Friday, September 07, 2007

Infância Roubada (Tsotsi, 2005)

O filme “Cidade de Deus”, do diretor Fernando Meirelles, marcou história no cinema brasileiro ao retratar, de forma documental, a ascensão de grupos criminosos na favela de Cidade de Deus. “Infância Roubada”, filme escrito e dirigido por Gavin Hood (que, ainda neste ano, estréia “Rendition”, seu primeiro filme em Hollywood), mostra que a realidade de miséria e violência não é própria das favelas cariocas. Elas também estão presentes nos bairros mais pobres da África do Sul – país aonde a trama do filme se passa.

As semelhanças entre “Cidade de Deus” e “Infância Roubada” não param por aí. Os dois filmes têm como personagens principais garotos que possuem uma vida sofrida desde muito cedo: ou cresceram em ambientes familiares desintegrados, ou foram criados em lares abusivos. Ao mesmo tempo, as tramas de ambos os filmes mostram que optar pela vida na criminalidade não é uma escolha covarde, e sim, em muitos casos, é a única saída que aqueles meninos possuem.

No caso particular de “Infância Roubada”, o roteiro do filme acompanha seis dias na vida de Tsotsi (Presley Chweneyagae, excelente), um jovem que, na companhia de seu grupo, obtém seu sustento através de pequenos roubos que faz em metrôs e residências. Quando encontramos Tsotsi, percebemos que ele está passando por uma fase de muita intolerância com suas vítimas – nunca se sabe se elas sairão vivas ou mortas dos “encontros” com o jovem. É justamente este pânico e nervosismo que Tsotsi apresenta frente às suas vítimas que vai acabar fazendo com que ele, após furtar o carro de uma mulher, não perceba que, no banco de trás do veículo, se encontra o filho recém-nascido dela. O que se segue a este acontecimento é uma jornada pessoal de Tsotsi – a qual o diretor Gavin Hood apresenta de maneira criativa, alternando flashbacks, com o tempo presente – em que ele reencontra, dentro de si, a esperança e o amor que andavam escondidos debaixo de tanta dor e revolta.

Baseado no livro do aclamado autor Athol Fugard, “Infância Roubada” ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 2005, além de vários prêmios da crítica por um retrato contemporâneo da vida de jovens, que, repito, estão na África do Sul, mas poderiam ser encontrados em qualquer lugar do mundo subdesenvolvido. O trabalho executado pelo diretor Gavin Hood é impressionante – e é notado, especialmente, na última cena de “Infância Roubada”, que tem que ser uma das mais bem escritas, dirigidas e atuadas dos últimos anos.

Cotação: 10,0

11 comments:

Kamila said...

O especial sobre o Primetime Emmy Awards 2007 vai continuar na próxima semana.

Bom feriado e bom final de semana!

Romeika said...

Nossa, que descrição, parece ser mesmo um belo trabalho, e pelo que vc descreveu, talvez não seja tão cru e chocante quando o filme do Meirelles, parece ser mais emocionante e contido. Sempre quis assistir a esse filme, vou ver se assisto ainda esse ano. Bom fds, Kamila ^^

Kamila said...

Romeika, "Infância Roubada" não é tão cru e chocante quanto "Cidade de Deus". É um filme que pega a gente mais pela emoção. A última cena é linda demais. Fazia tempo que eu não chorava no cinema, e aconteceu quando eu assisti a cena em questão. :-)

Bom final de semana, Romeika.

Rogerio said...

Nao sabia nada sobre este filme, mas depois do teu comentario e tendo visto o trailer de Rendition(q achei espetacular), vou ficar antenado no Gavin Hood.

Bom fim de semana!

Anonymous said...

Kamila, eu gostei desse filme, mas não tanto quanto você. Acho que "Paradise Now", por exemplo, mereica muito mais o Oscar de fita estrangeira. O Hood peca em alguns momentos com sua visão pobre dos problemas sociais, ficando muito aquém do Meirelles em "Cidade de Deus", mas o final é marcante mesmo.

Abraço!

Romeika said...

Kamila, então eu tive a impressão certa do seu texto. Parece mesmo ser aquele tipo de filme que nos emociona, mal posso esperar pra ver. Bom sábado! ^^

Kamila said...

Rogerio, "Infância Roubada" é um belíssimo filme. Passou nesta semana na sessão de arte de um cinema aqui de Natal e eu achei a oportunidade perfeita para assistir ao filme, ainda mais porque "Rendition" vem por aí.

Vinícius, como ainda não assisti "Paradise Now" não vou fazer comentários sobre os méritos ou não da vitória de "Infância Roubada" no Oscar 2005. Mas, vou discordar de você quanto ao trabalho do Gavin Hood. Acho que ele nem quis fazer uma crítica social. O interesse dele era mesmo fazer um retrato da volta da esperança ao Tsosti.

Romeika, espero que você consiga assistir ao filme.

Beijos e bom final de semana!

Wanderley Teixeira said...

Nossa como deu 10 para este filme deve ser espetacular!Nunca vi Infância Roubada aqui pela minha região.Me lembro bem de quando ganhou o Oscar em 2005.

Kamila said...

O filme nunca passou nos cinemas daqui, na sua época de lançamento, Wanderley. Passou nesta semana, na sessão de arte de um dos cinemas e eu não podia perder a chance de assistir ao filme.

Anonymous said...

Interessante, kamila, a comparação feita com Cidade de Deus, que na verdade eu acho bem melhor, mas gostei muito desse filme sul-africano. Existe algo de emotivo na história, mas nunca caindo no clichê ou no sentimentalismo exgerado. E assim como o Vinícius, prefiro o Paradise Now, embora sejam filmes bem diferentes.

Kamila said...

Rafael, eu gosto bem mais de "Cidade de Deus" se compararmos o filme com "Infância Roubada". Acho que as razões que você citou foram os motivos principais pelos quais eu adorei esse filme do Gavin Hood.