Wednesday, April 30, 2008

Novo Trailer de "The Incredible Hulk"

Os fãs de filmes de super-heróis, que estão muito agitados com a estréia de "Homem de Ferro", do diretor Jon Favreau, nesta semana, nas salas de cinema do Brasil, possuem mais motivos para comemorar. A Marvel revelou na data de hoje o segundo trailer oficial do filme "O Incrível Hulk", do diretor Louis Leterrier, e com o ator Edward Norton na pele do monstro verde.

Se o primeiro trailer oficial do filme deixou algumas dúvidas nas mentes dos fãs mais ardorosos, essa segunda versão, com certeza, causa uma impressão bem mais animadora - especialmente no que diz respeito ao aspecto dos efeitos especiais. Além do trailer, foram divulgadas hoje novas imagens do filme pelo site Superhero Flix.

Prestem atenção para as várias cenas do trailer que mostram passagens filmadas na Favela de Tavares Bastos, no Rio de Janeiro.



"O Incrível Hulk" estréia mundialmente no dia 13 de Junho.

Um Amor de Tesouro (Fool's Gold, 2008)

Em 2005, o diretor John Stockwell lançou um filme chamado “Mergulho Radical”. No mar do Caribe, um casal de mergulhadores chamado Jared (Paul Walker) e Sam (Jessica Alba) encontram um avião afundado, o qual esconde um tesouro e uma carga de drogas. Com patrocinadores no seu encalço, além dos traficantes que são donos daquilo que eles também descobriram no fundo do mar, se tem o desenvolvimento de uma trama que mistura aventura, romance e ação. O longa “Um Amor de Tesouro”, do diretor Andy Tennant, guarda muitas semelhanças com a obra dirigida por John Stockwell. A diferença é que a narrativa se passa nas praias da Flórida.

O casal recém-divorciado Benjamin Finnegan (Matthew McConaughey, que está bem à vontade em várias cenas em que aparece sem camisa – um figurino habitual que ele adorna fora das telas) e Tess (Kate Hudson) se reúnem para um último projeto a dois: a descoberta do local onde está escondido o “Dote da Rainha”, tesouro que seria entregue pelo rei espanhol Felipe II à sua jovem esposa e que desapareceu, misteriosamente, no fundo do mar, após toda a frota espanhola ser derrubada por um furacão.

Para colocarem seu plano em prática, Finn e Tess contarão com o bem-vindo patrocínio do milionário Nigel Honeycutt (Donald Sutherland, com um bronzeado artificial totalmente constrangedor) e da sua filha Gemma (Alexis Dziena, completamente hilária), bem como a ajuda do parceiro Alfonz (Ewen Bremmer). No entanto, eles ainda terão que lidar com a concorrência de Moe Fitch (Ray Winstone), um dos maiores especialistas na caça ao tesouro, e do rapper linha dura Bigg Bunny (Kevin Hart), o ex-financiador de Finn, a quem ele deve uma quantia enorme.

Filmado nas belas praias da Austrália, é justamente a paisagem natural um dos pontos mais altos de “Um Amor de Tesouro”. Além disso, o diretor Andy Tennant (de obras como “Hitch – Conselheiro Amoroso”, “Doce Lar” e “E Agora, Meu Amor?”) aposta na química existente entre Matthew McConaughey e Kate Hudson, que se deram muito bem na comédia romântica “Como Perder um Homem em 10 Dias”. No entanto, no final, o que acaba marcando mais o longa é a mistura entre comédia, romance e aventura, a qual – neste caso – deu muito certo.

Cotação: 5,8

Um Amor de Tesouro (Fool's Gold, EUA, 2008)
Diretor(es): Andy Tennant
Roteirista(s): John Claflin, Daniel Zelman, Andy Tennant
Elenco: Matthew McConaughey, Kate Hudson, Donald Sutherland, Alexis Dziena, Ewen Bremner, Ray Winstone, Kevin Hart, Malcolm-Jamal Warner, Brian Hooks, David Roberts, Michael Mulheren, Adam LeFevre, Rohan Nichol, Roger Sciberras, Elizabeth Connolly

Tuesday, April 29, 2008

No Vale das Sombras (In the Valley of Elah, 2007)

O título original de “No Vale das Sombras”, do diretor Paul Haggis, se baseia em uma história do Antigo Testamento. Golias era um gigante imbatível. Ele desafiou o exército israelense a enviar o seu melhor homem para lutar com ele, mas ninguém se prontificava para atender a missão. Davi, um rapaz comum, decidiu enfrentar o gigante. Munido de uma armadura e de um estilingue, derrubou Golias com uma pedra só. A história de Davi e Golias fala sobre a superação dos medos e, de alguma maneira, todos os personagens deste filme também estão diantes de uma situação em que têm que vencer seus maiores temores.

Temos os soldados norte-americanos (Wes Chatham, Jake McLaughlin, Mehcad Brooks, Jonathan Tucker e Victor Wolf) que servem no Iraque e que têm que encontrar uma maneira para sobreviver (física e mentalmente) ao local. Encontramos a Detetive Emily Sanders (Charlize Theron, numa contida – e eficiente – atuação), que é mãe solteira do pequeno David (Devin Brochu), e tem que lutar contra o preconceito dos colegas de trabalho, que a designam para casos considerados ridículos. E nos deparamos com Hank Deerfield (Tommy Lee Jones, numa performance que lhe rendeu uma indicação ao Oscar 2008 de Melhor Ator), o esposo de Joan (Susan Sarandon), um militar aposentado e que tem que lidar com a culpa que sente pelo destino que tiveram as vidas de seus dois únicos filhos homens, os quais seguiram a mesma carreira do pai.

A trama de “No Vale das Sombras”, que foi escrita por Paul Haggis e Mark Boal, segue a investigação que é feita por Hank Deerfield e pela Detetive Emily Sanders – com a cooperação parcial do Tenente Kirklander (Jason Patric), da polícia do exército – para descobrir a verdade sobre o desaparecimento do filho caçula de Deerfield, Mike (o já citado Jonathan Tucker), que acabara de regressar do Iraque. A partir do inquérito, vamos mergulhar nos dramas pessoais de cada um dos grupos mencionados no segundo parágrafo do texto e passaremos a entender de que forma eles irão se colocar no novo mundo que se apresenta a eles.

Antes de ganhar a fama mundial com os roteiros de filmes como “Crash – No Limite” e “Menina de Ouro”, Paul Haggis era um profissional cujos créditos mais conhecidos incluíam textos para seriados de TV como “Family Law”, “L.A. Law” e “Walker: Texas Rangers”. De alguma maneira, a estrutura narrativa de “No Vale das Sombras” lembra muito a de um episódio de um programa de temática policial, como “Without a Trace”, “Cold Case” ou “Law & Order”. Você tem a contextualização, a descoberta das lacunas no caso, a exploração das vidas pessoais dos envolvidos e, finalmente, o desfecho do evento com as eventuais cenas que mostram o início da continuação da vida. O filme poderia, por isso mesmo, ser uma obra que não marcasse muito, mas acontece justamente o contrário. “No Vale das Sombras” deixa uma impressão definitiva em quem o assiste e isto é mérito exclusivo do roteiro. Não importa quem seja seu parceiro de redação, Paul Haggis consegue encadear as palavras de forma que elas nos emocionam e nos envolvem naquilo que estamos assistindo.

Cotação: 9,0

No Vale das Sombras (In the Valley of Elah, EUA, 2007)
Diretor(es): Paul Haggis
Roteirista(s): Paul Haggis, Mark Boal
Elenco: Tommy Lee Jones, Charlize Theron, Joseph Bertot, Brent Briscoe, Devin Brochu, Josh Brolin, Mehcad Brooks, Chris Browning, Wes Chatham, Barry Corbin, Wayne Duvall, Frances Fisher, James Franco, Rick Gonzalez, Loren Haynes

Monday, April 28, 2008

De Olho no Primetime Emmy Awards 2008 - "The Closer"

As indicações para o 60th Annual Primetime Emmy Awards 2008 só serão anunciadas no dia 17 de Julho, porém muito se pode ser discutido sobre a edição desse ano. Por exemplo: as mudanças nas regras do prêmio (foi criada uma nova categoria: a de melhor apresentador de um programa de competição ou reality show e atores e atrizes de programas de variedades, como o “Saturday Night Live”, passam agora a concorrer nas categorias de séries de comédia) ou de que forma a greve de roteiristas irá influenciar a lista de indicados. Para responder a esta pergunta, alguns apostam em uma abertura maior da Academia de Artes e Ciências Televisivas para os seriados veiculados pela TV a Cabo (como “Mad Men”, “Damages” – programa sobre o qual falaremos em breve aqui no Cinéfila por Natureza –, “The Wire”, dentre outras).

O canal TNT, que de acordo com o blogueiro Tom O’Neil, tem sido um dos mais originais e agressivos concorrentes do Emmy Awards, liberou nesta semana a sua caixa oficial para o FYC (For Your Consideration) aos votantes da Academia. Nela, constam programas como o seriado “Savage Grace” (estrelado por Holly Hunter e que estréia em Maio, no Brasil, pelo canal Fox) e a minissérie “A Companhia” (dos atores Chris O’Donnell, Alfred Molina, Michael Keaton, entre outros).

No entanto, algumas das maiores chances do canal no Primetime Emmy Awards 2008 se encontram no seriado “The Closer”, cuja terceira temporada foi uma das melhores a serem veiculadas na temporada 2007-2008. Criada por James Duff, o programa segue a unidade de homicídios prioritários da polícia de Los Angeles (LAPD). Liderada pela Deputy Chief Brenda Leigh Johnson (Kyra Sedgwick), a equipe, além de desvendar crimes, tem que se preocupar com os conflitos internos, especialmente com os policiais da delegacia de homicídios.

Para submeter o seriado na categoria de Best Drama Series, a TNT fez um excelente trabalho ao escolher quatro dos melhores episódios da terceira temporada do programa. São eles: “Homewrecker” (o season-premiere em que a equipe de Brenda tinha que investigar um triplo homicídio), “Ruby” (numa corrida contra o tempo, a equipe de Brenda tem que ir atrás de uma menina de oito anos que desapareceu misteriosamente e que pode estar nas mãos de um criminoso sexual – se existir justiça no Emmy 2008, Heath Freeman tem que ser indicado como Guest Actor in a Drama Series por sua performance nesse episódio), “Manhunt” (em uma outra corrida contra o tempo, a equipe de Brenda tem que desvendar a identidade de um serial killer antes que ele faça uma nova vítima) e “Til Death Do Us Part” (episódio dividido em duas partes em que a equipe de Brenda tem que elucidar o assassinato de um famoso advogado de divórcios).

Além de depositarem altas esperanças numa possível indicação de “The Closer” na categoria de Best Drama Series, o TNT também aposta alto numa vitória de Kyra Sedgwick na categoria de Lead Actress in a Drama Series. Na terceira temporada de “The Closer”, os roteiristas foram super generosos com a atriz, que possui vários excelentes episódios para escolher. A maior concorrência dela parece ser a aclamada Glenn Close por seu trabalho na primeira temporada de “Damages” (por ele, já venceu o Globo de Ouro 2008 de Melhor Atriz em Série de Drama), mas já dissemos aqui – e não custa nada repetir: Kyra Sedgwick é a melhor atriz em atividade na televisão norte-americana e a maneira como ela criou e interpreta a personagem Brenda Leigh Johnson é digna de todas as honras que possam ser conquistadas.

O Cinéfila por Natureza vai começar a divulgar, aos poucos, seus palpites para as categorias principais do 6oth Annual Primetime Emmy Awards. Vamos começar com o que, acreditamos, serem as maiores chances de “The Closer” de receber indicações na premiação:

Best Drama Series
Lead Actress in a Drama Series
– Kyra Sedgwick
Best Directing in a Drama Series – Kevin Bacon pelo episódio “Blindsided”
Best Writing in a Drama Series – Mike Berchem e James Duff pelo episódio “Manhunt”

Friday, April 25, 2008

O Poder da Esperança (Music Within, 2007)

Quando era ainda uma criança, Richard Pimentel (Ridge Canipe) escutou de um professor uma frase famosa que dizia que muitas pessoas passam pela vida sem encontrar a sua verdadeira música. Por essa afirmação, devemos entender que falta a muita gente descobrir a sua verdadeira voz. A de Richard lhe foi exposta muito cedo: ele tem o dom da palavra. Um ótimo orador, especialmente de discursos que ele decorava pelo rádio, Richard ainda precisava de muita experiência de vida para poder realmente executar algo que fizesse a diferença na vida das pessoas.

De alguma maneira, ele não conseguia transportar as agruras de sua vida pessoal – a mãe (Rebecca de Mornay) vive num hospício e o pai (Clint Jung) morreu cedo – para os discursos que fazia. Isso só irá acontecer quando ele (agora interpretado por Ron Livingston) volta do Vietnã acometido por uma doença que o fez perder a audição e ficar permanentemente com um zumbido no ouvido. Através da amizade que ele desenvolve com Art Honeyman (Michael Sheen, ótimo), um homem inteligente mas portador de paralisia cerebral, bem como com outros veteranos de guerra, Richard decide dedicar a sua vida à luta pelos direitos dos deficientes, especialmente pela inclusão deles em uma vida plena na sociedade – com emprego, lazer, entre outras coisas.

Baseado em uma história real, “O Poder da Esperança”, filme do diretor Steven Sawalich, conta uma história bastante inspiradora. O filme tem uma ótima trilha sonora, a qual embala as diferentes fases da vida de Richard; porém conta com um roteiro que, em alguns momentos, pega pesado com as cenas que retratam alguns dos pontos mais difíceis vividos pelo personagem principal. De qualquer maneira, “O Poder da Esperança” é um filme que marca justamente pela bela mensagem que quer passar.

Cotação: 5,0

O Poder da Esperança (Music Within, 2007)
Diretor:
Steven Sawalich
Roteiro: Bret McKinney, Mark Andrew Olsen, Kelly Kennemer
Elenco: Ron Livingston, Melissa George, Michael Sheen, Yul Vasquez, Rebecca de Mornay, Hector Elizondo, Leslie Nielsen, Ridge Canipe, Paul Michael, Clint Jung, John Livingston

Thursday, April 24, 2008

Enterrem Meu Coração na Beira do Rio (Bury My Heart at Wounded Knee, 2007)

Toda a trama de “Enterrem Meu Coração na Beira do Rio”, telefilme do diretor Yves Simoneau, se baseia em um fato da história dos Estados Unidos. No século XIX, os índios da tribo Sioux eram um dos poucos a resistirem e se recusavam a abandonar as Black Hills, local que eles consideravam ser sagrado. No entanto, a insistência do homem branco em se apoderar da localidade se intensifica quando, em meio a uma grande depressão econômica, é descoberta uma valiosa mina de ouro por lá.

Após essa contextualização histórica, o roteiro de Daniel Giat (tendo como base o livro de Dee Alexander Brown) se divide em duas linhas narrativas. A primeira segue o grande cacique Touro Sentado (August Schellenberg), que, com sua tribo Sioux, abandona as Black Hills e vai para o Canadá. A segunda retrata a ocidentalização de Ohiyesa (Chevez Ezaneh), um membro da tribo Sioux, que recebe toda a sua educação em uma escola do Estado de Illinois e vira o médico Charles Eastman (Adam Beach), o símbolo maior da política de adaptação dos índios desenvolvida pelo Senador Henry Dawes (Aidan Quinn).

A parte mais interessante de “Enterrem Meu Coração na Beira do Rio” acontece quando estes três personagens que entraram para a história norte-americana se encontram nas Black Hills, cada um desempenhando uma função diferente. Foi no dia 29 de Dezembro de 1890, quando as tropas do governo norte-americano, após várias tentativas frustradas de ocidentalização indígena ou de fazer com que a tribo aceitasse os termos de um acordo que não lhes beneficiava em nada, foi a responsável por um dos maiores massacres vistos no país, quando centenas de homens, mulheres e crianças indígenas foram mortas.

Indicado a 17 Primetime Emmy Awards 2007, “Enterrem Meu Coração na Beira do Rio” ganhou 6 estatuetas, incluindo a de Melhor Filme Produzido Para Televisão. Cada um desses prêmios foi merecido, já que a parte técnica do telefilme é maravilhosa. O diretor Yves Simoneau nos entrega uma obra de belas imagens e que faz uma discussão muito interessante sobre a defesa de valores e sobre não se entregar. Pena que o roteiro, mesmo passando uma mensagem necessária, seja tão cheio de falhas.

Cotação: 6,9

Enterrem Meu Coração na Beira do Rio (Bury My Heart at Wounded Knee, EUA, 2007)
Diretor(es):
Yves Simoneau
Roteirista(s): Daniel Giat (com base no livro de Dee Alexander Brown)
Elenco: Aidan Quinn, Adam Beach, August Schellenberg, J.K. Simmons, Eric Schweig, Wes Studi, Colm Feore, Gordon Tootoosis, Fred Dalton Thompson, Anna Paquin, Laura Bachynski, Wayne Charles Baker, Tom Carey, Gerald Tokala Clifford, Chris Diamantopoulos

Wednesday, April 23, 2008

Valente (The Brave One, 2007)

Bem no início de “Valente”, do diretor Neil Jordan, Erica Bain (Jodie Foster, numa performance que lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro 2008 de Melhor Atriz em Filmes Dramáticos), que apresenta um programa cujo assunto principal são as caminhadas que ela faz pelas ruas de Nova York, fala a respeito de sua falta de costume com aquele mundo caótico. Ela sente falta de um tempo que já acabou. No entanto, pouco tempo depois disso, Erica é uma nova mulher, alguém que consegue ficar alheio a – quase – todos os sons advindos dos becos da cidade aonde mora.

A mudança em Erica se dá em decorrência de um ato de violência. Ela e o noivo David Kirmani (Naveen Andrews, do seriado “Lost”) são espancados até perderem a consciência. Ele acaba falecendo, enquanto ela fica em coma por três semanas. Ao acordar, Erica tenta se acostumar novamente ao mundo a seu redor, mas ao mesmo tempo sente uma vontade enorme de preencher o vazio que ficou em sua vida após a morte de David.

Existem diversas maneiras para continuar a vida após algo como o que Erica passou. Não é que ela passa a ser alguém intolerante. Na realidade, Erica está disposta a não passar mais nunca por este tipo de sofrimento. É por esta razão que, ao se deparar novamente com outros atos de violência, ela reaja – não com o objetivo de fazer justiça com as próprias mãos, mas sim para encontrar um novo significado para a sua existência, já que Erica acredita que não poderá nunca mais voltar a ser a mesma pessoa que foi antes da morte de David.

O roteiro de Roderick Taylor, Bruce A. Taylor e Cynthia Mort nos dá elementos importantes para compreender a nova fase de Erica. É fundamental aqui a maneira como os três roteiristas desenvolvem o relacionamento que se estabelece entre ela e o detetive Mercer (Terrence Howard, numa ótima atuação). O contraste entre o que é considerado correto e o que é visto como errado no conceito do que é legal e do que é justo é um dos pontos mais altos – e de reflexão – de “Valente”.

Se fosse um filme brasileiro, “Valente” seria uma obra considerada fascista e Erica Bain viraria uma heroína a la Capitão Nascimento. Como é um longa norte-americano, deve ser interpretado sob o ponto de vista daquele país. Personagens como Erica Bain teriam feito sucesso nos anos 70, ao lado de tipos como Dirty Harry e Paul Kersey. No entanto, nos dias atuais, uma história como a retratada pelo filme de Neil Jordan é quase que uma afronta. Os norte-americanos acreditam piamente na lei e na justiça. Talvez, por isso, “Valente” tenha sido solenemente ignorado no país.

Cotação: 8,2

Valente (The Brave One, EUA, Austrália, 2007)
Diretor(es): Neil Jordan
Roteirista(s): Roderick Taylor, Bruce A. Taylor, Cynthia Mort
Elenco: Jodie Foster, Terrence Howard, Nicky Katt, Naveen Andrews, Mary Steenburgen, Ene Oloja, Luis Da Silva Jr., Blaze Foster, Rafael Sardina, Jane Adams, Gordon MacDonald, Zoe Kravitz, John Magaro, Victor Colicchio, Jermel Howard

Tuesday, April 22, 2008

Super-Herói - O Filme (Superhero Movie, 2008)

Apesar de enfrentarem vilões bastante perigosos e de terem a grande responsabilidade de salvar o mundo, os super-heróis sabem também ter um bom senso de humor. Esse é o caso, por exemplo, da dupla Johnny Storm (Chris Evans) e Ben Grimm (Michael Chiklis) dos filmes do “Quarteto Fantástico” e do Peter Parker (Tobey Maguire) versão emo visto em “Homem-Aranha 3”. “Super-Herói – O Filme”, do diretor e roteirista Craig Mazin, tem o objetivo de fazer uma aventura cômica parodiando alguns dos super-heróis mais populares do cinema, como “X-Men” e os já citados “Quarteto Fantástico” e “Homem-Aranha”.

Por falar no Spidey, é justamente ele – e seu alter-ego – o motivo maior de inspiração por trás do roteiro escrito por Craig Mazin. Rick Riker (Drake Bell) é um típico jovem de 16/17 anos. Órfão de pai e mãe, ele é criado pelos tios (Leslie Nielsen e Marion Ross). Apaixonado pela garota mais popular da escola (Sara Paxton), que nem lhe dá bola, Rick é ridicularizado todos os dias por aqueles que, na escala social do colegial, são considerados os mais populares. Em uma visita escolar a um laboratório, ele é picado por uma libélula modificada geneticamente e, em decorrência disso, se transforma no Libélula, um super-herói forte e muito valente.

“Super-Herói – O Filme” não seria um longa do gênero se não tivesse um grande vilão e ele está na figura do dono do laboratório visitado pela turma de Rick Riker. Lou Landers (Christopher McDonald), não por acaso, é o tio do maior inimigo (Ryan Hensen, do seriado “Veronica Mars”) de Rick; e, após passar por uma experiência científica, se transforma no Ampulheta, vilão que tem como propósito maior alcançar a imortalidade – para isso, ele tem que matar um certo número de pessoas.

É importante frisar que, apesar de ser uma paródia, “Super-Herói – O Filme” tem muitos elementos que o diferem de filmes como “Espartalhões” e “Uma Comédia Nada Romântica”. A começar pelo roteiro do filme, que tem uma estrutura narrativa bem definida, sem espaços para aquelas gags que tanto irritam. No entanto, a principal delas é a presença de um elenco que é formado por atores com o mínimo de talento para a atuação. Você vê o esforço deles em apresentar tudo o que vemos na tela – “Super-Herói – O Filme”, no fundo, é uma obra muito sem-graça – sem parecer que estão fazendo algo que, na realidade, é ridículo.

Cotação: 1,5

Super-Herói: O Filme (Superhero Movie, EUA, 2008)
Diretor(es): Craig Mazin
Roteirista(s): Craig Mazin
Elenco: Drake Bell, Sara Paxton, Christopher McDonald, Leslie Nielsen, Kevin Hart, Marion Ross, Ryan Hansen, Keith David, Brent Spiner, Robert Joy, Jeffrey Tambor, Robert Hays, Nicole Sullivan, Sam Cohen, Tracy Morgan

Monday, April 21, 2008

Apenas uma Vez (Once, 2007)

Quando subiram no palco do Kodak Theater, no dia 24 de Fevereiro de 2008, para receberem o Oscar de Melhor Canção Original pela belíssima “Falling Slowly”, a dupla Glen Hansard e Marketa Irglova deram um discurso inspirador sobre lutar pelos seus sonhos e, principalmente, sobre a importância de se fazer arte. Tudo o que eles disseram naquela noite pode ser tomado como uma extensão dos temas tratados no filme que eles estrelaram: “Apenas Uma Vez”, do diretor e roteirista John Carney.

O longa foi totalmente rodado em Dublin, capital da Irlanda, e segue e trajetória de um homem (Hansard) que trabalha na pequena loja de consertos do pai e que, nas horas livres, toca seu violão nas ruas da capital irlandesa em busca de ganhar alguns trocados. Em uma noite, sua platéia solitária é formada por uma jovem imigrante tcheca (Irglova) e este encontro irá mudar a vida dos dois.

O roteiro de John Carney utiliza um recurso diferente para explorar as personalidades de seus dois personagens principais. Sabemos o essencial sobre a vida pessoal do homem e da jovem, mas eles se desnudam por completo para nós ao exporem seus sentimentos mais íntimos através da linguagem da música – é aí que entram, além da já citada “Falling Slowly”, canções como “When Your Mind’s Made Up” e “If You Want Me”, entre outras.

Numa época em que os filmes independentes têm cada vez mais cara de produções caprichadas, “Apenas Uma Vez” é um sopro de originalidade e uma volta ao conceito de filmes independentes como forma de experimentação da linguagem cinematográfica. A preocupação do diretor e roteirista John Carney com elementos estéticos como a fotografia, por exemplo, é zero. O grande charme de seu filme é a química genuína existente entre Glen Hansard e Marketa Irglova e as músicas que são resultado do encontro dos dois. E são justamente estes dois elementos que fazem de “Apenas Uma Vez” um dos filmes mais belos e comoventes de 2007.

Cotação: 9,7

Apenas Uma Vez (Once, Irlanda, 2006)
Diretor(es): John Carney
Roteirista(s): John Carney
Elenco: Glen Hansard, Markéta Irglová, Hugh Walsh, Gerard Hendrick, Alaistair Foley, Geoff Minogue, Bill Hodnett, Danuse Ktrestova, Darren Healy, Mal Whyte, Marcella Plunkett, Niall Cleary, Wiltold Owski, Krzysztos Tiotka, Tomek Glowacki

Friday, April 18, 2008

Um Plano Brilhante (Flawless, 2007)

Existe um certo tipo de filme que nunca envelhece e é aquele que retrata histórias de planos de um roubo que deve ser considerado perfeito. Só no primeiro semestre de 2008, as salas de cinema dos Estados Unidos se viram diante de dois filmes dessa espécie. O primeiro foi “Um Plano Brilhante”, do diretor Michael Radford. O segundo foi “Efeito Dominó”, de Roger Donaldson, filme que recebeu muitos elogios da crítica especializada. Os brasileiros, desde a semana passada, já podem conferir uma dessas obras: a de Radford, que se passa na década de 60, em Londres.

O roteiro de Edward Anderson oferece uma característica em comum aos dois personagens principais de “Um Plano Brilhante”: eles são pessoas que – por casualidades do destino – não conseguiram desenvolver plenamente todo o seu potencial. Em uma época altamente machista, Laura Quinn (Demi Moore, na melhor performance desde que retomou sua carreira) possui um cargo de destaque na London Diamond Corporation, uma empresa especializada na venda de diamantes. No entanto, ela sempre é preterida na hora das promoções para homens menos qualificados que ela.

Já o Sr. Hobbs (Michael Caine, ótimo) teve que se dedicar ao cuidado da esposa doente e abandonou a oportunidade que teve de seguir a carreira para a qual foi treinado. Hobbs trabalha como faxineiro na London Diamond Corporation e sabe de toda a sujeira que está escondida entre as paredes de cada sala da empresa. Quando ele revela para Laura que ela será demitida em breve, arranja uma cúmplice para seu plano: roubar um punhado de diamantes da empresa na qual trabalham.

Se você acha que o planejamento e a execução do roubo são as partes mais legais de “Um Plano Brilhante”, não perde por esperar. O diretor Michael Radford e o roteirista Edward Anderson nos reservam surpresas interessantes a partir do momento em que a investigação do roubo entra em cena. De alguma forma, a presença do investigador Finch (Lambert Wilson) consegue revelar ainda mais da podridão existente na London Diamond Corporation e das motivações por trás dos atos cometidos pelos dois personagens principais.

Com “Um Plano Brilhante”, o diretor Michael Radford envereda, pela primeira vez, nos meandros de um filme nesse estilo. E ele se sai muito bem no trabalho – especialmente porque contou com uma equipe técnica inspirada, destacando-se a direção de arte (de Sophie Becher e Christina Schaffer), os figurinos e a trilha de Stephen Warbeck. A única vez em que Radford escorrega é no seu final, que é um tanto demagógico – aqui, o diretor repete o mesmo erro visto em um outro filme sobre “os melhores amigos das mulheres”, “Diamante de Sangue”, de Edward Zwick.

Cotação: 7,5

Um Plano Brilhante (Flawless, Inglaterra, Luxemburgo, 2007)
Diretor(es): Michael Radford
Roteirista(s): Edward Anderson
Elenco: Joss Ackland, Jonathan Aris, Michael Caine, Simon Day, Josef d'Bache-Kane, Constantine Gregory, David Henry, Kim Hermans, Nicholas Jones, Demi Moore, Derren Nesbitt, Nathaniel Parker, Steve Preston, Ben Righton, Peter Rnic

Thursday, April 17, 2008

Os Indomáveis (3:10 to Yuma, 2007)

A campanha de marketing de “Os Indomáveis”, do diretor James Mangold, era bem interessante e nos dava a impressão de que o filme faria pelo gênero de western o mesmo que “Moulin Rouge – Amor em Vermelho!” fez pelos musicais. Ledo engano. Na sua essência, “Os Indomáveis” é uma típica obra de faroeste, com tudo aquilo que o gênero tem direito: mocinhos, vilões, honestidade, honra, caráter e coragem.

O cansaço está estampado no rosto de Dan Evans (Christian Bale, excelente). Impedido de trabalhar da maneira que gostaria por limitações físicas (é manco, devido a um ferimento de guerra) e climáticas (a região em que vive está sendo assolada por uma seca violenta), ele perdeu a paciência. Endividado e louco para oferecer uma vida mais digna à sua família – a qual é formada pela esposa Alice (Gretchen Mol) e pelos filhos William (o ótimo Logan Lerman, do seriado prematuramente cancelado “Jack & Bobby”) e Mark (Benjamin Petry) –, Dan aceita a tarefa de levar o criminoso Ben Wade (Russell Crowe, eficiente) – o líder de uma gangue de foras-da-lei que causou um prejuízo de milhões a uma empresa ferroviária – a uma estação de trem, de onde Wade partirá para a famosa prisão de Yuma.

Cada um à sua maneira, Dan Evans e Ben Wade representam os valores propagados pelos filmes de western. O interessante, em “Os Indomáveis”, é que o roteiro de Halsted Welles, Michael Brandt e Derek Haas (que foi escrito tendo como base um conto de Elmore Leonard) insere dois antagonistas jovens na história e que oferecem um confronto interessante de valores. William, o filho mais velho de Dan, admira figuras como a de Ben Wade, mas acredita naquilo que é justo. Já Charlie Prince (Ben Foster, roubando a cena), o braço-direito de Ben, representa o ímpeto juvenil, a precipitação, a vontade de agir – mesmo se for para errar feio – e, por isso mesmo, é o mais próximo de um grande vilão que “Os Indomáveis” tem.

O diretor James Mangold tem uma carreira bastante diversa em Hollywood. Em sua filmografia, encontramos obras que se encaixam em gêneros distintos como o policial (“Cop Land”), a comédia romântica (“Kate & Leopold”), o drama (“Garota, Interrompida”), o suspense (“Identidade”) e a cinebiografia (“Johnny & June”). O ponto em comum entre esses projetos é a regularidade. Mangold é aquele tipo de diretor confiável e que é garantia de um bom resultado. “Os Indomáveis” é um filme que não empolga muito inicialmente, mas cujo diferencial é a excepcional meia hora final – em que todos os núcleos narrativos se encontram na cidade de Contention à espera – ou a fim de impedir – o embarque de Ben Wade no trem para Yuma.

Cotação: 9,3

Os Indomáveis (3:10 to Yuma, EUA, 2007)
Diretor(es): James Mangold
Roteirista(s): Halsted Welles, Michael Brandt, Derek Haas (com base no conto de Elmore Leonard)
Elenco: Russell Crowe, Christian Bale, Logan Lerman, Dallas Roberts, Ben Foster, Peter Fonda, Vinessa Shaw, Alan Tudyk, Luce Rains, Gretchen Mol, Lennie Loftin, Rio Alexander, Johnny Whitworth, Shawn Howell, Pat Ricotti

Wednesday, April 16, 2008

Awake - A Vida por um Fio (Awake, 2007)

Toda a trama de “Awake – A Vida por um Fio”, filme escrito e dirigido por Joby Harold, se apóia em um fenômeno conhecido pelo nome de consciência anestésica. Isso acontece quando alguém, após receber uma anestesia antes de uma operação, permanece acordado durante o procedimento, porém completamente paralisado. É justamente isso que irá ocorrer com Clay Beresford (Hayden Christensen), o milionário herdeiro de um fundo de investimentos. Ele sofreu um ataque cardíaco e, em decorrência disso, entrou na lista de transplantes para obter um novo coração. Na noite mais feliz de sua vida, ele recebe o telefonema que tanto esperava e vai para o hospital, aonde o seu grande amigo, Dr. Jack Harper (Terrence Howard), o aguarda para dar início ao acontecimento que poderá mudar a sua curta existência, já que Clay pode não sair vivo da sala de cirurgia.

O roteiro do longa mergulha superficialmente na vida pessoal de Clay, que perdeu o pai (Sam Robards) ainda criança e, desde cedo, foi criado pela mãe, Lilith, (Lena Olin) para ser o grande sucessor dele na empresa familiar. Está claro – desde a primeira cena – que a mãe de Clay o protege bastante e, por causa disso, o jovem tem uma relutância enorme em contar para ela os verdadeiros anseios que possui para a sua vida. Além disso, Clay esconde dela a maior razão por trás de sua felicidade: o relacionamento com Sam Lockwood (Jessica Alba), a qual trabalha como assistente pessoal de Lilith.

“Awake – A Vida por um Fio” causa momentos de verdadeira agonia na platéia, quando nos convida a acompanhar tudo o que acontece com Clay Beresford na sala de cirurgia. Com consciência do que está ocorrendo à sua volta; mas, ao mesmo tempo, com um sentimento de impotência enorme, Clay pouco pode fazer quando percebe que sua vida está correndo risco nas mãos dos médicos em quem tanto confia. As reviravoltas adotadas pelo diretor e roteirista Joby Harold são boas – porém, óbvias – e a impressão que fica é a de que “Awake – A Vida por um Fio” poderia ter sido um filme bem melhor se tivesse trabalhado com calma as relações entre Clay e cada um dos personagens que vemos em tela.

Cotação: 5,3

Awake - A Vida por um Fio (Awake, EUA, 2007)
Diretor(es): Joby Harold
Roteirista(s): Joby Harold
Elenco: Hayden Christensen, Jessica Alba, Terrence Howard, Lena Olin, Christopher McDonald, Sam Robards, Arliss Howard, Fisher Stevens, Georgina Chapman, David Harbour, Steven Hinkle, Denis O'Hare, Charlie Hewson, Court Young, Joseph Costa

Tuesday, April 15, 2008

Elizabeth - A Era de Ouro (Elizabeth - The Golden Age, 2007)

No Internet Movie Database (IMDB), constam 54 filmes nos quais ela apareceu, mas foi somente no ano de 1998, com “Elizabeth” e “Shakespeare Apaixonado”, que o público realmente prestou atenção em uma das rainhas mais importantes – e populares – da história da Inglaterra: Elizabeth I. Conhecida popularmente como “A Rainha Virgem”, foi sob o seu reinado que a Inglaterra ascendeu como força política mundial e econômica. Além disso, foi sob seu domínio que os ingleses viram a produção artística atingir um altíssimo nível, destacando-se, nessa época, os nomes de dois dos maiores dramaturgos de todos os tempos: Christopher Marlowe e William Shakespeare.

O filme “Elizabeth – A Era de Ouro”, continuação de “Elizabeth”, apesar de possuir um subtítulo positivo, trata, na realidade, de um dos momentos mais turbulentos do reinado dela. Estamos em 1585. A Espanha, do rei Felipe II (Jordi Mollà), possui o grande plano de se tornar a maior potência européia e, por conseqüência, mundial. De maioria católica, o reinado espanhol inicia uma Guerra Cristã pela Europa e transforma os ingleses (na sua maioria protestantes) em seus maiores alvos – o objetivo principal deles é tirar Elizabeth (Cate Blanchett, numa performance que lhe rendeu uma indicação ao Oscar 2008 de Melhor Atriz) do poder e colocar, em seu lugar, Mary Stuart (Samantha Morton, excelente), uma seguidora da fé católica.

Se não bastasse isso, a rainha Elizabeth I ainda tem que lidar com a própria turbulência interna do seu país. A população ainda não se acostumou com sua solteirice e espera que sua rainha mãe ofereça um herdeiro ao trono. Em meio às atividades alcoviteiras de seu fiel escudeiro, Sir Francis Walsingham (Geoffrey Rush), que quer apresentá-la a todo homem descendente da realeza, na Europa; a rainha se aproxima de Sir Walter Raleigh (Clive Owen), cujo estilo de vida livre e aventureiro a fascina.

A grande diferença entre “Elizabeth” e este “Elizabeth – A Era de Ouro” (ambos foram dirigidos por Shekhar Kapur) é o tema principal do roteiro. Se, no primeiro filme, existia uma abordagem do que é o exercício do poder; a continuação prefere humanizar a rainha Elizabeth I, mostrando-a em seus momentos de maior vulnerabilidade e nos quais ela está muito temperamental e ansiosa pelo que irá acontecer. “Elizabeth – A Era de Ouro” funciona perfeitamente na sua primeira hora. Tudo o que acontece após isso é puro exagero – inclusive da parte visual do filme, bem como da atuação de Cate Blanchett, os quais foram o ponto alto da primeira obra.

Cotação: 6,0

Elizabeth: A Era de Ouro (Elizabeth: The Golden Age, Inglaterra, França, 2007)
Diretor(es): Shekhar Kapur
Roteirista(s): William Nicholson, Michael Hirst
Elenco: Jordi Mollà, Aimee King, Cate Blanchett, John Shrapnel, Geoffrey Rush, Susan Lynch, Elise McCave, Samantha Morton, Abbie Cornish, Penelope McGhie, Rhys Ifans, Eddie Redmayne, Stuart McLoughlin, Clive Owen, Adrian Scarborough

Monday, April 14, 2008

Paranoid Park (Paranoid Park, 2007)

“Paranoid Park”, o filme mais recente a ser dirigido por Gus Van Sant, retoma alguns temas vistos em “Elefante”, longa que ele dirigiu em 2003. Nas duas obras, temos uma trama que fala a respeito de jovens vítimas ou causadores de atos de violência. No caso de “Paranoid Park”, acompanhamos Alex (Gabe Nevins), que gosta de ir com o amigo Jared (Jake Miller) visitar o Paranoid Park, local freqüentado por skatistas e que fica situado nas proximidades de algumas das ruas mais violentas de Portland (Oregon).

O roteiro do filme, que também foi escrito por Gus Van Sant tendo como base o livro homônimo de Blake Nelson, coloca Alex como o centro de uma investigação policial que quer encontrar o responsável pelo assassinato de um guarda ferroviário. O crime aconteceu próximo ao Paranoid Park e, numa narrativa não-linear, acompanhamos qual o papel que Alex desempenha nisso tudo, ao mesmo tempo em que vemos o jovem entrar num estado cada vez maior de isolamento.

Em “Paranoid Park”, encontramos elementos que são recorrentes na filmografia mais recente de Gus Van Sant. A câmera é uma observadora dos fatos – o que confere à obra um caráter documental. A trilha sonora preenche os – muitos – silêncios deixados pelos personagens. A edição não quer dar um senso de continuidade entre uma cena e outra – e sim unir vários fragmentos num todo. No final, o longa acaba sendo um estudo sobre aquilo que podemos – ou não – carregar ou, numa interpretação mais otimista dos fatos, sobre como conviver com os erros que cometemos sem dar margens para que alguém desconfie de nós.

Cotação: 8,5

Paranoid Park (Paranoid Park, França, EUA, 2007)
Diretor(es): Gus Van Sant
Roteirista(s): Gus Van Sant (com base no livro de Blake Nelson)
Elenco: Gabe Nevins, Daniel Liu, Taylor Momsen, Jake Miller, Lauren McKinney, Winfield Jackson, Joe Schweitzer, Grace Carter, Scott Patrick Green, John Michael Burrowes, Jay 'Smay' Williamson, Dillon Hines, Emma Nevins, Brad Peterson, Emily Galash

Saturday, April 12, 2008

Lendo - "Na Praia"

“Tinham muitos planos, planos inconseqüentes, amontoados diante deles num futuro enevoado, tão luxuriantes e emaranhados quanto a flora da costa de Dorset no verão, e igualmente belos. Onde e como iriam viver, quem seriam seus amigos mais próximos, o emprego dele na firma do pai dela, a carreira musical que ela teria pela frente, o que fazer com o dinheiro que o pai deles lhe dera, e como não seriam iguais às outras pessoas, pelo menos interiormente. Este ainda era o tempo – que terminaria naquela década célebre – em que ser jovem era um estorvo social, um sinal de irrelevância, uma condição ligeiramente embaraçosa para a qual o casamento era o começo da cura. Quase estranhos, mantinham-se retraidamente juntos, num novo pináculo da existência, jubilosos com a promessa do novo estado civil a alçá-los para fora da juventude infinita – Edward e Florence, enfim livres!” (p. 09)

A Era Vitoriana foi considerada como o grande auge do Império Britânico. Nessa época, além da revolução industrial inglesa ter atingido seu melhor momento, tivemos o surgimento de escritores notáveis, como George Eliot, Charles Dickens, Emily Bronte, Lewis Carroll, entre outros. Mesmo com tanta efervescência cultural, a época foi marcada por uma enorme repressão moral, em que pouco se conversava sobre temas polêmicos, como sexo.

É na transição da era vitoriana para um período em que se houve uma verdadeira revolução sexual e de costumes, na Inglaterra, que se passa o romance “Na Praia”, do escritor Ian McEwan. Os personagens principais da obra – os jovens Edward Mayhew e Florence Ponting – acabam de se casar e se instalam num quarto de hotel na praia de Chesil, junto ao Canal da Mancha, para celebrar a sua noite de núpcias. Um detalhe importante a ser observado é que, desde o primeiro momento em que encontramos os dois, sabemos que o amor entre eles é verdadeiro e abundante.

Se existe algo que falta para Edward e Florence é intimidade. Filhos da era vitoriana, nascidos em famílias de costumes tradicionais, os dois nunca ultrapassaram os beijos em seus momentos a sós. Mais por decisão dela, casaram-se virgens e aguardam o instante em Chesil para atingirem a cumplicidade máxima como casal. No entanto, é justamente a falta de uma familiaridade maior entre os dois que nos dá uma pista de que a lua-de-mel entre o casal – e o casamento, por conseqüência – podem se transformar em uma situação desconfortável se eles não começarem a ser honestos um com o outro.

À primeira vista, “Na Praia” pode parecer um romance muito simples se comparado à profundidade de outras obras de Ian McEwan, como “Reparação”. No entanto, o livro é tão complexo quanto o trabalho mais famoso do escritor. A maneira como McEwan desenha a alternância de pensamentos entre Edward e Florence é sensacional. Os dois personagens foram muito bem construídos em suas respectivas histórias de vida e de aspirações; e o mais interessante para nós, como leitores, é ver como eles são atrapalhados em sua falta de maturidade para começar uma nova etapa de vida. Casamento não é uma coisa fácil e se apóia em coisas simples, como amor, carinho, amizade, respeito e, principalmente, diálogo. São elementos como esses que adquirimos na leitura de “Na Praia”, a qual é uma daquelas obras em que a arte se inspira na vida.

Na Praia (2007)
Autor:
Ian McEwan
Editora: Companhia das Letras

Friday, April 11, 2008

Hilary e Jackie (Hilary and Jackie, 1998)

Ainda na infância, quando conservavam uma inocência, as irmãs Hilary (Keeley Flanders) e Jacqueline du Pré (Auriol Evans) prometeram que nunca iriam se afastar uma da outra. Nessa época, a cumplicidade entre elas era notável. As duas, além do interesse comum pela música (a primeira tocava flauta, enquanto a segunda tocava violoncelo), guardavam um amor profundo uma pela outra; além de possuírem um relacionamento marcado por uma forte devoção.

No entanto, na medida em que foram crescendo e seguindo seus projetos de vida, Hilary (agora interpretada pela australiana Rachel Griffiths, que é bem conhecida pelo seu trabalho em séries como “Six Feet Under” e “Brothers & Sisters”) e Jackie (agora interpretada por Emily Watson) descumpriram a sua promessa. Enquanto a irmã mais velha deixa de ser a flautista prodígio para ser a esposa de Kiffer (David Morrissey), a mãe de duas crianças (Hayley James-Gannon e Melissa James-Gannon) e morar em uma casa do campo, com muita paz e tranqüilidade; a irmã mais nova se transforma em uma das violoncelistas mais brilhantes que a música clássica já viu. Jackie mergulha completamente no universo da vida de concertos, viagens e fama. Além disso, se casa com o maestro e pianista Daniel Barenboim (James Frain) – que, até hoje, é um dos nomes mais consagrados do gênero musical.

A distância que se estabelece entre as duas irmãs du Pré é fundamental para o desenvolvimento da narrativa do filme “Hilary e Jackie”, do diretor Anand Tucker (o mesmo de “A Garota da Vitrine”). Acompanhar os diferentes estilos de vida delas é importante até mesmo para entender (e não julgar) o por quê do afastamento de Hilary durante a fase em que Jackie está sendo lentamente consumida pela esclerose múltipla. Por causa disso, é vital que as duas atrizes que interpretam os personagens estejam no auge de sua forma. E isso acontece com Emily Watson e Rachel Griffiths (as quais foram indicadas ao Oscar 1999 de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante, respectivamente, pelos seus trabalhos no longa). As duas estão brilhantes, especialmente Watson – cuja performance beira o extraordinário nos momentos em que retrata a doença de Jackie.

Cotação: 7,3

Hilary & Jackie (Hilary and Jackie, EUA, 1998)
Diretor(es): Anand Tucker
Roteirista(s): Frank Cottrell Boyce (com base no livro de Hilary du Pré, Piers du Pré)
Elenco: Emily Watson, Rachel Griffiths, James Frain, David Morrissey, Charles Dance, Celia Imrie, Rupert Penry-Jones, Bill Paterson, Auriol Evans, Keeley Flanders, Grace Chatto, Nyree Dawn Porter, Maggie McCarthy, Vernon Dobtcheff, Anthony Smee

Thursday, April 10, 2008

Jumper (Jumper, 2008)

“Jumper”, do diretor Doug Liman, tem um começo até interessante. David Rice (Max Thieriot) é um jovem que tem uma vida muito difícil no colegial. De personalidade retraída, ele nutre uma paixão pela colega de escola Millie (AnnaSophia Robb). No entanto, ela tem uma proximidade maior com tipos como Mark (Jesse James), que adoram atazanar a vida de pessoas como David. É justamente em uma situação de pressão que ele descobrirá que possui um poder: o de se teletransportar, podendo ir a qualquer lugar, a qualquer momento.

Peter Parker já dizia que “grandes poderes trazem grandes responsabilidades”. No entanto, David vê, naquele momento, o seu poder como a desculpa perfeita para fugir do ambiente difícil no qual estava inserido – se não bastasse as brincadeiras na escola, ele ainda tinha que lidar com um pai (Michael Rooker) abusivo. Após deixar sua cidade natal, David se dedica a descobrir de que forma pode usar o poder a seu favor. E ele é totalmente egoísta nesse sentido, já que – mais crescido e, agora, interpretado por Hayden Christensen – começa a roubar bancos para poder sustentar um estilo de vida cheio de diversão, em que ele pode acordar em Nova York, almoçar em Londres e dormir em Paris, por exemplo.

Como o filme não iria se sustentar só com cenas desse tipo, os roteiristas David S. Goyer, Jim Uhls e Simon Kinberg colocam uma reviravolta na trama. E é aqui que o barco começa a desandar. David começa a ser perseguido por uma organização secreta chamada Paladinos (a qual é liderada pelo personagem de Samuel L. Jackson) e que tem como objetivo principal matar pessoas que possuem o poder de se teletransportar. Com a ajuda de Griffin (Jamie Bell), um jovem que também pode se transportar por diversos lugares, David entra nessa batalha – até porque, claro, ele tem que defender também sua mulher amada, a já citada Millie (que, um pouco mais crescida, passa a ser interpretada por Rachel Bilson, do seriado “The O.C.”).

O diretor Doug Liman tem uma trajetória muito interessante no cinema. De diretor indie queridinho (e mente por trás de obras como “Swingers – Curtindo a Noite” e “Vamos Nessa!”), passou a ser o que podemos chamar de “diretor de filmes de ação inteligentes e cheios de bom humor”. Nesta fase, se destacam obras como “A Identidade Bourne” e “Sr. e Sra. Smith”. Com este “Jumper”, Liman inicia uma nova jornada: a de diretor de filmes feitos para um público que só tem interesse em ver um filme que irá lhe entreter. Aonde será que ele vai parar?

Cotação: 4,0

Jumper (Jumper, EUA, 2008)
Diretor(es): Doug Liman
Roteirista(s): David S. Goyer, Jim Uhls, Simon Kinberg (com base no livro de Steven Gould)
Elenco: Hayden Christensen, Samuel L. Jackson, Diane Lane, Jamie Bell, Rachel Bilson, Michael Rooker, AnnaSophia Robb, Max Thieriot, Jesse James, Tom Hulce, Kristen Stewart, Teddy Dunn, Barbara Garrick, Michael Winther, Massimiliano Pazzaglia

Wednesday, April 09, 2008

O Orfanato (El Orfanato, 2007)

Além da presença de uma heroína machucada emocionalmente, um bom filme de suspense tem que contar com uma criança bastante especial. Quando usam esses seres pequeninos – geralmente ligados a uma imagem de alegria e de que nada de mal pode ocorrer com eles –, as obras do gênero não têm pena deles e os colocam em situações de extrema vulnerabilidade. “O Orfanato”, do diretor J.A. Bayona, usa – e abusa – desses dois elementos para criar uma atmosfera de medo e apreensão.

A personagem principal da obra é Laura (Mireia Renau quando criança e Belén Rueda quando adulta), uma garota órfã que é adotada por uma família e que, tempos depois, já casada com Carlos (Fernando Cayo) e mãe de Simón (Roger Príncep), decide retribuir toda a sorte que teve e compra o antigo orfanato aonde morou, pois pretende transformar a casa em um ambiente no qual crianças com necessidades especiais poderão ser bem tratadas.

Seu próprio filho, Simón, é uma criança com necessidades especiais. Tanto Laura quanto Carlos procuram proteger o menino de duas verdades sobre a sua origem. A primeira: ele é adotado. A segunda: ele é portador do vírus HIV. No entanto, como tantas outras crianças, Simón tem uma característica: o menino tem uma imaginação fértil e é cheio de amigos que só existem em sua mente. Como seus pais são muito presentes em sua vida, permitem que Simón desenvolva sua fantasia da maneira que ele queira.

Para não entregar mais detalhes sobre a trama criada por Sergio G. Sánchez, o importante é saber que o passado de Laura e a imaginação de Simón terão um papel fundamental para o que veremos mais na frente: uma série de acontecimentos estranhos e que terão influência direta na dinâmica familiar que, um dia, foi perfeita.

Filmes como “O Sexto Sentido” e “Os Outros” nos ensinaram a esperar um desfecho surpreendente de longas no gênero de suspense. No entanto, em sua estrutura narrativa, “O Orfanato” é um filme muito convencional e que se aproxima de obras como “Os Mensageiros”. Vai chegar um momento em que você irá se perguntar: mas esse filme não vai terminar nunca? Entretanto, isso – de forma alguma – tira o maior mérito de “O Orfanato”: a performance de Belén Rueda. É por causa dela e da trilha sonora de Fernando Velásquez que o filme, em vários momentos, vai lhe causar aquele friozinho na barriga que a gente tanto espera de obras desse gênero.

Cotação: 6,5

O Orfanato (El Orfanato, México, Espanha, 2007)
Diretor(es): J.A. Bayona
Roteirista(s): Sergio G. Sánchez
Elenco: Belén Rueda, Fernando Cayo, Geraldine Chaplin, Montserrat Carulla, Mabel Rivera, Andrés Gertrúdix, Roger Príncep, Carla Gordillo Alicia, Georgina Avellaneda, Alejandro Campos, Oscar Guillermo Garretón, Edgar Vivar

Tuesday, April 08, 2008

Não Estou Lá (I'm Not There, 2007)

Certa vez, o cantor e compositor Bob Dylan afirmou que “tudo o que posso fazer é ser eu mesmo, não importa que pessoa eu seja”. O filme “Não Estou Lá”, do diretor Todd Haynes (que co-escreveu o roteiro ao lado de Oren Moverman), leva isso a sério e apresenta uma trama inspirada nas muitas músicas e vidas de Dylan. Para tanto, Haynes trabalha com seis personagens distintos. São eles: Jude Quinn (Cate Blanchett, numa performance que lhe rendeu uma indicação ao Oscar 2008 de Melhor Atriz Coadjuvante), Arthur Rimbaud (Ben Whishaw), Jack Rollins (Christian Bale), Billy the Kid (Richard Gere), Woody Guthrie (Marcus Carl Franklin) e Robbie Clark (Heath Ledger).

Cada um destes personagens cobre as diversas faces de Bob Dylan. Ou seja, temos o cantor folk tradicional, dedicado às músicas que seriam classificadas de “canções de protesto” (rótulo que ele, mais tarde, negaria); o cantor de músicas mais pessoais e introspectivas, ligadas a uma visão particular de mundo (e com claras influências do rock ‘n roll); o cantor de tendências country; o homem que sofreu uma desilusão amorosa grande; o homem que aceitou Jesus Cristo e se filiou a uma Igreja; o homem que se isolou completamente por uns tempos; entre outros.

É justamente o fato de ser uma biografia não convencional o ponto que traz maiores problemas ao filme “Não Estou Lá”. Quando tem em tela personagens como Jude Quinn, Jack Rollins e Robbie Clark, o diretor Todd Haynes mostra completo domínio de sua obra e de seu personagem. No entanto, nem assim Haynes consegue mascarar alguns pontos falhos de transição entre as histórias que quer contar e, no caso da sub-trama envolvendo o ator Richard Gere, a mesma fica completamente solta dentro do filme. Billy the Kid não parece ter conexão alguma com os outros Dylans que vemos na tela.

Cotação: 6,0

Não Estou Lá (I'm Not There, EUA, Alemanha, 2007)
Diretor(es): Todd Haynes
Roteirista(s): Todd Haynes, Oren Moverman
Elenco: Cate Blanchett, Ben Whishaw, Christian Bale, Richard Gere, Marcus Carl Franklin, Heath Ledger, Kris Kristofferson, Don Francks, Roc LaFortune, Larry Day, Paul Cagelet, Pierre-Alexandre Fortin, Richie Havens, Tyrone Benskin, Kim Rob
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Monday, April 07, 2008

O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford (The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford, 2007)

“O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford”, filme do diretor e roteirista neozelandês Andrew Dominik, é um daqueles casos em que você assiste ao longa já sabendo o que irá acontecer. Você tem idéia de que alguém será assassinado. Você sabe quem será a vítima e quem é o responsável pelo crime. No entanto, isso não estraga de maneira alguma a obra, já que a trama da película prefere colocar o foco na construção dos personagens – em especial da dupla destacada no título – e em como as escolhas feitas por eles irão afetar suas respectivas vidas.

“Às vezes, eu mal consigo me reconhecer quando estou nervoso. Eu embarco em jornadas fora de meu corpo aonde eu observo as minhas mãos vermelhas e minha cara malvada e penso sobre este homem que escolheu um caminho tão errado. Eu tenho me tornado um problema para mim mesmo”.

Jesse James (Brad Pitt) é o líder – ao lado do irmão mais velho Frank (Sam Shepard) – de um lendário grupo de foras-da-lei (fazem parte da gangue os atores Sam Rockwell, Garret Dillahunt, Paul Schneider e Jeremy Renner). Ele rouba dos ricos para dar aos pobres. É figura procurada pelos governantes e policiais. É o esposo de Zee (Mary-Louise Parker) e o pai ausente de Mary (Brooklynn Proux) e Tim (Dustin Bollinger). Homem, ao mesmo tempo, admirado e temido, mas que desperta naqueles que fazem parte de seu círculo mais próximo um respeito enorme. É capaz de reconhecer a traição de longe e esconde muito bem todos os seus medos por trás de uma persona forte.

“Eu fui um ninguém toda a minha vida. Eu era o caçula; eu era aquele a quem eles faziam promessas que nunca cumpriam. E, desde que eu me entendo por gente, Jesse James é tão grande quanto uma árvore. Eu estou preparado para isto, Jim. E eu vou conseguir. Eu sei que eu só vou ter esta única oportunidade e você pode apostar a sua vida que eu não vou estragá-la”.

Robert Ford (Casey Affleck, numa performance que lhe rendeu uma indicação ao Oscar 2008 de Melhor Ator Coadjuvante) é um jovem de 19 anos e que tem um grande ídolo: Jesse James. Seu irmão mais velho, Charley (o já citado Sam Rockwell), faz parte da gangue dos irmãos James e realiza um constante lobby para que Bob possa também ser integrante do grupo. De personalidade introvertida, Robert é um ser extremamente observador e tem o desejo de ser tão famoso quanto Jesse. Poderá obter isso se conseguir colocar em prática seu plano de assassinar aquele a quem tanto admira.

Podemos dizer que “O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford” é um filme que fala muito a respeito do que é ser uma celebridade, alguém que inspira nos outros sentimentos contrastantes de heroísmo e vilania. No entanto, o que o roteiro de Andrew Dominik nos mostra é que até mesmo os heróis têm seu lado podre e, quando isso está exposto de forma clara, todo aquele fascínio vem por água abaixo – e é isso que leva Robert Ford a tomar a decisão a qual o título do filme faz referência.

No entanto, mais do que ser uma obra sobre pessoas célebres, “O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford” é um filme sobre o peso que as escolhas que fazemos possuem na edificação daquilo que somos. Quando encontramos Robert Ford pela primeira vez, ele é um jovem impetuoso, movido por uma arrogância – ainda – sadia. Quando o vemos no final do longa, Bob é um homem que carrega em suas costas o peso daquilo que fez e que tem a sabedoria para analisar friamente as razões por trás de seu ato e como isso só lhe trouxe infelicidade.

Poderíamos ficar aqui escrevendo linhas e linhas sobre a genialidade do roteiro de Andrew Dominik (que teve como base o livro de Ron Hansen). A necessidade que ele tem de colocar tudo em pratos limpos, mostrando razão e conseqüência, pode fazer com que muitos acreditem que “O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford” é um filme longo e cansativo. Pelo contrário, para aquilo que ele quer alcançar, os 160 minutos de narrativa são mais do que necessários. Além de ser um roteirista talentoso, o que o neozelandês revela é que também é um diretor de muitos recursos. Seu filme é muito sofisticado e se apóia num trabalho excelente por parte da equipe técnica, com destaque para a edição de Curtiss Clayton e Dylan Tichenor, a fotografia de Roger Deakins, a direção de arte de Troy Sizemore e Janice Blackie-Goodine e a trilha sonora de Nick Cave e Warren Ellis.

Cotação: 9,5

O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford, EUA, 2007)
Diretor(es): Andrew Dominik
Roteirista(s): Andrew Dominik (com base no livro de Ron Hansen)
Elenco: Brad Pitt, Mary-Louise Parker, Brooklynn Proulx, Dustin Bollinger, Casey Affleck, Sam Rockwell, Jeremy Renner, Sam Shepard, Garret Dillahunt, Paul Schneider, Joel McNichol, James Defelice, J.C. Roberts, Darrell Orydzuk, Jonathan Erich Drachenberg

Saturday, April 05, 2008

Os Cem Anos de Bette Davis

Katharine Hepburn pode ser considerada a melhor atriz de cinema de todos os tempos. No entanto, só uma mulher foi digna do título de “a primeira-dama do cinema” e ela foi a atriz Bette Davis, que, se estivesse viva, completaria hoje, dia 05 de Abril, 100 anos de idade. Uma profissional completa – afinal, trabalhou no teatro, no cinema e na televisão –, Davis foi a primeira a receber 10 indicações ao Oscar de Melhor Atriz (das quais venceu duas pelos filmes “Perigosa”, de 1935, e “Jezebel”, de 1938). Aliás, em se tratando dos prêmios da Academia, Bette mantém um recorde que ainda tem que ser batido, já que ela é a única atriz a ter recebido cinco indicações seguidas ao Oscar.

Nascida Ruth Elizabeth Davis, Bette teve uma infância marcada pelo abandono do pai. Criada pela mãe, que era uma fotógrafa, ela despertou para a carreira artística após assistir a uma peça de teatro no seu Estado natal de Massachussetts. Depois de finalizar seus estudos, Bette foi contratada pela companhia de teatro do diretor George Cukor (que também teve uma formidável carreira no cinema) e, em 1929, foi descoberta por um olheiro, que a levou para Hollywood – cidade na qual ela firmou seu primeiro contrato com um grande estúdio, a Universal Pictures.

O reconhecimento como atriz veio após uma fase turbulenta, em que Bette Davis pensou em desistir do cinema e voltar ao teatro. Foi na Warner Bros. – estúdio com o qual ela assinou um contrato em 1932 – que ela conseguiu seu primeiro grande papel (no já citado “Perigosa”) e começou a ser considerada uma das mais interessantes atrizes de cinema daquela época.

Na década de 40, Davis era a maior estrela da Warner e deu sinais de sua personalidade forte ao surpreender muita gente quando aceitou se tornar a primeira mulher presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (um posto que ela abandonou pouco tempo depois, pois teve problemas com os membros da associação, que não aceitavam as suas idéias arrojadas). Esta não seria a primeira vez que Bette iria causar espanto, já que, durante a II Guerra Mundial, fundou – ao lado do ator John Garfield – a Hollywood Canteen, companhia que angariava fundos e entretia os soldados que estavam no conflito.

A partir do final da década de 40, Bette Davis alternou momentos bons e ruins na sua carreira. Nesta fase, se destacam os filmes “A Malvada” (1950) e “O que Teria Acontecido com Baby Jane?” (1962). Acumulando trabalhos na televisão e participação em peças teatrais e filmes sem muita expressão, Bette faleceu no dia 06 de Outubro de 1989, em uma cidade francesa.

Bette Davis foi casada quatro vezes e deixou 3 filhos. Mas, em uma entrevista, confessou que o grande amor de sua vida foi o diretor William Wyler, com quem ela trabalhou em filmes como o citado “Jezebel”, “A Carta” (1940) e “Pérfida” (1941). Os dois tiveram um romance conturbado e que só não foi adiante porque Wyler, um homem casado, se recusou a deixar a esposa para ficar com a atriz.

Friday, April 04, 2008

De Olho no Oscar 2009 - "Blindness"



Direção: Fernando Meirelles

Roteiro: Don McKellar

Elenco: Gael García Bernal, Julianne Moore, Mark Ruffalo, Sandra Oh, Alice Braga, Danny Glover

Sinopse: Pessoas começam a sofrer de uma cegueira repentina e são isoladas numa espécie de prisão. No meio da cegueira, uma única pessoa consegue enxergar: a mulher de um médico. E é através dos olhos dela que vemos a comunidade que se forma entre os cegos se transformar num ambiente dominado pelo caos e pela desordem.

Por quê ficar de olho? Baseado no livro “Ensaio Sobre a Cegueira”, do escritor português José Saramago, “Blindness” é o segundo projeto em língua inglesa a ser dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, diretor que foi indicado ao Oscar pelo seu trabalho em “Cidade de Deus”. Nesta nova investida internacional (que, aparentemente, terá um clima tenso e influência de obras como “Filhos da Esperança”), Meirelles trouxe para a sua equipe nomes que ele conhece, como o da atriz Alice Braga, o diretor de fotografia César Charlone, o editor Daniel Rezende e o compositor Marco Antônio Guimarães. A equipe técnica do filme tem potencial para ser lembrada pela Academia, no entanto, a grande expectativa em torno do longa é em relação à atriz Julianne Moore. Uma favorita dos votantes ao Oscar (afinal, já foi indicada 4 vezes ao prêmio), ela é uma das profissionais que os cinéfilos acreditam já ter sido merecedora de ganhar a estatueta há um bom tempo. Meirelles deu sorte à Rachel Weisz. Será que também fará o mesmo com Moore?

Data de estréia: Outubro de 2008, no Brasil

Thursday, April 03, 2008

Espartalhões (Meet the Spartans, 2008)

Quando estreou nas salas de cinema dos Estados Unidos, no ano passado, o filme “300”, de Zack Snyder, foi bombardeado com interpretações que viam sexualidade demais no filme, ao mostrar o culto ao corpo masculino, a excessiva camaradagem que existia entre os soldados e ao fazer o retrato dos persas como seres andróginos. A sátira “Espartalhões”, dos diretores e roteiristas Jason Friedberg e Aaron Seltzer, se aproveita bastante de todo o barulho em torno desse assunto e faz um filme cheio de referências à homossexualidade – incluindo o uso de hinos da comunidade gay, como “I Will Survive”, e a criação de cenas cheias de piadinhas de mau gosto sobre os homossexuais.

Já que é mesmo inspirado em “300”, “Espartalhões” conta uma versão – que os diretores acreditam ser – bem-humorada sobre a saga de Leônidas (Sean Maguire, numa imitação muito mal-feita de Gerard Butler), que, após ser abandonado no mundo selvagem, volta à Esparta – cidade aonde se torna rei, se casa com Margo (Carmen Electra) e reúne um exército de 300 homens para lutar contra as tropas de Xerxes (Ken Davitian, que participou do filme “Borat – O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América”).

A partir dessa trama central, “Espartalhões” repete a fórmula dos filmes anteriores da dupla Jason Friedberg e Aaron Seltzer e começa a fazer referências a uma série de filmes, programas de TV e personalidades do mundo do entretenimento. Alguns dos que “aparecem” no longa são: Angelina Jolie e Brad Pitt, Britney Spears e seu ex-marido Kevin Federline, Paris Hilton, Lindsay Lohan, “Happy Feet – O Pingüim”, “Casino Royale”, “Homem-Aranha 3”, “Motoqueiro Fantasma”, “Transformers”, “Rocky Balboa”, “Ugly Betty”, “American Idol”, “America’s Next Top Model”, “Dancing With the Stars”, dentre tantos outros.

A dupla Jason Friedberg e Aaron Seltzer não desiste. Não sei por quê eles insistem em nos brindar, todo começo de ano, com esses filmes de sátira que não acrescentam em nada e, pior, nem nos entretém mais. No caso particular de “Espartalhões”, os dois vão ainda mais longe porque o filme em si tem um teor muito agressivo e de ridicularização mesmo. E essa é uma prova suficiente de que esse tipo de sátira já deu o que tinha que dar.

Cotação: 0

Espartalhões (Meet the Spartans, EUA, 2008)
Diretor(es): Jason Friedberg, Aaron Seltzer
Roteirista(s): Jason Friedberg, Aaron Seltzer
Elenco: Sean Maguire, Carmen Electra, Ken Davitian, Kevin Sorbo, Diedrich Bader, Method Man, Jareb Dauplaise, Travis Van Winkle, Phil Morris, Jim Piddock, Nicole Parker, Ike Barinholtz, Crista Flanagan, Hunter Clary, Emily Wilson

Wednesday, April 02, 2008

Medo da Verdade (Gone Baby Gone, 2007)

A primeira cena de “Medo da Verdade”, do diretor Ben Affleck, se passa na – aparentemente – pacata vizinhança de Dorchester, na cidade de Boston (Massachussetts). Ao fundo, a narração do detetive particular Patrick Kenzie (Casey Affleck): “eu sempre acreditei que as coisas que você não escolhia eram as que faziam de nós o que somos. Sua cidade, seu bairro, sua família. As pessoas aqui se orgulham disso, como se fosse algo que eles conquistaram. Os corpos que rodeiam as suas almas, as cidades que as envolvem. Eu vivi neste lugar a minha vida toda; a maioria dessas pessoas também. Quando o seu trabalho é encontrar gente que está desaparecida, ajuda saber aonde eles começaram. Eu encontro as pessoas que se entregaram ao vício e, depois, sucumbiram. Esta cidade pode ser difícil. Quando eu era mais jovem, eu perguntei ao meu padre como você poderia chegar ao céu e, mesmo assim, ficar protegido de todo o mal do mundo. Ele me disse o que Deus falou para as Suas crianças. “Você é uma ovelha no meio dos lobos. Seja esperto como as serpentes, mas inocente como as pombas””.

É neste local que se dá o misterioso desaparecimento da menina Amanda McCready (Madeline O’Brien), de quatro anos de idade. Com a polícia – representada aqui pelo Capitão Jack Doyle (Morgan Freeman) e os Detetives Remy Bressant (Ed Harris) e Nick Poole (John Ashton) – perdida e sem qualquer pista segura, Beatrice (Amy Madigan) e Lionel McCready (Titus Welliver) – os tios da garota – decidem contratar Patrick Kenzie e sua namorada e sócia Angie Gennaro (Michelle Monaghan) para tentar encontrar Amanda.

Baseado no livro de Dennis Lehane (autor também de “Sobre Meninos e Lobos”), “Medo da Verdade” acompanha justamente a investigação feita por Patrick e Angie. E este processo será muito difícil, já que – ao se depararem com as idiossincrasias do caráter de Helene McCready (Amy Ryan, numa performance que lhe rendeu uma indicação ao Oscar 2008 de Melhor Atriz Coadjuvante), a mãe relapsa de Amanda – a dupla será confrontada com uma verdadeira discussão entre o que é certo e o que é errado e que faz uma referência direta àquilo que escutamos de Patrick Kenzie na primeira cena do filme – sua escolha final, com certeza, nos deixará pensando no desfecho da obra por um bom tempo.

“Medo da Verdade” é o filme que marca a estréia do ator Ben Affleck como diretor de um longa-metragem (ele também co-escreveu o roteiro da obra com Aaron Stockard). Escolher a trama de Dennis Lehane foi uma decisão segura por parte do ator/diretor, já que ele – como nativo de Boston – conhece bem o bairro de Dorchester e os personagens que ali habitam. O que impressiona no filme – além das boas mudanças que Affleck e Stockard imprimiram à trama criada por Dennis Lehane – é a segurança do diretor em fazer a transição correta entre momentos de tensão e de drama. A mão dele nunca é pesada demais. O tom do filme é o adequado. No entanto, a grande surpresa vem do fato de que o diretor (que, venhamos e convenhamos, é somente um ator mediano) consegue arrancar desempenhos expressivos de seu elenco, especialmente do irmão Casey Affleck (que teve um ano de 2007 excelente com esse filme e “O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford” – que lhe rendeu uma indicação ao Oscar 2008 de Melhor Ator Coadjuvante), Ed Harris e Amy Ryan (todos os méritos vão para Affleck pela descoberta dessa excelente atriz, que tem uma carreira consagrada no teatro nova-iorquino e cujo crédito mais conhecido – até então – era o da detetive Beadie Russell no fantástico seriado “The Wire”, da HBO).

Cotação: 8,7

Medo da Verdade (Gone Baby Gone, EUA, 2007)
Diretor(es): Ben Affleck
Roteirista(s): Ben Affleck, Aaron Stockard (com base no livro de Dennis Lehane)
Elenco: Casey Affleck, Michelle Monaghan, Morgan Freeman, Ed Harris, John Ashton, Amy Ryan, Amy Madigan, Titus Welliver, Michael K. Williams, Edi Gathegi, Mark Margolis, Madeline O'Brien, Slaine, Trudi Goodman, Matthew Maher

Lançamento em DVD: 05 de Abril de 2008

Tuesday, April 01, 2008

Jogos do Poder (Charlie Wilson's War, 2007)

Provavelmente, até a estréia do filme “Jogos do Poder”, do diretor Mike Nichols, você nunca ouviu falar a respeito de um congressista norte-americano chamado Charlie Wilson (Tom Hanks, numa das performances mais naturais de sua carreira). Representante do segundo distrito congressional do Estado do Texas, Charlie ficou por 24 anos na vida pública e, como o roteiro de Aaron Sorkin (criador de alguns dos melhores seriados dos últimos anos, como “Sports Night”, “The West Wing” e “Studio 60 on the Sunset Strip”) bem nos mostra, ele ficou mais conhecido por ser um dos mentores por trás da operação secreta da CIA que ajudou os guerrilheiros afegãos a combater os exércitos da União Soviética no país – como bem se sabe hoje, foi nessa guerrilha que nomes como o de Osama Bin Laden surgiram como lideranças políticas e religiosas naquela região.

“Jogos do Poder” nos mostra justamente como Charlie Wilson conseguiu liberar uma verba de 1 bilhão de dólares para a guerra no Afeganistão. O roteirista Aaron Sorkin enfoca as particularidades das personalidades de cada um dos envolvidos nessa operação. Charlie, apesar de congressista, tem uma imagem completamente oposta daquela que fazemos dos homens públicos. Ele adora uma farra movida a whisky e drogas e só emprega mulheres belíssimas em seu escritório (uma de suas mais sérias assistentes é interpretada por Amy Adams).

Aqueles que irão ajudá-lo a colocar seu plano em prática também possuem personalidades interessantes. A socialite texana Joanne Herring (Julia Roberts), além de ser cônsul emérita do Paquistão, é religiosa e tomou a causa dos afegãos como um objetivo de vida, ao qual doa, além de seu tempo, um pouco de seu dinheiro. Já o agente da CIA Gust Avrakatos (Philip Seymour Hoffman, numa performance que lhe rendeu uma indicação ao Oscar 2008 de Melhor Ator Coadjuvante) tem o pavio curtíssimo e deseja uma oportunidade de mostrar ao chefe (o sempre eficiente John Slattery) o valor que ele acredita possuir.

É justamente no destaque das incongruências desses três personagens que se encontra um dos maiores trunfos de “Jogos do Poder”. O tempo todo, o roteirista Aaron Sorkin brinca com o destino dos afegãos ao mostrar nas mãos de quem a salvação deles está. No entanto, já perto do final, o roteirista mostra que não é assim. Por trás de tanta excentricidade, existem pessoas realmente preocupadas com o que irá acontecer especialmente após a vitória afegã. Ou seja, quem irá reconstruir o país, quem irá oferecer a estrutura que os afegãos precisam para poder recomeçarem a vida? (Alguma semelhança com os tempos atuais pós-invasão do Iraque é uma mera coincidência).

O diretor Mike Nichols reencontrou sua virtuose no começo dessa década, ao filmar obras feitas especialmente para a TV, como “Uma Lição de Vida” e a minissérie “Angels in America”. Com este “Jogos do Poder”, o diretor volta a um terreno que ele tentou abordar em “Segredos do Poder”: o da comédia política. Nesta segunda tentativa, Nichols se sai bem melhor. Ele entendeu bem seu personagem principal e, principalmente, a inteligência do roteiro de Aaron Sorkin. O resultado: um filme que é conciso, que não enrola e que passa sua mensagem de uma maneira satisfatória.

Cotação: 7,0

Jogos do Poder (Charlie Wilson's War, EUA, 2007)
Diretor(es): Mike Nichols
Roteirista(s): Aaron Sorkin (com base no livro de George Crile)
Elenco: Tom Hanks, Amy Adams, Julia Roberts, Philip Seymour Hoffman, Terry Bozeman, Brian Markinson, Jud Tylor, Hilary Salvatore, Cyia Batten, Kirby Mitchell, Ed Regine, Daniel Eric Gold, Emily Blunt, Peter Gerety, Wynn Everett