Saturday, June 30, 2007

Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado (Fantastic Four - Rise of the Silver Surfer, 2007)

O Quarteto Fantástico – grupo formado pelo cientista Reed Richards (Ioan Gruffudd), pelo piloto Ben Grimm (Michael Chiklis, do seriado “The Shield”) e pelos irmãos Johnny Storm (Chris Evans) e Susan Storm (Jessica Alba) – não são os seus típicos super-heróis. Ao contrário do Homem-Aranha e do Superman, os super poderes que eles possuem não são desconhecidos da sociedade. Pelo contrário, o quarteto é celebridade em sua cidade e, assim como acontece com os astros do cinema e da música, eles têm sua vida destrinchada nos mínimos detalhes pela imprensa. A maneira como o quarteto lida com a fama – e os pontos positivos e negativos que ela traz consigo – é somente uma das facetas abordadas pelo filme “Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado”, do diretor Tim Story, e continuação do filme de sucesso de 2005.

Na trama criada por Don Payne, Mark Frost e John Turman, o quarteto já se acostumou completamente com os seus poderes e tentam viver uma vida mais próxima do normal. Reed e Susan estão envolvidos nos preparativos do seu casamento (e, acreditem, o universo não está conspirando a favor do casal). Ben, depois de perder a esposa no primeiro filme, reencontra o amor com Alicia (Kerry Washington). Já Johnny adora o seu status de celebridade e aproveita tudo da melhor maneira possível, com muitas festas, mulheres bonitas e diversão.

Mesmo assim, o quarteto ainda tem muitas responsabilidades e elas vão bater na porta do grupo quando uma criatura estranha chamada Surfista Prateado (encarnado por Don Jones, mas com a voz de Laurence Fishburne) começa a fazer uma série de aparições na Terra. Em comum, o fato de que diversas alterações climáticas acontecem em decorrência das visitas do Surfista. Contatados pelo General Hager (Andre Braugher), o quarteto tem que agir antes que a Terra seja destruída – e o pior é que eles vão ter que trabalhar com o seu maior inimigo, Victor Van Doom (Julian McMahon, do seriado “Nip/Tuck”), que ressurge das cinzas.

O Quarteto Fantástico trabalha em conjunto e é uma família. Por causa disso, suas histórias são cheias de momentos que são comuns. O roteiro do filme equilibra muito bem as cenas de comédia, com as de romance e, claro, as de ação. O diretor Tim Story, que já tinha feito um bom trabalho no primeiro filme da série, aprofunda ainda mais as histórias particulares de cada personagem e executa com esmero as ótimas cenas de ação. “Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado” é um trabalho muito bom, que já deixa os cinéfilos de olho em uma possível terceira parte.

Cotação: 7,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Thursday, June 28, 2007

88 Minutos (88 Minutes, 2007)

As primeiras cenas do filme “88 Minutos”, do diretor Jon Avnet, podem enganar bastante. Um homem de meia-idade está em uma festa num bar. Ele acorda, no outro dia, ao lado de uma bela mulher, quando o seu telefone toca. É um detetive de polícia (William Forsythe) que relata para ele a cena de um crime. Seria uma situação completamente normal se não fosse por um mero detalhe: o homem que atende ao telefone não é um policial, muito menos um promotor ou advogado. Ele é um psiquiatra forense, que trabalha para o FBI.

Mas, você deve estar se perguntando, o que ele tem a ver com a cena do crime? Muito. Como veremos nas cenas seguintes, o psiquiatra forense se chama Jack Gramm (Al Pacino, numa boa atuação) e é super famoso na área. O crime relatado no início de “88 Minutos” tem o mesmo perfil dos cometidos por Jon Forster (Neal McDonough), o caso mais famoso pego por Gramm. O assassinato é ainda mais intrigante, pois ocorre no dia em que Forster será executado.

A trama de “88 Minutos” fica ainda mais complicada quando o assassino imitador do estilo de Jon Forster ataca novamente (suas vítimas, curiosamente, são todas mulheres do círculo de conhecimento de Jack Gramm) e ainda faz uma ligação anônima para o psiquiatra forense para dizer que ele tem somente 88 minutos de vida – fato que obriga Gramm a correr feito um louco para desvendar a identidade do imitador e tentar salvar a sua vida e reputação, que está indo por água abaixo na medida em que a condenação de Jon Forster começa a ser questionada.

Num filme como “88 Minutos”, cuja trama acontece quase que em tempo real (numa clara influência da série de TV “24 Horas”), o elemento mais importante é o roteiro. Se ele tem algum furo, tudo dá errado. O de “88 Minutos”, que foi escrito por Gary Scott Thompson (cujos créditos incluem episódios do seriado “Las Vegas” e os dois primeiros filmes da série “Velozes e Furiosos”), vai sendo desenvolvido de maneira correta até chegar ao quarto final, quando o roteirista se rende às obrigatórias reviravoltas chocantes que já fazem parte do gênero do thriller psicológico. Se você decidir ignorar isto, “88 Minutos” é até um filme interessante sobre como a vingança – às vezes – não leva a nada.

Cotação: 4,5

Crédito Foto: Yahoo! Cinema

Saturday, June 23, 2007

Treze Homens e um Novo Segredo (Ocean's Thirteen, 2007)

Nos anos 50, um grupo formado por Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Joey Bishop e Peter Lawford ficou conhecido como o “Rat Pack” e, com seus filmes e shows, passaram a ser os maiores embaixadores de um estilo de vida que conhecemos como “bon-vivant” – aquele que aprecia o luxo, a diversão, os amores, ou seja, aquilo que eles consideram como os maiores prazeres da vida. Os rapazes tinham como sede a cidade de Las Vegas, a qual é quase um sinônimo de tudo aquilo em que eles acreditavam – com os seus cassinos, hotéis luxuosos e a possibilidade concreta de se fazer ou de se arruinar em meio a tanta pompa e ostentação.

No começo desta década, George Clooney resolveu fazer a sua própria versão do “Rat Pack” e convidou alguns dos astros mais importantes do cinema atual, como Brad Pitt e Matt Damon, para fazer uma série de filmes “caça-níqueis”, cujo sucesso os permite financiar aqueles projetos mais pessoais e, digamos, artísticos. Como se não bastasse a reunião de três grandes estrelas, Clooney ainda convenceu seu parceiro na Section Eight, o diretor Steven Soderbergh (um dos poucos atualmente a ter pleno domínio do seu ofício), para dar a aura cool e desinteressada que a série tanto pretendia ter.

Assim como aconteceu com o Rat Pack, Clooney e seus amigos também adotaram a Cidade do Pecado como sede de seus filmes (com exceção da continuação “Doze Homens e um Outro Segredo”). “Treze Homens e um Novo Segredo” tem a mesma estrutura dos outros filmes. Entre um assalto e outro, cada um dos membros dos “Onze de Ocean” vive sua própria vida, fazendo seus golpes sozinhos. Aqui, eles se reúnem por causa do infarto que quase mata Reuben (Elliott Gould). Acontece que ele estava fazendo negócios com Willy Bank (Al Pacino), superpoderoso do ramo hoteleiro, e que passou a perna no inocente golpista. Para defenderem a honra de Reuben, Danny Ocean (Clooney), Rusty Ryan (Pitt) e Linus (Damon) reúnem a turma, mais uma vez, para aplicar um golpe milionário no dia da inauguração do hotel de Bank.

Um detalhe chama logo a atenção dos cinéfilos em “Treze Homens e um Novo Segredo”. O diretor Steven Soderbergh e os roteiristas Brian Koppelman e David Levien colocam o foco no planejamento e na execução do assalto perfeito, deixando de lado as tramas paralelas que envolviam especialmente Danny Ocean e Rusty Ryan com as mulheres que entravam em suas vidas. Neste sentido, o roteiro dá a oportunidade para que cada um dos membros dos “Onze de Ocean” brilhe. Ao mesmo tempo, ao fragmentar a trama em demasiado, Soderbergh e os dois roteiristas meio que tiram o foco em muitos momentos daquilo que realmente importa: acompanhar a capacidade de improvisação, de criatividade e raciocínio rápido que estes rapazes têm para justamente bolar o plano perfeito e saírem ricos e despreocupados para tocarem as suas vidas.

“Treze Homens e um Novo Segredo” carrega com maestria o fardo dos outros dois filmes. Como entretenimento, é uma peça de primeira. No entanto, o mais importante – e que está refletido em excesso na grande tela – é o fato de que os atores que fazem o filme continuam se divertindo bastante ao brincarem de ladrões. Enquanto George Clooney, Brad Pitt, Matt Damon, Don Cheadle, Elliott Gould, Andy Garcia, Casey Affleck, entre outros, encararem os filmes da série como uma bela maneira para fazer algo despretensioso entre seus projetos pessoais, os filmes sobre os “Onze de Ocean” continuarão a funcionar.

Cotação: 8,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Wednesday, June 20, 2007

Shrek Terceiro (Shrek The Third, 2007)

Nos filmes da série “Shrek”, tudo é motivo para se tirar sarro. Desde o espírito de estrelismo, grandiosidade e consumo, até os clichês dos contos de fadas, passando também pelo culto à beleza. Nada passa imune aos roteiros dos filmes da série. Se os dois primeiros filmes falavam sobre a construção do relacionamento entre o ogro Shrek (dublado por Mike Myers) e a princesa Fiona (dublada por Cameron Diaz), “Shrek Terceiro”, filme dirigido por Chris Miller, discorre mais sobre o amadurecimento pessoal dos dois.

O reino de Tão, Tão Distante está vivendo um momento difícil, já que o rei Harold (dublado por John Cleese) está seriamente doente. Shrek e Fiona, portanto, assumiram o controle – temporariamente – do reino, esperando o pleno restabelecimento do rei para que eles pudessem voltar para o pântano, o local que eles consideram o seu lar. No entanto, o rei Harold não resiste e acaba falecendo. Com medo de uma vida permanente no reino e num posto (o de rei) com o qual ele tem certeza de que não irá se adaptar, Shrek parte numa busca pelo segundo homem na linha de sucessão do reino: o atrapalhado estudante Artie (dublado pela estrela da música pop Justin Timberlake).

Esta não é a única crise que Shrek tem que administrar. No momento em que parte na sua viagem, Fiona o revela que está grávida – fato que deixa o ogro aterrorizado, tendo em vista que ele não pretendia aumentar a família. Além disso, o Príncipe Encantado (dublado por Rupert Everett) volta com o objetivo de ser ele o rei de Tão, Tão Distante e, para atingir isso, causa o terror entre as mulheres do reino – entre as quais estão, além de Fiona, sua mãe, a rainha Lillian (dublada por Julie Andrews) e personagens clássicos dos contos de fadas, como Rapunzel, Cinderela e Branca de Neve.

Os elementos mais interessantes dos filmes anteriores da série “Shrek” eram o seu roteiro, que equilibrava muito bem as sátiras aos contos de fadas, com o desenvolvimento dos personagens recorrentes da trama e com a introdução de novos seres que se adequavam de maneira perfeita à história; e a qualidade da animação feita pela equipe da Dreamworks. Em “Shrek Terceiro”, Shrek e Fiona continuam com seu lugar de destaque. No entanto, personagens que antes eram importantes como o Burro (dublado por Eddie Murphy) e o Gato de Botas (dublado por Antonio Banderas) foram relegados a um segundo plano. A sorte dos produtores é que os personagens da série "Shrek" já têm uma empatia muito forte com o público.

Cotação: 8,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Wednesday, June 13, 2007

Totalmente Apaixonados (Trust the Man, 2006)

Já bem perto do final de “Totalmente Apaixonados”, comédia romântica escrita e dirigida por Bart Freundlich, um diretor de teatro fala o seguinte para a famosa atriz Rebecca Pollack (Julianne Moore, esposa de Freundlich na vida real): “nós estamos nisto juntos, minha querida. Todos condenados ao teatro. Condenados a viver pela nossa arte. Porque nós não sabemos como viver nossas vidas. Nós somos ilhas”. Essa frase, no entanto, não se adequa somente à Rebecca, e sim a todos os personagens do filme – que se vêem diante de uma crise pessoal, em que eles se deparam diante de situações novas e que são, de certa maneira, aterrorizantes.

Rebecca é casada com Tom (David Duchovny) e ela é a porção bem-sucedida do casal, afinal ela é uma atriz de sucesso prestes a estrear uma peça de teatro na Broadway, enquanto ele abandonou uma carreira na Publicidade e se transformou em pai em tempo integral de seus dois filhos com Rebecca. Do outro lado, temos um segundo casal: Elaine (Maggie Gyllenhaal) e Tobey (Billy Crudup), que namoram há sete anos. Neste caso, a secretária Elaine é a porção madura do par. Ela tem um emprego fixo e aspirações profissionais e pessoais (para ela, chegou o momento certo de casar e de ter filhos), enquanto ele vive de trabalhos ocasionais como jornalista e se comporta como um verdadeiro jovem – ou seja, ele está satisfeito com a maneira como as coisas estão e se recusa a assumir um compromisso mais sério.

O roteiro do diretor Bart Freundlich tenta discorrer de maneira bem descontraída – e adulta, ao mesmo tempo – sobre as crises nestes relacionamentos. E as dúvidas serão representadas na forma de alguns personagens, que vão sendo introduzidos aos poucos na trama, como Pamela (Dagmara Dominczyk), a bela mãe com quem Tom irá dividir bem mais do que momentos fofos no parquinho e reuniões de pais e mestres; Jasper Bernard (Justin Bartha), o jovem ator que alimenta o ego de Rebecca com seus galanteios; Faith (Eva Mendes), a garota com quem Tobey namorou na faculdade; e Goren (Glenn Fitzgerald, um péssimo ator), o cara maduro e que está disposto a formar a família que tanto Elaine quer.

"Totalmente Apaixonados” é um filme que, como eu disse anteriormente, tenta abordar o tema da crise pessoal de forma descontraída. No entanto, o diretor e roteirista Bart Freundlich não consegue sequer arrancar risos da platéia. O filme tem um desenvolvimento um tanto lento no seu primeiro ato, o que faz com que a sua segunda parte seja muito prejudicada. Mesmo assim, o filme consegue ter um ponto em comum. Nele, não são as mulheres que estão em crise, e sim os homens. Tanto Tom quanto Tobey se vêem ao lado de mulheres de personalidade fortes, que são bem-sucedidas e que lutam por aquilo que desejam, sem esquecer de dar a devida atenção aos seus relacionamentos pessoais. A impressão que a gente tem é a de que o próprio Freundlich exorciza seus fantasmas de ser um diretor aspirante casado com uma grande atriz e que é muito mais bem-sucedida que ele. Assim como seus personagens masculinos, o que Freundlich talvez tenha percebido é que ele poderá nunca ser tão aclamado quanto sua esposa, mas se sente satisfeito com tudo aquilo que conquistou. No entanto, a julgar pelo resultado final de “Totalmente Apaixonados”, não custa nada pedir para ele que lute para ser bem melhor do que isso.

Cotação: 5,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Wednesday, June 06, 2007

Um Crime de Mestre (Fracture, 2007)

Numa era de séries como “C.S.I. – Crime Scene Investigation”, “Law & Order”, “Close to Home”, “Cold Case”, “Without a Trace”, “Justice”, entre outras, ficou provado que não existe o chamado crime perfeito. O filme “Um Crime de Mestre”, do diretor Gregory Hoblit, através do roteiro de Daniel Pyne e Glenn Gers, quer provar justamente o contrário: o crime perfeito pode ser possível, tendo em vista que ele é o fruto de um jogo de mente, em que a esperteza é o fator fundamental.

Willy Beachum (Ryan Gosling) é uma estrela em ascensão na promotoria pública da cidade de Los Angeles. Jovem, bonito, carismático, talentoso e competente, ele tem o impressionante índice de 97% de condenações. Profissionais como Willy são visados, principalmente, pelos grandes escritórios de advocacia e trabalhar no ramo privado é um grande sonho dele. Quando a oportunidade, enfim, bate à sua porta, Willy tem que concluir um último caso antes de abraçar o novo desafio de sua carreira.

Num bairro nobre de Los Angeles, o inteligente e perspicaz Ted Crawford (Anthony Hopkins) já sabia há um bom tempo que sua esposa, Jennifer (Embeth Davidtz), o traía com o detetive de polícia Rob Nunally (Billy Burke). Em uma noite, Ted surpreende Jennifer com um tiro no rosto que a deixa em coma irreversível. Preso em flagrante, com a arma do crime nas mãos e uma confissão assinada, o caso de Crawford parecia ser o mais fácil da carreira de Willy. No entanto, o julgamento traz grandes surpresas e as provas obtidas pela polícia de Los Angeles acabam sendo desqualificadas.

Com a possibilidade de perder, não só o emprego no grande escritório de advocacia, como também o posto de promotor público, Willy ganha uma obsessão: solucionar o assassinato de Jennifer Crawford e colocar Ted na cadeia.

“Um Crime de Mestre” se assemelha bastante com “As Duas Faces de um Crime”, outro filme que se passa nos tribunais dirigido por Gregory Hoblit. Em “As Duas Faces de um Crime”, Richard Gere interpreta um advogado-estrela que está mais interessado nos casos que atraem a mídia. Ele vai defender o jovem coroinha interpretado por Edward Norton da acusação de assassinar um dos bispos mais proeminentes da cidade. Todo o filme se apoiava num jogo que acontecia entre advogado e cliente. Sendo que, ao invés do crime perfeito, tínhamos a criação da estratégia de defesa perfeita.

Assim como em “As Duas Faces de um Crime”, “Um Crime de Mestre” se apóia no relacionamento que se estabelece entre Willy (o promotor) e Ted (o acusado). Em decorrência disso, o filme tem como ponto alto as interpretações de Anthony Hopkins e Ryan Gosling. Hopkins age o tempo todo como o mentor experiente que tenta intimidar o jovem impetuoso. É quase que – guardadas as devidas proporções – um replay do duelo entre Hannibal Lecter (o próprio Hopkins) e Clarice Sterling (Jodie Foster) em “O Silêncio dos Inocentes”. A única diferença entre todos estes filmes é que, em “Um Crime de Mestre”, a justiça vence.

Cotação: 7,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Sunday, June 03, 2007

Shut Up & Sing (2006)

Londres, 10 de Março de 2003. Nesta época, o grupo de música country texano Dixie Chicks – que é formado pela vocalista Natalie Maines, pela violinista Martie Maguire e pela multi-instrumentista Emily Robison – estava no topo do mundo. Um show lotado no Shepherd’s Bush Empire Theatre marcava o início da turnê européia do aclamado CD “Home”. Antes de cantar a belíssima canção “Travelin’ Soldier” (que fala sobre um soldado que participou da Guerra do Vietnã), a vocalista Natalie Maines soltou uma declaração que – nas vésperas da invasão dos Estados Unidos ao Iraque – caiu como uma bomba: “Só para que vocês fiquem sabendo, nós estamos do mesmo lado que vocês. Nós não queremos esta guerra, esta violência, e temos vergonha de que o Presidente dos Estados Unidos seja do Texas”.

A recusa das Dixie Chicks em se desculpar por esta declaração e a coragem de enfrentar aqueles (especialmente a indústria country norte-americana) que lhe viraram as costas rendeu duas obras que são um marco divisor para a carreira delas. A primeira delas, o CD “Taking the Long Way”, que venceu os Grammys 2007 de Melhor Álbum do Ano, Melhor Álbum Country do Ano e Melhor Música e Gravação do Ano para o single “Not Ready to Make Nice”. A segunda foi o documentário “Shut Up & Sing”, que foi dirigido por Barbara Kopple e Cecilia Peck (filha do ator Gregory Peck), e que funciona quase como um complemento para os temas tocados pelas Chicks no álbum.

O documentário se passa em dois momentos distintos e que fazem parte desse marco divisor da carreira das Dixie Chicks. Em 2003, Barbara Kopple e Cecilia Peck mostram os desdobramentos do acontecimento no Shepherd’s Bush Empire Theatre. Enquanto as Chicks continuavam fazendo a sua turnê européia, nos Estados Unidos a situação pegava fogo. As pessoas não perdoavam o fato de que Natalie Maines, Martie Maguire e Emily Robison – o grupo feminino que mais vendeu discos na história da música – tivessem virado as costas para o seu país e, pior, tivessem feito o seu protesto contra as decisões do Presidente George W. Bush num show em um país estrangeiro.

O público altamente conservador que ama a música country nos Estados Unidos – e que forma a grande maioria dos eleitores de Bush – começou a fazer uma série de protestos contra as Dixie Chicks. CDs foram queimados, rádios ameaçadas. Quando voltaram aos Estados Unidos, as Chicks e seu empresário começaram uma espécie de operação para mostrarem ao grande público que elas não eram contra os Estados Unidos. Ou seja, as Dixie Chicks saíram do limitado universo country e viraram ícones da cultura pop – nesta época, elas chegaram a aparecer nuas em uma capa de revista e foram entrevistadas pelos grandes nomes do jornalismo norte-americano, como Barbara Walters e Diane Sawyer. O resultado: as Dixie Chicks continuaram sendo ignoradas pelas rádios country, mas venderam todos os ingressos de sua turnê no país.

A segunda linha de tempo de “Shut Up & Sing” se passa em 2006, quando as Dixie Chicks estavam em Los Angeles gravando o CD “Taking the Long Way”, sob a produção de Rick Rubin (que já trabalhou com artistas do porte de Johnny Cash e Red Hot Chili Peppers). Na indústria musical, as Chicks são conhecidas por quebrarem tendências da música country e por terem levado, pela primeira vez, o tradicionalismo do estilo a um diálogo mais aprofundado com a música pop. Elas gostam de inovar – o CD “Home”, por exemplo, trouxe à moda novamente estilos como o bluegrass – e, com “Taking the Long Way”, pela primeira vez, escreveram todas as músicas do álbum e dialogaram com estilos diversos como blues, rock, folk, gospel, pop – sem esquecer, é claro, do country.

O mais interessante é que Barbara Kopple e Cecilia Peck mostram que, nestes três anos, pouca coisa mudou para as Dixie Chicks no que diz respeito à indústria country. Elas continuam sendo ignoradas pelas rádios, pelo público do gênero e pelos shows de premiações da categoria. No entanto, mantiveram o sucesso de vendas (o álbum ficou em primeiro lugar na parada da Billboard na semana de seu lançamento) e, apesar do fato de que o grupo teve uma turnê complicada (com shows cancelados e vendas maiores de ingressos em países estrangeiros), elas se viram diante um novo público – mais adulto e consciente.

“Shut Up & Sing” é um documentário que leva o público além na relação com o ídolo. Quem gosta das Dixie Chicks, as verá no seu momento mais vulnerável, em que as incertezas eram uma constante e em que o medo em relação ao futuro era atenuado por todo um processo de amadurecimento pessoal que as deixou muito mais próximas e fortes e que se reflete, hoje, na maneira em que elas fazem negócios. Quem não gosta das Dixie Chicks, pode ver o documentário como um exemplo de como a liberdade de expressão é um conceito mal utilizado – será que ela existe de verdade? No entanto, o ponto mais positivo de “Shut Up & Sing”, com certeza, é o fato de que, no filme, a controvérsia é o assunto principal, mas é a música das Dixie Chicks que fala por si – e é este o verdadeiro legado delas.

Cotação: 9,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies