Tuesday, October 24, 2006

Cinema, Aspirinas e Urubus (Movies, Aspirin and Vultures, 2005)


Muita gente se surpreendeu quando o Ministério da Cultura anunciou o filme “Cinema, Aspirinas e Urubus”, do diretor Marcelo Gomes (que também co-escreveu o roteiro do filme ao lado de Karim Ainouz e Paulo Caldas), como o representante oficial do Brasil na tentativa de indicação ao Oscar 2007 de Melhor Filme Estrangeiro. Não porque o filme seja de má qualidade, e sim, pois ele não tinha o apoio de uma grande produtora nacional, como a Globo Filmes. A concorrência de “Cinema, Aspirinas e Urubus” à indicação foi grande e incluía filmes como “A Máquina”, “Anjos do Sol”, “Bens Confiscados”, “Cafundó”, “Depois Daquele Baile”, ”Doutores da Alegria”, “Estamira”, “Irma Vap – O Retorno”, “O Maior Amor do Mundo”, “Tapete Vermelho”, “Vida de Menina” e o que todos consideravam o favorito para a indicação, “Zuzu Angel”.

“Cinema, Aspirinas e Urubus” começa mostrando Johan (Peter Ketnath), um imigrante alemão. Ele dirige um caminhão, nos anos 40, em pleno sertão pernambucano e está aparentemente perdido no meio do nada. A princípio, nós da platéia não saberemos nada sobre ele ou sobre o que ele faz. Talvez para conseguir se direcionar no meio do sertão, Johan contrata como seu ajudante, Ranulpho (João Miguel, numa grande performance), um homem que busca uma oportunidade de crescer na vida longe do sertão pernambucano e que, por isso, não hesita em aceitar a proposta que Johan lhe faz.

O filme adota o formato de road movie para contar a história de Johan e Ranulpho rumo à cidade de Triunfo. Nessa viagem, eles entrarão em contato com as pessoas e com a cultura do sertão nordestino. Ao mesmo tempo, apresentarão um mundo novo aos habitantes das localidades que visitam, pois, em cada nova cidade que chegam, Johan (que, agora sabemos, trabalha como caixeiro viajante vendendo aspirinas) e Ranulpho armam acampamento, montam um cinema e passam um filme que mostra os benefícios que a aspirina traz aos seus consumidores. Portanto, pessoas que têm pouco dinheiro para comprar comida, acabam desperdiçando suas economias nas aspirinas de Johan. Essa viagem também marca o início de uma amizade que surge entre Johan e Ranulpho. Apesar das origens culturais diferentes, os dois têm muito em comum, afinal ambos estão fugindo de algo – Johan, de seu país natal e da guerra; Ranulpho, da fome e da miséria.

É muito cedo para dizer se “Cinema, Aspirinas e Urubus” terá chances de ser indicado ao Oscar 2007 de Melhor Filme Estrangeiro. Neste exato momento, a única certeza é a de que o grande favorito à estatueta é “Volver”, do diretor espanhol Pedro Almodóvar. No entanto, os relatos iniciais são animadores. Quem esteve presente na exibição de “Cinema, Aspirinas e Urubus” aos votantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas afirma que o filme foi aplaudido no final e manteve um número considerável de votantes atentos até o final da sessão. De qualquer maneira, indicado ou não, a atenção que “Cinema, Aspirinas e Urubus” vem conquistando na mídia estrangeira já é um grande prêmio.

Cotação: 7,0

Crédito Foto: Web Cine

Monday, October 23, 2006

Dois é Bom, Três é Demais (You, Me and Dupree, 2006)


Todo mundo tem um amigo (a) inconveniente, do tipo que só aparece nos momentos errados e que só fala aquilo que não deve. Dupree (Owen Wilson) é um desses amigos. E, pior: apesar de ter 36 anos, vive como um adolescente e, enquanto seus amigos amadurecem, se casam e evoluem nas carreiras profissionais, ele se mantém solteiro, em busca de aventuras e de um emprego que lhe permita manter o estilo de vida que possui – sem responsabilidade alguma.

"Dois é Bom, Três é Demais”, filme dos diretores Anthony e Joe Russo, começa quando todos os personagens do filme estão no Havaí para o casamento de Carl (Matt Dillon) e Molly (Kate Hudson). O noivo é o melhor amigo de Dupree, o qual, por sua vez, será o padrinho do casamento. Se o final de semana no Havaí marca o início de uma nova etapa na vida de Carl e Molly, o mesmo não pode ser dito a respeito de Dupree – que teve que faltar ao trabalho para viajar ao Havaí e, por isso, acabou perdendo o seu emprego, a casa e o carro. Se sentindo culpado, Carl convida Dupree para morar provisoriamente em sua casa, até que ele coloque sua vida de volta nos eixos. No entanto, o que era provisório começa a ganhar uma cara de permanente quando Dupree dá sinais de que não vai deixar tão cedo a casa dos recém-casados.

A partir do momento em que Dupree se muda para a casa de Carl e Molly, “Dois é Bom, Três é Demais” começa a ficar bastante previsível. É óbvio que a presença de Dupree na casa dos recém-casados vai afetar negativamente no relacionamento de Carl e Molly. É óbvio que essa situação só vai se agravar quando Carl começa a ser pressionado pelo sogro (Michael Douglas) que o odeia. É óbvio que Carl começará a sentir ciúmes quando notar a aproximação cada vez mais crescente entre Molly e Dupree. É óbvio que a amizade de 25 anos existente entre Carl e Dupree irá estremecer. E é óbvio que todo mundo vai acabar tendo um final feliz.

Dupree realmente é um cara irritante, imaturo e inconseqüente. Por causa disso, não existe melhor ator do que Owen Wilson – ele próprio um homem irritante e imaturo – para interpretá-lo. O roteiro de “Dois é Bom, Três é Demais”, de Mike LeSieur, foi escrito sob medida para o tipo de comédia que ele gosta de fazer. Pena que o texto do filme deixa pouco terreno para que Matt Dillon e Kate Hudson, dois atores bem melhores do que Wilson, possam brilhar.

Cotação: 3,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Sunday, October 22, 2006

O Bicho Vai Pegar (Open Season, 2006)


O urso pardo é um tipo de animal que é um dos maiores do gênero. Apesar de ele ter uma dieta variada, sua presença junto ao homem não é recomendada, pois ele é um animal de natureza solitária, mas que convive pacificamente com outras espécies quando há uma abundância de alimento. No entanto, Boog (dublado por Martin Lawrence na versão original) não é igual aos outros animais de sua espécie. Desde quando ele era um bebê, ele foi domesticado pela ambientalista Beth (dublada por Debra Messing, a Grace do seriado "Will & Grace", na versão original), que lhe deu amor, carinho e conforto; além de uma casa, uma cama confortável, comida, entre outras coisas. Em decorrência disso, Boog convive bem com os seres humanos e é a atração principal de um show de variedades.

A boa convivência de Boog com os humanos fica ameaçada quando ele conhece o cervo tagarela Elliot (dublado por Ashton Kutcher na versão original). Através deste, o urso pardo arruma uma série de encrencas na cidade aonde mora. Fatos estes que farão com que Beth tome uma decisão que vinha sendo adiada há tempos: a de devolver Boog ao seu habitat natural, a floresta.

A trama principal de “O Bicho Vai Pegar”, animação dos diretores Roger Allers, Jill Culton e Anthony Stacchi, é a que acompanha a jornada de Boog em busca do caminho de volta para a casa de Beth e tudo aquilo que ela representa para ele (o amor, a proteção, o apoio, entre outras coisas). Como em todo outro filme que retrata este mesmo tema, Boog conhecerá, no seu caminho, outros animais que lhe mostrarão um lado – até então – desconhecido para ele da vida na floresta e que envolve a cooperação e o companheirismo que existe entre os animais de diferentes espécies.

Com o passar do tempo em “O Bicho Vai Pegar”, uma segunda trama ganha destaque: a que coloca os animais da floresta em confronto com os caçadores que vão ao local em decorrência da abertura da temporada de caça. No melhor estilo “Esqueceram de Mim”, os animais preparam uma série de armadilhas inusitadas para se protegerem da fúria dos caçadores.

Como em todo outro filme de animação, “O Bicho Vai Pegar” se apóia no carisma de seus personagens principais para ganhar a simpatia da platéia. Por outro lado, é muito fácil para nós nos identificarmos com a jornada de Boog. No entanto, o filme não adiciona nenhum elemento novo a uma história que já foi contada de diversas maneiras no cinema – a mais clássica delas seria a viagem de Dorothy por um mundo mágico até voltar para a casa de seus tios no Kansas em “O Mágico de Oz”, filme do diretor Victor Fleming.

Cotação: 5,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, October 21, 2006

Um Cara Quase Perfeito (Man About Town, 2006)


Jack Giamoro (Ben Affleck, numa boa performance) – o protagonista do filme “Um Cara Quase Perfeito”, do ator, diretor e roteirista Mike Binder – tem uma postura bastante reservada. Ele procura evitar qualquer tipo de artifício que o faça revelar seus segredos ou confrontar sua vida e relacionamentos. Portanto, dá para se ter uma idéia do quão difícil deve ter sido para ele decidir participar de um curso de autoconhecimento, ministrado pelo professor Dr. Primkin (John Cleese), um senhor de atitude rude e de economia com as palavras.

A atividade principal que o Dr. Primkin propõe aos seus alunos é a seguinte: cada um deles deve escrever um diário. A cada semana, o grau de dificuldade dessa tarefa vai aumentando, pois o professor espera que seus alunos vão retirando camada por camada até descobrirem a sua real essência – aquilo que escondemos por trás de tudo que fomos acumulando no decorrer de nossa vida.

Analisando por este ponto de vista, podemos dizer que Jack é um homem formado por facetas distintas. Ele foi uma criança e um jovem que teve negado o direito a qualquer tipo de amor – com exceção daquele que ele recebia de sua mãe. Como adulto, Jack se dividiu entre duas personas: a persistente, viva e ativa do trabalho como agente de talentos especializado em administrar as carreiras de roteiristas; e a apática, distante e sem vida que estava presente nos relacionamentos que Jack estabelecia com a sua esposa Nina (Rebecca Romijn) e com o pai doente (Howard Hesseman).

É justamente ao desempenhar a tarefa que lhe foi proposta no curso de autoconhecimento que Jack fará uma grande descoberta a respeito de si mesmo. Nada do que ele fez ou conquistou lhe trouxe felicidade. Ele vai descobrir isso da pior maneira, quando começará a ser chantageado por Barbi Ling (Ling Bai), uma aspirante à roteirista, e seu namorado Jimmy Dooley (Samuel Ball), um aspirante a ator, que tiveram a sua grande chance negada por Jack; e quando Nina revela ao marido que estava tendo um caso com um de seus clientes, Phil Balow (Adam Goldberg).

Para quem estreou num filme de tom ácido e sarcástico sobre a vida familiar nos subúrbios norte-americanos (o ótimo “A Outra Face da Raiva”, com Joan Allen, Kevin Costner e grande elenco), “Um Cara Quase Perfeito” é uma nítida mudança de ares. Não é que o filme não tenha momentos engraçados (eles existem, principalmente depois que Jack sofre um ataque), mas o seu tema principal é a autodescoberta de Jack. Pena que, em alguns momentos de “Um Cara Quase Perfeito”, Mike Binder deixa o filme perder o seu foco e dispersa a atenção da platéia. O mais interessante, então, é prestar uma atenção especial naquilo que Jack aprende: não importa o tamanho do sucesso, do reconhecimento e do dinheiro que você tenha, sempre existe algo novo a aprender. Quer coisa mais batida e sincera do que isso?

Cotação: 5,5

Crédito Foto: Yahoo! Cinema

Wednesday, October 18, 2006

Deu a Louca na Chapeuzinho Vermelho (Hoodwinked, 2005)


Não existe criança na terra que nunca tenha ouvido falar da história da Chapeuzinho Vermelho, o conto de fadas que conta a história da garotinha que pede à mãe para ir visitar a sua vovó e acaba enfrentando um inimigo que pode ser mortal: o lobo-mau. O filme de animação “Deu a Louca na Chapeuzinho Vermelho”, dos diretores Cory Edwards, Todd Edwards e Tony Leech toma como fonte principal, além do famoso conto de fadas, os filmes da série “Shrek”, do diretor Andrew Adamson – que fizeram sucesso em todo mundo ao brincar com as clássicas histórias infantis que nossos pais costumavam nos contar quando éramos pequenos.

O filme começa no ápice do conto, quando a Chapeuzinho Vermelho (dublada por Anne Hathaway na versão original) chega na casa de sua avó (dublada por Glenn Close na versão original) e encontra o Lobo Mau (dublado por Patrick Warburton na versão original) se passando por ela até a chegada providencial do Lenhador (dublado por James Belushi na versão original), o herói da historinha. A partir daí, “Deu a Louca na Chapeuzinho Vermelho” começa a brincar com a fábula ao apresentar seus personagens de uma maneira completamente diferente. A Chapeuzinho Vermelho, na realidade, trabalha como entregadora de doces na firma da avó. A vovozinha, quando não está fazendo doces, tem uma postura completamente hardcore e é praticante de esportes radicais, como snowboard e esqui. O Lobo Mau é um repórter investigativo que não mede esforços para conseguir uma informação. Já o Lenhador, na verdade, é um ator se passando por essa profissão – ele está fazendo uma espécie de laboratório para interpretar um lenhador em um comercial.

No entanto, a história de “Deu a Louca na Chapeuzinho Vermelho” ainda envolve uma estrutura mais complexa do que essa. No momento em que a trama começa a se desenrolar, a platéia fica sabendo que a floresta habitada pelos personagens está sendo atacada por um bandido dos doces. Em conseqüência disso, lojas e fábricas de doces foram à falência. A única empresa que continua funcionando é a da avó de Chapeuzinho Vermelho. Ao se depararem com o cenário do início do filme, os policiais responsáveis pelo caso do bandido dos doces têm quase certeza de que o marginal é um dos quatro presentes na casa da vovó. O roteiro de “Deu a Louca na Chapeuzinho Vermelho” retrata justamente a versão de cada um destes quatro personagens para de qual forma eles foram parar na casa da vovó naquele momento em particular.

Primeira produção em animação do novo estúdio dos irmãos Harvey e Bob Weinstein, a The Weinstein Company, “Deu a Louca na Chapeuzinho Vermelho” aposta numa história que já é garantia de sucesso. O filme inova somente na apresentação de seus personagens. O resto é uma repetição dos clichês dos filmes do gênero: canções pegajosas, conflitos familiares que se resolvem no final e o desfecho apoteótico com todo mundo se dando bem. “Deu a Louca na Chapeuzinho Vermelho” é uma boa diversão para as crianças e para os pais – que poderão reconhecer no filme referências à “Matrix” e “Kill Bill”.

Cotação: 5,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Tuesday, October 17, 2006

O Grito 2 (The Grudge 2, 2006)


O cinema oriental virou a indústria oficial dos filmes de terror, tendo em vista que é dos países de lá que vêm as histórias e os diretores deste gênero. A razão por trás disso não é difícil de entender. A fórmula dos filmes de terror norte-americanos (que coloca atores que estão no auge da idade e da beleza para enfrentar assassinos cheios de traumas pessoais e sofrerem uma desfiguração que mais parece uma punição justamente por eles serem tão joviais e lindos) está saturada. As platéias parecem que estão mais interessadas em filmes que mostram um tipo de terror mais próximo – e é justamente isso que os filmes de terror do oriente oferecem: histórias estreladas por gente comum e que enfrentam um medo que pode vir do simples ato de se assistir um filme ou de se oferecer para trabalhar como enfermeira e cuidar de uma paciente no conforto de sua casa. Estas pessoas comuns enfrentam os assassinos representados pelas doces figuras de uma mãe e seu filho. Ou seja, nos filmes orientais, o medo está em qualquer lugar e a ameaça pode estar mais próxima do que você pensa.

Seqüência do sucesso de 2004, “O Grito 2” traz de volta a mesma equipe de diretor e roteirista do primeiro filme: Takashi Shimizu (também o diretor dos filmes japoneses) e Stephen Susco. A estrela de “O Grito”, Sarah Michelle Gellar, faz uma pequena participação especial como Karen, a estudante de intercâmbio vítima da maldição da casa. O roteiro de “O Grito 2” segue a mesma premissa do primeiro filme (quando uma pessoa morre cheia de mágoa ou raiva, se dá início a uma maldição, que acontece no local em que a pessoa morreu e que irá atingir a todos aqueles que entrarem em contato com esse lugar). A diferença é que, na seqüência, existem três tramas “principais”, ao invés de uma única.

Na primeira trama, acompanharemos a irmã mais nova de Karen, Aubrey (Amber Tamblyn, que interpretou a sobrinha de Naomi Watts que morria vítima da maldição em “O Chamado” e que ficou mais conhecida do público brasileiro como a protagonista da série “Joan of Arcadia”), quando ela viaja para o Japão para visitar a irmã que se encontra internada depois dos acontecimentos retratados em “O Grito”. Após a morte de Karen, Aubrey decide investigar o que aconteceu com a irmã – e, para isso, conta com a ajuda de um repórter chamado Eason (Edison Chen).

Na segunda trama, Vanessa (Teresa Palmer), Miyuki (Misako Uno) e Allison (Arielle Kebbel), três estudantes de um colégio norte-americano no Japão, decidem visitar a casa em que se passou os acontecimentos de “O Grito”. Depois de invadirem a casa e de fazerem uma brincadeira de extremo mau gosto, o que se segue é uma série de acontecimentos estranhos na vida das três garotas.

A terceira trama de “O Grito 2” se passa em Chicago, quando a chegada de uma misteriosa moradora faz com que acontecimentos bizarros comecem a ocorrer em um prédio residencial. A história é vista do ponto de vista de uma família que lida com os seus próprios problemas – a chegada da nova esposa (Jennifer Beals, do clássico dos anos 80 “Flashdance – Em Ritmo de Embalo”) do pai viúvo (Christopher Cousins), que enfrenta a resistência do filho mais novo (Matthew Knight).

Ao que parece, Takashi Shimizu não soube como transportar o roteiro de Stephen Susco para a grande tela. Nenhuma das três tramas tem um desenvolvimento adequado e o suspense só começa a aparecer em “O Grito 2” já nos seus momentos finais, quando o diretor resolve unir as três tramas. O problema é que a conclusão da história é muito corrida, com tudo acontecendo de maneira rápida e atropelada. “O Grito 2” é um filme extremamente pessimista e sem nenhuma possibilidade de final feliz. Pelo jeito, esta maldição nunca terá um fim; portanto é bom que os fãs deste tipo de filme esperem por mais continuações.

Cotação: 3,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Wednesday, October 11, 2006

Muito Gelo e Dois Dedos D´Água (2006)


O ator, diretor e produtor Daniel Filho, com certeza, é uma das figuras mais importantes da retomada do cinema brasileiro. À frente da Globo Filmes, Filho é o responsável pela grande maioria dos filmes nacionais que são lançados anualmente. Muitas vezes, fica a impressão de que ele é uma figura onipresente, pois supervisiona os projetos dos outros, enquanto desenvolve os seus próprios. Só em 2006, Daniel Filho lançou dois filmes: a comédia leve “Se Eu Fosse Você” e, agora, a comédia dark “Muito Gelo e Dois Dedos D´Água”.

O último filme, cujo roteiro é da dupla Alexandre Machado e Fernanda Young (os mesmos que criaram o seriado e o filme “Os Normais”), tem uma história bastante inusitada e que deixa a sensação de que poderia muito bem ser feita pela indústria cinematográfica norte-americana. Na superfície, as irmãs Suzana (Paloma Duarte) e Roberta (Mariana Ximenes) são muito diferentes. A primeira é muito vaidosa, é casada com o médico chato Francisco (Thiago Lacerda) e mãe do pequeno Thiago (Matheus Costa). Já a segunda é desprovida de qualquer vaidade, tem uma postura rebelde e está meio sem rumo na vida. No entanto, as duas irmãs compartilham algo que é muito maior do que elas: o ódio pela avó (Laura Cardoso) que, ao contrário de qualquer outra vovó, castrava qualquer naturalidade e vontade de suas netas.

“Muito Gelo e Dois Dedos D´Água” trata justamente de todos os problemas bizarros que começam a acontecer com Roberta e Suzana a partir do momento em que elas decidem seqüestrar a avó e levá-la para a casa de praia que tantas más lembranças as trazem (era lá que a avó delas fazia todo tipo de “tortura” para transformar as suas netas em algo que elas não queriam). A situação das duas irmãs parece que vai tomar um rumo complicado quando elas transformam o advogado bobalhão Renato (Ângelo Paes Leme) em seu cúmplice e quando Francisco – na sua inocência – decide ir atrás de Suzana com medo da má influência que Roberta possa ter nela.

“Muito Gelo e Dois Dedos D´Água” é um filme surpreendente de diversas maneiras. O filme tem um estilo de humor sarcástico que nunca imaginaríamos que caísse nas mãos de um diretor “conservador” como Daniel Filho. Nesse sentido, “Muito Gelo e Dois Dedos D´Água” representa um passo à frente se compararmos este trabalho com o seu anterior – tendo em vista que Daniel Filho apresenta soluções criativas, como o uso de animações nas seqüências que retratam os traumas de colégio e de infância de Roberta e de Renato. Mas, principalmente, o filme marca o amadurecimento de Mariana Ximenes como atriz. Que ela não tem medo de se entregar aos seus personagens, isso a gente já sabia; mas, na TV, muitas vezes, as performances de Mariana soam artificiais e irritantes. Com Roberta, ela finalmente encontra um tom certo e entrega a melhor performance de sua carreira.

Cotação: 6,0

Crédito Foto: Yahoo! Cinema

Saturday, October 07, 2006

Dália Negra (The Black Dahlia, 2006)


Um dos gêneros clássicos da idade de ouro de Hollywood foi o noir – que alcançou o seu ápice nos anos 40, com filmes como “A Relíquia Macabra”, de John Huston; e cuja figura marcante do ator Humphrey Bogart serviu como a face oficial dos detetives que tinham a ambigüidade como princípio maior de vida e de carreira. O filme “Dália Negra”, do diretor Brian de Palma, tenta recriar o universo desses filmes usando como base o livro de James Ellroy (autor de outro noir recente, “Los Angeles Cidade Proibida”, de Curtis Hanson).

O trailer de “Dália Negra” vendeu o filme como sendo o relato da história da investigação do assassinato de Elizabeth Short (Mia Kirshner, do seriado “The L Word”, que vai ao ar no Brasil pela Warner Channel), uma das muitas aspirantes à estrela que viviam em Hollywood. Na época em que o crime ocorreu, o caso mexeu com a imprensa e causou comoção popular. No entanto, “Dália Negra” se prende mais aos efeitos da investigação deste crime na vida de dois detetives de homicídios.

O mais velho deles, Lee Blanchard (Aaron Eckhart), ou Mr. Fire (a sua alcunha nos ringues de boxe), é um sujeito passional, que não hesitará em fazer o que for necessário para conseguir o que quer e cumprir o seu papel – seja como boxeador, detetive ou marido. O mais novo deles, Dwight “Bucky” Bleichert (Josh Hartnett), ou Mr. Ice (o apelido que ele usava nos ringues de boxe), é um cara mais racional e analítico, do tipo que mede bem os seus passos antes de agir.

“Dália Negra” retrata todo o conflito que vai existir entre eles dois no decorrer da investigação do assassinato de Elizabeth Short. O conflito deles irá ultrapassar os limites do ringue (os dois irão lutar para conseguir mais benefícios para os policiais) e chegará até o trabalho deles e, mais tarde, vai abranger também o lado pessoal, quando os dois começarão a brigar pela atenção – e pelo amor – de uma mesma mulher, Kay Lake (Scarlett Johansson).

Lee e Bucky serão, portanto, os veículos perfeitos para que a platéia possa perceber todos os conflitos clássicos dos filmes noir: a lei X o arbítrio, a inocência X a corrupção, o mundo selvagem X o mundo primitivo. Todos os personagens de “Dália Negra” têm características ambíguas e podem ser bons ou maus, mocinhos ou vilões (às vezes eles são tudo isso ao mesmo tempo). No final, um deles tem que tomar iniciativa e sair de sua passividade – e é essa a grande transformação que a investigação do assassinato de Elizabeth Short vai trazer para um dos detetives.

"Dália Negra” é um filme muito bom do ponto de vista estético. A fotografia de Vilmos Zsigmond é boa (o filme não é em preto e branco, como a maioria dos clássicos noir, mas consegue criar – com a ajuda da trilha de Mark Isham – um acentuado clima de suspense). A direção de arte (o design da produção ficou a cargo de Dante Ferretti, o colaborador habitual de Martin Scorsese) e os figurinos de Jenny Beavan reconstroem com perfeição uma época. O único problema de “Dália Negra” é o roteiro de Josh Friedman. Algumas cenas do filme eram dispensáveis e acabam prejudicando o andamento da película – o que deixa a impressão, em certos momentos, de que “Dália Negra” é um filme lento.

Cotação: 6,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Tuesday, October 03, 2006

Minha Super Ex-Namorada (My Super Ex-Girlfriend, 2006)


Normalmente, o cinema retrata os super-heróis em filme densos e que, apesar de possuírem alguns momentos divertidos, sempre mostram os heróis como seres extremamente divididos e angustiados entre a persona que têm para o público em geral e a personalidade que assumem para aqueles a quem realmente ama. O conflito maior que estes heróis assumem, geralmente, é o de ter que esconder sua verdadeira condição de amigos, parentes e amores. “Minha Super Ex-Namorada”, filme do diretor Ivan Reitman, quer retratar um lado mais bem-humorado do herói, quando ele não tem que abdicar de sua felicidade.

Assim como muitos outros heróis que conhecemos, a G-Girl (Uma Thurman) passa os seus dias atenta a tudo aquilo que está acontecendo à sua volta e pronta para resolver qualquer emergência. Ela possui um nome (Jenny Johnson) e um trabalho (assistente do curador de uma galeria) para o resto do mundo. No entanto, uma característica importante a difere dos outros heróis: Jenny busca a sua felicidade e tem namoros como se fosse um ser humano qualquer.

Jenny acha que encontrou o amor verdadeiro na pessoa de Matt Saunders (Luke Wilson), um arquiteto que já sofreu muito nas mãos das mulheres. Ela abre sua vida e sua verdadeira identidade para ele. Entretanto, Matt não tem tanta certeza de que Jenny é o seu grande amor. A desconfiança vira uma certeza quando ele chega à conclusão de que Jenny é ciumenta, carente e pegajosa – por quê nós mulheres sempre acabamos retratadas assim em filmes?

“Minha Super Ex-Namorada” é um filme engraçado enquanto explora a dinâmica do relacionamento entre um homem comum e uma mulher com superpoderes. No entanto, o filme acaba caindo para um lado desagradável quando o relacionamento entre Jenny e Matt acaba e ela se transforma em uma ex-namorada obsessiva do tipo que vai fazer de tudo para evitar que Matt reencontre o amor e a felicidade – de novo, não custa perguntar: por quê nós mulheres sempre acabamos retratadas assim em filmes?

Apesar de ser dirigido com segurança por Ivan Reitman, o pior elemento de “Minha Super Ex-Namorada” – junto com o roteiro de Don Payne – acaba sendo o elenco do filme. Luke Wilson não tem carisma, talento ou pinta de galã. Chega a ser constrangedor ter que assistir – em certos momentos – uma atriz do porte de Uma Thurman fazendo cenas imbecis. O filme ainda sofre o preço de colocar de escanteio o talento de dois excelentes comediantes: Eddie Izzard (que interpreta o Professor Bedlam, o maior vilão da G-Girl) e Anna Faris (que interpreta Hannah Lewis, a colega de trabalho de Matt e por quem Jenny sente enormes ciúmes). Isso parece ser comum na carreira de Faris, o que nos faz pensar: quando será que ela vai ter um papel da altura de seu talento?

Cotação: 3,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Monday, October 02, 2006

A Casa do Lago (The Lake House, 2006)


Existem quatro elementos que dão suporte à narrativa – seja ela literária ou cinematográfica: o tempo, o espaço, o narrador e o personagem. Desses elementos, dois são muito importantes: o tempo e o espaço. A narrativa cinematográfica provou que esses dois elementos são inseparáveis. É justamente a relação entre o tempo e o espaço que será o eixo principal do filme “A Casa do Lago”, do diretor argentino Alejandro Agresti.

O roteiro criado por David Auburn se passa em dois momentos distintos. Em 2004, o arquiteto Alex Wyler (Keanu Reeves) compra uma casa no lago (a qual possui uma arquitetura arrojada e moderna, que contrasta muito bem com a quietude do local onde está localizada). A residência foi construída pelo pai dele (Christopher Plummer), com quem Alex tem uma relação bastante delicada, em homenagem à sua esposa (e mãe de Alex). Já em 2006, a médica Kate Forster (Sandra Bullock) se muda para Chicago depois de passar um tempo morando na casa do lago. A residência, para Kate, representa a segurança e o conforto longe do mundo que ela encontra na sua profissão, a qual a impede de ter uma vida pessoal e de se aproximar das pessoas que querem lhe oferecer amor e proteção.

O tempo e o espaço na história de “A Casa do Lago” se fundem a partir do momento em que Alex e Kate começam a se corresponder. Essa troca de cartas permite aos dois se conhecerem melhor e fazem com que eles se apaixonem. Por mais que seja impossível a história de amor deles acontecer (afinal, eles estão separados por um período de dois anos), é notável que a conexão que se estabelece entre Kate e Alex é única, do tipo que só acontece uma vez na vida da gente.

“A Casa do Lago” dialoga muitas vezes com a linguagem literária – que faz muito bem o jogo entre o tempo e o espaço. Em muitos momentos, fica a sensação de que o roteiro criado por David Auburn com base no roteiro do filme “Il Mare” ficaria melhor num livro. A história desenvolvida por Auburn envolve a platéia (graças também à boa química que existe entre Keanu Reeves e Sandra Bullock), mas o roteiro tem sérios problemas de construção. O tempo todo a platéia tem quase a certeza de que o desfecho de “A Casa do Lago” será um; mas a partir do momento em que o roteirista permite que seus personagens possam influir no tempo e no espaço de forma a ficarem juntos, o filme começa a se perder. Em conseqüência disso, o final de “A Casa do Lago” soa forçado e nada natural.

Cotação: 4,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies