Thursday, December 29, 2005

Balanço 2005 - Os Melhores do Ano

Chegamos ao final de mais um ano. Para o cinema, 2005 foi um ano que começou bem, ficou morno e terminou sem muitos alardes. Depois de 110 filmes assistidos no cinema, em 2005, chegou a hora de fazer o meu balanço. Gostaria de começar com os destaques positivos de 2005.

Top 10 Filmes 2005
1. Crash - No Limite (Crash, 2005, diretor: Paul Haggis)
2. Menina de Ouro (Million Dollar Baby, 2o04, diretor: Clint Eastwood)
3. Hotel Ruanda (Hotel Rwanda, 2004, diretor: Terry George)
4. Herói (Ying Xiong/Hero, 2004, diretor: Zhang Yimou)
5. A Fantástica Fábrica de Chocolate (Charlie and the Chocolate Factory, 2005, diretor: Tim Burton)
6. As Crônicas de Nárnia - O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa (The Chronicles of Narnia - The Lion, the Witch and the Wardrobe, 2005, diretor: Andrew Adamson)
7. Em Busca da Terra do Nunca (Finding Neverland, 2004, diretor: Marc Forster)
8. Perto Demais (Closer, 2004, diretor: Mike Nichols)
9. Sin City - A Cidade do Pecado (Sin City, 2005, diretores: Robert Rodriguez e Frank Miller)
10. Jogo Subterrâneo (2005, diretor: Roberto Gervitz)


Top 10 Atuações Masculinas (somente para os filmes lançados em 2005)
Ângelo Antonio, 2 Filhos de Francisco
Jack Black, King Kong
Ralph Fiennes, O Jardineiro Fiel

Terrence Howard, Crash - No Limite
Ghassan Massoud, Cruzada
Wagner Moura, Cidade Baixa

Viggo Mortensen, Marcas da Violência
Edward Norton, Cruzada

Lázaro Ramos, Cidade Baixa
Mickey Rourke, Sin City - A Cidade do Pecado

Top 10 Atuações Femininas (somente para os filmes lançados em 2005)
Joan Allen, A Outra Face da Raiva
Maria Bello, Marcas da Violência
Alice Braga, Cidade Baixa
Maria Luisa Mendonça, Jogo Subterrâneo
Radha Mitchell, Melinda e Melinda

Thandie Newton, Crash - No Limite
Dira Paes, 2 Filhos de Francisco
Chloe Sevigny, Melinda e Melinda
Naomi Watts, King Kong

Rachel Weisz, O Jardineiro Fiel

Balanço 2005 - Os Piores do Ano

Já que falamos dos melhores, agora vamos aos destaques negativos de 2005.

Top 1o Piores Filmes 2005

1. O Amigo Oculto (Hide and Seek, 2004, diretor: John Polson)
2. Violação de Privacidade (The Final Cut, 2004, director: Omar Naim)
3. O Pesadelo (Boogeyman, 2005, diretor: Stephen Kay)
4. Os Gatões - Uma Nova Balada (The Dukes of Hazzard, 2005, diretor: Jay Chandrasekhar)
5. Reencarnação (Birth, 2004, diretor: Jonathan Glazer)
6. Uma Garota Encantada (Ella Enchanted, 2004, diretor: Tommy O'Haver)
7. Vozes do Além (White Noise, 2004, diretor: Geoffrey Sax)
8. O Grito (The Grudge, 2004, diretor: Takashi Shimizu)
9. Casa de Areia (2005, diretor: Andrucha Waddington)
10. Sahara (2005, diretor: Breck Eisner)


Top 10 Piores Atuações Masculinas (só para os filmes lançados em 2005)
Orlando Bloom, Kingdom of Heaven e Elizabethtown
Ice Cube, XXX - Estado de Emergência

Matt Dillon, Herbie - Meu Fusca Turbinado
Garrett Hedlund, Quatro Irmãos
Samuel L. Jackson, Star Wars - Episódio 3 - A Vingança dos Sith

Johnny Knoxville, Os Gatões - Uma Nova Balada
Keanu Reeves, Constantine

The Rock, Be Cool - O Outro Nome do Jogo
Gavin Rossdale, Constantine
Seann William Scott, Os Gatões - Uma Nova Balada



Piores Atuações Femininas (só para os filmes lançados em 2005)
Ana Paula Arósio, O Coronel e o Lobisomem
Dakota Fanning, O Amigo Oculto
Jennifer Garner, Elektra
Eva Mendes, Hitch - O Conselheiro Amoroso
Luana Piovani, O Casamento de Romeu e Julieta
Jessica Simpson, The Dukes of Hazzard



Gostaria de agradecer a todos pelas visitas e pelos comentários em 2005. Que 2006 seja um ano maravilhoso para nós todos e que também nos traga muitos bons filmes para nós assistirmos! :-)

E se Fosse Verdade (Just Like Heaven, 2005)



Nos momentos iniciais de “E se Fosse Verdade”, do diretor Mark Waters, o ritmo narrativo vai sendo delineado de maneira muito veloz. Tanta rapidez é perfeita para ilustrar o estilo de vida de Elizabeth Masterson (Reese Witherspoon), uma médica totalmente devotada ao trabalho e sem vida social. A mesma velocidade ganha uma conotação altamente trágica quando, ainda no início do filme, Elizabeth sofre um grave acidente de carro.

“E se Fosse Verdade” se transforma em um filme completamente diferente a partir da entrada de David Abbott (Mark Ruffalo) em cena. David é uma espécie de Elizabeth de calças e vê a vida passar diante de seus olhos enquanto fica vidrado na frente de um aparelho de televisão. Foi ele quem sublocou o apartamento de Elizabeth e, a partir do momento em que passa a ser assombrado pelo espírito da médica, começará a questionar a sua própria sanidade.

O que o diretor Mark Waters quer que a platéia pense é que Elizabeth não deixa o apartamento no qual morava e, conseqüentemente, David em paz, pois ela não consegue aceitar o que lhe aconteceu. Porém, na realidade, a presença de Elizabeth na vida de David segue um outro propósito: ele, ao tentar desvendar o passado dela, volta a ter vontade de viver; já a médica, por sua vez, ganha forças para conseguir se salvar ao resgatar David.

É justamente esta estranha relação de amor e ódio que se estabelece entre David e Elizabeth o ponto principal de “E se Fosse Verdade”, o primeiro filme de Mark Waters (diretor de “Sexta-Feira Muito Louca” e “Meninas Malvadas”) situado dentro de um universo adulto. Apesar das reviravoltas um tanto previsíveis da história, Waters conseguiu construir um bom filme de amor e de esperança; e que, à sua maneira, consegue deixar uma bela mensagem: a de que nunca se deve deixar a vida em segundo plano. Num momento em que assistimos ao final de mais um ano e em que fazemos um balanço de tudo aquilo que nos aconteceu, esta mensagem é muito bem-vinda.

Thursday, December 22, 2005

King Kong (2005)



Ao longo de 110 anos de cinema, muitas imagens se tornaram eternas e icônicas. Uma das imagens mais míticas vistas na grande tela é o momento em que o King Kong, do alto do Empire State Building, em Nova York, se debate para se defender contra os que ele acredita serem os homens malvados e para proteger a mocinha por quem ele se afeiçoou. Esta imagem em particular foi a que fez o então menino Peter Jackson querer ser um diretor de cinema. Jackson sempre acalentou o sonho de recontar a história do King Kong e só agora, 72 anos depois do lançamento do primeiro filme, o diretor neozelandês consegue lançar o seu remake.

Chamar o filme de Peter Jackson de remake talvez seja uma denominação errada. Nos dias atuais, as possibilidades para se retratar uma história como a do King Kong são infinitas. Jackson, então, resolveu apelar para uma megalomania já familiar para aqueles que conhecem o seu trabalho na trilogia “O Senhor dos Anéis”. Tudo no “King Kong” de Jackson é grande: os cenários, os efeitos e, principalmente, as atuações e a sua direção.

O eixo principal da narrativa de “King Kong” se encontra em dois personagens: o diretor de cinema Carl Denham (Jack Black) e a atriz Ann Darrow (Naomi Watts). Tanto Carl quanto Ann estão em sérios apuros – ele com o estúdio de cinema que financia o trabalho que ele está desenvolvendo e ela sofre com a falta de dinheiro e de emprego. O diretor e a atriz também compartilham uma relação especial com o destino – enquanto Carl acredita em intervenções providenciais, Ann tenta fugir de tudo isto.

É a bordo do navio cargueiro “Venture” (não por acaso uma palavra que significa sorte ou destino), que Carl embarca com Ann, o roteirista Jack Driscoll (Adrien Brody), sua equipe de filmagens, além da tripulação do navio para uma viagem em busca da Ilha da Caveira, um lugar que não está localizado no mapa e, portanto, permanece inexplorado pelo homem. A Ilha será a locação do novo filme de Denham e lá todos eles entrarão em contato com seres estranhos e assustadores. Todos que estão a bordo do “Venture” passarão por profundas transformações; mas, a mais importante delas acontecerá com Ann e, por meio de seu contato com o troglodita e – inicialmente – insensível Kong, a atriz questionará as suas convicções na medida em que ela passa a conhecer uma nova forma de amor, de proteção e de fé.

"King Kong” é um filme feito de muitos momentos de apreensão, de suspense e de ação, mas a película é, acima de tudo, uma grande história de amor. Relatos de uma bela que se apaixona por uma fera já foram contados aos montes pelo cinema, mas, com “King Kong”, Peter Jackson adiciona uma técnica perfeita ao elemento da sensibilidade, provando que é possível, sim, se fazer filmes impecáveis de um ponto de vista prático sem se esquecer da engrenagem principal de um grande filme: a emoção.

Saturday, December 10, 2005

As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa (The Chronicles of Narnia: The Lion, the Witch and the Wardrobe, 2005)



“As Crônicas de Nárnia – O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa”, do diretor Andrew Adamson (de “Shrek”), abre com uma cena de um bombardeio aéreo em Londres. Em pânico, a família Pevensie vê as casas ao seu redor pegando fogo. Com a ausência do patriarca, que está lutando na guerra, a matriarca toma uma decisão drástica e envia os seus quatro filhos – Peter (William Moseley), Susan (Anna Popplewell), Edmund (Skandar Keyne) e Lucy (Georgie Henley, uma verdadeira revelação) – para a casa de um parente no interior da Inglaterra – um local, definitivamente, bem mais seguro.

Os irmãos Pevensie deixaram o ambiente nada liberal da Londres em plena II Guerra Mundial e acabaram indo parar em outro igualmente reprimido. Peter, Susan, Edmund e Lucy nada podiam fazer na casa de seu parente, o professor Digory Kirke (Jim Broadbent). Eles só brincavam ao ar livre. Depois de quebrarem uma das muitas regras impostas pela governanta da casa do professor, os irmãos Pevensie decidem se esconder em um guarda-roupa, cuja magia só era conhecida por Lucy e Edmund.

O guarda-roupa continha uma passagem secreta para o mundo mágico de Nárnia, um local que, apesar da sua infinita beleza, escondia uma história muito triste. Há mais de 100 anos, desde que Jadis, a Feiticeira Branca (Tilda Swinton) ascendeu ao poder, Nárnia se tornou um local frio e carente do calor humano. Em Nárnia, os irmãos Pevensie irão embarcar em uma fantástica e perigosa viagem para tentar salvar o reino da Feiticeira Branca – com a ajuda do sábio leão Aslan (dublado por Liam Neeson), os irmãos irão descobrir que eles não foram para Nárnia por acaso.

“As Crônicas de Nárnia – O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa” possui muitas semelhanças com outra obra muito famosa: a trilogia “O Senhor dos Anéis”. O autor da primeira, C.S. Lewis, era muito amigo do autor da segunda, J.R.R. Tolkien; e, reza a lenda, foi um dos maiores incentivadores de Tolkien para que ele retratasse a saga do Um Anel. Não se sabe ao certo o quanto que Tolkien foi influenciado por Lewis, mas, tanto “As Crônicas de Nárnia” quanto “O Senhor dos Anéis”, retratam histórias em que uma batalha tem que ser travada, um inimigo tem que ser batido e uma profecia tem que ser confirmada.

As semelhanças também estão presentes nas transposições das duas obras para a grande tela. Tanto “As Crônicas de Nárnia” quanto os filmes que fazem parte da trilogia “O Senhor dos Anéis” foram dirigidos por neozelandeses, filmados em locações deste país e possuem uma qualidade técnica invejável. A diferença é que “As Crônicas de Nárnia – O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa” tem como alvo um público mais infantil – sem abandonar os adultos que irão acompanhá-los às salas de cinema.

No entanto, a verdade maior é que, desde o fim da trilogia “O Senhor dos Anéis”, em 2003, os fãs do cinema de fantasia e de aventura se sentiam órfãos. Com “As Crônicas de Nárnia – O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa” este mesmo público irá testemunhar o nascimento de uma nova saga tão fantástica e emocionante quanto a de Frodo Baggins e a Sociedade do Anel. Neste caso, então, todas as semelhanças entre um livro/filme e o outro são mais do que bem-vindas.

Thursday, December 08, 2005

O Exorcismo de Emily Rose (The Exorcism of Emily Rose, 2005)



Nos primeiros 30 minutos de “O Exorcismo de Emily Rose”, de Scott Derrickson, quase nenhum elemento do filme irá remeter ao gênero de terror. Durante este tempo, Derrickson se dedica a apresentar a história do filme: o julgamento do padre Richard Moore (o ótimo ator inglês Tom Wilkinson), que está sendo acusado pela morte de Emily Rose (Jennifer Carpenter, que retrata com perfeição os momentos de possessão de sua personagem), em decorrência de um ritual de exorcismo liderado pelo padre.

A partir do julgamento do padre Moore, começaremos a conhecer melhor os acontecimentos que o levaram ao tribunal. Por meio de flashbacks, a história de Emily Rose nos é contada. Nascida em uma família de católicos devotos, Emily sempre sonhou em ser professora. Aos 19 anos, quando já estava na universidade, Emily começa a ter estranhas manifestações. Os médicos não conseguem entender o que se passava com Emily – alguns dizem que ela sofre de epilepsia, outros acham que ela é esquizofrênica. Sem encontrar respostas concretas na ciência, Emily e sua família decidem se apoiar na fé e é nesse momento que o padre Moore irá entrar em contato com a nova realidade na qual Emily está vivendo.

Baseado em fatos reais, “O Exorcismo de Emily Rose” é um filme que utiliza muito bem a temática do bem versus o mal. O filme é cheio de conflitos nesse sentido. Além do óbvio (padre Moore X os demônios que habitam o corpo de Emily), “O Exorcismo de Emily Rose” traz outra batalha bem mais sutil: a que se dá, nos tribunais, entre o promotor Ethan Thomas (Campbell Scott) e a advogada de defesa Erin Bruner (a excelente atriz Laura Linney). Thomas é “um homem de fé”. Já Erin não acredita em uma força superior. Durante o julgamento, os dois irão passar por profundas transformações, nas quais a fé nas possibilidades se torna mais forte do que a inflexibilidade dos fatos.

Como já foi mencionado, “O Exorcismo de Emily Rose” é um filme feito de poucos momentos de muito terror. Ao contrário de outros filmes de suspense, ganha a sua força justamente nas cenas dentro do tribunal. Essa mistura de gêneros foi uma idéia muito inteligente e reforça um dos elementos que “O Exorcismo de Emily Rose” tem de melhor: o roteiro. Uma das falas que mais escutamos no decorrer do filme é a seguinte – dita pelo padre Moore: “eu só quero contar a história de Emily Rose”. Essa é a grande mola propulsora do filme. E, no final, a impressão que se tem é a de que ela foi muito bem contada.

Em Seu Lugar (In Her Shoes, 2005)



“Em Seu Lugar”, novo filme de Curtis Hanson, é aberto ao som de “Stupid Girl”, canção do grupo Garbage. Em certo momento da música, a vocalista Shirley Manson canta: “Você finge que é qualquer coisa só para ser adorada, e o que você precisa é o que você recebe. Não acredita no medo, não acredita na fé, não acredita em nada que você não possa quebrar. Sua garota burra, sua garota burra, tudo o que você teve você perdeu”. Esses versos resumem bem a personalidade de Maggie Feller (Cameron Diaz, em uma ótima atuação), uma das protagonistas de "Em Seu Lugar".

Maggie é aquela pessoa que podemos chamar de desprendida. Ela não dá sinais de que quer amadurecer, não procura um emprego fixo e só quer saber de farrear. Tais atitudes acabam fazendo com que Maggie magoe as pessoas que ela mais ama. Uma dessas pessoas é Rose (a atriz australiana Toni Collette, excelente como sempre), a irmã mais velha de Maggie. Ao contrário desta, Rose leva tudo a sério, é devotada ao emprego como advogada de um grande escritório e sonha em viver um grande amor. Portanto, as duas irmãs pouco têm em comum, a não ser o fato de que calçam o mesmo número de sapatos.

Rose e Maggie sempre tiveram uma relação muito turbulenta e, por isso mesmo, viviam brigando. Elas irão cortar relações de vez quando Maggie dorme com o namorado de Rose e é pega no flagra pela irmã. A partir daí, as duas irão seguir os seus caminhos e, enquanto Maggie vai para a Flórida para morar com Ella (Shirley MacLaine), a avó que ela desconhecia ter; Rose permanece na sua rotina diária de sempre e fica tentando imaginar que fim teve a sua irmã caçula.

A briga entre Rose e Maggie desencadeia uma série de acontecimentos interessantes no filme “Em Seu Lugar”. Quando se vêem distantes uma da outra, Rose e Maggie invertem os papéis. Por causa da pressão da avó para que ela faça alguma coisa de concreto em sua vida, Maggie começa a encarar as responsabilidades de um emprego, a planejar melhor o seu futuro e a deixar a diversão um pouco de lado. Já Rose, que está em meio a uma crise pessoal, começa a tomar uma série de decisões que deixam aqueles que a conhecem surpreendidos. Essas decisões farão com que Rose passe a encarar a vida de uma maneira bem mais leve e se abra para novas oportunidades, bem como para um novo amor (Mark Feuerstein).

O diretor Curtis Hanson já passou, na sua carreira, por diversos gêneros e temáticas: o suspense (“A Mão que Balança o Berço”), o noir/policial (“Los Angeles – Cidade Proibida”) e, até mesmo, as biografias (“8 Mile – Ruas da Ilusão”). Com “Em Seu Lugar”, o diretor tenta desvendar o universo feminino e, em especial, um terreno bastante complicado: o relacionamento entre irmãs. Com a ajuda do roteiro de Susannah Grant (a mesma que escreveu “Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento”), Hanson se sai muito bem e permeia o seu filme com os extremos do amor e do ódio – sentimentos que ilustram tão bem a viagem de autoconhecimento pelo qual as irmãs Maggie e Rose irão passar no decorrer de “Em Seu Lugar”.

Monday, December 05, 2005

Plano de Vôo (Flightplan, 2005)




Logo nos primeiros minutos de “Plano de Vôo”, o diretor Robert Schwentke apresenta à platéia tudo o que ela precisa saber sobre a Sra. Pratt (Jodie Foster, voltando ao cinema depois de três anos de “aposentadoria”). A imagem que vemos é a de uma mulher perdida e que olha para o nada. Com certeza, a Sra. Pratt não estava preparada para o que iria fazer em seguida: ir ao necrotério de Berlim para reconhecer o corpo do marido, que morreu depois de cair do telhado do apartamento aonde morava com a família (o filme não entra em mais detalhes sobre o ocorrido, por isso a platéia não irá saber se ele cometeu suicídio ou se a morte foi somente um acidente).

Os momentos que se seguem à ida ao necrotério deixam claro que a Sra. Pratt está passando por um grande trauma. Mas, se vendo diante do seu novo papel de chefe da família, encara todo o sofrimento como uma verdadeira fortaleza – ela consola a filha Julia e, nos momentos de solidão, encontra o seu próprio conforto ao tomar calmantes e remédios para controlar a ansiedade – e se encarrega sozinha de todas as providências necessárias para que o traslado do corpo de seu marido seja feito de Berlim para os Estados Unidos sem maiores problemas.

Se o vôo para os Estados Unidos já seria o mais longo da vida da Sra. Pratt, imagine então quando ela perceber que Julia desapareceu em pleno vôo. A Sra. Pratt vai, portanto, do entorpecimento ao pânico em poucos minutos e, durante a busca pela filha, faz com que todos que estão no avião – na medida em que eles vão descobrindo o que está levando a Sra. Pratt aos Estados Unidos – a tomem como uma mulher louca e desesperada; quando, na realidade, ela estava somente liberando todos os seus sentimentos de angústia, de dor e de dúvidas pela perda do marido e, agora, da filha.

“Plano de Vôo” é o segundo filme de suspense de 2005 a abordar o ambiente claustrofóbico dos aviões – o primeiro foi o ótimo “Vôo Noturno”, de Wes Craven. No caso particular de “Plano de Vôo”, o filme – num primeiro momento – se torna ainda mais intrigante, pois ninguém (inclusive nós, da platéia) consegue compreender como uma criança de seis anos desaparece em pleno ar, sem deixar quaisquer rastros. Como “Plano de Vôo” retrata a busca de uma mãe por sua filha, é nesse momento que se sobressai, no filme, a figura de Jodie Foster, uma atriz especialista em interpretar mulheres que querem demonstrar que tudo anda bem quando, por dentro, elas estão se desmoronando.

No entanto, o que difere “Plano de Vôo” de “Vôo Noturno” é que o segundo filme tem um roteiro bem mais engenhoso do que o primeiro. “Plano de Vôo” prefere seguir a norma básica dos filmes de suspense que são produzidos atualmente; por isso, nele, nada é o que parece. E é justamente a reviravolta que impulsiona os momentos finais de “Plano de Vôo” que tira muito da graça do filme. Isto não é culpa do diretor Robert Schwentke, que demonstra ter um bom estilo visual; e sim da própria indústria cinematográfica com a sua eterna necessidade de filmes com finais moralistas e nos quais o herói consegue a sua redenção. Nem sempre é interessante de se assistir a filmes assim - e “Plano de Vôo” é a prova viva disso.

Harry Potter e o Cálice de Fogo (Harry Potter and the Goblet of Fire, 2005)



Desde a estréia do bruxinho mais famoso do cinema, em 2001, com “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, uma coisa é bastante nítida: como os três atores que protagonizam a série (Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint) cresceram. Esse mesmo amadurecimento vem acontecendo de forma gradativa, seja nos temas principais que são abordados nos filmes da série ou, até mesmo, nas visões que lhes são dadas pelos diretores das películas que fazem parte da franquia.

Neste sentido, “Harry Potter e o Cálice de Fogo” é um marco divisor da série. No filme, Harry (Radcliffe) – agora com 14 anos – é escolhido como um dos participantes do Torneio Tribruxo, uma competição que acontece entre as diversas escolas de magia. No torneio, Harry terá como oponentes, colegas bem mais velhos (e, conseqüentemente, mais experientes) do que ele: Cedrick Diggory, o galã Victor Krum e a bela Fleur Delacour.

Com Hogwarts cheia de alunos de outras escolas de magia, os hormônios dos jovens bruxos começarão a entrar em ebulição. Os momentos que antecedem ao baile de inverno ilustram muito bem a maioria dos conflitos que passam pela cabeça dos adolescentes. Por exemplo: Harry não tem medo de enfrentar os seus piores inimigos, mas treme nas bases ao pensar na possibilidade de convidar a menina de quem gosta para ser a sua companhia no baile; o desajeitado Ron Weasley (Grint, que continua a ser o elo mais fraco do trio principal de atores jovens) sofre com o medo de ser rejeitado pelas garotas; e Hermione Granger (Watson) desperta a atenção do menino mais cobiçado pelas garotas, quando, na realidade, queria ser notada por outro.

Entretanto, “Harry Potter e o Cálice de Fogo” tem poucos momentos de euforia e dúvida juvenis. O ponto chave do filme é mostrar, através da participação de Harry no Torneio Tribruxo, que esta era uma experiência necessária para o jovem bruxo. Ao testar seu talento para a magia e ao enfrentar competidores mais fortes do que ele, Harry amadureceria o suficiente para enfrentar o Lorde Voldemort (Ralph Fiennes, em uma caracterização assustadora) – o homem responsável por toda a infelicidade do bruxinho – mais uma vez. O reencontro de Harry com Voldemort é o momento mais esperado de “Harry Potter e o Cálice de Fogo” e cada minuto desta cena fazem valer a pena a espera de quatro anos.

Depois da direção burocrática de Chris Columbus e da visão realista (e não menos fantasiosa) do mexicano Alfonso Cuarón, Mike Newell (o primeiro diretor inglês a assumir um filme da série) ficou com a tarefa mais fácil. “Harry Potter e o Cálice de Fogo” é o melhor filme da série, o mais bem executado e o melhor em atuações. O filme cumpre com louvor o seu papel de ser o prenúncio de tempos difíceis e de mudanças em Hogwarts, e deixa a platéia ansiosa pelo que está por vir.

Thursday, November 24, 2005

Jogos Mortais 2 (Saw II, 2005)


“Jogos Mortais” foi um filme de suspense surpreendente e que apresentou Jigsaw (ou o “assassino do quebra-cabeça”) aos cinéfilos. Jigsaw é um dos vilões mais cruéis dos últimos tempos e age dessa maneira para fazer com que as suas vítimas passem a valorizar as vidas que levam. O sucesso de “Jogos Mortais” foi tão grande que a sua continuação chegou às salas de cinema do Brasil quase que ao mesmo tempo em que a estréia nos cinemas dos Estados Unidos.

A narrativa de “Jogos Mortais 2” é muito semelhante à de “Jogos Mortais”. Na continuação, o Jigsaw continua a atormentar as suas vítimas e a ser um mistério para a polícia. Assim como aconteceu no primeiro filme, o Jigsaw vai reunir um grupo de vítimas – 5 homens e 3 mulheres – dentro de uma casa. Todos eles possuem algo em comum e, enquanto percorrem os diversos cômodos da casa, terão que provar ao Jigsaw quão grande são os seus instintos de sobrevivência.

Enquanto o grupo que está na casa vai de encontro ao desespero, Jigsaw testa os limites de outra possível vítima: o detetive Eric Matthews (Donnie Wahlberg), policial responsável pela investigação dos crimes do serial killer. Eric é o personagem que passará pelas maiores provações durante “Jogos Mortais 2”. As reações que o detetive terá serão determinantes para o destino de cada personagem – inclusive o dele próprio e o do assassino Jigsaw.

“Jogos Mortais 2” repete quase que fielmente cada detalhe de “Jogos Mortais”. Se o primeiro filme podia contar com o talento do seu elenco (liderado por Cary Elwes e Danny Glover), a força da continuação se encontra no roteiro. “Jogos Mortais 2” tem uma narrativa muito bem amarrada, aonde cada informação se une em um grande jogo de idéias. Mesmo assim, fica fácil para o espectador mais atento decifrar algumas das peças que nos são apresentadas.

Também podemos notar um avanço no que diz respeito à linguagem visual de “Jogos Mortais 2”. Todo o filme se passa em dois ambientes (a casa na qual se encontram o grupo de vítimas e o quartel-general do Jigsaw) e o diretor Darren Lynn Bousman encontrou uma maneira bastante criativa para separar as duas histórias – a solução do diretor também acentua muito os momentos de clímax do filme, os quais, por sua vez, são marcados pelas sensações de impotência dos personagens em não poderem fazer nada para mudar a situação nas quais foram colocados.

Entretanto, “Jogos Mortais 2” repete o maior erro visto em “Jogos Mortais”: o final moralista que tenta justificar o propósito dos atos cometidos no decorrer do filme. A diferença é que os produtores de “Jogos Mortais 2” sabem que têm uma franquia altamente lucrativa nas mãos e terminam o filme com uma cena que deixa claro a intenção de se fazer um “Jogos Mortais 3”.

Thursday, November 17, 2005

Marcas da Violência (A History of Violence, 2005)



O diretor David Cronenberg faz parte de uma escola cinematográfica em que ele e o diretor David Lynch são os membros mais ilustres. Tanto Lynch quanto Cronenberg são conhecidos pelos filmes que fogem de uma temática mais convencional e que, por isso mesmo, são cultuados com fervor pelos cinéfilos de gosto mais apurado. Em 1999, David Lynch flertou com um cinema mais acessível com o belo e sensível “História Real”. Agora, é a vez de David Cronenberg provar que também sabe fazer filmes para a massa.

Baseado em uma graphic novel, “Marcas da Violência” conta a história de Tom Stall (Viggo Mortensen, na melhor atuação de sua carreira), um homem que vive em uma cidade pacata ao lado da esposa Edie (Maria Bello, também excelente) e dos dois filhos. Tom é o proprietário de um restaurante e membro distinto da comunidade local. Quando o seu estabelecimento é assaltado, Tom reage e mata os dois assaltantes. Alçado à condição de herói local e tendo o seu rosto estampado em jornais e matérias de TV, Tom recebe a visita de um homem misterioso (Ed Harris), que revela um grande segredo de seu passado.

A partir destes acontecimentos, David Cronenberg começa a fazer de seu filme uma grande peça de reflexão. De uma maneira ou de outra, o diretor coloca os seus personagens em contato com a violência, seja na forma do assalto, de brigas entre colegas de escola ou entre casais e de um xingamento no trânsito – até mesmo o ato sexual ganha contornos mais fortes. Ao entrarem em contato com estes atos, os personagens passam a ser definidos pelas reações que eles têm e começam a ser vistos com outros olhos não só dentro do filme, como fora dele (pelos espectadores).

“Marcas da Violência” carrega em si o característico talento visual de David Cronenberg. O apelo para imagens fortes é totalmente justificável, pois reforça a maior intenção do filme: mostrar quais os efeitos que um ato de violência podem ter na vida de uma família aparentemente perfeita, ao mesmo tempo em que incita outro tipo de debate: claramente a violência já está dentro de cada ser humano, mas o que os leva a querer colocá-la para fora?

O Galinho Chicken Little (Chicken Little, 2005)




Bem no início de “O Galinho Chicken Little”, o diretor Mark Dindal faz uma brincadeira. O seu narrador, o Galinho, não sabe como iniciar a sua história. Ele considera as idéias do “Era uma Vez”, da canção e de um livro que resuma o seu começo. Na realidade, a indecisão do Galinho reflete uma crítica à própria maneira pela qual os estúdios Disney encaravam as suas animações, ao mesmo tempo em que mostram a incerteza do estúdio em relação ao seu futuro na área – “O Galinho Chicken Little” é a primeira animação digital da Disney depois do término da parceria com a Pixar.

Como já foi mencionado, o filme conta a história do Galinho, um jovem franguinho que vira motivo de piada na sua cidade quando achou que um avelã que caiu em sua cabeça era um pedaço do céu que estava ruindo. O Galinho não admite que ninguém acredite na sua palavra, muito menos o fato de que perdeu o respeito e a admiração da pessoa que ele mais ama na vida: o seu pai – que todo o tempo sugere ao filho que se esconda, assim ele não fará mais besteiras.

Para reconquistar o amor do pai – um ex-jogador famoso de campeonatos escolares de beisebol – e, conseqüentemente, restabelecer a sua reputação na cidade, o Galinho decide entrar no esporte. Depois das finais do campeonato escolar, o Galinho se depara novamente com o pedaço do céu que ruiu (que, na verdade, eram naves alienígenas) e caiu em sua cabeça. A fim de não repetir o mesmo erro e cair nas brincadeiras populares, o Galinho trabalha arduamente para provar a todos que ele nunca mentiu a respeito desse assunto.

Só de ver o resumo da história de “O Galinho Chicken Little” já dá para notar que o filme é muito irônico. O Galinho é um herói inusitado, incomum, com jeito de nerd e totalmente sem auto-estima. O diretor Mark Dindal usa cenários bastante coloridos para contar a sua história – cujo principal eixo é o relacionamento familiar, ao mostrar duas figuras paternas tão diferentes e, ao mesmo tempo, tão complementares: aquele que é capaz de iniciar uma pequena guerra para recuperar seu filho e aquele que recobra a sua cria quando decide dar importância ao diálogo entre ambas as partes.

Saturday, November 12, 2005

Vinicius de Moraes: Quem Pagará o Enterro e as Flores se eu me Morrer de Amores? (2005)


A música popular brasileira é cheia de talentos e de artistas que foram fundamentais para a sua transformação e consolidação como uma das escolas mais respeitadas e amadas no mundo todo. O documentário “Vinícius”, do diretor Miguel Faria Jr., como o próprio título confirma, irá falar de Vinícius de Moraes, um dos maiores destaques da música nacional e autor de poemas e de canções que se tornariam clássicas.

“Vinícius” cobre toda a vida do poetinha, desde o seu nascimento em 1913, no Rio de Janeiro, até os momentos que antecederam a sua morte. No entanto, o filme acerta ao dar mais ênfase à importância que Vinícius de Moraes teve para a música brasileira. Por isso, entre uma informação e outra sobre a sua vida pessoal, ficamos sabendo como a atividade musical foi aos poucos invadindo e tomando por completo a vida do diplomata aficionado pelas mulheres.

Para falar sobre Vinícius de Moraes, o diretor Miguel Faria Jr. reuniu um time de primeira: os cantores, compositores e, em alguns casos, parceiros musicais Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Carlos Lyra, Edu Lobo, Carlinhos Vergueiro, Toquinho; as cantoras Miucha e Maria Bethânia; a atriz Tônia Carrero; os escritores Ferreira Gullar e Antonio Candido; além de suas quatro filhas (Susana, Georgiana, Luciana e Maria); dentre tantos outros. Todos eles irão revelar o caráter de Vinícius, descrito por todos como sendo um homem de uma eterna busca. O poetinha vivia perseguindo o amor, a paixão e queria fugir da solidão (temas esses que foram recorrentes em suas composições e poemas). Ao mesmo tempo, estes ilustres amigos revelam o grande conflito da vida de Vinícius: a figuração de sua obra entre os terrenos do erudito e do popular – fato que levou muitos críticos a diminuírem o seu excelente trabalho.

Em paralelo aos relatos e registros de pontos da vida de Vinícius de Moraes, o diretor Miguel Faria Jr. faz uso de um recurso anteriormente utilizado no filme “De-Lovely - Vida e Amores de Cole Porter”, que retratava a vida de Cole Porter, um outro compositor que cantou as dores e as alegrias do amor. Pontuando estes relatos e registros, os atores Camila Morgado e Ricardo Blat participam de um pocket show e declamam poesias de Vinícius; enquanto artistas como Zeca Pagodinho, Mart’Nália, Mônica Salmaso, Olívia Byington, Adriana Calcanhotto, Mariana de Moraes e o violonista Yamandú Costa interpretam canções do poetinha.

Vinícius de Moraes foi fundamental em dois momentos históricos da música popular brasileira: na criação da Bossa Nova e, durante o período denominado de Pós-Bossa, criando um estilo, em parceria com o violonista Baden Powell, que ganhou o nome de Afro-Samba. No entanto, Vinícius transitou por todos os estilos da música – e da cultura – brasileira. “Vinícius”, neste sentido, é mais do que um tributo à vida e à obra do poetinha; e sim um registro de uma época áurea da nossa música. Lembrar de figuras como ele, nos dias atuais, é constatar o estado de agonia em que vive a música popular brasileira, que clama urgentemente pela presença de um sangue novo, de pessoas audazes e verdadeiras como o próprio Vinícius de Moraes.

Cidade Baixa (2005)



Os créditos iniciais de “Cidade Baixa”, de Sérgio Machado, já prevêem o maior dos conflitos que irão existir no filme. O diretor utiliza um recurso muito interessante no momento em que ele apresenta a sua dupla de atores principais: Lázaro Ramos X Wagner Moura. O uso do “X” coloca os dois atores em lados opostos de um ringue, em uma luta constante – seja por causa dos personagens que interpretam ou, na melhor das hipóteses, em um duelo de atuações (afinal, Ramos e Moura são dois dos melhores talentos da nova geração de atores brasileiros).

Em “Cidade Baixa”, os dois amigos na vida real interpretam os também inseparáveis Deco e Naldinho. A dupla é proprietária de um barco de pesca e ganha a vida transportando mercadorias de uma cidade baiana à outra. Em uma destas viagens, Deco e Naldinho vão conhecer a bela e sensual Karina (Alice Braga, a Angélica de “Cidade de Deus”). A garota trabalha como prostituta, quer ir para Salvador para “pegar um gringo antes do Carnaval” e acaba pegando carona no barco dos dois amigos.

Enquanto partem rumo à Salvador, Deco e Naldinho se envolvem com Karina. O triângulo amoroso irá continuar na capital baiana, com os dois amigos se revezando em carícias com Karina, ao mesmo tempo em que quebram o princípio que fundamenta a amizade deles: o de que nenhuma mulher irá se meter no caminho dos dois. No entanto, Karina cumpre bem o seu papel de principal vértice do triângulo amoroso e envolve Deco e Naldinho no seu jogo de sedução, pondo um amigo contra o outro ao fazer nascer os sentimentos de desconfiança e traição entre eles.

“Cidade Baixa” se passa justamente no submundo de Salvador, num local marcado pela intriga, pela violência, pelo ciúme, pela luxúria e pelo sexo. O roteiro de Sérgio Machado e Karim Ainouz (o mesmo de “Madame Satã”) irá enfatizar principalmente algo que existe em excesso neste submundo: a intensidade – seja na amizade entre Deco e Naldinho, na paixão que eles sentem por Karina e na própria personalidade dos três personagens. Por isso mesmo, o que se sobressai no filme é a performance de Lázaro Ramos, Wagner Moura e Alice Braga. A química existente entre eles torna verossímeis todos os acontecimentos retratados na tela e justificam também o sentimento que invade Deco, Naldinho e Karina no final de “Cidade Baixa”. A impressão que se tem no término do filme é a de que acabamos de assistir à dramatização de uma história de Nelson Rodrigues; mas uma que traz uma resignação e que deixa nas mãos dos espectadores a responsabilidade de finalizar a história.

Saturday, November 05, 2005

Tudo Acontece em Elizabethtown (Elizabethtown, 2005)


Na sua curta carreira como ator, Orlando Bloom se notabilizou por interpretar papéis em filmes situados em épocas muito antigas. Foi assim na trilogia “O Senhor dos Anéis”, do diretor neozelandês Peter Jackson, e em “Cruzada”, do diretor inglês Ridley Scott. Em “Tudo Acontece em Elizabethtown”, do diretor e roteirista Cameron Crowe, Bloom quebra a escrita e interpreta pela primeira vez um personagem que vive nos dias atuais.

No filme, Orlando Bloom vive Drew Baylor, um designer de calçados que ainda não fez algo de concreto na sua vida. O seu primeiro grande projeto profissional – um tênis que fará o consumidor ter a sensação de que está andando nas nuvens -, fruto de oito anos de dedicação ao trabalho e de afastamento da sua família, resulta num fracasso de grandes proporções (a empresa na qual ele trabalha amargou um prejuízo de aproximadamente 1 bilhão de dólares com o produto). Em conseqüência disso, Drew é demitido diretamente pelo presidente da empresa (Alec Baldwin) e perde a namorada Ellen (Jessica Biel). Prestes a cometer suicídio, Drew recebe uma ligação da irmã o informando da morte de seu pai. Como filho mais velho, Drew tem que assumir a responsabilidade de viajar para a cidade de Elizabethtown e trazer de volta o corpo do pai.

Inicialmente, a morte do pai não irá atrapalhar os planos de Drew. Ele ainda quer cometer suicídio. No entanto, a jornada pela qual Drew irá passar a partir do momento em que ele entrar em contato com a família de seu pai e com as suas origens farão com que ele repense sua vida. O contato com a aeromoça Claire (Kirsten Dunst), uma garota completamente diferente dele, também lhe mostrará um outro lado da vida e lhe ensinará a não levar tudo tão a sério e a aproveitar cada instante de sua existência – tirando o que eles têm de melhor a oferecer.

Baseado em uma experiência vivida pelo próprio Cameron Crowe, “Tudo Acontece em Elizabethtown” é uma tentativa do diretor e roteirista de repetir o sucesso de “Quase Famosos”, um outro filme baseado em fatos da própria vida dele. Por isso mesmo, no filme encontraremos temas que são recorrentes na filmografia do diretor como as figuras excêntricas, o protagonista que vive em busca de sua identidade ou de novas experiências e a forte presença do núcleo familiar (especialmente da mãe e da irmã); além de inúmeras referências à cultura pop (especialmente nos momentos finais do filme).

Em seu segundo papel consecutivo como protagonista de um filme (o primeiro foi em “Cruzada”), Orlando Bloom repete os mesmos erros de sempre e, apesar de possuir um olhar carregado de melancolia, o ator compõe Drew com uma apatia que revela o quão inseguro ele se sente quando tem que carregar o peso de um filme sozinho. Ainda bem que, assim como aconteceu em “Cruzada”, Bloom está rodeado por um excelente elenco de apoio. Susan Sarandon rouba a cena nas poucas vezes em que aparece e Kirsten Dunst brilha com sua contagiante interpretação de Claire. É a presença dela em “Tudo Acontece em Elizabethtown” que faz o filme valer a pena. Desse jeito, fica a sensação de que Dunst não só salvaria o personagem de Bloom de cometer suicídio, e sim a todos nós.