Tuesday, September 26, 2006

Obrigado por Fumar (Thank You For Smoking, 2005)


Não existe indústria mais massacrada do que a do cigarro. Em relação a este assunto, a maioria das pessoas adota a posição única de condenar o vício em cigarros, por causa dos males que este produto faz à saúde. De uns tempos para cá, a situação ficou tão crítica que até mesmo aqueles que fumam assumem o vício, mas com uma posição envergonhada frente ao olhar de reprovação dos outros do tipo “fumo, mas estou tentando parar”.

Entretanto, existe ainda um outro lado – o da própria indústria de cigarros – que defende que o vício é uma atitude cool. Afinal, atores famosos e idolatrados no mundo todo fumam. Modelos que representam todo um ideal de vida glamuroso fumam. Músicos, cantores que são mundialmente famosos fumam. É ao fazer uso desse tipo de imagem – e ao atingir um público jovem que tem todo o potencial de mercado – que a indústria do cigarro mantém a sua sobrevivência.

Nick Naylor (Aaron Eckhart, numa performance inspirada) – o personagem principal do filme “Obrigado por Fumar”, do diretor e roteirista Jason Reitman (filho do cineasta Ivan Reitman) – teria, então, o trabalho mais ingrato do mundo: ele é o porta-voz oficial e o vice-presidente da Academia de Estudos do Tabaco (que é sustentada pela indústria de cigarros e, como o próprio nome já diz, estuda os efeitos do cigarro no homem para a indústria poder se defender da melhor maneira das acusações que são desferidas contra ela diariamente). Por ofício, Nick faz uma peregrinação quase religiosa por todos os meios de comunicação tentando convencer as pessoas do inconcebível: fumar faz bem à saúde.

Nós da platéia podemos pensar que, por fazer o que faz, Nick é um homem sem caráter. Pelo contrário, ele possui princípios morais, mas é flexível em relação a eles quando está trabalhando. Ele tem uma verdadeira vocação para aquilo que faz: é cara de pau, competente, tem carisma e sabe argumentar. Por outro lado, o mesmo bombardeio que a indústria do tabaco sofre é vivenciado por Nick em sua vida pessoal. Ele é divorciado (sua esposa não perde a oportunidade de criticar o seu trabalho), tem um relacionamento distante com o filho Joey (Cameron Bright, de “Reencarnação”) e seus amigos mais próximos são Polly Bailey (Maria Bello), a porta-voz oficial da indústria do álcool, e Bobby Jay Bliss (David Koechner), o porta-voz oficial da indústria das armas – o grupo se autodenomina de “Os Mercadores da Morte”.

Na trama que é desenvolvida no decorrer de “Obrigado por Fumar”, a platéia assiste Nick no momento em que ele tenta estabelecer um relacionamento mais próximo com seu filho Joey. Ele passa a levar o menino nos seus compromissos de trabalho. É a partir do contato que se inicia entre os dois e dos questionamentos que o filho começa a fazer a respeito da profissão do pai que Nick começa a perceber que sua profissão tem uma importância maior do que ele imaginava. Após dar uma entrevista bombástica sobre os bastidores da indústria do tabaco para a repórter Heather Holloway (Katie Holmes) e ser convocado para prestar depoimento em uma audiência pública no Congresso (que quer adicionar o rótulo de veneno às embalagens de cigarro), Nick tem que tomar uma decisão: ou segue no caminho que já está ou parte para novos vôos.

O diretor e roteirista Jason Reitman coloca um olhar irônico não só na vida de Nick Naylor, como também na realidade da indústria do tabaco e nos métodos que eles se utilizam para vender seu produto (sobra, como sempre, para a própria indústria cinematográfica, que é bem alfinetada por Reitman). O eixo maior de sua trama não é essa crítica, e sim tentar desvendar qual a importância do trabalho de Nick. A questão é jogada justamente para nós da platéia: se todos nós temos informações suficientes sobre os cigarros, os males que o vício causa para a nossa saúde; por quê precisamos dos Nick Naylors da vida? A resposta para essa pergunta é que eles existem justamente para colocar pimenta nesse jogo doido que é a vida da gente e nesse monte de teorias com as quais a gente entra em contato e julga como indefectíveis.

Cotação: 6,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

3 comments:

Museu do Cinema said...

Acho que a personagem de Aaron acaba por acreditar naquilo que diz, por isso soa como algo verdadeiro, apesar de absurdo, e o grande nome do jogo acaba sendo ele por isso.

Kamila said...

Concordo plenamente, Cassiano. Ele acredita tanto naquilo que diz que termina achando que é maior do que tudo aquilo.

Anonymous said...

Gostei bastante do filme. Cada um com seu dom... Com exceção da Kate Holmes que para mim, não tem o menor dom de inovação em atuar e (para mim) será eternamente a Joey.