filme também abre espaço para um romance que nascerá entre Rawlings e a francesa Lucienne (Jennifer Decker) e nas rivalidades que surgirão entre pilotos e soldados.

Baseado em uma história real, “Flyboys” é um filme cujo único ponto positivo é a boa reconstituição de época e a excelente direção das cenas de batalhas aéreas. No entanto, o filme não consegue transpor aquela barreira que se estabelece entre filme e platéia e não consegue fazer com que esta se envolva com a sua história e torça pelos pilotos. Não ajuda também o fato de “Flyboys” ter se estendido demais e ter um protagonista apático (James Franco, um ator que já foi considerado uma promessa, mas que só tem decepcionado aqueles que apostaram nele e no talento que ele possui).

Cotação: 6,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Monday, November 20, 2006

Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, 2006)


“Existem dois tipos de pessoas: os vencedores e os perdedores”. Se formos levar tal afirmação em consideração, então todos os membros da família Hoover seriam considerados perdedores. O pai, Richard (Greg Kinnear), é um orador motivacional – e autor da frase que ilustra o início deste texto –, e que espera tirar sua família da falência ao conseguir um contrato literário. A mãe, Sheryl (Toni Collette), é a única que aparenta ter controle emocional e segura as pontas dos problemas familiares, mas, como veremos, ela está prestes a desmoronar. O filho, Dwayne (Paul Dano), fez um voto de silêncio até conseguir entrar na Academia da Força Aérea e estudar para ser piloto. A filha, Olive (Abigail Breslin), imita as misses que tanto quer ser. O avô, Edwin (Alan Arkin), é viciado em heroína. E o tio, Frank (Steve Carell), recentemente tentou se matar.

É esta família disfuncional que a trama do filme “Pequena Miss Sunshine” segue. A platéia irá acompanhar os Hoover numa viagem que eles farão a bordo de uma Kombi amarela problemática (que só pega à base de empurrões) de Albuquerque até a cidade de Redondo Beach, aonde Olive – que tirou segundo lugar no concurso de misses local – vai representar sua cidade no concurso de Little Miss Sunshine. Assim como acontece em outros road-movies, nesta viagem todos estes personagens irão passar por uma transformação e vão ter que começar a aceitar que são realmente um bando de perdedores. É essa a condição principal para que eles possam se entender e ter uma vida melhor em família.

“Pequena Miss Sunshine” é somente mais um dos filmes de Hollywood a abordar a temática do perdedor. Numa sociedade extremamente competitiva como a norte-americana, ser um perdedor, na maioria das vezes, representa ser visto de uma maneira bastante pejorativa pelos outros. No caso particular de “Pequena Miss Sunshine”, o roteiro de Michael Arndt faz exatamente o contrário e escancara a mediocridade daqueles que querem ser os vencedores – especialmente a partir do momento em que o concurso de Little Miss Sunshine começa.

O filme, que marca a estréia de Jonathan Dayton e Valerie Faris (que são conhecidos pelo trabalho que fizeram nos videoclipes de “Tonight, Tonight”, do Smashing Pumpkins, e “Californication”, do Red Hot Chili Peppers) na direção de longas-metragens, é um filme que funciona. O roteiro de Michael Arndt é excelente e as performances de todo o elenco são espetaculares – especialmente a da garotinha Abigail Breslin. Não se surpreenda se ela figurar na lista de indicadas ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 2007. Desde Dakota Fanning, o cinema não via uma atriz infantil tão promissora.

Cotação: 9,8

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Monday, November 13, 2006

Fica Comigo Esta Noite (2006)


Para quem costuma acompanhar a programação televisiva do Brasil, fica até estranho notar – quando da aparição dos créditos iniciais do filme “Fica Comigo Esta Noite”, de João Falcão (também co-autor do roteiro ao lado de sua esposa Adriana Falcão e de Tatiana Maciel) – a inclusão de um “apresentando” próximo ao nome da atriz Alinne Moraes, que já tem cinco novelas e algumas participações em seriados no currículo. Mas, este é o primeiro papel de Moraes no cinema e, infelizmente, a escolha pelo filme baseado na peça homônima de Flávio de Souza e que foi um grande sucesso há cerca de dez anos, não foi das mais acertadas.

“Fica Comigo Esta Noite” explora o conceito do amor eterno, ou melhor, do que acontece quando a morte separa o destino de um casal. O músico e desenhista de histórias em quadrinhos Eduardo (Vladimir Brichta, um colaborador assíduo de João Falcão) conhece Laura (Alinne Moraes) em uma livraria. O amor que nasce entre os dois é fulminante e eles rapidamente se casam. No entanto, o casal briga por qualquer besteira. Uma coisa que Laura nota desde o início sobre Eduardo é que ele – assim como um cachorro obediente – tem a mania de se fingir de morto quando uma discussão se inicia.

No início, esta brincadeira de Eduardo tinha até o seu charme. No entanto, na medida em que o tempo passa, ela vai ficando cada vez mais sem-graça. No dia em que a tal brincadeira de se fingir de morto acontece de verdade, nem Laura e, muito menos, Eduardo irão acreditar nela. Quando Eduardo começa a perceber que realmente estava morto, ele começará a se arrepender de várias coisas – uma delas: a de não ter tido a chance de se despedir de maneira adequada de Laura. Dessa maneira, Eduardo fica vagando pelo mundo dos vivos e contará com a ajuda do Fantasma de Coração de Pedra (Gustavo Falcão, sobrinho de João Falcão) – um dos personagens dos gibis criados por Eduardo – e do anjo Mariana (interpretada quando mais jovem por Clarice Falcão – quanto membro da família Falcão neste filme, hein? – e por Laura Cardoso, na idade adulta) para conseguir se despedir de sua amada e ir desfrutar do descanso eterno que merece.

“Fica Comigo Esta Noite” tem, pelo menos, um ponto positivo: não aborda seu tema principal de maneira muito sentimentalista. No entanto, o filme tem mais erros do que acertos. A linha narrativa – que mistura o passado, com o presente e com o futuro – chega a ser muito confusa. A direção de João Falcão é burocrática. A trilha sonora de Robertinho do Recife não funciona. A produção do filme não é cuidadosa. A estética lembra a de um programa televisivo. Ou seja, “Fica Comigo Esta Noite” é igual a muitos outros filmes brasileiros que estréiam nas salas de cinema do país e que teimam em estagnar a nossa indústria cinematográfica, sem apresentar algum elemento novo e inovador, que a coloque no mesmo patamar de outras escolas latino-americanas, como, por exemplo, a Argentina – que no cinema ainda ganha de nós de goleada.

Cotação: 2,0

Crédito Foto: Yahoo! Cinema

Saturday, November 11, 2006

Os Infiltrados (The Departed, 2006)


Nos últimos anos, o diretor Martin Scorsese se dedicou a uma verdadeira obsessão sua: vencer a tão cobiçada estatueta do Oscar. Ao longo de sua aclamada carreira, Scorsese teve várias chances de realizar este sonho, mas, por uma razão ou outra, isso nunca aconteceu. Alguns dizem que seus filmes são muito controversos para o gosto da conservadora Academia. Então, Scorsese modificou o seu jeito de fazer cinema. Foi grandioso – e exagerado – no regular “Gangues de Nova York” e no ótimo “O Aviador” – filmes que nem parece que saíram de suas mãos.

Como a estratégia de se moldar ao gosto da Academia não deu certo, Martin Scorsese volta a uma temática que ele domina – a violência e como ela acaba influenciando nas vidas de grupos que se dedicam à ela – tendo ainda em mente aquele sua velha vontade. No filme “Os Infiltrados”, que é baseado na película “Conflitos Internos” (2002), Scorsese também acaba mudando de ares. Sai de sua habitual Nova York e invade os subúrbios de Boston.

O prólogo de “Os Infiltrados” é longo e necessário. Através dele, ficamos conhecendo os dois pólos opostos que vão mover a trama criada por William Monahan: Collin Sullivan (Matt Damon, ele próprio um garoto do subúrbio de Boston) e Billy Costigan (Leonardo DiCaprio, que emulou direitinho a figura de Robert de Niro, o antigo ator favorito de Scorsese). Apesar de parecer que, por causa de suas criações diferentes (Collin foi criado no subúrbio, enquanto Billy cresceu num bairro mais chique), os dois são muito diferentes, eles guardam muitas semelhanças – que ficarão ainda mais notáveis no desenvolvimento da trama de “Os Infiltrados”.

Billy e Collin são descendentes de irlandeses, inteligentes e tentam uma carreira na polícia estadual de Boston. Collin terá uma ascensão meteórica na organização (sai da Academia direto para o posto de detetive na divisão de investigações especiais da polícia). Já Billy é expulso da Academia antes mesmo de se formar policial, pois deu um soco na cara de um dos instrutores. Além disso, os dois possuem ligação com o crime organizado – Collin é o protegido do mafioso Frank Costello (Jack Nicholson, excelente na interpretação de um personagem que parece com ele mesmo) e Billy tem parentes ligados à máfia de Costello.

Conhecer estes primeiros detalhes será de fundamental importância para a platéia, pois, na trama principal de “Os Infiltrados”, Collin é designado para uma investigação que tem como objetivo descobrir quem é o informante de Frank Costello na polícia – ou seja, ele tem que investigar ele mesmo. Por outro lado, Costello manda que seu protegido descubra para ele quem é o agente da polícia infiltrado em sua organização criminosa. Esta última tarefa será particularmente difícil, pois os únicos que sabem que Billy é o policial infiltrado na gangue de Costello são Dignam (Mark Wahlberg, outro que conhece muito bem os subúrbios de Boston) e Oliver Queenan (Martin Sheen).

O grande eixo da trama de “Os Infiltrados”, com certeza, é a implicação de se viver uma vida dupla, nos casos de Collin Sullivan e Billy Costigan. Como veremos, aos poucos todas as mentiras que eles contam para se proteger e todas as barreiras que eles erguem para evitar um contato maior com outras pessoas vão tomando conta de suas vidas até chegar a um ponto em que eles não têm mais identidade própria. Isso fica ainda mais evidente quando Billy e Collin começam a se envolver com a mesma mulher, a psicóloga da polícia Madolyn (Vera Farmiga).

Desde o início de “Os Infiltrados”, a platéia tem a certeza de que nada disso vai dar certo e que, a qualquer momento, a vida dupla de Billy e Collin será descoberta. Martin Scorsese e William Monahan vão adiando essa situação até o último momento, preferindo – acertadamente – colocar ao máximo os seus infiltrados contra a parede. Essa é a grande sacada desse filme, e por isso que ele é tão bem-sucedido em colocar a platéia dentro de sua ação.

Neste sentido, é muito bom notar que a mão de diretor de Martin Scorsese não andava engessada e no piloto automático – impressão esta dada pelos seus dois últimos filmes. “Os Infiltrados” representa uma injeção
de sangue novo em sua carreira e faz totalmente jus à sua filmografia passada - em que a violência era retratada sem máscaras para enfatizar a noção de que ela era somente mais um dos elementos que fazem parte do mundo em que vivemos. A película acerta em quase tudo, especialmente no roteiro, no tom das interpretações de seu excelente elenco (que ainda conta com Ray Winstone, Anthony Anderson e Alec Baldwin, dentre outros), na trilha sonora (que possui músicas de Rolling Stones, John Lennon, Patsy Cline e Van Morrison com Roger Waters, do Pink Floyd), na fotografia de Michael Ballhaus e na edição de Thelma Schoonmaker (uma antiga colaboradora de Scorsese); e termina de maneira metafórica com a imagem de um rato e, no fundo, a Assembléia Legislativa de Boston. Em “Os Infiltrados”, os ratos receberam algum tipo de justiça, mas e quanto aos ratos do mundo real? Aqueles que teimam em continuar impunes?

Resta agora esperar para ver se, sendo fiel a si mesmo, Martin Scorsese vai realizar o seu grande sonho. Está dada a largada para a corrida pelo Oscar!

Cotação: 9,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Tuesday, November 07, 2006

O Grande Truque (The Prestige, 2006)


“A platéia quer ser enganada. Eles não estão prestando a devida atenção”. Essa é a última frase do filme “O Grande Truque”, do diretor Christopher Nolan (que foi co-autor do roteiro do filme com o irmão Jonathan Nolan). Esta afirmação também poderia muito bem ser um complemento do monólogo final de Robert Angier (Hugh Jackman), no qual ele faz um longo discurso sobre o fascínio dele em subir noite após noite nos palcos para fazer o seu show de magia. A razão maior por trás de tanta obsessão era não só o olhar da platéia, mas sim a questão de fazê-los entrar em dúvida, num determinado momento, tentando imaginar se o que ela estava vendo era uma ilusão ou uma realidade.

Os dois discursos poderiam muito bem se referir ao cinema, uma arte que – de certa maneira – ilude e transporta o público para uma outra realidade. No entanto, as palavras de Robert Angier e de seu engenheiro Cutter (Michael Caine) se aplicam à magia, que ganha um status de arte no filme de Christopher Nolan. É através da mágica que a trama de “O Grande Truque” se desenrola, que os conflitos surgem e que Nolan mostra a sua mensagem e os seus dois personagens centrais – homens que tentam ultrapassar um ao outro, sem medo de enfrentar o impossível.

Robert Angier e Alfred Borden (Christian Bale) nunca foram aquilo que podemos chamar de amigos. Apesar de terem convivido juntos por boa parte de sua vida, o que se estabeleceu entre eles foi uma rivalidade nada sadia. A princípio, Borden e Angier trabalhavam como assistentes de um famoso mágico e ambos esperavam a sua chance de brilhar sozinhos em um palco. Eventualmente, os dois conseguirão essa chance. Mas, até ela chegar, o abismo, a disputa e a animosidade que existiam entre eles ficam ainda mais profundas.

Isso acontece em decorrência de várias razões. A esposa de Robert, Julia (Piper Perabo), morre em decorrência de um acidente de trabalho – que pode ou não ter sido causado intencionalmente por Alfred. Quando os dois se reencontram, depois de algum tempo, Alfred está casado e com uma filha; enquanto Robert continua sozinho. Quando Alfred se torna um mágico de sucesso, graças ao seu truque do “Homem Transportado”, Robert não hesita em gastar todo o seu dinheiro e em viajar pelo mundo para encontrar uma maneira de superar o truque do “amigo”, numa luta que não chegará ao fim, pois nenhum dos dois nunca estará satisfeito.

De acordo com Cutter, uma mágica é feita de três atos. No primeiro, que tem o nome de “a promessa”, o mágico mostra à platéia uma coisa que é comum, quando, obviamente, ela não o é. No segundo, chamado “a virada”, o mágico transforma sua coisa comum em algo extraordinário. Já no terceiro ato, que se chama “o grande truque”, a platéia presencia algo cheio de mudanças e reviravoltas, em que a vida fica por um fio, e você vê algo chocante e nunca visto antes.

O filme “O Grande Truque”, na realidade, possui todos estes três elementos; o que o faz ser considerado como uma grande mágica. As reviravoltas da trama criada por Christopher e Jonathan Nolan (com base no livro de Christopher Priest), mesmo sendo previsíveis em alguns casos, chegam a surpreender nos momentos mais importantes da trama. Por esta razão, “O Grande Truque” é um filme que merece uma segunda visita, para que as peças do quebra-cabeça montado pelos irmãos Nolan sejam encaixadas de maneira mais clara.

Este é mais um grande trabalho do diretor Christopher Nolan. Aqui, encontramos alguns elementos que são recorrentes em sua curta – e expressiva – obra. Mais uma vez, o diretor e roteirista trabalha com personagens que não têm medo de entrar em contato com seu lado obscuro e de testar os seus limites. Neste sentido, Nolan contou com a extraordinária colaboração de sua dupla de atores centrais. Hugh Jackman e Christian Bale entregam as melhores performances de sua carreira.

Além do trabalho expressivo de roteiro, direção e atuação, vale a pena prestar atenção também na direção de arte, na edição, na fotografia, na trilha sonora original e nos figurinos de “O Grande Truque”, pois eles são primorosos e muito contribuem para essa atmosfera de ilusão e realidade que predominam durante o filme. Ah, e fique de olho na pequena (e ótima) participação do cantor David Bowie como o famoso inventor Nikolas Tesla.

Cotação: 9,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Thursday, November 02, 2006

O Sacrifício (The Wicker Man, 2006)


Não é segredo nenhum para ninguém que a indústria cinematográfica hollywoodiana passa por uma grande crise. Não só em relação à audiência, como também o relacionado à filmagem de bons roteiros. A sede de Hollywood por boas histórias é tão grande, que o impossível aconteceu e eles abriram o seu mercado para diretores e roteiristas estrangeiros. No entanto, a maior praga dessa crise de roteiro são as chamadas refilmagens; e, claramente, Hollywood não tem um critério bem definido sobre quais histórias merecem uma segunda visita.

“O Sacrifício”, refilmagem de “O Homem de Palha” (filme dirigido por Robin Hardy, em 1973), pertence ao grupo de refilmagens que nem mereciam sequer serem feitas. A película conta a história do policial Edward Malus (Nicolas Cage, que também produziu o filme), que, depois de presenciar um trágico acidente envolvendo mãe e filha, decide tirar umas férias do departamento. O descanso de Edward chega ao fim quando ele recebe uma carta de Willow (Kate Beahan), sua ex-noiva, o informando do desaparecimento de sua filha Rowan (Erika-Shaye Gair). Willow quer que Edward a ajude a reencontrar sua filha.

É assim que Edward acaba embarcando para Summersisle, uma espécie de ilha privada. A localidade lembra muito à do filme “A Vila” na sua essência medieval, isolada e cooperativa. Mas, uma olhada mais profunda em Summersisle mostra que ela difere muito da vila de Shyamalan, pois ela é um território exclusivamente feminino, aonde as mulheres ocupam as posições de poder e os homens ocupam um papel submisso e desempenham exclusivamente as atividades braçais e a figura de procriador e de mantenedor da linhagem pura que se estabeleceu em Summersisle.

Esse mundo acaba sendo muito para a cabeça de Edward. O policial está obviamente sofrendo de um estresse pós-traumático devido ao acidente que presenciou no início de “O Sacrifício” e começa a se questionar se o que vive em Summersisle é verdade ou mentira; e se as pessoas que ele enfrenta e questiona são mocinhas ou bandidas.

No papel, “O Sacrifício” é até um filme interessante. Na prática, o filme peca por uma sucessão de erros. A película começa bem, com uma cena imprevisível e intrigante, mas, depois, entra numa teia sem pé nem cabeça que é uma culpa exclusiva do seu diretor e roteirista Neil LaBute (do ótimo “A Enfermeira Betty”). Não importa se “O Sacrifício” tem um bom elenco (além dos que já foram citados, aparecem no filme Ellen Burstyn, Frances Conroy, Diane Delano, Leelee Sobieski, James Franco e Jason Ritter). O máximo que eles conseguem é arrancar vários risos da platéia (quando o esperado seria o contrário). Nada poderá salvar “O Sacrifício” da sua própria mediocridade. O que nos leva de volta à discussão do início do texto: para quê revisitar aquilo que não merecia nem uma primeira olhada?

Cotação: 1,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Tuesday, October 24, 2006

Cinema, Aspirinas e Urubus (Movies, Aspirin and Vultures, 2005)


Muita gente se surpreendeu quando o Ministério da Cultura anunciou o filme “Cinema, Aspirinas e Urubus”, do diretor Marcelo Gomes (que também co-escreveu o roteiro do filme ao lado de Karim Ainouz e Paulo Caldas), como o representante oficial do Brasil na tentativa de indicação ao Oscar 2007 de Melhor Filme Estrangeiro. Não porque o filme seja de má qualidade, e sim, pois ele não tinha o apoio de uma grande produtora nacional, como a Globo Filmes. A concorrência de “Cinema, Aspirinas e Urubus” à indicação foi grande e incluía filmes como “A Máquina”, “Anjos do Sol”, “Bens Confiscados”, “Cafundó”, “Depois Daquele Baile”, ”Doutores da Alegria”, “Estamira”, “Irma Vap – O Retorno”, “O Maior Amor do Mundo”, “Tapete Vermelho”, “Vida de Menina” e o que todos consideravam o favorito para a indicação, “Zuzu Angel”.

“Cinema, Aspirinas e Urubus” começa mostrando Johan (Peter Ketnath), um imigrante alemão. Ele dirige um caminhão, nos anos 40, em pleno sertão pernambucano e está aparentemente perdido no meio do nada. A princípio, nós da platéia não saberemos nada sobre ele ou sobre o que ele faz. Talvez para conseguir se direcionar no meio do sertão, Johan contrata como seu ajudante, Ranulpho (João Miguel, numa grande performance), um homem que busca uma oportunidade de crescer na vida longe do sertão pernambucano e que, por isso, não hesita em aceitar a proposta que Johan lhe faz.

O filme adota o formato de road movie para contar a história de Johan e Ranulpho rumo à cidade de Triunfo. Nessa viagem, eles entrarão em contato com as pessoas e com a cultura do sertão nordestino. Ao mesmo tempo, apresentarão um mundo novo aos habitantes das localidades que visitam, pois, em cada nova cidade que chegam, Johan (que, agora sabemos, trabalha como caixeiro viajante vendendo aspirinas) e Ranulpho armam acampamento, montam um cinema e passam um filme que mostra os benefícios que a aspirina traz aos seus consumidores. Portanto, pessoas que têm pouco dinheiro para comprar comida, acabam desperdiçando suas economias nas aspirinas de Johan. Essa viagem também marca o início de uma amizade que surge entre Johan e Ranulpho. Apesar das origens culturais diferentes, os dois têm muito em comum, afinal ambos estão fugindo de algo – Johan, de seu país natal e da guerra; Ranulpho, da fome e da miséria.

É muito cedo para dizer se “Cinema, Aspirinas e Urubus” terá chances de ser indicado ao Oscar 2007 de Melhor Filme Estrangeiro. Neste exato momento, a única certeza é a de que o grande favorito à estatueta é “Volver”, do diretor espanhol Pedro Almodóvar. No entanto, os relatos iniciais são animadores. Quem esteve presente na exibição de “Cinema, Aspirinas e Urubus” aos votantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas afirma que o filme foi aplaudido no final e manteve um número considerável de votantes atentos até o final da sessão. De qualquer maneira, indicado ou não, a atenção que “Cinema, Aspirinas e Urubus” vem conquistando na mídia estrangeira já é um grande prêmio.

Cotação: 7,0

Crédito Foto: Web Cine

Monday, October 23, 2006

Dois é Bom, Três é Demais (You, Me and Dupree, 2006)


Todo mundo tem um amigo (a) inconveniente, do tipo que só aparece nos momentos errados e que só fala aquilo que não deve. Dupree (Owen Wilson) é um desses amigos. E, pior: apesar de ter 36 anos, vive como um adolescente e, enquanto seus amigos amadurecem, se casam e evoluem nas carreiras profissionais, ele se mantém solteiro, em busca de aventuras e de um emprego que lhe permita manter o estilo de vida que possui – sem responsabilidade alguma.

"Dois é Bom, Três é Demais”, filme dos diretores Anthony e Joe Russo, começa quando todos os personagens do filme estão no Havaí para o casamento de Carl (Matt Dillon) e Molly (Kate Hudson). O noivo é o melhor amigo de Dupree, o qual, por sua vez, será o padrinho do casamento. Se o final de semana no Havaí marca o início de uma nova etapa na vida de Carl e Molly, o mesmo não pode ser dito a respeito de Dupree – que teve que faltar ao trabalho para viajar ao Havaí e, por isso, acabou perdendo o seu emprego, a casa e o carro. Se sentindo culpado, Carl convida Dupree para morar provisoriamente em sua casa, até que ele coloque sua vida de volta nos eixos. No entanto, o que era provisório começa a ganhar uma cara de permanente quando Dupree dá sinais de que não vai deixar tão cedo a casa dos recém-casados.

A partir do momento em que Dupree se muda para a casa de Carl e Molly, “Dois é Bom, Três é Demais” começa a ficar bastante previsível. É óbvio que a presença de Dupree na casa dos recém-casados vai afetar negativamente no relacionamento de Carl e Molly. É óbvio que essa situação só vai se agravar quando Carl começa a ser pressionado pelo sogro (Michael Douglas) que o odeia. É óbvio que Carl começará a sentir ciúmes quando notar a aproximação cada vez mais crescente entre Molly e Dupree. É óbvio que a amizade de 25 anos existente entre Carl e Dupree irá estremecer. E é óbvio que todo mundo vai acabar tendo um final feliz.

Dupree realmente é um cara irritante, imaturo e inconseqüente. Por causa disso, não existe melhor ator do que Owen Wilson – ele próprio um homem irritante e imaturo – para interpretá-lo. O roteiro de “Dois é Bom, Três é Demais”, de Mike LeSieur, foi escrito sob medida para o tipo de comédia que ele gosta de fazer. Pena que o texto do filme deixa pouco terreno para que Matt Dillon e Kate Hudson, dois atores bem melhores do que Wilson, possam brilhar.

Cotação: 3,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Sunday, October 22, 2006

O Bicho Vai Pegar (Open Season, 2006)


O urso pardo é um tipo de animal que é um dos maiores do gênero. Apesar de ele ter uma dieta variada, sua presença junto ao homem não é recomendada, pois ele é um animal de natureza solitária, mas que convive pacificamente com outras espécies quando há uma abundância de alimento. No entanto, Boog (dublado por Martin Lawrence na versão original) não é igual aos outros animais de sua espécie. Desde quando ele era um bebê, ele foi domesticado pela ambientalista Beth (dublada por Debra Messing, a Grace do seriado "Will & Grace", na versão original), que lhe deu amor, carinho e conforto; além de uma casa, uma cama confortável, comida, entre outras coisas. Em decorrência disso, Boog convive bem com os seres humanos e é a atração principal de um show de variedades.

A boa convivência de Boog com os humanos fica ameaçada quando ele conhece o cervo tagarela Elliot (dublado por Ashton Kutcher na versão original). Através deste, o urso pardo arruma uma série de encrencas na cidade aonde mora. Fatos estes que farão com que Beth tome uma decisão que vinha sendo adiada há tempos: a de devolver Boog ao seu habitat natural, a floresta.

A trama principal de “O Bicho Vai Pegar”, animação dos diretores Roger Allers, Jill Culton e Anthony Stacchi, é a que acompanha a jornada de Boog em busca do caminho de volta para a casa de Beth e tudo aquilo que ela representa para ele (o amor, a proteção, o apoio, entre outras coisas). Como em todo outro filme que retrata este mesmo tema, Boog conhecerá, no seu caminho, outros animais que lhe mostrarão um lado – até então – desconhecido para ele da vida na floresta e que envolve a cooperação e o companheirismo que existe entre os animais de diferentes espécies.

Com o passar do tempo em “O Bicho Vai Pegar”, uma segunda trama ganha destaque: a que coloca os animais da floresta em confronto com os caçadores que vão ao local em decorrência da abertura da temporada de caça. No melhor estilo “Esqueceram de Mim”, os animais preparam uma série de armadilhas inusitadas para se protegerem da fúria dos caçadores.

Como em todo outro filme de animação, “O Bicho Vai Pegar” se apóia no carisma de seus personagens principais para ganhar a simpatia da platéia. Por outro lado, é muito fácil para nós nos identificarmos com a jornada de Boog. No entanto, o filme não adiciona nenhum elemento novo a uma história que já foi contada de diversas maneiras no cinema – a mais clássica delas seria a viagem de Dorothy por um mundo mágico até voltar para a casa de seus tios no Kansas em “O Mágico de Oz”, filme do diretor Victor Fleming.

Cotação: 5,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, October 21, 2006

Um Cara Quase Perfeito (Man About Town, 2006)


Jack Giamoro (Ben Affleck, numa boa performance) – o protagonista do filme “Um Cara Quase Perfeito”, do ator, diretor e roteirista Mike Binder – tem uma postura bastante reservada. Ele procura evitar qualquer tipo de artifício que o faça revelar seus segredos ou confrontar sua vida e relacionamentos. Portanto, dá para se ter uma idéia do quão difícil deve ter sido para ele decidir participar de um curso de autoconhecimento, ministrado pelo professor Dr. Primkin (John Cleese), um senhor de atitude rude e de economia com as palavras.

A atividade principal que o Dr. Primkin propõe aos seus alunos é a seguinte: cada um deles deve escrever um diário. A cada semana, o grau de dificuldade dessa tarefa vai aumentando, pois o professor espera que seus alunos vão retirando camada por camada até descobrirem a sua real essência – aquilo que escondemos por trás de tudo que fomos acumulando no decorrer de nossa vida.

Analisando por este ponto de vista, podemos dizer que Jack é um homem formado por facetas distintas. Ele foi uma criança e um jovem que teve negado o direito a qualquer tipo de amor – com exceção daquele que ele recebia de sua mãe. Como adulto, Jack se dividiu entre duas personas: a persistente, viva e ativa do trabalho como agente de talentos especializado em administrar as carreiras de roteiristas; e a apática, distante e sem vida que estava presente nos relacionamentos que Jack estabelecia com a sua esposa Nina (Rebecca Romijn) e com o pai doente (Howard Hesseman).

É justamente ao desempenhar a tarefa que lhe foi proposta no curso de autoconhecimento que Jack fará uma grande descoberta a respeito de si mesmo. Nada do que ele fez ou conquistou lhe trouxe felicidade. Ele vai descobrir isso da pior maneira, quando começará a ser chantageado por Barbi Ling (Ling Bai), uma aspirante à roteirista, e seu namorado Jimmy Dooley (Samuel Ball), um aspirante a ator, que tiveram a sua grande chance negada por Jack; e quando Nina revela ao marido que estava tendo um caso com um de seus clientes, Phil Balow (Adam Goldberg).

Para quem estreou num filme de tom ácido e sarcástico sobre a vida familiar nos subúrbios norte-americanos (o ótimo “A Outra Face da Raiva”, com Joan Allen, Kevin Costner e grande elenco), “Um Cara Quase Perfeito” é uma nítida mudança de ares. Não é que o filme não tenha momentos engraçados (eles existem, principalmente depois que Jack sofre um ataque), mas o seu tema principal é a autodescoberta de Jack. Pena que, em alguns momentos de “Um Cara Quase Perfeito”, Mike Binder deixa o filme perder o seu foco e dispersa a atenção da platéia. O mais interessante, então, é prestar uma atenção especial naquilo que Jack aprende: não importa o tamanho do sucesso, do reconhecimento e do dinheiro que você tenha, sempre existe algo novo a aprender. Quer coisa mais batida e sincera do que isso?

Cotação: 5,5

Crédito Foto: Yahoo! Cinema

Wednesday, October 18, 2006

Deu a Louca na Chapeuzinho Vermelho (Hoodwinked, 2005)


Não existe criança na terra que nunca tenha ouvido falar da história da Chapeuzinho Vermelho, o conto de fadas que conta a história da garotinha que pede à mãe para ir visitar a sua vovó e acaba enfrentando um inimigo que pode ser mortal: o lobo-mau. O filme de animação “Deu a Louca na Chapeuzinho Vermelho”, dos diretores Cory Edwards, Todd Edwards e Tony Leech toma como fonte principal, além do famoso conto de fadas, os filmes da série “Shrek”, do diretor Andrew Adamson – que fizeram sucesso em todo mundo ao brincar com as clássicas histórias infantis que nossos pais costumavam nos contar quando éramos pequenos.

O filme começa no ápice do conto, quando a Chapeuzinho Vermelho (dublada por Anne Hathaway na versão original) chega na casa de sua avó (dublada por Glenn Close na versão original) e encontra o Lobo Mau (dublado por Patrick Warburton na versão original) se passando por ela até a chegada providencial do Lenhador (dublado por James Belushi na versão original), o herói da historinha. A partir daí, “Deu a Louca na Chapeuzinho Vermelho” começa a brincar com a fábula ao apresentar seus personagens de uma maneira completamente diferente. A Chapeuzinho Vermelho, na realidade, trabalha como entregadora de doces na firma da avó. A vovozinha, quando não está fazendo doces, tem uma postura completamente hardcore e é praticante de esportes radicais, como snowboard e esqui. O Lobo Mau é um repórter investigativo que não mede esforços para conseguir uma informação. Já o Lenhador, na verdade, é um ator se passando por essa profissão – ele está fazendo uma espécie de laboratório para interpretar um lenhador em um comercial.

No entanto, a história de “Deu a Louca na Chapeuzinho Vermelho” ainda envolve uma estrutura mais complexa do que essa. No momento em que a trama começa a se desenrolar, a platéia fica sabendo que a floresta habitada pelos personagens está sendo atacada por um bandido dos doces. Em conseqüência disso, lojas e fábricas de doces foram à falência. A única empresa que continua funcionando é a da avó de Chapeuzinho Vermelho. Ao se depararem com o cenário do início do filme, os policiais responsáveis pelo caso do bandido dos doces têm quase certeza de que o marginal é um dos quatro presentes na casa da vovó. O roteiro de “Deu a Louca na Chapeuzinho Vermelho” retrata justamente a versão de cada um destes quatro personagens para de qual forma eles foram parar na casa da vovó naquele momento em particular.

Primeira produção em animação do novo estúdio dos irmãos Harvey e Bob Weinstein, a The Weinstein Company, “Deu a Louca na Chapeuzinho Vermelho” aposta numa história que já é garantia de sucesso. O filme inova somente na apresentação de seus personagens. O resto é uma repetição dos clichês dos filmes do gênero: canções pegajosas, conflitos familiares que se resolvem no final e o desfecho apoteótico com todo mundo se dando bem. “Deu a Louca na Chapeuzinho Vermelho” é uma boa diversão para as crianças e para os pais – que poderão reconhecer no filme referências à “Matrix” e “Kill Bill”.

Cotação: 5,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Tuesday, October 17, 2006

O Grito 2 (The Grudge 2, 2006)


O cinema oriental virou a indústria oficial dos filmes de terror, tendo em vista que é dos países de lá que vêm as histórias e os diretores deste gênero. A razão por trás disso não é difícil de entender. A fórmula dos filmes de terror norte-americanos (que coloca atores que estão no auge da idade e da beleza para enfrentar assassinos cheios de traumas pessoais e sofrerem uma desfiguração que mais parece uma punição justamente por eles serem tão joviais e lindos) está saturada. As platéias parecem que estão mais interessadas em filmes que mostram um tipo de terror mais próximo – e é justamente isso que os filmes de terror do oriente oferecem: histórias estreladas por gente comum e que enfrentam um medo que pode vir do simples ato de se assistir um filme ou de se oferecer para trabalhar como enfermeira e cuidar de uma paciente no conforto de sua casa. Estas pessoas comuns enfrentam os assassinos representados pelas doces figuras de uma mãe e seu filho. Ou seja, nos filmes orientais, o medo está em qualquer lugar e a ameaça pode estar mais próxima do que você pensa.

Seqüência do sucesso de 2004, “O Grito 2” traz de volta a mesma equipe de diretor e roteirista do primeiro filme: Takashi Shimizu (também o diretor dos filmes japoneses) e Stephen Susco. A estrela de “O Grito”, Sarah Michelle Gellar, faz uma pequena participação especial como Karen, a estudante de intercâmbio vítima da maldição da casa. O roteiro de “O Grito 2” segue a mesma premissa do primeiro filme (quando uma pessoa morre cheia de mágoa ou raiva, se dá início a uma maldição, que acontece no local em que a pessoa morreu e que irá atingir a todos aqueles que entrarem em contato com esse lugar). A diferença é que, na seqüência, existem três tramas “principais”, ao invés de uma única.

Na primeira trama, acompanharemos a irmã mais nova de Karen, Aubrey (Amber Tamblyn, que interpretou a sobrinha de Naomi Watts que morria vítima da maldição em “O Chamado” e que ficou mais conhecida do público brasileiro como a protagonista da série “Joan of Arcadia”), quando ela viaja para o Japão para visitar a irmã que se encontra internada depois dos acontecimentos retratados em “O Grito”. Após a morte de Karen, Aubrey decide investigar o que aconteceu com a irmã – e, para isso, conta com a ajuda de um repórter chamado Eason (Edison Chen).

Na segunda trama, Vanessa (Teresa Palmer), Miyuki (Misako Uno) e Allison (Arielle Kebbel), três estudantes de um colégio norte-americano no Japão, decidem visitar a casa em que se passou os acontecimentos de “O Grito”. Depois de invadirem a casa e de fazerem uma brincadeira de extremo mau gosto, o que se segue é uma série de acontecimentos estranhos na vida das três garotas.

A terceira trama de “O Grito 2” se passa em Chicago, quando a chegada de uma misteriosa moradora faz com que acontecimentos bizarros comecem a ocorrer em um prédio residencial. A história é vista do ponto de vista de uma família que lida com os seus próprios problemas – a chegada da nova esposa (Jennifer Beals, do clássico dos anos 80 “Flashdance – Em Ritmo de Embalo”) do pai viúvo (Christopher Cousins), que enfrenta a resistência do filho mais novo (Matthew Knight).

Ao que parece, Takashi Shimizu não soube como transportar o roteiro de Stephen Susco para a grande tela. Nenhuma das três tramas tem um desenvolvimento adequado e o suspense só começa a aparecer em “O Grito 2” já nos seus momentos finais, quando o diretor resolve unir as três tramas. O problema é que a conclusão da história é muito corrida, com tudo acontecendo de maneira rápida e atropelada. “O Grito 2” é um filme extremamente pessimista e sem nenhuma possibilidade de final feliz. Pelo jeito, esta maldição nunca terá um fim; portanto é bom que os fãs deste tipo de filme esperem por mais continuações.

Cotação: 3,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Wednesday, October 11, 2006

Muito Gelo e Dois Dedos D´Água (2006)


O ator, diretor e produtor Daniel Filho, com certeza, é uma das figuras mais importantes da retomada do cinema brasileiro. À frente da Globo Filmes, Filho é o responsável pela grande maioria dos filmes nacionais que são lançados anualmente. Muitas vezes, fica a impressão de que ele é uma figura onipresente, pois supervisiona os projetos dos outros, enquanto desenvolve os seus próprios. Só em 2006, Daniel Filho lançou dois filmes: a comédia leve “Se Eu Fosse Você” e, agora, a comédia dark “Muito Gelo e Dois Dedos D´Água”.

O último filme, cujo roteiro é da dupla Alexandre Machado e Fernanda Young (os mesmos que criaram o seriado e o filme “Os Normais”), tem uma história bastante inusitada e que deixa a sensação de que poderia muito bem ser feita pela indústria cinematográfica norte-americana. Na superfície, as irmãs Suzana (Paloma Duarte) e Roberta (Mariana Ximenes) são muito diferentes. A primeira é muito vaidosa, é casada com o médico chato Francisco (Thiago Lacerda) e mãe do pequeno Thiago (Matheus Costa). Já a segunda é desprovida de qualquer vaidade, tem uma postura rebelde e está meio sem rumo na vida. No entanto, as duas irmãs compartilham algo que é muito maior do que elas: o ódio pela avó (Laura Cardoso) que, ao contrário de qualquer outra vovó, castrava qualquer naturalidade e vontade de suas netas.

“Muito Gelo e Dois Dedos D´Água” trata justamente de todos os problemas bizarros que começam a acontecer com Roberta e Suzana a partir do momento em que elas decidem seqüestrar a avó e levá-la para a casa de praia que tantas más lembranças as trazem (era lá que a avó delas fazia todo tipo de “tortura” para transformar as suas netas em algo que elas não queriam). A situação das duas irmãs parece que vai tomar um rumo complicado quando elas transformam o advogado bobalhão Renato (Ângelo Paes Leme) em seu cúmplice e quando Francisco – na sua inocência – decide ir atrás de Suzana com medo da má influência que Roberta possa ter nela.

“Muito Gelo e Dois Dedos D´Água” é um filme surpreendente de diversas maneiras. O filme tem um estilo de humor sarcástico que nunca imaginaríamos que caísse nas mãos de um diretor “conservador” como Daniel Filho. Nesse sentido, “Muito Gelo e Dois Dedos D´Água” representa um passo à frente se compararmos este trabalho com o seu anterior – tendo em vista que Daniel Filho apresenta soluções criativas, como o uso de animações nas seqüências que retratam os traumas de colégio e de infância de Roberta e de Renato. Mas, principalmente, o filme marca o amadurecimento de Mariana Ximenes como atriz. Que ela não tem medo de se entregar aos seus personagens, isso a gente já sabia; mas, na TV, muitas vezes, as performances de Mariana soam artificiais e irritantes. Com Roberta, ela finalmente encontra um tom certo e entrega a melhor performance de sua carreira.

Cotação: 6,0

Crédito Foto: Yahoo! Cinema

Saturday, October 07, 2006

Dália Negra (The Black Dahlia, 2006)


Um dos gêneros clássicos da idade de ouro de Hollywood foi o noir – que alcançou o seu ápice nos anos 40, com filmes como “A Relíquia Macabra”, de John Huston; e cuja figura marcante do ator Humphrey Bogart serviu como a face oficial dos detetives que tinham a ambigüidade como princípio maior de vida e de carreira. O filme “Dália Negra”, do diretor Brian de Palma, tenta recriar o universo desses filmes usando como base o livro de James Ellroy (autor de outro noir recente, “Los Angeles Cidade Proibida”, de Curtis Hanson).

O trailer de “Dália Negra” vendeu o filme como sendo o relato da história da investigação do assassinato de Elizabeth Short (Mia Kirshner, do seriado “The L Word”, que vai ao ar no Brasil pela Warner Channel), uma das muitas aspirantes à estrela que viviam em Hollywood. Na época em que o crime ocorreu, o caso mexeu com a imprensa e causou comoção popular. No entanto, “Dália Negra” se prende mais aos efeitos da investigação deste crime na vida de dois detetives de homicídios.

O mais velho deles, Lee Blanchard (Aaron Eckhart), ou Mr. Fire (a sua alcunha nos ringues de boxe), é um sujeito passional, que não hesitará em fazer o que for necessário para conseguir o que quer e cumprir o seu papel – seja como boxeador, detetive ou marido. O mais novo deles, Dwight “Bucky” Bleichert (Josh Hartnett), ou Mr. Ice (o apelido que ele usava nos ringues de boxe), é um cara mais racional e analítico, do tipo que mede bem os seus passos antes de agir.

“Dália Negra” retrata todo o conflito que vai existir entre eles dois no decorrer da investigação do assassinato de Elizabeth Short. O conflito deles irá ultrapassar os limites do ringue (os dois irão lutar para conseguir mais benefícios para os policiais) e chegará até o trabalho deles e, mais tarde, vai abranger também o lado pessoal, quando os dois começarão a brigar pela atenção – e pelo amor – de uma mesma mulher, Kay Lake (Scarlett Johansson).

Lee e Bucky serão, portanto, os veículos perfeitos para que a platéia possa perceber todos os conflitos clássicos dos filmes noir: a lei X o arbítrio, a inocência X a corrupção, o mundo selvagem X o mundo primitivo. Todos os personagens de “Dália Negra” têm características ambíguas e podem ser bons ou maus, mocinhos ou vilões (às vezes eles são tudo isso ao mesmo tempo). No final, um deles tem que tomar iniciativa e sair de sua passividade – e é essa a grande transformação que a investigação do assassinato de Elizabeth Short vai trazer para um dos detetives.

"Dália Negra” é um filme muito bom do ponto de vista estético. A fotografia de Vilmos Zsigmond é boa (o filme não é em preto e branco, como a maioria dos clássicos noir, mas consegue criar – com a ajuda da trilha de Mark Isham – um acentuado clima de suspense). A direção de arte (o design da produção ficou a cargo de Dante Ferretti, o colaborador habitual de Martin Scorsese) e os figurinos de Jenny Beavan reconstroem com perfeição uma época. O único problema de “Dália Negra” é o roteiro de Josh Friedman. Algumas cenas do filme eram dispensáveis e acabam prejudicando o andamento da película – o que deixa a impressão, em certos momentos, de que “Dália Negra” é um filme lento.

Cotação: 6,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Tuesday, October 03, 2006

Minha Super Ex-Namorada (My Super Ex-Girlfriend, 2006)


Normalmente, o cinema retrata os super-heróis em filme densos e que, apesar de possuírem alguns momentos divertidos, sempre mostram os heróis como seres extremamente divididos e angustiados entre a persona que têm para o público em geral e a personalidade que assumem para aqueles a quem realmente ama. O conflito maior que estes heróis assumem, geralmente, é o de ter que esconder sua verdadeira condição de amigos, parentes e amores. “Minha Super Ex-Namorada”, filme do diretor Ivan Reitman, quer retratar um lado mais bem-humorado do herói, quando ele não tem que abdicar de sua felicidade.

Assim como muitos outros heróis que conhecemos, a G-Girl (Uma Thurman) passa os seus dias atenta a tudo aquilo que está acontecendo à sua volta e pronta para resolver qualquer emergência. Ela possui um nome (Jenny Johnson) e um trabalho (assistente do curador de uma galeria) para o resto do mundo. No entanto, uma característica importante a difere dos outros heróis: Jenny busca a sua felicidade e tem namoros como se fosse um ser humano qualquer.

Jenny acha que encontrou o amor verdadeiro na pessoa de Matt Saunders (Luke Wilson), um arquiteto que já sofreu muito nas mãos das mulheres. Ela abre sua vida e sua verdadeira identidade para ele. Entretanto, Matt não tem tanta certeza de que Jenny é o seu grande amor. A desconfiança vira uma certeza quando ele chega à conclusão de que Jenny é ciumenta, carente e pegajosa – por quê nós mulheres sempre acabamos retratadas assim em filmes?

“Minha Super Ex-Namorada” é um filme engraçado enquanto explora a dinâmica do relacionamento entre um homem comum e uma mulher com superpoderes. No entanto, o filme acaba caindo para um lado desagradável quando o relacionamento entre Jenny e Matt acaba e ela se transforma em uma ex-namorada obsessiva do tipo que vai fazer de tudo para evitar que Matt reencontre o amor e a felicidade – de novo, não custa perguntar: por quê nós mulheres sempre acabamos retratadas assim em filmes?

Apesar de ser dirigido com segurança por Ivan Reitman, o pior elemento de “Minha Super Ex-Namorada” – junto com o roteiro de Don Payne – acaba sendo o elenco do filme. Luke Wilson não tem carisma, talento ou pinta de galã. Chega a ser constrangedor ter que assistir – em certos momentos – uma atriz do porte de Uma Thurman fazendo cenas imbecis. O filme ainda sofre o preço de colocar de escanteio o talento de dois excelentes comediantes: Eddie Izzard (que interpreta o Professor Bedlam, o maior vilão da G-Girl) e Anna Faris (que interpreta Hannah Lewis, a colega de trabalho de Matt e por quem Jenny sente enormes ciúmes). Isso parece ser comum na carreira de Faris, o que nos faz pensar: quando será que ela vai ter um papel da altura de seu talento?

Cotação: 3,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies