Monday, October 15, 2007

Tropa de Elite (2007)

Para citar uma frase bastante usada pelo nosso presidente, o Sr. Luís Inácio Lula da Silva, “nunca antes na história deste país” se houve uma crise ética tão profunda. O brasileiro não mais acredita nas suas instituições e, pior, chegou ao ponto em que não mais se espanta quando vê uma notícia sobre violência ou corrupção. Isto já está tão enraizado na nossa sociedade que passamos a achar tudo muito normal – o que é bastante perigoso e alarmante. É justamente aí que entra o Capitão Nascimento (interpretado de forma brilhante por Wagner Moura), o personagem principal – e narrador – de “Tropa de Elite”, filme do diretor José Padilha.

Nascimento é um dos líderes do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), um grupo de elite da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Policial por vocação e por instinto, ele odeia corrupção e sente mesmo que o seu dever é combater todo o sistema podre – para ele, os traficantes, os policiais corruptos e os usuários de drogas são todos inimigos que merecem ser encarados da mesma maneira. No entanto, quando encontramos o Capitão, no início de “Tropa de Elite”, ele está em uma encruzilhada: a sua esposa Rosane (Maria Ribeiro) está grávida do primeiro filho do casal e exige que ele saia do BOPE e tenha uma vida mais calma.

Para a vaga de Nascimento, temos dois candidatos: os aspirantes da Polícia Militar – e amigos de infância – Neto (Caio Junqueira) e André Matias (o estreante André Ramiro). O primeiro é muito parecido com Nascimento: age com a emoção e tem instinto e vocação para ser policial. O segundo encara a polícia como um caminho temporário que ele tem que percorrer, enquanto não se forma em Direito. Em dois atos, “Tropa de Elite” nos mostra todo o funcionamento da Polícia Militar: o sistema corrupto; aquele que tenta fazer a coisa funcionar; a divisão entre policiais que se corrompem, se omitem e os que decidem ir para a guerra e a dura rotina de trabalho e de treinamento do BOPE (grupo que não aceita corrupção nos seus quadros). Além disso, o roteiro do filme – que foi escrito por José Padilha, Rodrigo Pimentel e Bráulio Mantovani (tendo como base o livro “Elite da Tropa”, de André Batista, Rodrigo Pimentel e Luís Eduardo Soares) – não se exime de criticar a sociedade hipócrita que compra maconha no morro, faz passeata contra a violência e trabalha em ONGs; mas que é tão culpada pelo caos da violência urbana, pois financia de forma direta o tráfico que domina as mais de 700 favelas do Rio de Janeiro.

“Tropa de Elite” é o filme mais marcante a ser produzido pelo cinema brasileiro desde a produção de “Cidade de Deus”, do diretor Fernando Meirelles, e do documentário “Ônibus 174”, do mesmo José Padilha. Em comum entre esses filmes, além da alta qualidade da produção, o fato de que eles tratam de problemas que são permanentes na história do Brasil. Mas, ao contrário de “Cidade de Deus” ou “Ônibus 174”, que falam sobre a ascensão da violência ou as causas sociais por trás da formação de um criminoso, “Tropa de Elite” é um filme bem mais atual ao momento em que estamos vivendo e é muito difícil ficar indiferente a ele.

Cotação: 9,0

Tropa de Elite (Tropa de Elite, Brasil, 2007)
Diretor(es):
José Padilha
Roteirista(s): Bráulio Mantovani, José Padilha, Rodrigo Pimentel
Elenco: Wagner Moura, Caio Junqueira, André Ramiro, Milhem Cortaz, Luiz Gonzaga de Almeida, Fernanda de Freitas, Bruno Delia, André Mauro, Thelmo Fernandes, Emerson Gomes, Bernardo Jablonsky, Fábio Lago, Daniel Lentini, Fernanda Machado, Alexandre Mofatti

20 comments:

Unknown said...

excelente filme... o filme brasileiro que mais marcou nos últimos tempos!!!!!

Recomendo MUITO!!!!!

Vagner Moura excelente!!!

nota 10! já vi 3 vezes!

Anonymous said...

Simplesmente espetácular filme. Conderi ontém nos cinemas e ainda não consigo tirá-lo da cabeça. Marcante é pouco. Ótima crítica para um fantástico filme.

Nota 9,5

Ciao!

Kamila said...

Douglas, "Tropa de Elite" é o tipo de filme que a gente vê e revê sempre.

Wally, o filme fica mesmo na nossa cabeça. Eu acho que isso é muito bom!

Beijos.

Andressa Cangussú said...

Olá Kamila!
Andei sumida por causa do computador quebrado, mas o cinematografo tá de volta viu?!

Não vi Tropa de Elite ainda, pois na minha cidade os filmes as vezes atrasam um pouco mesmo, mas nunca na história deste país vi tanta pirataria! É até difícil resistir quando vejo tanta gente comentando, mas espero em breve assistir essa obra tão comentada!
Sou fã de Cidade e de ônibus 174, sem falar de Wagner Moura!

Ótimo texto colega!
Abraços

Otavio Almeida said...

Filmaço, Kamila!

Fiquei uma semana impressionado. E nunca mais verei o RJ com os mesmos olhos que nasceram lá.

Bjs!

Kamila said...

Oi, Andressa. Que bom que está de volta. Espero que "Tropa de Elite" estréie por aí. Se você é fã de "Ônibus 174" e do Wagner Moura, vai adorar o filme.

Otavio, é isso aí. Até agora, eu me pego pensando em cenas desse filme. Acho que esse é o maior mérito dele. E acredito que faz muito tempo que nós, brasileiros, não olhamos mais o RJ com os mesmos olhos.

Beijos.

Thales Oss said...

Tropa de Elite com certeza marcou não só o cinema brasileiro como também uma geração. Acredito que mesmo após terem jogado o filme no camelô, o filme vai dar uma ótimo bilheteria aqui. Pena que muitos diretores brasileiros estão falando bosta do filme, e são os mesmo diretores bostas que adoram fazer filmes sobre a miséria no nordeste e comédias idiotas comandada pela Globo.

Wagner Moura merece um Oscar isso sim! Falando em Oscar, esse que era o filme para ter ido concorrer o Oscar, e não aquele "O ano que meus pais..." esse sim não vai render Oscar nenhum.

Dr Johnny Strangelove said...

bem ... você sabe do que achei do filme ...
e ainda sinto a falta dele de ele não ser o nosso representante ... e vendo os concorrentes ... o ano vai perder ... e feio ...

um filmaço mesmo
mesmo se passando em 1997 ehehehe

Anonymous said...

Que bela análise, Kamila, difícil discordar de algo aqui. Acredito que "Tropa de Elite" foi um dos poucos filmes que repercutiram tanto em nossa sociedade, movendo o público a discutir cinema e aquilo que é representado. O roteiro é o destaque mesmo, ao lado do Wagner Moura (fiquei na dúvida se é protagonista ou coadjuvante).

Abraço! ;-)

Alex Gonçalves said...

Acabei sendo novamente um "estranho no ninho", pelo fato de eu ainda não ter visto "Tropa de Elite" (o que é estranho, pois todas as pessoas ao meu redor já conferiram o filme). Porém, já estou me preparando, pois o filme deve estar repleto de cenas pesadíssimas. Aproveito a oportunidade para também assistir ao "Ônibus 174"

Ramon said...

Kamila... nota justíssima. Porém me pergunto qual nota você deu à Cidade de Deus? Tem que ser 10, hein! hehe
Você já deu 10 a algum filme?
Uma idéia seria você criar links com as notas para navegar nas suas postagens.

Bela análise do filme. Amanhã estou publicando a minha. Até mais!

Gustavo said...

Um dos melhores filmes nacionais do ano, junto com "O Ano...".

Wagner Moura tá totalmente entregue ao personagem, sensacional. Não reclamaria se ele fosse indicado ao oscar não viu...

Unknown said...

"Tropa de Elite" joga a m. no ventilador e acaba sobrando pra todo o mundo.

Acho que ele está muito aquém de "Cidade de Deus", e nem acho que ele seja um marco no que diz respeito à tecnicidade. É, sim, um senhor ponto de partida para instigar as pessoas a refletirem um pouco mais sobre o sistema.

Ontem vi uma entrevista com um dos atores que interpreta um PM. Ele dizia que na verdade não é o filme que é fascistóide (do que vem sendo acusado sistematicamente), e sim a própria sociedade. E enxergar isso, quando vibra-se em cenas de tortura e humilhação, contra quaisquer setores sociais, é doloroso demais.

Abs.

Kamila said...

Thales, eu acho que a escolha de "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias" foi a correta. O filme é o mais adequado ao gosto norte-americano. Mesmo assim, torço para que "Tropa de Elite" tenha uma excelente trajetória no mercado estrangeiro e, quem sabe, repita o feito de "Cidade de Deus". E, como os índices de bilheteria provam, a pirataria não prejudicou o filme, que tem sido sucesso nas salas de cinema.

João, não tenha tanta certeza assim sobre o fracasso de "O Ano" na corrida ao Oscar. O filme tem sido colocado na lista de previsões para uma indicação. Eu acho que o filme tem chances, sim, de ser indicado. Mas, vencer é outra história...

Vinícius, concordo. "Tropa de Elite" reflete e faz refletir. Marca bastante o espectador e acho que isso é muito importante porque o cinema também tem o papel de interpretar o mundo em que a gente vive.

Alex, está sendo mesmo difícil ficar imune ao fenômeno em que "Tropa de Elite" se transformou.

Ramon, eu gostei mais de "Cidade de Deus" do que de "Tropa". E já dei alguns 10 aqui. Que me lembre para "A Rainha" e "Em Busca da Honra".

Gustavo, concordo plenamente com seu comentário.

Dudu, parabéns pelo comentário lúcido. Também acho que "Tropa" é um filme inferior à "Cidade de Deus". Como eu disse ao Vinícius, o maior mérito do filme é provocar essa discussão. Só acho que o filme não tem que ser interpretado de um ponto de vista político. Eu acho que ele toca fundo nessa nossa passividade diante das duas grandes feridas: violência e corrupção.

Museu do Cinema said...

Nunca na história desse país...

Excelente texto Kamila, concordo em tudo!

Só não com a nota final, pois daria 10!

Kamila said...

Obrigada, Cassiano!

Felipe "Peixe" Gurgel said...

Kamila, ja baixei o filme, mas esse eu num assisto em casa nem a pau. De tanto 'auê', to doido pra assistir na telona.. bjs.

Romeika said...

Kamila, é mesmo impossível ficar indiferente a esse filme. E o efeito que ele tem no espectador (acredito que não somente em mim) é realmente impressionante. Incomoda, sim, e gera reflexão. Mesmo após alguns dias ainda ficava martelando várias cenas na minha cabeça. E acho que a mensagem principal foi a crítica à hipocrisia daqueles que pregam a paz mas não deixam de consumir o seu baseado.

Marcus Vinícius said...

Mesmo com a questão da pirataria, vai estourar recordes nos cinemas e venda de dvds mais tarde. É o melhor do ano e mais um feliz marco no cinema nacional. Concordo com tudo no texto Kamila, mas daria nota 11 pra ele, hehehe. Beijos!

Kamila said...

Felipe, esse filme você tem que assistir na telona mesmo.

Romeika, essa foi somente uma das críticas que marcam no filme. E, de novo, o maior mérito de "Tropa de Elite" é justamente esse: o filme fica com a gente, reflete e faz refletir.

Marcus, obrigada. E, ainda bem para os envolvidos, que a questão da pirataria não foi problema. O filme tem sido sucesso em todos os campos, e não vai ser diferente quando for lançado oficialmente em DVD.

Beijos.