Saturday, December 22, 2007

Lendo - "Gone, Baby, Gone"

“Não me venha com ‘querida’. Amanda está com medo. Ela está desaparecida. E a vaca da irmã de Lionel, refestelada em minha sala de estar com sua amiga gorducha, fica tomando cerveja e vendo a si mesma na televisão. E quem pensa em Amanda, hein? Quem vai mostrar a essa menina que alguém se importa com a sua vida?”.

É este apelo emocionado de Beatrice McCready, tia da pequena Amanda McCready, de 4 anos e 7 meses, garota que desaparece misteriosamente – e sem deixar qualquer rastro – do apartamento aonde morava com a mãe, Helene McCready, que move toda a trama do livro “Gone, Baby, Gone”, do escritor Dennis Lehane.

Beatrice e seu marido Lionel McCready se importam com sua sobrinha. O pessoal da Brigada de Proteção à Criança (BPC) – representada, no livro, pelo capitão Jack Doyle e pelos detetives Remy Broussard e Nick “Poole” Raftopolous – também. O casal de investigadores particulares Patrick Kenzie e Angie Gennaro idem. A única que pessoa que parece não se preocupar com o desaparecimento de Amanda é a própria mãe dela, a alcoólatra e viciada em drogas, Helene. São a paixão e o comprometimento deles, por um lado, e a negligência da mãe, de outro, os elementos principais de “Gone, Baby, Gone”.

Dennis Lehane situa a história do livro no subúrbio de Boston, mais precisamente em Dorchester, o local aonde ele nasceu e foi criado. Por conhecer cada esquina do local e cada personagem que ali habita, ele domina todos os desdobramentos que sua trama terá. No entanto, ele peca justamente no desenvolvimento daquela que é a personagem mais fascinante dessa história: Helene McCready. Está claro, desde o início, que ela tem tudo a ver com o desaparecimento da filha. A princípio, você vai odiar o egoísmo dela e sua aparente inércia diante de tudo o que está acontecendo. Mas, quando ela finalmente acorda para a vida – e para a gravidade do que está vivendo –, a personagem simplesmente desaparece da trama. E, quando Helene não aparece, a gente sente falta dela, de saber como ela está compreendendo todo o turbilhão de novos sentimentos (medo, arrependimento, vontade de recomeçar tudo) aos quais ela será apresentada na marra.

A leitura de “Gone, Baby, Gone” se revela surpreendente. Como observadores privilegiados de toda a investigação feita pelo casal Patrick Kenzie e Angie Gennaro (o primeiro é protagonista de outros tantos livros de Dennis Lehane), nos deparamos com os mesmos tipos de conflitos vividos pelo casal. Afinal, o que é certo e o que é errado em uma situação como essa? O final pungente do livro só deixa estas questões martelando ainda mais nas nossas cabeças. Será possível que as pessoas passem por transformações profundas – e permanentes? E, principalmente, se estivéssemos no lugar dos dois, teríamos feito a mesma coisa?

O Filme

“Gone, Baby, Gone” é o segundo livro de Dennis Lehane a ser adaptado para o cinema – o primeiro foi “Sobre Meninos e Lobos”, do diretor Clint Eastwood, e o terceiro será “Shutter Island”, que terá a direção de Martin Scorsese e deve estrear somente em 2009.

O ator Ben Affleck (que co-escreveu o roteiro do filme ao lado de Aaron Stockard) estréia na direção e tem a seu favor o fato de que, assim como Dennis Lehane, nasceu e foi criado em Boston; portanto, conhece todos aqueles ambientes e pessoas que estão na história – aliás, todo o filme foi feito em Dorchester e grande parte dos figurantes eram pessoas que moravam no bairro.

Selecionamos a cena abaixo de “Medo da Verdade” (a data de estréia do filme, no Brasil, está prevista para 15 de Fevereiro de 2008). Nela, encontramos Helene McCready (Amy Ryan, que pela performance neste filme venceu a maior parte dos prêmios da crítica e recebeu indicações ao Golden Globes, BFCA e SAG Awards), Remy Broussard (Ed Harris), Poole (John Ashton), Beatrice McCready (Amy Madigan), Patrick Kenzie (Casey Affleck) e Angie Gennaro (Michelle Monaghan). E, na cena, temos a certeza de que existe algo de podre – e bem mais complicado – no desaparecimento de Amanda McCready. O início de que coisas muito piores estão por vir.

P.S. A cena não tem nenhum spoiler.



Para Ler
“Gone, Baby, Gone” (2005)
Autor: Dennis Lehane
Editora: Companhia das Letras

14 comments:

Kamila said...

Aproveito a oportunidade para desejar aos visitantes do "Cinéfila por Natureza" e suas famílias um Feliz Natal!!!

Boas Festas!

Moacy Cirne said...

E para você, minha cara, um NATAL MARAVILHOSO e um 2008 REPLETO DE BELOS FILMES. Abraços.

Wanderley Teixeira said...

Um ótimo natal pra vc tb Kamila!
A Amy Ryan está com um ótimo material em mãos pelo visto.A minha curiosidad é uma só.Ela aparece na história em poucos momentos ou é uma coadjuvante que preenche bem o filme?

Romeika said...

Kamila, não sabia nada da trama do filme, visto que não conhecia nada do livro, e nem sabia que era do mesmo autor de "Sobres Meninos e Lobos", se ele segue um estilo semelhante do filme de Eastwood, sei mais ou menos o que esperar.

O filme estreia aqui dia 25, depois do seu texto irei assisti-lo mais a par da história. E o fato do Ben Affleck conhecer as redondezas de Boston deve ter ajudado e muito na direção.

Respondi o seu email, mas digo aqui de novo: Feliz Natal!

^^

Wiliam Domingos said...

Este escritor mostrou boas tramas para adaptações...quero ver este filme e o de Scorsese ano que vem!
Prefiro escolher entre o livro ou o filme nestas situações...geralmente não gosto de conferir os dois, sempre é frustração!
Beeijo e tudo de bom neste ano que vem ai...boas festas!

Anonymous said...

Fiquei muito curioso em relação a história desse livro, acho que rendeu uma excelente adaptação para o cinema (ainda não vi). É exatamente o tipo de trama que gosto, vide "Sobre Meninos e Lobos" - um dos melhores filmes da década. Achei péssimo que a estréia de "Medo da Verdade" não vai ser mais nesse mês...

E essa é poderosa, fiquei ainda mais ansioso.
Abraço e feliz Natal!

Anonymous said...

Hehehe, acima quis dizer "essa cena é poderosa" ;-)

Otavio Almeida said...

Feliz Natal, Kamila! Tudo de bom pra vc!

Bjs!

Anonymous said...

Se é do mesmo autor do excelente Mystic River, não deve ser ruim!

Ciao!

Matheus Pannebecker said...

Fiquei muito curioso em ler o livro, agora que vi seus comentários. Devo procurá-lo assim que eu conseguir ler "Ensaio Sobre a Cegueira"

Felipe "Peixe" Gurgel said...

Kamilaaaaaaaaa!
Assisti A BÚSSOLA DE OURO. Adorei, para mim, um dos melhores do ano.

E você? Não vai postar a sua tão-sempre-aguardada lista de Melhores e Piores do Ano?

Tô ansioso! Bjosss

Museu do Cinema said...

FELIZ NATAL E UM 2008 CHEIO DE PAZ E SAÚDE KAMILA! E BONS FILMES CLARO!

Kamila said...

Obrigada, Moacy, William, Cassiano e Otavio. Retribuo os votos de Feliz Natal e de um feliz 2008

Wanderley, no livro, a personagem da Amy Ryan aparece pouco, mas quando o faz é sempre em cenas de muita expressão. Não sei se o Ben Affleck aumentou o papel dela na adaptação cinematográfica.

Romeika, acho que conhecer o bairro de Dorchester é o grande trunfo, tanto do Affleck quanto do Lehane, nesta obra em particular.

William, eu gosto de conferir os dois (livro e filme) em casos como esse. Até mesmo para poder avaliar a história de uma maneira melhor.

Vinícius, também acho que o Affleck tem um excelente material em mãos. Se ele fizer tudo direitinho, fazer as reviravoltas acontecerem na hora correta, esse filme será um arraso.

Wally, esse era o mesmo pensamento meu. O problema é que eu tenho certas ressalvas em relação à pessoa do Sr. Ben Affleck.

Matheus, tendo lido os dois livros ("Gone Baby Gone" e "Ensaio Sobre a Cegueira"), te digo que você terá duas excelentes leituras em mãos.

Felipe, também assisti "A BÚSSULA DE OURO", mas não me empolguei tanto quanto você em relação ao filme. Fique de olho no balanço do ano do cinema em 2007. Comecei a publicar tudo hoje.

Beijos.

Anonymous said...

Não por acaso li o livro do Lehane, assim como todos os outros dele que saíram cá, excepto o Mystic River, porque gostei tanto do filme que não senti necessidade de ler o livro. Mas ainda o hei-de ler. Neste caso devia-me ter ficado pelo livro. Não tanto pelos décors, que me parecem seguir os do Mystic R, e aí nada apontar. Do que eu não gostei do filme foi do argumento, mas isso expilco-o no meu site se quiseres dar-te ao trabalho de passar por lá.

Ciao