Thursday, February 15, 2007

Perfume - A História de um Assassino (Das Parfum - Die Geschichte Eines Mörders, 2006)


O senso comum nos diz que os olhos são a janela para a alma. O filme “Perfume – A História de um Assassino”, do diretor alemão Tom Tykwer (também co-autor do roteiro do filme ao lado de Andrew Birkin e Bernd Eichinger), fala justamente o contrário: a fragrância que cada ser possui é a representação de sua alma. O filme todo se apóia num dos sentidos que nós possuímos – o do olfato – e usa justamente essa maneira de perceber as coisas que estão ao nosso redor para construir toda a personalidade de seu personagem principal, Jean-Baptiste Grenouille (Ben Whishaw).

Grenouille nasceu em Paris, capital da França, em um mercado de carnes, peixes, frutas e legumes, ou seja, um local de cheiro muito característico. A sua primeira comunicação com o mundo não foi nem através do choro (como é comum ao resto dos bebês), e sim através da tentativa de sentir as diversas fragrâncias que o rodeavam. Essa busca por tentar compreender o mundo através dos seus diversos cheiros vai ser uma constante na vida de Grenouille – seja no orfanato aonde ele passou a infância ou no local aonde ele trabalhou durante muito tempo como escravo.

A trama de “Perfume – A História de um Assassino” começa a dar uma virada quando Grenouille conhece Giuseppe Baldini (Dustin Hoffman), um homem que hoje é somente o resquício do grande perfumista que um dia ele foi. Grenouille causa uma impressão muito grande em Baldini, pois tem uma vocação natural para perceber a composição de certos perfumes. Os dois, então, estabelecem um acordo entre si: Baldini compra Grenouille de seu dono e, em troca de diversas fórmulas novas para criar seus perfumes, ensina todo o ofício para seu dedicado aprendiz – e, em especial, uma técnica de conservação de fragrâncias, algo que interessa muito a Grenouille.

No segundo ato, Grenouille – já livre da influência de Giuseppe Baldini – começa a fazer seu próprio caminho como perfumista. Mas, para ele, a verdadeira obsessão não era a criação de novos perfumes, e sim os experimentos que ele faz em busca de encontrar uma maneira de conservar permanentemente o cheiro que cada ser possui. Nesse sentido, Grenouille levará a sua arte aos limites quando se transforma em um serial killer que mata garotas no auge de sua beleza física – a sua presa mais cobiçada será a jovem Laura Richis (Rachel Hurd-Wood), filha do poderoso Antoine Richis (Alan Rickman). E, como todo assassino serial, Grenouille guarda como lembrança de suas vítimas os perfumes que ele faz a partir das fragrâncias de seus corpos.

Baseado num livro de Patrick Suskind, “Perfume – A História de um Assassino” é um filme que revela a versatilidade de Tom Tykwer, um diretor de filmes mais urbanos, mas que aqui tem seu estilo perfeitamente encaixado em um filme de época. À boa direção de Tykwer, podemos adicionar como elementos expressivos em “Perfume – A História de um Assassino”, a fotografia, a direção de arte e os figurinos. No entanto, o filme começa a pecar quando está bem perto de seu final. A maneira pela qual Tykwer decidiu concluir seu filme não é satisfatória e romantiza muito as causas por trás da obsessão de Grenouille. Ao invés de tentar ser diferente, Tykwer deveria ter sido convencional na sua conclusão.

Cotação: 6,0

Crédito Foto: Yahoo! Movies

25 comments:

Museu do Cinema said...

Confesso que ainda não tive coragem de ver esse filme, apesar de querer vê-lo há algum tempo.

Ouvi dizer, não sei se é verdade, que o Stanley Kubrick tentou comprar os direitos desse livro, mas o autor não vendia por nada desse mundo.

Anonymous said...

"O senso comum nos diz que os olhos são a janela para a alma. O filme “Perfume” fala justamente o contrário: a fragrância que cada ser possui é a representação de sua alma."

Kamila, o que você escreveu no encerramento da sua resenha me fez lembrar imediatamente do filme Maria Antonieta, da Coppola: às vezes é melhor ser convencional do que ensaiar grandes inovações cinematográficas.

beijo e bom carnaval!

Kamila said...

Cassiano, esse era justamente o meu caso. Queria muito assistir "Perfume" e, depois de muito adiar, finalmente o fiz hoje. E não sabia desse detalhe do Stanley Kubrick.

Depois vou tentar atualizar meu quicktime para ver se consigo visualisar direito o trailer de "The Hoax".

Kamila said...

Túlio, o que me incomoda, às vezes, é essas tentativas de inovações cinematográficas. Se você sabe que não vai dar certo, para quê tentar? É melhor ser convencional mesmo. Não precisa ter medo de ser tradicional.

Beijo e bom carnaval!

Anonymous said...

Kamila, assino embaixo! Quer dizer, muitos cineastas têm segurança em inovar - e eu aprovo muito isso - mas nunca será uma regra e filmes tradicionais sempre serão bem-vindos!

bjo.

Anonymous said...

Agora fiquei curiosa pra ver que conclusao foi essa hehe. Adiei esse filme tantas vezes, que eu nem sei mais se ainda vou assistir no cinema, acho que soh mais tarde em dvd mesmo.

Kamila, vai viajar pra aonde? Boa viagem e Bom carnaval a todos!

Kamila said...

Túlio, também assino embaixo do seu comentário! :-)

Romeika, eu acho que "Perfume" já deve ter passado aí nos cinemas. Assista no DVD, o filme pode funcionar até melhor nesse formato. Vou viajar para João Pessoa. Faz tempo que não vou lá e o Carnaval agora é a oportunidade perfeita para fazer isso.

Beijos.

Túlio Moreira said...

Puxa, que inveja! A Romeika na Dinamarca e a Kamila fazendo um tour pelo Nordeste! Será que só eu vou passar o carnaval em casa? :S

Kamila said...

Ah, Túlio, a única coisa que eu lamento é que eu ainda não posso aproveitar o sol que - dizem - está fazendo em João Pessoa. :-)

Beijo!

Túlio Moreira said...

Kamila, se eu não fosse cinéfilo, não sei o que ia fazer da vida... Aqui em Goiânia o mais parecido com mar é um córrego que corta o centro da cidade! Claro, tem Caldas Novas - não sei se você já foi lá -, mas ainda bem que tem também os cinemas para que o carnaval não passe batido! Estou com muita vontade de ir no litoral, conhecer o mar, hehehehhehe.. quem sabe num passeio de faculdade, né? Aí fico hospedado aí na sua casa, hehehehehehehe...

bjos!

Anonymous said...

Tulio, jah passei muitos carnavais em casa. O bom do carnaval (pelo menos em Natal) eh quando quase todo mundo viaja pra praia e os cinemas ficam vazios, uma maravilha hehehe. E essa epoca do ano sempre tem bons filmes para ver...

Kamila, "Perfume" estreou aqui na mesma epoca da estreia brasileira, e se nao me engano, ainda estah em cartaz.

Kamila said...

Túlio, não conheço Goiânia, nem Caldas Novas. Conheço bem a região Nordeste, não viajei muito para os lados daí ou para o Sudeste, Sul.

Romeika, se "Perfume" ainda estiver passando por aí, pode assistir.

Anonymous said...

Kamila, eu ateh queria assistir "Perfume", mas sempre tem outro filme mais esperado, e vou deixando "Perfume" de lado. "Little Children" estreou hj, e proxima semana, talvez tenha "Notes of a scandal".

Agora respondendo um comentario seu sobre "The Painted Veil" e Edward Norton. Nao tinha visto outras cenas alem do trailer, e agora eu digo: Ele realmente estah lindo no filme, e sim, Naomi Watts eh BURRA. Nunca fui com a cara daquele Liev Schreiber como ator, e como homem ele nao faz o meu tipo *lol*. Se eu fosse ela tb teria preferido o Norton hehehe Mas deixando a brincadeira de lado, eu gostei do filme. A fotografia eh belissima, com lindas paisagens do interior da China, e como esperado, Naomi e Edward estao maravilhosos no filme. Soh Naomi mesmo pra interpretar uma mulher mimada e egoista e ainda assim atrair a simpatia do espectador. Ela desenvolve muito bem a mudanca interior da personagem ao longo do filme. E o Norton, junto de "Down in the Valley" e o "O Ilusionista", entrega uma das grandes performances do ano passado. Nao sossego ateh o dia em que verei esses dois segurando aquela estatueta dourada. O roteiro, a direcao, fotografia e tudo mais nao apresenta nenhum elemento novo, mas me agradou muito o estilo classico, elegante e tradicional do filme. Mas a melhor coisa mesmo sao os protagonistas da historia. Sem eles, nao seria a mesma coisa. Com os atores errados, acho que eu poderia ateh ter detestado o filme.

Kamila said...

Que bom que você gostou, Romeika. Tendo certeza de sua boa opinião sobre "The Painted Veil", agora sei que irei amar o filme. Já estou cansada de ver fotos do Edward nesse filme, de ver pequenas cenas e aqueles clipes que o povo faz no You Tube. Naomi burra. Como preferir o sem-graça do Liev ao maravilhoso Edward? O que me revolta mais em "The Painted Veil" é o fato de que a Warner Independent praticamente abandonou o filme... Não promoveu, não mandou screeners. Jogou as chances de atrair prêmios fora... Um absurdo!

Espero que suas palavras se tornem realidade. Essa estatueta do Edward está mais do que demorando... O cara teve o melhor corpo de trabalho em 2006, com três grandes performances e só o que ele consegue é uma indicação ao Independent Spirit Awards... Um absurdo total!!!!!!

Túlio Moreira said...

Puxa, Romeika, Little Children e Notes of a scandal. Você está mais do que bem servida!

Kamila, descobri agora de última hora que minha família vai pra chácara do meu avô... Ou seja, vou ficar um tempo sem ver filmes (lá não tem DVD ou VHS, hehehehehehe), mas aproveito pra deixar a leitura em dia..

Desejo às duas um ótimo carnaval!

Bjos!

Otavio Almeida said...

Puxa, Kamila! Ainda não vi esse... vou ver se consigo nesse carnaval. E depois comento.

Bjs, e bom carnaval!

Anonymous said...

Eu vi, e realmente não achei NADA de mais. O burburinho de ser um filmaço pra mim num deu certo e pra vc tbm!

Bem, eu postei as regras do Bolão, se quiser participar, passe lá!

Beijos

Anonymous said...

A história de Perfume é de difícil aceitação, por parte do público e crítica, especialmente quando chegamos nos momentos do clímax. Mas o contrário da maioria considero belo, poético e melancólico. Kamila, se não leu ao livro, recomendo. Talvez mude de conceito a respeito da visão que o diretor Tom Tykwer utilizou na sua adaptação.
Beijos e desejo um bom feriado de carnaval!

Kamila said...

Rodrigo, quero sim participar do bolão. Vou passar lá para conferir as regras.

Alex, não li o livro no qual se baseia o filme. Vou procurar para ver se encontro. Achei o filme belo, poético e melancólico até perto do desfecho. Ainda não entendo a saída adotada pelo Tykwer. Talvez, tudo fique mais claro se eu ler o livro.

Anonymous said...

Kamila, o filme realmente desperdicou a chance de indicacoes nas categorias de ator e atriz, pois ambos sao merecedores de indicacao, principalmente Edward Norton que esteve bem em outros filmes em 2006. Vai entender o que se passa nas mentes desses distribuidores...

Romeika said...

Kamila, assisti "Perfume" hj, em casa mesmo, como disse que faria. Concordo com a sua opinião ao fim da resenha. Pra mim aquele final foi um balde de água fria. O filme todo começa muito bem, inclusive no meio e apesar de ser longo não senti o tempo passar, realmente me envolvi com a história. Mas o final esculhamba tudo..O filme inteiro é realista e objetiva mostrar ao público aquele serial killer e no final o diretor quis dar uma de David Lynch..que danado é:-S

Fiquei curiosa e fui ler umas críticas na net, parece que no livro (nem sabia que era uma adaptação), o final é assim mesmo.. Mas às vezes cinema e literatura não se misturam.

Kamila said...

Romeika, o final de "Perfume" é mesmo um balde de água fria. O filme estava interessante até o Twyker querer dar uma de poético. Não sabia que o livro tinha o mesmo final. Então, o Twyker quis mesmo ser fiel à história que adaptou. Se bem que eu acho melhor quando uma adaptação tem vida própria. Não copia tudo da obra original.

Romeika said...

Realmente, Kamila, teria sido bem melhor se o final do filme fosse diferente e convencional mesmo. O roteiro deveria ter aproveitado somente esse aspecto da sinestesia do livro (dos cheiros, etc) e dos métodos do serial killer e suas razões pra matar suas vítimas.

Unknown said...

Não concordo que o final deveria ser tradicional. De filmes comerciais, o "mercado" está cheio. Achei que o filme se tornou ainda mais fenomenal e sobretudo surpreendente a partir do momento em que ele é retirado da cela, a caminho da execução. Digo isto porque, se prestar bem a atenção, os acontecimentos trataram-se de metáforas e mensagens implícitas, ou seja, ao invés de seguir o caminho que a maioria dos autores segue, que é mostrar aquela história crua e previsível, Twyker se arriscou ao querer passar o que desejava. E, na minha opinião, foi totalmente feliz. Isso sim é arte: é expressar sentimentos e opiniões, seja como e quais forem.

Larissa Pessoa said...

Assim como já ouvi dizer, Perfume é o cinema na sua melhor forma. Um filme de dificil aceitaçao, por tratar de uma história extremamente vinculada ao sentido, tornando-se portanto insensível à romances e histórias de amor. Para mim, que sou uma amante do cinema romantico, o filme conseguiu passar toda sensação e o que leva Grenouille a cometer tais atrocidades. Chego até a amar aquele anti-herói desprezivel, só por de alguma forma sentir atraves do filme o que ele provavelmente sentia, naquele "conto de fadas" ao avesso.