Saturday, January 27, 2007

Aos Olhos de Deus (Their Eyes Were Watching God, 2004)


Num artigo publicado recentemente em seu blog, o jornalista e crítico de cinema Ricardo Calil discursa sobre a lenta agonia do telefilme. De acordo com o texto dele, os telefilmes – que alcançaram o ápice nos anos 80 – são um formato que está em crise. Calil cita uma matéria do jornal “Hollywood Reporter”, que fala que, em 2006, a ABC, a CBS e a NBC (redes de televisão dos EUA) não produziram nenhum telefilme; o mesmo foi o caso do Showtime (canal de TV a cabo norte-americano, famoso por suas produções mais familiares). Já a HBO, que muitos consideram a atual grande produtora de telefilmes, não chegou nem a produzir cinco telefilmes em 2006.

Tal artigo causou muita surpresa em pessoas como eu, afinal os telefilmes têm atraído cada vez mais nomes famosos do cinema, como os dos diretores Mike Nichols e Stephen Frears e de estrelas como Richard Dreyfuss, James Cromwell, Don Cheadle, George Clooney, Harvey Keitel, Annette Bening, Hilary Swank, Ed Harris, Paul Newman, Kenneth Branagh, Anjelica Huston, Emma Thompson, Ben Kingsley, Ellen Burstyn, Helen Mirren, dentre outros.

“Aos Olhos de Deus”, telefilme produzido pela HBO e dirigido por Darnell Martin, também tem grandes nomes na frente e por trás das câmeras. A apresentadora Oprah Winfrey é a produtora executiva do projeto. Os atores Halle Berry e Terrence Howard encabeçam o elenco formado somente por atores de origem afro-americana. Essa não é a primeira experiência deles no gênero: Winfrey também produziu outro grande sucesso da HBO, “Se as Mulheres Tivessem Asas”; Berry, antes do Oscar, conquistou prêmios e elogios da crítica por sua performance em “Dorothy Dandridge – O Brilho de uma Estrela”; e Howard esteve no aclamado “Lackawanna Blues”.

No telefilme, Halle Berry interpreta Janie, uma mulher que acha que sabe tudo sobre a vida e o amor – quando, na verdade, ela ainda tem muito a aprender sobre os dois temas. “Aos Olhos de Deus” retoma a vida de Janie quando ela retorna à cidade de Eatonville (a primeira localidade totalmente negra dos EUA) e sofre com os julgamentos de cada habitante do local. Por meio de flashbacks, seremos testemunhas do crescimento de Janie, na medida em que ela se envolve com três homens diferentes: o primeiro marido, um homem idoso; o segundo, Joe Starks (Ruben Santiago-Hudson), um homem de visão e que transforma Eatonville numa cidade próspera e cheia de oportunidades; e o terceiro, o jovem impetuoso Tea Cake (Michael Ealy), que todos julgam estar interessado no dinheiro que Janie herdou de Starks. Terrence Howard interpreta Amos Hicks, o homem que vai ter sempre o potencial de ser o próximo marido de Janie, se não fosse por um único problema: ela nunca se interessou por ele de maneira amorosa.

“Aos Olhos de Deus” é um daqueles telefilmes que não se destacam por ter uma grande direção ou um excelente trabalho de atuação. O que é importante aqui é ver a maneira pela qual os roteiristas Suzan-Lori Parks, Misan Sagay e Bobby Smith Jr. construíram a personagem Janie. Ela pode ter sido uma mulher voluntariosa, decidida e cujo maior problema foram sempre os homens. Se alguém indicava que o melhor caminho era este, Janie preferia seguir aquele. Janie amou, foi feliz e também foi machucada. Mesmo assim, ela tem a capacidade de, após atingir o ponto mais baixo, conseguir recomeçar a sua vida.

Assim como os outros personagens do filme, que não hesitarão em julgar Janie, ou em dizer aquela batida frase “bem que a gente tentou avisar”, também nos sentiremos tentados em não sentir pena de Janie. Ao escutar a versão dela para os fatos de sua vida, a frase que vem à tona é outra: “não julgue antes de conhecer aquilo que verdadeiramente aconteceu”. Seria interessante que os telefilmes também não fossem julgados como dispensáveis logo de cara. A produção de filmes na TV, geralmente, é bem mais aberta a idéias que os estúdios de cinema recusam sem piedade. Além disso, muitas das últimas “produções feitas especialmente para a TV” são bem melhores do que muitos dos filmes que a gente costuma assistir na grande tela. Vamos torcer para o telefilme seguir o exemplo de Janie e sobreviver a mais um daqueles percalços que parecem ser insustentáveis.

Cotação: 6,3

Crédito Foto: Amazon.com

20 comments:

Anonymous said...

Kamila,

Devo confessar que tenho pouquíssimo contato com telefilmes, já que as redes de tv aberta não exibem muitas produções. Halle Berry recebeu muitos elogios por Dorothy Dandridge – O Brilho de uma Estrela e a mim não resta nenhuma dúvida que esse Aos Olhos de Deus deve ser bem melhor que a s últimas produções cinematográficas que essa maravilhosa atriz vem fazendo...
Beijo grande e ótimo final de semana!

(P.S.: vai assistir A Grande Família – O Filme?)

Kamila said...

Túlio, "Aos Olhos de Deus" é, definitivamente, bem melhor do que os últimos filmes "feitos para o cinema" da Halle Berry. E ela está muito bem no telefilme, recebeu inclusive indicações ao Emmy e ao Globo de Ouro.

"A Grande Família - O Filme" não é minha prioridade dentre as estréias da semana. Quero muito ver "Babel" e "Perfume". Como não poderei assistir aos dois filmes nesta semana, espero que eles continuem em cartaz por um bom tempo aqui em Natal para que eu possa conferí-los em outra oportunidade.

Beijos!

Anonymous said...

Entendo. Quer um conselho de amigo: priorize Babel. Mesmo que você faça parte da turma que não ache a obra grande coisa cinematograficamente falando, é um daqueles filmes que sempre contribui com alguma coisa para nossos sentimentos, dá uma boa sensação vê-lo, se é que você me entende.

No mais, deixei uma perguntinha pra vc lá no CK, espero que você não fique brava.

Beijos!

Wanderley Teixeira said...

Angels in America do Mike Nichols é um ótimo exemplo de aventura bem-sucedida no mundo dos telefilmes,já esse Aos Olhos de Deus é ruim de doer...

Kamila said...

Wanderley, "Aos Olhos de Deus" é um telefilme bonzinho. Se comparado à "Angels in America", "Wit", "RKO 281", "Se as Mulheres Tivessem Asas", o filme deixa muito a desejar, isso é verdade...

Túlio, vi e respondi à sua pergunta e não fico com raiva, não. Eu entendo o seu lado. :-) Eu tenho certeza que gostarei muito de "Babel". Queria assistí-lo antes do Oscar e espero que os cinemas daqui de Natal colaborem comigo. :-)

Beijo.

Anonymous said...

Kamila, não sou expert no assunto, mas de uma certa forma concordo com o Calil, acho que, excetuando a HBO que só faz maravilhas, os telefilmes estão em decadência.

Kamila said...

Cassiano, também concordo com você e o Kalil. A HBO colocou os telefilmes em outro nível. Deixou de lado aqueles temas abordados pelos telefilmes que costumávamos assistir no Supercine, e passou a apostar em roteiros legais e diferentes. A HBO, hoje, tem um estilo próprio de telefilme.

Particularmente, também gosto dos filmes produzidos pelo Showtime. As histórias são bem melosas, mas os filmes atraem atores excelentes, que não deixam o pieguismo tomar conta.

Anonymous said...

eu gosto dos filmes da HBO e espero que esse seja apenas bom ...

tenhas sucesso com o seu blog

Kamila said...

Obrigada pela visita, Johnny.

Anonymous said...

Que legal que vc atualizou o flog dessa maneira!!! Continua postando criticas desses telefilmes que vc tem oportunidade de assistir (A HBO eh uma excelente opcao pra isso). Eu naum tenho preconceito algum contra telefilmes, esses que vc citou sao maravilhosos, principalmente "Wit", uma obra prima da televisao. Beijos!

Kamila said...

Romeika, para o blog não ficar desatualizado nesse tempo em que eu vou ficar de molho em casa, decidi fazer textos sobre os filmes que eu ando assistindo aqui mesmo.

"Wit", para mim, é o melhor telefilme já produzido. Não consigo compreender, até hoje, porque nenhum estúdio de cinema quis fazer esse filme. Se tivesse sido lançado por um grande estúdio, com certeza, ganharia muitos Oscars.

"Wit" só não ganhou muitos Emmys, Globo de Ouros e SAGs, porque, 2001, foi uma baita safra de telefilmes. Atuações e histórias excelentes. Me lembro que as cinco indicadas ao Emmy daquele ano em Melhor Atriz em Filmes ou Minisséries de TV era uma lista digna de Oscar: Holly Hunter, Emma Thompson (por "Wit"), Hannah Taylor Gordon, Judi Dench e Judy Davis (na minissérie "Judy Garland - Me and My Shadows", uma das maiores interpretações que eu já vi na minha vida).

Beijos e apareça sempre que puder!

Anonymous said...

Realmente, Kamila, você só publicava resenhas de filmes vistos na telona... Pelo que eu entendi, aconteceu alguma coisa, Kamila? É grave??? Você está bem????

Beijão e fique bem!

Kamila said...

Não é nada grave, Túlio. Peguei catapora (não sei como) e vou ficar em casa até me recuperar. Depois de dois dias bem desconfortáveis, já estou começando a me sentir bem melhor e espero estar recuperada em breve.

Beijo.

Anonymous said...

Então, Kamila, só torço agora para que os exibidores de Babel te esperem e que você melhore logo, ok?

É, até que é uma baita vantagem pegar catapora na infância, hehehehehehe...

Beijo grande!

Kamila said...

Agora eu sei que é vantagem pegar catapora na infância. :-)

Também estou torcendo para "Babel" ficar um bom tempo em cartaz por aqui.

Obrigada pelos desejos de melhoras!

Beijo.

Anonymous said...

é uma grande vantagem realmente pegar catapora na infancia..eu nem lembro da minha!..heheh

Em relaçao ao post...desculpa minha ignorancia, mas não vi, nem sabia desse telefilme..bacana ter o seu blog p informar então!..hehehe


ohh..tenho um outro blog também, que divido com uma amiga, se puder, dá uma lá tá?!..

http://cineirreverencia.multiply.com

Beju!

Anonymous said...

Realmente foi dificil pra Emma Thompson vencer aquele ano contra a atuacao da Judy Davis. Se fosse em outro ano ela ganharia, com certeza! Ainda assim eu prefiro "Wit" a biografia da Judy Garland. Mas "Wit" eh muito depre..muito triste..affff nao sei se aguentaria ver aquele filme de novo. Soh se eu estivesse muito feliz e de bem com a vida hehe..:)

Kamila said...

Romeika, "Wit" é um filme muito difícil para mim. Mesmo assim, não sei por quê, sempre que ele passa, eu assisto. Vai ver eu gosto de sofrer. :-)

E, por favor, a biografia da Judy Garland é demais. Tammy Blanchard e Judy Davis, para usar uma expressão bem norte-americana, rocks!!! rsrsrsrsrsrsrsrsrs

Anonymous said...

hehe masoquista:) Eu gosto muito da biografia da Judy Garland, tb, mas se fosse pra escolher o vencedor do globo de ouro ou Emmy na categoria, seria "Wit";)

Kamila said...

Eu escolhia a minissérie da Judy como vencedora... hehehehehehe