Thursday, May 31, 2007

A Família do Futuro (Meet the Robinsons, 2007)

Antes mesmo de estrear nos cinemas de todo o Brasil, a animação “A Família do Futuro”, do diretor Stephen J. Anderson, já conquistava a atenção dos cinéfilos com um teaser super fofo que colocava um grupo de rãs fazendo uma paródia do clássico de Marvin Gaye, “I Heard It Through the Grapevine”.

O roteiro do filme – que foi escrito por Michelle Bochner, Stephen J. Anderson, Robert L. Baird, Jon Bernstein, Daniel Gerson, Nathan Greno, Don Hall e Aurian Redson com base no livro de William Joyce e nas histórias de Shirley Pierce – tem como personagem principal o garotinho órfão Lewis (dublado por Daniel Hansen e Jordan Fry), que mora em um orfanato. Ele tem doze anos e está numa fase bem complicada, pois o seu principal hobby – inventar bugigangas – e a sua idade são fatores primordiais para que ele não consiga ser adotado por uma família.

Na cabeça de Lewis, a única pessoa que o amou de verdade foi a sua mãe e – apesar de ela tê-lo abandonado – Lewis cria, para a feira de ciências do colégio aonde estuda, um aparelho que recupera a memória de um determinado dia. Dessa forma, Lewis espera ver a sua mãe, saber qual a sua origem e impedir que ela o entregue para adoção.

Sem que Lewis saiba, o aparelho de recuperação de memória que foi criado por ele, vira um objeto de desejo importante no futuro – e, em especial, para o vilão dublado por Matthew Josten. Em conseqüência disto, Lewis é “seqüestrado” por Wilbur Robinson (dublado por Wesley Singerman), um garoto que tem 13 anos e uma família estranhíssima (a mãe dele, Franny – que é dublada por Nicole Sullivan –, é a professora de música das rãs que estrelavam o teaser de “A Família do Futuro”). Wilbur quer que Lewis recupere sua máquina das mãos do vilão, que pretende usar a invenção dele para fins maléficos.

"A Família do Futuro” é o primeiro filme do setor de animação da Walt Disney a ser supervisionado por John Lasseter, o todo-poderoso da Pixar Animation Studios (e que, um dia, já foi parceira de negócios da Disney). Algumas diferenças neste filme já podem ser notadas. O roteiro é melhor desenvolvido. A animação é mais moderna. “A Família do Futuro” foge daqueles clássicos momentos musicais que marcam os filmes de animação da Disney. Enfim, o filme é um belo relato sobre a necessidade que todos nós temos de encontrar o nosso próprio caminho e de termos o amor e a segurança que só nos são providos pelo ambiente familiar. O filme só peca por não ter conseguido atrair grandes vozes – os mais famosos a participarem de “A Família do Futuro” são Angela Bassett, Laurie Metcalf, Adam West e Tom Selleck.

Cotação: 6,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, May 26, 2007

Piratas do Caribe - No Fim do Mundo (Pirates of the Caribbean - At World's End, 2007)

Se existe alguma razão por trás do sucesso dos filmes da série “Piratas do Caribe”, ela atende pelo nome de Johnny Depp. O carisma e a afetação do ator como o capitão Jack Sparrow conquistou, não só a crítica, como também o público. Se no primeiro filme, “A Maldição do Pérola Negra”, Sparrow rouba a cena; e, no segundo, “O Baú da Morte”, ele carrega o filme sozinho; no terceiro – e último – filme da série, que se chama “No Fim do Mundo”, os roteiristas Ted Elliott e Terry Rossio não se esquecem de Jack, mas dão chance para que a maioria dos personagens do filme tenha o seu momento para brilhar.

A trama central de “Piratas do Caribe – No Fim do Mundo” se passa num momento particularmente difícil para os piratas. O lorde Cutler Beckett (Tom Hollander) assinou um decreto que condena à morte (sem direito de defesa) qualquer pessoa que fez ou que esteja associada à pirataria. Com a ameaça da extinção do grupo, os líderes piratas decidem se reunir em sua própria organização – a Confraria dos Piratas – para tentar criar uma estratégia de defesa contra o poderoso lorde. Todos os líderes piratas estão disponíveis para ir à reunião – inclusive o recém-ressuscitado capitão Barbossa (Geoffrey Rush) – menos Jack Sparrow, que foi condenado ao mundo dos mortos por causa de sua dívida com Davy Jones (Bill Nighy). Portanto, Barbossa, Elizabeth Swann (Keira Knightley) e Will Turner (Orlando Bloom) se unem no comando do Pérola Negra para resgatar Jack do mundo dos mortos.

No entanto, o espectador vai logo perceber que cada um dos membros da Confraria e do Pérola Negra tem seus próprios interesses nesta missão. Davy Jones e o capitão Sao Feng (Chow Yun-Fat) querem passar a perna um no outro e em todos os outros, ao mesmo tempo. Barbossa quer recuperar o comando solitário do navio Pérola Negra. Will Turner quer o navio para si para poder resgatar seu pai (Stellan Skarsgaard) do domínio de Davy Jones. Elizabeth Swann, finalmente, dá mostras de sua maturidade e toma as rédeas da situação – mas, só porque quer encerrar tudo para poder viver tranqüilamente ao lado de seu amor Will. Já Jack, como sempre, quer ir atrás do acordo que é mais vantajoso para ele. Gravitando em torno destes personagens, está o lorde Beckett, que vai enganando o máximo de pessoas possível para poder ele mesmo ser o dominante geral dos mares.

Assim como aconteceu em “Piratas do Caribe 2 – O Baú da Morte”, o espectador vai se deparar com um filme executado de forma brilhante (os efeitos visuais continuam excelentes e as cenas de ação são ótimas), mas com um roteiro sofrível. O excesso de sub-tramas prejudica – e muito – o ritmo do filme. “Piratas do Caribe – No Fim do Mundo” é um filme tão cheio de acontecimentos que se julgam importantes, que não deu para o diretor Gore Verbinski concluir todas as suas histórias da maneira correta – para se ter uma idéia, a história de Elizabeth e Will só vai ser concluída com uma cena ridícula e desnecessária que o diretor coloca após os créditos finais do filme.

Provavelmente, “Piratas do Caribe – No Fim do Mundo” vai ser um enorme sucesso de bilheteria, muito em parte graças ao ator Johnny Depp e seu sempre ótimo Jack Sparrow. No entanto, o filme oferece alguns outros atrativos, como a presença de Keith Richards, guitarrista dos Rolling Stones e inspiração de Johnny Depp para a composição de Sparrow, como o capitão Teague (o pai de Jack). No entanto, nada disso faz com que se tire o gosto de que as seqüências do “Piratas do Caribe” original foram só uma desculpa para arrecadar ainda mais dinheiro. Espero que depois disso, o produtor Jerry Bruckheimer abandone qualquer idéia de spin-off, pois a saga de Jack Sparrow, Elizabeth Swann e Will Turner já deu o que tinha que dar.

Cotação: 5,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Tuesday, May 22, 2007

Maria Antonieta (Marie Antoinette, 2006)

Maria Antonieta foi a arquiduquesa da Áustria e a rainha da França até a Revolução Francesa, que levou o povo ao poder sob os princípios da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Quando rainha, Maria Antonieta – mesmo exercendo uma grande influência política sob seu marido – foi bastante impopular, pois não tinha sensibilidade para entender as necessidades de seu povo, que, por sua vez, não entendia os gastos exorbitantes de sua soberana. É este personagem complexo e fascinante o objeto de estudo da cinebiografia “Maria Antonieta”, da diretora e roteirista Sofia Coppola.

Coppola nos apresenta este personagem de uma maneira bastante interessante. No primeiro ato, Maria Antonieta (Kirsten Dunst, na melhor atuação de sua carreira) é somente uma jovem austríaca inexperiente, que é enviada para a França para se casar com Luís Augusto (Jason Schwartzman), o herdeiro do trono francês. O casamento, além de selar a aliança entre o povo austríaco e francês, tem como objetivo principal produzir um novo herdeiro para o reino da França. Esta mudança é muito abrupta e de difícil adaptação para Maria Antonieta, que tem que deixar para trás qualquer objeto que a faça se lembrar de seu lar e de suas origens. Ela tem que abraçar uma nova vida, num novo local com toda uma leva de novos – e ridículos – costumes.

Sofia Coppola retrata com competência o conflito destes dois jovens – Luís Augusto e Maria Antonieta – que foram metidos num casamento sem estarem preparados para isto. Sem privacidade ou clima favorável para se conhecerem melhor, os dois viram a piada do ano na corte, já que Luís não consegue consumar o casamento com a sua jovem e bela esposa.

No segundo ato, já com Luís XVI elevado ao posto de rei da França e, por conseqüência, Maria Antonieta como rainha do país, as posições se invertem. Sofia Coppola, então, mostra o deslumbre que a jovem sente no seu novo papel – e o qual é representado pela luxúria e pelos gastos excessivos com roupas, festas e jogos. Pela primeira vez, Maria Antonieta leva uma vida independente de seu marido – e, curiosamente, é assim que os dois vão ficar mais próximos do que nunca e irão constituir a tão sonhada família.

O filme todo, na realidade, trata do choque entre vida adolescente e vida adulta. Maria Antonieta era uma criança quando se casou. Após se tornar rainha, tentou recuperar o tempo perdido e viveu com intensidade. Mesmo assim, ela demonstra, no final, maturidade suficiente para entender qual o seu verdadeiro papel e o que as pessoas esperam que ela faça. A história de Maria Antonieta seria atemporal – talvez, por isso, Sofia Coppola tenha optado pelo uso de uma trilha sonora contemporânea.

O que fica claro para a platéia no decorrer de “Maria Antonieta” é a identificação que se estabeleceu entre a personagem e a diretora e roteirista Sofia Coppola. O que ela demonstra no filme é a maturidade de uma cineasta que sabe o que quer. Tecnicamente, “Maria Antonieta” é um dos filmes mais belos dos últimos anos. Os figurinos da vencedora do Oscar 2007 Milena Canonero; a fotografia de Lance Acord; a direção de arte de Pierre Duboisberranger, Anne Seibel e K. K. Barrett e as locações do filme são primorosas. Os erros cometidos por Coppola aparecem mais no quarto final de “Maria Antonieta”, quando a rapidez por concluir a história acaba por colocar a platéia diante de uma série de acontecimentos que ficam mal esclarecidos. Esta é uma obra subestimada e que deve ser levada a sério, pois não é nenhum capricho adolescente.

Cotação: 7,2

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Monday, May 21, 2007

Pecados Íntimos (Little Children, 2006)

O seriado “Desperate Housewives” estreou na temporada 2004-2005, no canal norte-americano ABC, com uma premissa muito interessante: acompanhar a vida de donas-de-casa que moram num bairro de classe média alta com suas famílias. O ponto crucial do seriado era mostrar que, por trás da fachada de luxo, riqueza e felicidade, existe também muito mistério, intriga, amor, traição, sexo e morte. O filme “Pecados Íntimos”, do diretor Todd Field (que co-escreveu o roteiro ao lado do escritor Tom Perrotta), tem um quê de “Desperate Housewives”.

Os personagens principais de “Pecados Íntimos” possuem uma coisa em comum: para o mundo, eles possuem uma vida perfeita; mas, entre quatro paredes, eles se sentem presos a uma vida que não é feliz. Sarah Pierce (Kate Winslet, que foi indicada ao Oscar 2007 de Melhor Atriz pela sua performance neste filme) é casada com um homem mais velho (Gregg Edelman) e mãe de Lucy (Sadie Goldstein). Sarah, aparentemente, não se sente à vontade com seu papel de mãe e anseia pelo momento em que o marido chega em casa do trabalho, para que ela possa ter um momento somente dela e, de preferência, ao lado dos livros que ela tanto gosta.

Já Brad Adamson (Patrick Wilson) é casado com a documentarista Kathy (Jennifer Connelly) e pai do garotinho Aaron (Ty Simpkins). Brad é advogado, mas nunca passou no exame da Ordem, por isso sua profissão é ser pai em tempo integral. A esposa o pressiona a fazer novamente o exame da Ordem, mas, sinceramente, Brad não sabe o que quer fazer da vida. A impressão que ele nos dá é a de que é um garotão em uma crise prematura de meia idade.

Em meio a brincadeiras no parque e na piscina pública, Brad e Sarah irão se conhecer e terão um caso extraconjugal. O momento para o flerte não poderia ser impróprio, afinal o bairro aonde eles moram vive em polvorosa por causa da chegada de Ronnie McGorvey (Jackie Earle Haley, que foi indicado ao Oscar 2007 de Melhor Ator Coadjuvante), que foi condenado por atentado ao pudor contra uma criança.

O diretor Todd Field vem se especializando na arte de fazer filmes sobre pessoas que estão no seu limite e que tentam, de alguma forma, recomeçar as suas vidas. Em “Pecados Íntimos”, ele consegue ser bem mais sucedido do que no seu filme anterior (“Entre Quatro Paredes”). Aqui, ele mostra que os erros nunca podem ser esquecidos – já que eles fazem parte do que somos. No entanto, o recomeço não precisa ser abrupto. O que o roteiro de Todd Field e Tom Perrotta mostra é que o futuro pode estar mais perto do que imaginamos – ele pode, por exemplo, ser representado por uma criança ou pela vontade de reviver uma sensação que há muito tempo não tínhamos.

Cotação: 8,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, May 19, 2007

O Cheiro do Ralo (2006)

Fazer um filme no Brasil é uma aventura que chega a ser dolorosa e longa para os envolvidos. O financiamento das obras é quase que estatal – o que não impede a participação de patrocinadores externos. “O Cheiro do Ralo” seguiu um caminho quase que único. O filme foi feito com um pouco de financiamento estatal e privado, mas só conseguiu ser completado com a ajuda dos produtores e da equipe do filme, que fizeram uma vaquinha entre si. Esta cooperativa é um ótimo exemplo de gente que acredita no cinema brasileiro e que veste a camisa por aquilo em que bota fé.

“O Cheiro do Ralo” é o segundo filme do diretor Heitor Dhalia (que co-escreveu o roteiro com Marçal Aquino), que ganhou uma certa projeção nacional com o ótimo “Nina”. Aqui, ele adapta um romance do escritor Lourenço Mutarelli (que participa do filme como ator) que conta a história de Lourenço (Selton Mello), o dono de um antiquário.

Lourenço é um cara estranho, que só compra objetos que possuem uma história por trás deles. O engraçado é que a gente só o vê comprando coisas, mas nunca as vendendo. Parece que ele sente verdadeira paixão em entulhar os seus bens, em consumir estas histórias. O que Lourenço não se dá conta é de que, aos poucos, ele próprio vai sendo consumido pela sujeira do local aonde trabalha – o ralo do banheiro do antiquário solta um cheiro insuportável.

Lourenço não se importa com ninguém. Mas, curiosamente, se preocupa com si mesmo. Ele não quer que seus clientes pensem que o cheiro forte do banheiro vem dele. O que não surpreende nisso tudo é que Lourenço, o cara mais fascinado pelo cheiro ruim do ralo, vá justamente se apaixonar pela bunda de uma garçonete (Paula Braun).

“O Cheiro do Ralo” se apóia no personagem Lourenço. É através do acompanhamento da sua rotina diária, da crise com a ex-noiva (Fabiana Guglielmetti), da relação com os clientes com quem ele estabelece negócios – e, dentre os quais, se destaca a viciada interpretada por Sílvia Lourenço - que iremos conhecê-lo e entender o por quê de tanto fascínio pelo lado podre da vida.

“O Cheiro do Ralo” é um filme que se diferencia da safra normal de filmes brasileiros, não só por ser quase independente, mas por tentar fazer algo único. O roteiro de Heitor Dhalia e Marçal Aquino não tem uma linha pré-definida. São vários pedaços que acabam formando um todo. E isto só faz sentido para a platéia devido ao ótimo trabalho de direção de Dahlia e à fantástica atuação de Selton Mello, um dos atores mais versáteis que temos no Brasil.

Cotação: 6,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Wednesday, May 16, 2007

Número 23 (The Number 23, 2007)

A nossa vida é bastante marcada por uma série de números. A data de nosso nascimento, a cédula de identidade, o número da casa/apartamento aonde moramos, a data em que nos casamos, a data em que nascem os nossos filhos, a data em que morremos, dentre outras. São estes números que definem, de certa maneira, as passagens mais importantes de nossa existência. O filme “Número 23”, do diretor Joel Schumacher, fala justamente sobre a obsessão de um homem com um número que parece ser um elemento recorrente em sua vida.

Walter Sparrow (Jim Carrey) é um cara comum, que trabalha numa central de controle de animais, e que leva uma vida pacata ao lado da esposa Agatha (Virginia Madsen) e do filho Robin (Logan Lerman, um ator revelado no excelente seriado “Jack & Bobby”, que foi cancelado prematuramente). No dia da comemoração de seu aniversário, no entanto, algo começa a dar errado. Ele é mordido por um cachorro no serviço, sua esposa fica doente e não pode ir à festa que daria aos amigos, uma colega de trabalho dá em cima dele e, finalmente, ele se vê preso em um livro que não consegue parar de ler e que lhe foi dado de presente pela sua esposa.

O livro, que se chama “The Number 23”, conta a história de um detetive chamado Fingerling (também interpretado por Carrey), que se vê obcecado pelo número 23, após investigar uma bela garota (Lynn Collins), que acreditava ter sido vítima de uma maldição do número. Na medida em que Sparrow vai lendo o livro, ele começa a enxergar certos paralelos com a sua própria vida, com acontecimentos que marcaram a sua infância, a sua vida adulta. Ou seja, ele também fica paranóico a respeito do número 23 e começa a fazer a sua própria investigação para chegar ao autor do livro e se livrar dessa obsessão.

O roteiro de Fernley Phillips tem uma premissa muito interessante (a de que são as nossas escolhas que nos definem, e não os números ou os adjetivos que recebemos ao longo de nossas vidas) e vai sendo bem desenvolvida até, mais ou menos, o quarto final de “Número 23”. O diretor Joel Schumacher, um dos mais instáveis na indústria cinematográfica, executa bem a sua história, mas peca por ter deixado passar os elementos mais fracos do roteiro de Phillips, e que se encontram justamente na última reviravolta que a trama oferece. Um final hipócrita demais, do tipo “faça a coisa certa”. Uma interpretação caricata de Jim Carrey. São elementos suficientes para fazer com que os cinéfilos fiquem longe de “Número 23”.

Cotação: 1,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Friday, May 11, 2007

First Look: Evening (2007)



Diretor: Lajos Koltai

Elenco: Claire Danes, Toni Collette, Vanessa Redgrave, Patrick Wilson, Hugh Dancy, Natasha Richardson, Mamie Gummer, Eileen Atkins, Meryl Streep, Glenn Close.

Trama: Um drama que explora o passado romântico e o presente emocional de Ann Grant (Redgrave) e suas filhas Constance (Richardson) e Nina (Collette). Ann está no seu leito de morte e relembra os momentos de definição de sua vida há cinqüenta anos atrás, quando ela era uma jovem (Danes).

Por quê prestar atenção em “Evening”?
- O elenco reúne alguns dos melhores atores que temos na atualidade.
- O roteiro é do escritor Michael Cunningham, de “As Horas”, um especialista nas relações humanas e nos sentimentos que movem as nossas vidas.
- O trailer deixa os cinéfilos com um gostinho de quero mais.
- O filme marca a estréia cinematográfica de Mamie Gummer, filha de Meryl Streep, e que mais parece um clone de sua mãe. (será que ela também herdou de sua genitora o talento para a atuação?).
- O filme marca a volta triunfal de Vanessa Redgrave, que, nos últimos anos, vem alternando um papel recorrente na série "Nip/Tuck" com filmes pequenos. Uma indicação ao Oscar já está sendo prevista - Redgrave ainda será vista em "Atonement", outro filme cotadíssimo ao Oscar 2008.


Por quê duvidar de “Evening”?
- Lajos Koltai estréia como diretor de um filme de longa-metragem. No entanto, ele é um experiente diretor de fotografia – seus trabalhos anteriores incluem “Adorável Julia”, “Malèna” e “Sunshine – O Despertar de um Século”.
- Filmes como este são uma faca de dois gumes: ou são uma obra-prima ou são um desastre completo.

As respostas às primeiras exibições de "Evening" têm sido bem positivas. O filme recebeu avaliações muito boas e os elogios têm sido dirigidos especialmente às atuações de Vanessa Redgrave, Claire Danes e Hugh Dancy. "Evening" estréia, de forma limitada, no dia 29 de junho, nos Estados Unidos. O filme ainda não tem data de estréia prevista no Brasil.

Wednesday, May 09, 2007

Minha Mãe Quer que Eu Case (Because I Said So, 2007)

Na cena mais importante da comédia romântica “Minha Mãe Quer que Eu Case”, Daphne Wilder (Diane Keaton) fala a seguinte frase: “O amor de mãe é impossível. Me diga aonde ele termina?”. Esta frase define muito bem o relacionamento que se estabelece entre uma mãe e uma filha – e é esse o elemento mais importante do filme dirigido por Michael Lehmann.

Daphne Wilder é uma supermãe, que protege e interfere excessivamente na vida de suas três filhas: Maggie (Lauren Graham, a fantástica atriz do seriado “Gilmore Girls”), Mae (Piper Perabo) e Milly (Mandy Moore, cada vez melhor como atriz). Por mais que suas filhas reclamem, Daphne acredita piamente que a proteção e a interferência são justificadas, afinal ela dedicou toda a sua vida para criar as filhas. E todas elas se deram muito bem, tendo em vista que têm carreiras profissionais bem-sucedidas e são independentes.

No entanto, Daphne tem uma certeza: a de que sua missão ainda não está completa, pois ela não viu a sua filha caçula Milly se casando ou, na melhor das hipóteses, com um relacionamento amoroso fixo. Milly é uma típica jovem que está na casa dos 20 anos, mas é cheia de responsabilidades: tem sua própria empresa (um buffet), seu apartamento, seu carro. A única coisa que ela não controla é a sua vida amorosa, tendo em vista os constantes pares que sua mãe tenta lhe achar.

Daphne ultrapassa todos os limites quando coloca um anúncio num serviço de encontros online para encontrar um “parceiro de vida” para Milly. Ela se deparará com dois candidatos distintos. O primeiro – e preferido da mamãe – é Jason (Tom Everett Scott), um arquiteto rico, bem-sucedido e culto. O segundo é Johnny (Gabriel Macht), um músico e professor nas horas vagas, que divide uma casa confortável – mas não luxuosa – com o pai Joe (Stephen Collins, o patriarca do seriado “7th Heaven”) e o filho Lionel (Ty Panitz). Estes dois personagens masculinos encarnam muito bem os arquétipos: genro que toda mãe sonhou X bad boy que vai machucar o coração da pobre filhinha.

A personagem que a atriz Diane Keaton interpreta em “Minha Mãe Quer que Eu Case” se parece muito com Erica Barry, personagem que ela mesma interpretou em outra comédia romântica chamada “Alguém Tem que Ceder”, da diretora e roteirista Nancy Meyers. Ambas as mulheres desistiram do amor e, quando se vêem diante da velhice, acham que o seu destino já está traçado. As duas mulheres, no entanto, são surpreendidas com as armadilhas do amor, que sempre aparece quando a gente menos imagina. No caso particular de “Minha Mãe Quer que Eu Case”, a procura de Daphne por um amor para Milly, na verdade, é a sua própria busca.

“Minha Mãe Quer que Eu Case” e “Alguém Tem que Ceder” ainda guardam uma outra importante característica em comum. Os dois filmes contam com uma grande atuação de Diane Keaton. É justamente ela – e seu figurino desastroso, que parece ter saído realmente do guarda-roupa da atriz – os melhores elementos de “Minha Mãe Quer que Eu Case”.

Cotação: 6,3

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Saturday, May 05, 2007

Homem-Aranha 3 (Spider-Man 3, 2007)

Desde 2002 que o diretor, produtor e roteirista Sam Raimi não pensa em outra coisa a não ser no Homem-Aranha, um dos mais populares personagens de histórias em quadrinhos da história. Raimi, ao lado de Bryan Singer (e seu “X-Men – O Filme”, de 2000), são os responsáveis pelo renascimento de um gênero que andava bem decadente: o de filmes baseados em histórias em quadrinhos. Os dois diretores têm muita coisa em comum: ambos são fãs dos livrinhos, respeitam os seus personagens e as histórias que eles protagonizam e, principalmente, um apurado senso cinematográfico – o que faz com que os filmes deles sejam únicos e sigam uma linha de continuação que não contradiz em nada o que foi abordado anteriormente.

Os filmes do Homem-Aranha são ancorados, basicamente, por uma frase que foi dita para Peter Parker (Tobey Maguire), pelo seu tio Ben (Cliff Robertson), no primeiro filme da série: “grandes poderes trazem grandes responsabilidades”. É justamente a morte de Ben, que foi assassinado após uma tentativa de assalto, que faz com que Peter Parker assuma de vez o manto do Homem Aranha, lutando pelas pessoas indefesas e fazendo a sua parte para deixar o mundo um lugar mais pacífico.

Em “Homem-Aranha 2”, Peter se vê dividido entre o seu lado herói e o seu lado humano. Ele não consegue ajudar as pessoas que mais importam em sua vida – a tia May (Rosemary Harris), o seu objeto de afeição Mary Jane Watson (Kirsten Dunst) e o melhor amigo Harry Osborn (James Franco) – e, por causa disso, aposenta o seu uniforme. Um novo vilão, no entanto, o faz voltar à ativa.

Na terceira aventura do herói nos cinemas, “Homem-Aranha 3”, Peter Parker está, provavelmente, no momento mais especial de sua vida. Tudo está dando certo. Ele continua conciliando a faculdade e o trabalho como fotógrafo e, além disso, conquistou de vez o amor de Mary Jane – com quem pretende se casar. Quando a polícia o procura para dizer que o verdadeiro assassino de seu tio, Flint Marko (Thomas Haden Church), fugiu da cadeia, Peter começa a flertar com o sentimento da vingança, que o vai consumindo aos poucos.

O elemento mais interessante do roteiro de “Homem-Aranha 3”, que foi escrito por Sam Raimi, Ivan Raimi e Alvin Sargent, é a compreensão maior que eles nos oferecem sobre os vilões do herói. Eles são pessoas comuns, que se deixaram abater por suas obsessões (a sede de vingança no caso de Harry, a vontade de humilhar aquele que lhe causou o mal no caso de Eddie Brock/Venon – interpretado por Topher Grace – e o desejo de conseguir o dinheiro que pode trazer a saúde de sua filha de volta no caso de Flint Marko). Parker também tem a sua obsessão (encontrar para a polícia o assassino foragido de seu tio) e será consumido por esse lado negro (o Aranha abandona seu habitual uniforme em prol de um traje todo preto), se transformando num cara um tanto arrogante, seguro de si e cheio de “mojo” (a única coisa meio ridícula nisso tudo é o visual meio “emo”, com franjinha na cara e lápis preto no olho), que usa o seu poder exclusivamente para o seu bem próprio.

“Homem-Aranha 3” não é o melhor filme da série, mas é, provavelmente, o filme mais divertido da franquia até agora. Assistir Tobey Maguire se divertindo na pele do Peter Parker do lado negro vale o ingresso. O filme tem poucas cenas de ação (mas, acredite, todas as lutas entre o herói e seus vilões valem a pena) e o importante aqui é aprofundar de vez a construção do personagem Peter Parker e, principalmente, o de Mary Jane (pela primeira vez, vemos os seus medos e conflitos). Vale tirar o chapéu para Sam Raimi pela coragem de terminar “Homem-Aranha 3” sem um gancho para a continuação. A grande surpresa aqui é ver um filme que tem um começo, um meio e um fim bem desenhados. Acho que o Homem-Aranha acabou de passar pela sua fase de transição. Peter Parker não é mais aquele jovem tímido e desajeitado. Ele está entrando na sua vida adulta – e “Homem-Aranha 3” mostra isto com perfeição.

Cotação: 8,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

Thursday, May 03, 2007

Apocalypto (2006)

As primeiras cenas de “Apocalypto”, filme do diretor Mel Gibson, podem enganar bastante. Nelas, a platéia encontra um retrato perfeito do dia-a-dia de uma tribo que vive na época do Império Maia. Em plena floresta, os homens procuram o alimento com seus apetrechos de caça – e ainda arrumam tempo para fazer brincadeiras entre si. O clima ameno é interrompido quando eles se deparam com uma outra tribo. Com a cara tensa, eles confessam que foram desapropriados e que procuram um novo lugar para um novo começo.

Mal sabiam estes homens que eles teriam o mesmo destino. Representantes do Império Maia invadem as suas terras, sacrificam algumas mulheres e crianças e levam os sobreviventes (especialmente os homens) como prisioneiros. As mulheres restantes são vendidas como escravas, enquanto os homens são colocados para construir novos templos ou para participarem de sacrifícios humanos – numa espécie de política de pão e circo completamente distorcida e bizarra.

“Apocalypto” deixa esta abordagem generalizada de lado quando o roteiro escrito por Mel Gibson e Farhad Safinia decide tratar de maneira particular a história de Jaguar Paw (Rudy Youngblood), o filho de um dos governantes da tribo que assistimos no início do filme. Jaguar é um caçador de mão cheia e que está em contato permanente com seu lado espiritual. No meio do caos que se instala na sua tribo, ele consegue deixar a sua família – a esposa grávida e o filho – escondidos em um local. Agarrado à promessa que fez para a esposa e pela vontade de começar uma nova história, Jaguar inicia uma jornada de volta para casa tendo no seu encalço os representantes do Império Maia.

Podemos encontrar neste filme traços das tramas de outros filmes. As cenas que se passam no show de carnificina promovido pelo Império Maia, com o público parecendo um bando de animais sedento por mais violência, parecem ter sido tiradas de “Gladiador”, de Ridley Scott. A viagem de Jaguar de volta para casa com a lembrança do pedido de sua esposa (“volte por mim”) tem ecos de “Cold Mountain”, de Anthony Minghella; que, por sua vez, tem influências diretas do clássico livro “Odisséia”, de Homero.

O lado diretor de Mel Gibson foi o responsável por um dos filmes mais controversos – e lucrativos – da história recente do cinema: “A Paixão de Cristo”. Com este filme, Gibson inaugurou o seu jeito de fazer cinema. Ele faz os seus próprios roteiros, financia seus próprios projetos e só negocia os direitos de distribuição de suas obras. “Apocalypto” foi feito dessa mesma forma. Aqui, Gibson leva além alguns elementos que utilizou em “A Paixão de Cristo”. O mais notável deles é o fator violência. “Apocalypto” é bem gráfico neste sentido e é cheio de cenas em que o sangue é o detalhe menos chocante.

Se comparado ao filme “A Paixão de Cristo”, “Apocalypto” representa um retrocesso. O filme é cheio de problemas, tem um ritmo lento, a trama se perde em certos momentos e só se recupera no quarto final já com o retrato da jornada de Jaguar Paw para voltar à sua casa. “Apocalypto” também não causou tanto barulho como “A Paixão de Cristo” – e olha que poderia, tendo em vista a prisão de Mel Gibson por desacato à autoridade e por dirigir embriagado. Talvez, o que o filme realmente represente é mais a birra de seu diretor. Gibson tem um ego demasiado grande. Seus filmes são megalômanos. Seria interessante que ele se lembre de outro exemplo de diretor que se deu mal por tentar dar um passo maior do que as pernas. Kevin Costner poderia dar muitas dicas ao Gibson. Ele está precisando.

Cotação: 4,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

O Bom Pastor (The Good Shepherd, 2006)

Quando Edward Wilson (Matt Damon) tinha seis anos, o pai dele (Timothy Hutton) lhe contou uma história e o fez um pedido – seu último pedido, na verdade: nunca minta para alguém. Infelizmente, Edward não levou o conselho do seu pai a sério, tendo em vista que ele construiu a sua vida com base nas mentiras e nos segredos que mantinha escondidos dos amigos, da família, dos conhecidos e até mesmo dos colegas de trabalho.

Edward, na realidade, é um cara reservado, de poucas palavras e de ações eficazes. Ou seja, ele é o candidato perfeito para encabeçar a Contra-Inteligência, o coração e a alma da CIA – a Agência de Inteligência dos Estados Unidos – que, por sua vez, são os olhos e os ouvidos da nação norte-americana. E é justamente a criação e consolidação do papel da CIA nos acontecimentos determinantes do mundo em que vivemos o objeto principal de estudo do filme “O Bom Pastor”, de Robert de Niro (que encara a cadeira de diretor pela segunda vez em sua carreira).

O filme se passa nos dias que sucederam o 17 de abril de 1961, após a ação desastrada da CIA, que, durante o governo de John Fitzgerald Kennedy tentou invadir – sem sucesso – Cuba pela Baía dos Porcos. Em meio a uma caça às bruxas dentro da própria Agência, que busca um culpado pelo fracasso da ação, Edward começa a relembrar a sua própria jornada pessoal. O início em uma sociedade secreta na Universidade de Yale, o relacionamento verdadeiro que ele estabeleceu com Laura (a excelente Tammy Blanchard, que, finalmente, é descoberta pelas agências de casting de Hollywood) e que foi interrompido bruscamente quando Edward se casou com Margaret (Angelina Jolie) – a irmã de seu melhor amigo John (Gabriel Macht) –, que estava grávida.

Parece que a expressão “interrupção brusca” é uma constante na vida de Edward. Assim como aconteceu com Laura, antes mesmo de construir uma intimidade com Margaret, Edward – devido o seu trabalho na II Guerra Mundial – passa seis anos afastado de casa. Quando volta, Edward mantém um muro cheio de segredos e de privacidade, que o impede de viver um relacionamento mais pleno com Margaret e o filho Junior (Eddie Redmayne).

O roteiro de Eric Roth enfoca muito a solidão da vida de pessoas como Edward. Ele não pode confiar em ninguém ou se envolver profundamente com as pessoas. Tem uma responsabilidade tremenda no seu emprego. Lida diariamente com as noções de verdade e de mentira. Tem que fazer sacrifícios. É praticamente abdicar de qualquer noção de existência – ou, na melhor das hipóteses, ter uma existência o mais discreta possível.

O material que “O Bom Pastor” aborda é denso e bastante delicado. Por muito tempo, o roteiro do filme foi considerado “um dos melhores ainda não filmados por Hollywood”. Já com Robert de Niro no papel de diretor, “O Bom Pastor” sofreu com a desistência de Leonardo di Caprio (o escolhido para ser Edward) na véspera do início das filmagens. Matt Damon se juntou à equipe em cima da hora e faz um trabalho excelente para quem teve tão pouco tempo para compor seu personagem. De Niro entrega um bom filme sobre como as mentiras podem acabar consumindo um homem a ponto de ele não ver mais saída para os seus próprios conflitos. Edward é um prisioneiro de si mesmo e do mundo que ele criou.

Cotação: 6,2

Crédito Foto: Yahoo! Movies