Wednesday, May 24, 2006

Tapete Vermelho (2006)


Não dá para falar no cinema brasileiro sem mencionar o nome do ator, diretor e produtor Amácio Mazzaropi. De origem humilde, ele foi o responsável pela criação de uma indústria cinematográfica brasileira independente (tendo em vista que ele mesmo financiava e distribuía as suas produções) e bem-sucedida. Mazzaropi foi a primeira grande estrela cinematográfica nacional e, com seus filmes, procurava falar para o povo sobre temas – até então – controversos como o divórcio, o racismo, a religião, a política, dentre outros. E, apesar de todo o sucesso, Mazzaropi nunca obteve o reconhecimento das chamadas elites intelectuais, que preferiram ignorar as suas obras.

O filme “Tapete Vermelho”, de Luiz Alberto Pereira, não é uma cinebiografia de Amácio Mazzaropi; e sim presta uma homenagem ao tipo que ele imortalizou: o do Jeca Tatu (aquele homem matuto que habita as áreas rurais do Brasil). No filme, o Jeca é representado pela figura de Quinzinho (Matheus Nachtergaele, provando aqui sua posição de ator camaleônico, que pode interpretar qualquer tipo de personagem), homem sonhador e trabalhador que mora no seu pequeno pedaço de terra ao lado da esposa Zulmira (Gorete Milagres, mais conhecida pelo seu trabalho como a empregada doméstica Filó, que fez carreira em diversos programas humorísticos da televisão brasileira) e do filho Neco (Vinícius Miranda).

Com a proximidade do aniversário de seu filho Neco, Quinzinho decide que chegou o momento certo de colocar uma promessa que fez ao seu pai em prática: a de que Quinzinho um dia, assim como seu pai fez com ele, iria levar seu filho para a cidade grande para assistir a um filme de Mazzaropi no cinema. Mesmo contra a vontade de Zulmira, Quinzinho embarca numa viagem do interior até à cidade grande na companhia de sua família. Quando Quinzinho e sua família começam a entrar em contato novamente com as grandes cidades, encontram uma realidade bastante diferente da que imaginavam – os cinemas deram espaços às lojas de departamentos ou às igrejas evangélicas (e quando eles existem só passam os grandes lançamentos) e pessoas de má fé se aproveitam da boa vontade e da inocência da família de Quinzinho. No meio disso tudo, o diretor Luiz Alberto Pereira ainda consegue colocar uma mensagem de fundo social quando faz com que o trabalhador rural Quinzinho se relacione com um grupo de trabalhadores rurais sem-terra – numa série de seqüências que poderiam muito bem ter sido retiradas do filme.

“Tapete Vermelho” é um road movie que, além de retratar a jornada de crescimento da família de Quinzinho, faz uma crônica de um estilo de vida simples e bucólico. “Tapete Vermelho” é um filme que fala sobre gente de verdade, que merece um tratamento digno e não ser objetos de chacota. Enfim, “Tapete Vermelho” é um filme que mostra que existe a possibilidade de amadurecer sem que sejam perdidas a ternura, a esperança e a simpatia que tanto caracterizam o povo brasileiro. Além disso, faz um belo trabalho para chamar a atenção de uma nova platéia de cinéfilos de volta aos filmes de Mazzaropi, que, em decorrência de um velho costume brasileiro, perderam o seu valor, a sua importância e o seu lugar de direito na indústria cinematográfica nacional.

Cotação: 6,0

Crédito Foto: Yahoo! Cinema

2 comments:

Adriele said...

Lindissimo filme sim!!
Em algums momentos ele fica bagunçado, mas ainda assim ele é perfeito!!! Lindo post!!

Tiscianne said...

Kamila, como o filme foi exibido recentemente na Globo (21/12/2009), é bastante provável que algumas pessoas retomem e discussão sobre ele. Como cinéfila (que também sou!) não pude deixar de notar que a fundamentação do enredo do longa é extremamente machista e teocrática (para não dizer totalmente vinculada aos preceitos católicos). Em contrapartida à primeira impressão - a de uma homenagem ao interiorano -,a figura do Jeca foi colocada em detrimento: sua inocência e sua persistência foram postas à mostra, mas isto só reforçou, no entanto, a crença de que estamos diante de um alienado que está reduzido à sua realidade e ignora o entorno... E outra: a direção teve um especial cuidado para induzir os atores aos "trejeitos" dos filmes de Mazzaropi (como a cena da carona, quando o caminhoneiro não pára de mexer o volante)...