Monday, May 21, 2007

Pecados Íntimos (Little Children, 2006)

O seriado “Desperate Housewives” estreou na temporada 2004-2005, no canal norte-americano ABC, com uma premissa muito interessante: acompanhar a vida de donas-de-casa que moram num bairro de classe média alta com suas famílias. O ponto crucial do seriado era mostrar que, por trás da fachada de luxo, riqueza e felicidade, existe também muito mistério, intriga, amor, traição, sexo e morte. O filme “Pecados Íntimos”, do diretor Todd Field (que co-escreveu o roteiro ao lado do escritor Tom Perrotta), tem um quê de “Desperate Housewives”.

Os personagens principais de “Pecados Íntimos” possuem uma coisa em comum: para o mundo, eles possuem uma vida perfeita; mas, entre quatro paredes, eles se sentem presos a uma vida que não é feliz. Sarah Pierce (Kate Winslet, que foi indicada ao Oscar 2007 de Melhor Atriz pela sua performance neste filme) é casada com um homem mais velho (Gregg Edelman) e mãe de Lucy (Sadie Goldstein). Sarah, aparentemente, não se sente à vontade com seu papel de mãe e anseia pelo momento em que o marido chega em casa do trabalho, para que ela possa ter um momento somente dela e, de preferência, ao lado dos livros que ela tanto gosta.

Já Brad Adamson (Patrick Wilson) é casado com a documentarista Kathy (Jennifer Connelly) e pai do garotinho Aaron (Ty Simpkins). Brad é advogado, mas nunca passou no exame da Ordem, por isso sua profissão é ser pai em tempo integral. A esposa o pressiona a fazer novamente o exame da Ordem, mas, sinceramente, Brad não sabe o que quer fazer da vida. A impressão que ele nos dá é a de que é um garotão em uma crise prematura de meia idade.

Em meio a brincadeiras no parque e na piscina pública, Brad e Sarah irão se conhecer e terão um caso extraconjugal. O momento para o flerte não poderia ser impróprio, afinal o bairro aonde eles moram vive em polvorosa por causa da chegada de Ronnie McGorvey (Jackie Earle Haley, que foi indicado ao Oscar 2007 de Melhor Ator Coadjuvante), que foi condenado por atentado ao pudor contra uma criança.

O diretor Todd Field vem se especializando na arte de fazer filmes sobre pessoas que estão no seu limite e que tentam, de alguma forma, recomeçar as suas vidas. Em “Pecados Íntimos”, ele consegue ser bem mais sucedido do que no seu filme anterior (“Entre Quatro Paredes”). Aqui, ele mostra que os erros nunca podem ser esquecidos – já que eles fazem parte do que somos. No entanto, o recomeço não precisa ser abrupto. O que o roteiro de Todd Field e Tom Perrotta mostra é que o futuro pode estar mais perto do que imaginamos – ele pode, por exemplo, ser representado por uma criança ou pela vontade de reviver uma sensação que há muito tempo não tínhamos.

Cotação: 8,5

Crédito Foto: Yahoo! Movies

10 comments:

Túlio Moreira said...

Personagens fortes como o de Jackie Earle Haley fazem com que "Pecados Íntimos" se torne um drama cristalino diante do espectador. Forte e com impacto, me lembra demais "Beleza Americana", o que não deixa de ser um bom sinal.

bjos!

Kamila said...

Túlio, fui assistir a este filme sem esperar muita coisa, mas adorei. O filme tem uma sensibilidade e aborda o tema geral do filme com uma delicadeza surpreendente.

O personagem do Jackie Earle Haley, mesmo aparecendo pouco, carrega muito dessa mensagem do recomeço que o filme deixou comigo. A cena final dele foi de cortar o coração.

Um filme notável!

Beijo.

Otavio Almeida said...

As atuações de Jackie Earle Haley e Kate Winslet garantem a força do filme. Só acho que o filme vacila no final... Exatamente no mesmo ponto onde acho que "Beleza Americana" compromete sua excelência. Acho as atitudes dos personagens (no final) um tanto derrotistas... E para quê tanta vontade de mudar as coisas na vida se no fim, o que importa é a vida como ela é? Banal ou não, temos que nos conformar... É o que eu acho do final deste filme.

Bjs!

Kamila said...

Otávio, seu pensamento tem fundamento. Os personagens, no final, se esforçam para mudar as coisas, mas acabam voltando para aquilo que lhes traziam insatisfação. Só não acho que as atitudes sejam derrotistas. São conformistas, como você mesmo falou.

Anonymous said...

Kamila, a resenha estah otima, muito bom como vc descreveu toda a atmosfera que envolve os personagens...Eh um bom filme, mas eu fui ao cinema com altas expectativas (era o meu filme mais esperado de 2006), e tipo que me decepcionei um pouco... O filme tem grandes momentos como aquela cena da piscina, por exemplo, mas nao gostei das pequenas mudancas que foram feitas com relacao ao livro. O livro tb tem esse final conformista, mas com um bom toque de ironia, que faltou ao roteiro.

Mas as atuacoes sao excelentes, e claro, a Kate Winslet eh a minha preferida, mas sou suspeita ao dizer isso rsrs..

Abs!
:)

Wanderley Teixeira said...

Assisti em uma pré-estreia em Fevereiro e a recepção do público no geral tem sido negativa,mas naum escondo meu fascínio por este filme do Field q me pegou de jeito este início de ano.Profundo,denso,irônico e sensível precisaria de outra conferida para extrair tudo o que tenho vontade de Pecados Íntimos.Diria q além de DESPERATE HOUSEWIVES é tb um pouco de BELEZA AMERICANA.E para mim supera os dois.

Museu do Cinema said...

Demorou mas saiu em Kamila, filmão, para mim o melhor do ano passado, se levarmos em conta o ano de produção.

Túlio Moreira said...

Kamila, também não aguardava muito e me surpreendi. A única queixa que tenho do filme é a participação "figurante-de-luxo" da maravilhosa e estonteante Jennifer Connely...

bjo!

Alex Gonçalves said...

O mais interessante no filme é a personalidade imatura de todos os personagens, que se comportam como ingênuas crianças quando tem de lidar com problemas e segredos pessoais. É um drama poderoso como a tempo não se via, que provavelmente ficará em minha mente por um bom tempo.

Kamila said...

Romeika, eu não li o livro e, como disse, nem esperava muita coisa do filme. Adorei mesmo. Acho que vai ser o tipo de filme que cresce na nossa afeição ao longo do tempo.

Cassiano, as estréias dessa semana aqui em Natal foram aguardadíssimas e finalmente aconteceram. Não posso reclamar da semana que tive. Assisti três filmes maravilhosos.

Túlio, também achei um absurdo a figuração de luxo da Jennifer Connelly. Mas, ela está em ótima companhia. Adorei a atuação da Phyllis Sommerville como a mãe de Ronnie, e ela também está meio que de figurante.

Alex e Wanderley, assino embaixo dos seus comentários.