Saturday, December 09, 2006

O Ilusionista (The Illusionist, 2006)


A data de estréia inicial de “O Ilusionista”, do diretor e roteirista Neil Burger, no Brasil, seria o dia 17 de novembro. No entanto, a estréia de “O Grande Truque”, filme de Christopher Nolan, nas salas de cinema brasileiras, modificou todo o esquema armado pela Focus Filmes, a distribuidora do primeiro filme no país. E, realmente, ter adiado a estréia de “O Ilusionista” foi a decisão mais acertada que eles poderiam ter tomado. Mesmo assim, toda a visão que teremos sobre o filme de Burger será contaminada pelas nossas impressões sobre o filme de Nolan.

Por se tratar de filmes com um tema principal em comum – a mágica –, tanto “O Ilusionista” quanto “O Grande Truque” possuem alguns pontos convergentes. O personagem principal de “O Ilusionista”, Edward Abramowitz (Edward Norton, que compõe o seu personagem como se ele fosse um homem morto por dentro, um tanto frio e racional), vê a sua vida mudar depois de um encontro com um misterioso mágico. Ele pode não ser um showman como Robert Angier, mas tem a competência de um Alfred Borden. Já com a alcunha de Eisenheim, o Ilusionista, ele se transformou em um mágico com grandes poderes – o de parar o acelerar o tempo seria o mais incrível deles.

O segundo ponto convergente entre os dois filmes encontra-se no ponto de mudança da história. Nos dois filmes, a perda do ser amado causa transformações permanentes na vida dos personagens principais. Eisenheim, por exemplo, abandona a sua cidade natal (Viena) depois de ser proibido de ver o amor de adolescência, vaga pelo mundo e só depois de quinze anos retorna ao lar para reencontrar o seu grande amor, a Duquesa Sophie (Jessica Biel), que agora está prometida ao príncipe herdeiro da Áustria, Leopold (Rufus Sewell). O reencontro fará com que Eisenheim comece a utilizar os seus poderes para o seu próprio proveito (para separar Sophie de Leopold) e, nesse caso, ele não hesitará em transpor nenhum limite.

O terceiro ponto em comum diz respeito ao modo como os dois diretores resolveram contar as suas histórias. Nos dois filmes, há o uso de flashback. Também em ambos os filmes, cabe a um personagem a tarefa de nos guiar pela trama. Em “O Ilusionista”, isso é responsabilidade de Walter Uhl (Paul Giamatti), inspetor-chefe da polícia austríaca, apaixonado por mágicas, e que é designado pelo príncipe Leopold para acompanhar todos os passos de Eisenheim. No decorrer do filme, Uhl viverá um grande conflito: fazer o que é correto ou o que é esperado dele.

A platéia que assiste à “O Ilusionista” fica com a impressão de que o filme não tem nada de extraordinário. Uma hora, ele é uma história de amor clássica, em outro momento um drama, depois um suspense e, por fim, um thriller político. No final, quando todas as peças são colocadas em seus devidos lugares, temos a sensação de que passamos, mais uma vez, por um grande truque.

“O Ilusionista” é um filme à moda antiga. Essa não é uma película para entreter, como “O Grande Truque”. Por esta razão, “O Ilusionista” não é um filme para qualquer pessoa. Escrito e dirigido com competência por Neil Burger, o filme conta com grandes atuações de seu elenco e merece, no mínimo, indicações ao Oscar de melhor direção de arte (a maior parte das cenas foi filmada em locações reais na cidade de Praga), melhor figurino e melhor trilha sonora (a de Philip Glass é a mais perfeita feita para um filme, até agora, no ano de 2006). Se você for assistir à “O Ilusionista”, sente com calma na poltrona do cinema e preste muita atenção na trama, pois filmes como esse – e como “O Grande Truque” – são únicos.

Cotação: 8,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

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