Tuesday, September 18, 2007

O Vigarista do Ano (The Hoax, 2007)

A matéria-prima principal de um escritor, além do talento que ele possui, é a capacidade de imaginar situações, pessoas e lugares; e encadear tudo isso em uma narrativa atraente para o leitor. O escritor Clifford Irving (Richard Gere) tem isso, mas possui uma qualidade própria ainda mais destacada: ele sabe mentir como ninguém. No entanto, como veremos no início de “O Vigarista do Ano”, filme dirigido pelo sueco Lasse Hallstrom, Irving ainda não soube como colocar estes dois elementos a favor de sua carreira de escritor, que vai de mal a pior – seu primeiro livro encalhou nas prateleiras das livrarias e o segundo nem chegou a ser publicado.

Desesperado, cheio de dívidas e sem nenhuma idéia para um livro novo em mente, Clifford Irving ganha mais uma chance da sua paciente editora, Andrea Tate (Hope Davis), e chega para a reunião mais importante de sua vida contando uma belíssima mentira: ele irá escrever o livro do século, a biografia autorizada do bilionário excêntrico Howard Hughes (que teve sua vida retratada no filme “O Aviador”, de Martin Scorsese). Detalhe importante: Irving e seu parceiro Dick Suskind (Alfred Molina) nunca viram, conheceram ou falaram com Howard Hughes.

Com contrato assinado e um ótimo adiantamento na sua conta bancária, Clifford Irving e Dick Suskind começam a levar a sua mentira a sério e forjam uma série de documentos, além de cometerem vários crimes contra instituições públicas nos EUA – tudo isso para escreverem a tal biografia autorizada. O que interessa aqui para o diretor Lasse Hallstrom e o roteirista William Wheeler (que adaptou o livro do próprio Clifford Irving) é mostrar de que maneira a mentira vai consumindo a vida de Clifford a ponto de ele não saber mais o que é verdadeiro e o que é falso.

Baseado em uma história real, “O Vigarista do Ano” é um filme surpreendente em todos os sentidos. A começar pela direção de Lasse Hallstrom, que é responsável por dramas ou comédias românticas leves. Aqui, ele realiza seu filme mais maduro. O roteiro de William Wheeler, que, em alguns pontos dá a impressão de se estender demais em certos pontos da narrativa, chega ao final aparando todas as arestas levantadas. E as atuações de Richard Gere e Alfred Molina são simplesmente sensacionais. O primeiro – na que seja, talvez, a melhor atuação de sua carreira – está perfeito como Clifford Irving, um homem movido à paixão pelo ofício de escritor, pelo personagem de sua biografia, pelas mulheres de sua vida (que são interpretadas por Marcia Gay Harden e Julie Delpy) e que, por causa disso, convence todos aqueles que estão à sua volta. E o segundo está ótimo como o cúmplice corroído pela culpa, mas que, de alguma maneira, se sente atraído por toda aquela sensação de que vai ser descoberto a qualquer momento.

Cotação: 9,2

O Vigarista do Ano (The Hoax, EUA, 2006)
Diretor(es): Lasse Hallstrom
Roteirista(s): William Wheeler, Clifford Irving
Elenco: Richard Gere, Alfred Molina, Hope Davis, Marcia Gay Harden, Stanley Tucci, Julie Delpy, Eli Wallach, John Carter, Christopher Evan Welch, Zeljko Ivanek, David Aaron Baker, Peter McRobbie, John Bedford Lloyd, Okwui Okpokwasili, Stuart Margolin

18 comments:

Romeika said...

Kamila, pela sua resenha tenho a impressão de que esse filme é uma virada na carreira desse diretor. Gostei dos filmes dele que vi, mas nada que tenha achado extraordinário. E o elenco todo parece ótimo, principalmente o feminino. Assistirei quando puder.

Anonymous said...

Kamila, não é que não tenha gostado desse filme, apenas não vi nada de extraordinário como você. É um bom filme, com ótimo elenco e um interessante argumento, mas simplesmente não sou fã desse cinema do Hallström, ainda que reconheça seus méritos.

Abraço!

Kamila said...

Romeika, olha eu acho que o filme pode marcar sim uma virada na carreira de Lasse Hallstrom. E o interessante é que a gente assiste "O Vigarista do Ano" sem notar que é um filme dele, porque não tem nenhum daqueles elementos de filmes anteriores dele.

Vinícius, também não sou fã do Hallstrom, mas tiro o chapéu para o trabalho que ele fez neste filme.

Beijos.

Rogerio said...

Pelo que estou vendo, esse filme nao foi só uma virada na carreira do Hallstrom(q conheço muito pouco do trabalho), mas muito mais do Richard Gere, que estava carente de interpretaçoes bacanas ultimamente. E olha que vem "The Hunting Party" pela frente ainda.. O Gere ta com tudo.

Romeika said...

Realmente, Kamila, só a sinopse do filme já parece um tema incomum na carreira dele. Quando eu assistir, comentarei com vc o que eu achei.

Ramon said...

A Kamilla... estou ficando bastante entusiasmado com o filme. Tanto que fiz o mesmo que você com O Despertar de uma Paixão.
Parei de ler o post na metade para não estragar a surpresa do filme. hehe!

Mas a metade inicial está muito legal. Belo meio post!

Mustafa Şenalp said...

Your blog is very nice:)

Kamila said...

Rogerio, acho que, desde "Chicago" não vejo o Gere tão bem. Este filme foi uma das agradáveis surpresas de 2007.

Romeika, vou esperar seu comentário.

Ramon, muito bem!!!! Eu tento evitar ao máximo saber informações de filmes pelos quais me interesso. Até mesmo para não assistir ao filme "contaminada" pela visão dos outros. Espero que você assista "O Vigarista do Ano".

Mustafa, thanks for the visit and for the comment.

Museu do Cinema said...

Concordo em gênero, número e grau Kamila.

Excelente filme!

Kamila said...

Já tínhamos falado sobre o filme em seu post, Cassiano, e, realmente, "O Vigarista do Ano" é um excelente filme.

Anonymous said...

Um ótimo filme e seu texto ficou muito bom. Gostei particularmente da atuação de Gere e do roteiro, apesar de ter achado que Hallstrom foi único na sua interpretação do personagem e preciso. O momento final, ao som de Rolling Stones é extremamente memorável. Nota 8,0

Kamila, admirei Exterminio 2 justamente pela direção excelente de Fresnadillo e ele constrói um clima pesadíssimo. Não sou de não gostar de um filme por causa de certos elementos, nesse caso, o horror gráfico - apesar de entender quem se encomoda - por isso gostei ainda mais. Achei super tenso e intenso. Nota 8,0 também.

Ciao

Kamila said...

Obrigada, Wally. Concordo plenamente com seu comentário.

Então, você é justamente o contrário de mim. Eu não gosto de filmes de terror, nem de filmes com aquele horror gráfico todo. Para quem gosta, "Extermínio 2" é excelente mesmo. Eu me sinto agoniada vendo tudo aquilo.

Dr Johnny Strangelove said...

quero ver esse filme ... gosto do trabalho de Lasse Hallstrom ...
e sim ... fique de olho em Julie Delpy ...
abraços

Dr Johnny Strangelove said...

e sim Kamilla ... veja O Hospedeiro sem medo ...

Kamila said...

Eu não gosto muito do Lasse Hallstrom e, Deus me livre, de assistir "O Hospedeiro". :-)

Romeika said...

Kamila, vi o filme ontem e apesar de ter gostado, não vi nada de maravilhoso e extraordinário nele. Gostei da interpretação do Gere e da boa química entre ele e o Alfred Molina. É divertido ver como todo mundo cai na lábia da personagem dele... O mais interessante do filme foi saber que aquilo tudo foi uma história real, que loucura! Ah, e senti pena de ver a Julie Delpy num papel tão pequenininho... Mas a Hope Davis aparece muito e está ótima. Enfim, um filme bom, mas que não me contagiou tanto quanto a vc. Concordo com o comentário do Vinícius.

Kamila said...

Romeika, o forte do filme é justamente isso. Ver como todo mundo cai na lábia do personagem do Gere. Ele é muito criativo. O forte de "O Vigarista do Ano" são as performances e o ótimo roteiro. E a Julie Delpy não dá sorte na sua carreira nos EUA. Só me lembro dela em papéis grandes nos filmes com o Ethan Hawke e na série "ER".

Romeika said...

É mesmo, coitada da Julie Delpy... E o filme é bom mesmo, eu gostei, só não tanto quanto vc.