Thursday, November 24, 2005

Jogos Mortais 2 (Saw II, 2005)


“Jogos Mortais” foi um filme de suspense surpreendente e que apresentou Jigsaw (ou o “assassino do quebra-cabeça”) aos cinéfilos. Jigsaw é um dos vilões mais cruéis dos últimos tempos e age dessa maneira para fazer com que as suas vítimas passem a valorizar as vidas que levam. O sucesso de “Jogos Mortais” foi tão grande que a sua continuação chegou às salas de cinema do Brasil quase que ao mesmo tempo em que a estréia nos cinemas dos Estados Unidos.

A narrativa de “Jogos Mortais 2” é muito semelhante à de “Jogos Mortais”. Na continuação, o Jigsaw continua a atormentar as suas vítimas e a ser um mistério para a polícia. Assim como aconteceu no primeiro filme, o Jigsaw vai reunir um grupo de vítimas – 5 homens e 3 mulheres – dentro de uma casa. Todos eles possuem algo em comum e, enquanto percorrem os diversos cômodos da casa, terão que provar ao Jigsaw quão grande são os seus instintos de sobrevivência.

Enquanto o grupo que está na casa vai de encontro ao desespero, Jigsaw testa os limites de outra possível vítima: o detetive Eric Matthews (Donnie Wahlberg), policial responsável pela investigação dos crimes do serial killer. Eric é o personagem que passará pelas maiores provações durante “Jogos Mortais 2”. As reações que o detetive terá serão determinantes para o destino de cada personagem – inclusive o dele próprio e o do assassino Jigsaw.

“Jogos Mortais 2” repete quase que fielmente cada detalhe de “Jogos Mortais”. Se o primeiro filme podia contar com o talento do seu elenco (liderado por Cary Elwes e Danny Glover), a força da continuação se encontra no roteiro. “Jogos Mortais 2” tem uma narrativa muito bem amarrada, aonde cada informação se une em um grande jogo de idéias. Mesmo assim, fica fácil para o espectador mais atento decifrar algumas das peças que nos são apresentadas.

Também podemos notar um avanço no que diz respeito à linguagem visual de “Jogos Mortais 2”. Todo o filme se passa em dois ambientes (a casa na qual se encontram o grupo de vítimas e o quartel-general do Jigsaw) e o diretor Darren Lynn Bousman encontrou uma maneira bastante criativa para separar as duas histórias – a solução do diretor também acentua muito os momentos de clímax do filme, os quais, por sua vez, são marcados pelas sensações de impotência dos personagens em não poderem fazer nada para mudar a situação nas quais foram colocados.

Entretanto, “Jogos Mortais 2” repete o maior erro visto em “Jogos Mortais”: o final moralista que tenta justificar o propósito dos atos cometidos no decorrer do filme. A diferença é que os produtores de “Jogos Mortais 2” sabem que têm uma franquia altamente lucrativa nas mãos e terminam o filme com uma cena que deixa claro a intenção de se fazer um “Jogos Mortais 3”.

Thursday, November 17, 2005

Marcas da Violência (A History of Violence, 2005)



O diretor David Cronenberg faz parte de uma escola cinematográfica em que ele e o diretor David Lynch são os membros mais ilustres. Tanto Lynch quanto Cronenberg são conhecidos pelos filmes que fogem de uma temática mais convencional e que, por isso mesmo, são cultuados com fervor pelos cinéfilos de gosto mais apurado. Em 1999, David Lynch flertou com um cinema mais acessível com o belo e sensível “História Real”. Agora, é a vez de David Cronenberg provar que também sabe fazer filmes para a massa.

Baseado em uma graphic novel, “Marcas da Violência” conta a história de Tom Stall (Viggo Mortensen, na melhor atuação de sua carreira), um homem que vive em uma cidade pacata ao lado da esposa Edie (Maria Bello, também excelente) e dos dois filhos. Tom é o proprietário de um restaurante e membro distinto da comunidade local. Quando o seu estabelecimento é assaltado, Tom reage e mata os dois assaltantes. Alçado à condição de herói local e tendo o seu rosto estampado em jornais e matérias de TV, Tom recebe a visita de um homem misterioso (Ed Harris), que revela um grande segredo de seu passado.

A partir destes acontecimentos, David Cronenberg começa a fazer de seu filme uma grande peça de reflexão. De uma maneira ou de outra, o diretor coloca os seus personagens em contato com a violência, seja na forma do assalto, de brigas entre colegas de escola ou entre casais e de um xingamento no trânsito – até mesmo o ato sexual ganha contornos mais fortes. Ao entrarem em contato com estes atos, os personagens passam a ser definidos pelas reações que eles têm e começam a ser vistos com outros olhos não só dentro do filme, como fora dele (pelos espectadores).

“Marcas da Violência” carrega em si o característico talento visual de David Cronenberg. O apelo para imagens fortes é totalmente justificável, pois reforça a maior intenção do filme: mostrar quais os efeitos que um ato de violência podem ter na vida de uma família aparentemente perfeita, ao mesmo tempo em que incita outro tipo de debate: claramente a violência já está dentro de cada ser humano, mas o que os leva a querer colocá-la para fora?

O Galinho Chicken Little (Chicken Little, 2005)




Bem no início de “O Galinho Chicken Little”, o diretor Mark Dindal faz uma brincadeira. O seu narrador, o Galinho, não sabe como iniciar a sua história. Ele considera as idéias do “Era uma Vez”, da canção e de um livro que resuma o seu começo. Na realidade, a indecisão do Galinho reflete uma crítica à própria maneira pela qual os estúdios Disney encaravam as suas animações, ao mesmo tempo em que mostram a incerteza do estúdio em relação ao seu futuro na área – “O Galinho Chicken Little” é a primeira animação digital da Disney depois do término da parceria com a Pixar.

Como já foi mencionado, o filme conta a história do Galinho, um jovem franguinho que vira motivo de piada na sua cidade quando achou que um avelã que caiu em sua cabeça era um pedaço do céu que estava ruindo. O Galinho não admite que ninguém acredite na sua palavra, muito menos o fato de que perdeu o respeito e a admiração da pessoa que ele mais ama na vida: o seu pai – que todo o tempo sugere ao filho que se esconda, assim ele não fará mais besteiras.

Para reconquistar o amor do pai – um ex-jogador famoso de campeonatos escolares de beisebol – e, conseqüentemente, restabelecer a sua reputação na cidade, o Galinho decide entrar no esporte. Depois das finais do campeonato escolar, o Galinho se depara novamente com o pedaço do céu que ruiu (que, na verdade, eram naves alienígenas) e caiu em sua cabeça. A fim de não repetir o mesmo erro e cair nas brincadeiras populares, o Galinho trabalha arduamente para provar a todos que ele nunca mentiu a respeito desse assunto.

Só de ver o resumo da história de “O Galinho Chicken Little” já dá para notar que o filme é muito irônico. O Galinho é um herói inusitado, incomum, com jeito de nerd e totalmente sem auto-estima. O diretor Mark Dindal usa cenários bastante coloridos para contar a sua história – cujo principal eixo é o relacionamento familiar, ao mostrar duas figuras paternas tão diferentes e, ao mesmo tempo, tão complementares: aquele que é capaz de iniciar uma pequena guerra para recuperar seu filho e aquele que recobra a sua cria quando decide dar importância ao diálogo entre ambas as partes.

Saturday, November 12, 2005

Vinicius de Moraes: Quem Pagará o Enterro e as Flores se eu me Morrer de Amores? (2005)


A música popular brasileira é cheia de talentos e de artistas que foram fundamentais para a sua transformação e consolidação como uma das escolas mais respeitadas e amadas no mundo todo. O documentário “Vinícius”, do diretor Miguel Faria Jr., como o próprio título confirma, irá falar de Vinícius de Moraes, um dos maiores destaques da música nacional e autor de poemas e de canções que se tornariam clássicas.

“Vinícius” cobre toda a vida do poetinha, desde o seu nascimento em 1913, no Rio de Janeiro, até os momentos que antecederam a sua morte. No entanto, o filme acerta ao dar mais ênfase à importância que Vinícius de Moraes teve para a música brasileira. Por isso, entre uma informação e outra sobre a sua vida pessoal, ficamos sabendo como a atividade musical foi aos poucos invadindo e tomando por completo a vida do diplomata aficionado pelas mulheres.

Para falar sobre Vinícius de Moraes, o diretor Miguel Faria Jr. reuniu um time de primeira: os cantores, compositores e, em alguns casos, parceiros musicais Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Carlos Lyra, Edu Lobo, Carlinhos Vergueiro, Toquinho; as cantoras Miucha e Maria Bethânia; a atriz Tônia Carrero; os escritores Ferreira Gullar e Antonio Candido; além de suas quatro filhas (Susana, Georgiana, Luciana e Maria); dentre tantos outros. Todos eles irão revelar o caráter de Vinícius, descrito por todos como sendo um homem de uma eterna busca. O poetinha vivia perseguindo o amor, a paixão e queria fugir da solidão (temas esses que foram recorrentes em suas composições e poemas). Ao mesmo tempo, estes ilustres amigos revelam o grande conflito da vida de Vinícius: a figuração de sua obra entre os terrenos do erudito e do popular – fato que levou muitos críticos a diminuírem o seu excelente trabalho.

Em paralelo aos relatos e registros de pontos da vida de Vinícius de Moraes, o diretor Miguel Faria Jr. faz uso de um recurso anteriormente utilizado no filme “De-Lovely - Vida e Amores de Cole Porter”, que retratava a vida de Cole Porter, um outro compositor que cantou as dores e as alegrias do amor. Pontuando estes relatos e registros, os atores Camila Morgado e Ricardo Blat participam de um pocket show e declamam poesias de Vinícius; enquanto artistas como Zeca Pagodinho, Mart’Nália, Mônica Salmaso, Olívia Byington, Adriana Calcanhotto, Mariana de Moraes e o violonista Yamandú Costa interpretam canções do poetinha.

Vinícius de Moraes foi fundamental em dois momentos históricos da música popular brasileira: na criação da Bossa Nova e, durante o período denominado de Pós-Bossa, criando um estilo, em parceria com o violonista Baden Powell, que ganhou o nome de Afro-Samba. No entanto, Vinícius transitou por todos os estilos da música – e da cultura – brasileira. “Vinícius”, neste sentido, é mais do que um tributo à vida e à obra do poetinha; e sim um registro de uma época áurea da nossa música. Lembrar de figuras como ele, nos dias atuais, é constatar o estado de agonia em que vive a música popular brasileira, que clama urgentemente pela presença de um sangue novo, de pessoas audazes e verdadeiras como o próprio Vinícius de Moraes.

Cidade Baixa (2005)



Os créditos iniciais de “Cidade Baixa”, de Sérgio Machado, já prevêem o maior dos conflitos que irão existir no filme. O diretor utiliza um recurso muito interessante no momento em que ele apresenta a sua dupla de atores principais: Lázaro Ramos X Wagner Moura. O uso do “X” coloca os dois atores em lados opostos de um ringue, em uma luta constante – seja por causa dos personagens que interpretam ou, na melhor das hipóteses, em um duelo de atuações (afinal, Ramos e Moura são dois dos melhores talentos da nova geração de atores brasileiros).

Em “Cidade Baixa”, os dois amigos na vida real interpretam os também inseparáveis Deco e Naldinho. A dupla é proprietária de um barco de pesca e ganha a vida transportando mercadorias de uma cidade baiana à outra. Em uma destas viagens, Deco e Naldinho vão conhecer a bela e sensual Karina (Alice Braga, a Angélica de “Cidade de Deus”). A garota trabalha como prostituta, quer ir para Salvador para “pegar um gringo antes do Carnaval” e acaba pegando carona no barco dos dois amigos.

Enquanto partem rumo à Salvador, Deco e Naldinho se envolvem com Karina. O triângulo amoroso irá continuar na capital baiana, com os dois amigos se revezando em carícias com Karina, ao mesmo tempo em que quebram o princípio que fundamenta a amizade deles: o de que nenhuma mulher irá se meter no caminho dos dois. No entanto, Karina cumpre bem o seu papel de principal vértice do triângulo amoroso e envolve Deco e Naldinho no seu jogo de sedução, pondo um amigo contra o outro ao fazer nascer os sentimentos de desconfiança e traição entre eles.

“Cidade Baixa” se passa justamente no submundo de Salvador, num local marcado pela intriga, pela violência, pelo ciúme, pela luxúria e pelo sexo. O roteiro de Sérgio Machado e Karim Ainouz (o mesmo de “Madame Satã”) irá enfatizar principalmente algo que existe em excesso neste submundo: a intensidade – seja na amizade entre Deco e Naldinho, na paixão que eles sentem por Karina e na própria personalidade dos três personagens. Por isso mesmo, o que se sobressai no filme é a performance de Lázaro Ramos, Wagner Moura e Alice Braga. A química existente entre eles torna verossímeis todos os acontecimentos retratados na tela e justificam também o sentimento que invade Deco, Naldinho e Karina no final de “Cidade Baixa”. A impressão que se tem no término do filme é a de que acabamos de assistir à dramatização de uma história de Nelson Rodrigues; mas uma que traz uma resignação e que deixa nas mãos dos espectadores a responsabilidade de finalizar a história.

Saturday, November 05, 2005

Tudo Acontece em Elizabethtown (Elizabethtown, 2005)


Na sua curta carreira como ator, Orlando Bloom se notabilizou por interpretar papéis em filmes situados em épocas muito antigas. Foi assim na trilogia “O Senhor dos Anéis”, do diretor neozelandês Peter Jackson, e em “Cruzada”, do diretor inglês Ridley Scott. Em “Tudo Acontece em Elizabethtown”, do diretor e roteirista Cameron Crowe, Bloom quebra a escrita e interpreta pela primeira vez um personagem que vive nos dias atuais.

No filme, Orlando Bloom vive Drew Baylor, um designer de calçados que ainda não fez algo de concreto na sua vida. O seu primeiro grande projeto profissional – um tênis que fará o consumidor ter a sensação de que está andando nas nuvens -, fruto de oito anos de dedicação ao trabalho e de afastamento da sua família, resulta num fracasso de grandes proporções (a empresa na qual ele trabalha amargou um prejuízo de aproximadamente 1 bilhão de dólares com o produto). Em conseqüência disso, Drew é demitido diretamente pelo presidente da empresa (Alec Baldwin) e perde a namorada Ellen (Jessica Biel). Prestes a cometer suicídio, Drew recebe uma ligação da irmã o informando da morte de seu pai. Como filho mais velho, Drew tem que assumir a responsabilidade de viajar para a cidade de Elizabethtown e trazer de volta o corpo do pai.

Inicialmente, a morte do pai não irá atrapalhar os planos de Drew. Ele ainda quer cometer suicídio. No entanto, a jornada pela qual Drew irá passar a partir do momento em que ele entrar em contato com a família de seu pai e com as suas origens farão com que ele repense sua vida. O contato com a aeromoça Claire (Kirsten Dunst), uma garota completamente diferente dele, também lhe mostrará um outro lado da vida e lhe ensinará a não levar tudo tão a sério e a aproveitar cada instante de sua existência – tirando o que eles têm de melhor a oferecer.

Baseado em uma experiência vivida pelo próprio Cameron Crowe, “Tudo Acontece em Elizabethtown” é uma tentativa do diretor e roteirista de repetir o sucesso de “Quase Famosos”, um outro filme baseado em fatos da própria vida dele. Por isso mesmo, no filme encontraremos temas que são recorrentes na filmografia do diretor como as figuras excêntricas, o protagonista que vive em busca de sua identidade ou de novas experiências e a forte presença do núcleo familiar (especialmente da mãe e da irmã); além de inúmeras referências à cultura pop (especialmente nos momentos finais do filme).

Em seu segundo papel consecutivo como protagonista de um filme (o primeiro foi em “Cruzada”), Orlando Bloom repete os mesmos erros de sempre e, apesar de possuir um olhar carregado de melancolia, o ator compõe Drew com uma apatia que revela o quão inseguro ele se sente quando tem que carregar o peso de um filme sozinho. Ainda bem que, assim como aconteceu em “Cruzada”, Bloom está rodeado por um excelente elenco de apoio. Susan Sarandon rouba a cena nas poucas vezes em que aparece e Kirsten Dunst brilha com sua contagiante interpretação de Claire. É a presença dela em “Tudo Acontece em Elizabethtown” que faz o filme valer a pena. Desse jeito, fica a sensação de que Dunst não só salvaria o personagem de Bloom de cometer suicídio, e sim a todos nós.