Tuesday, October 16, 2007

Longford (2006)

Em 1964, a polícia londrina desvendou aquele que seria chamado de “o crime do século” no país. Um casal, formado por Ian Brady (Andy Serkis, o homem por trás da criatura Gollum, na trilogia “O Senhor dos Anéis”) e Myra Hyndley (Samantha Morton), foi responsável pela morte de cerca de oito crianças. Um crime brutal e que comoveu a opinião pública inglesa.

Um dos personagens mais importantes na discussão desses crimes foi o Lorde Frank Longford (interpretado por um irreconhecível Jim Broadbent), membro proeminente da sociedade inglesa, bem como da Câmara dos Lordes. O telefilme “Longford”, do diretor Tom Hooper (da minissérie “Elizabeth I”) e do roteirista Peter Morgan (o mesmo de “A Rainha” e “O Último Rei da Escócia”), segue o trabalho que Longford realizava com os presos ingleses e, em especial, o relacionamento que estabeleceu com Myra Hyndley – durante anos, ele iria lutar a favor da liberdade condicional para ela.

O roteirista Peter Morgan utiliza a personalidade e o trabalho do Lorde Frank Longford para fazer um importante debate: existe a possibilidade de reinserção na vida em sociedade, no caso de uma assassina fria – e calculista – como Myra Hyndley? Ou criminosos como ela têm mais é que mofar na cadeia? Para ilustrar essa discussão, Tom Hooper e Morgan utilizam imagens de arquivo, de noticiários e programas sobre o caso (com entrevistas dos pais das crianças que foram vítimas do casal); bem como dos fortes argumentos de Longford – que vira uma persona non grata dentro de seu próprio país, além de colocar em risco o relacionamento com sua família.

Do ponto de vista estético, a direção de Tom Hooper se assemelha muito ao trabalho que Stephen Frears realizou em “A Rainha”. Tudo em “Longford” é muito discreto e chama a atenção o fato de que o trabalho de reconstituição de época é simplesmente perfeito – a competência do telefilme foi reconhecida com as cinco indicações conquistadas no Emmy 2007. No entanto, o grande trunfo de “Longford” são mesmo o roteiro de Peter Morgan e as excelentes atuações do trio Jim Broadbent, Samantha Morton e Lindsay Duncan (que interpreta Lady Elizabeth, a esposa de Longford).

“Longford” marca mais uma investida do roteirista Peter Morgan no segmento dos filmes com temas políticos e sociais. Sendo que, ao invés de uma rainha dividida entre o seu papel e o que o seu povo deseja, ou um jovem médico seduzido – e, depois, atormentado – pelo poder, temos um homem deveras comum, de aparência frágil e fala mansa. Ele pode, à primeira vista, parecer ingênuo, mas, na realidade, é um homem extremamente otimista. Lorde Frank Longford acreditava na possibilidade de redenção e, principalmente, no poder da segunda chance.

Cotação: 9,0

Longford (Longford, 2006)
Diretor(es):
Tom Hooper
Roteirista(s): Peter Morgan
Elenco: Jim Broadbent, Samantha Morton, Lindsay Duncan, Andy Serkis, Kate Miles, Sarah Crowden, Robert Pugh, Caroline Clegg, Alex Blake, Roy Barber, Ian Connaughton, Charlotte West-Oram, Roy Carruthers.

16 comments:

Matheus Pannebecker said...

Nossa, fiquei curioso agora! Eu nem sabia da existência desse filme, mas só por Jim Broadbent e Peter Morgan já tá valendo :)

Kamila said...

Matheus, esse telefilme estreou semana passada na HBO. E é excelente mesmo. O Jim Broadbent está irreconhecível no filme por baixo de uma maquiagem enorme. E a atuação dele é muito boa.

Anonymous said...

Puxa, Kamila, assim como o Matheus fiquei bastante curioso para ver esse filme. Só ouvi falar nele pelas indicações ao Emmy, mas agora que soube que é escrito pelo Peter Morgan com certeza procurarei ver. O elenco também é ótimo, adoro a Samantha Morton e o Jim Broadbent.

Abraço!

Kamila said...

Vinícius, eu também não sabia que o Peter Morgan tinha escrito esse filme. Fiquei surpresa quando vi o nome dele nos créditos iniciais de "Langford". E o telefilme é ótimo. Recomendo.

Romeika said...

Não conhecia esse telefilme, Kamila. E muito menos esse crime bárbaro (pelo que entendi, foi uma história real). Realmente é um bom argumento pra se fazer um filme, ainda mais com um personagem como esse Longford. Nem vi o filme, e já sou contra a opinião dele... Mas pelo elenco, roteirista e sua nota, gostaria muito de ver o filme e o ponto de vista da personagem do Jim Broadbent.

Ramon said...

Grande nota. Merece um lugar na lista dos próximos filmes.
Pena que é um telefilme. É da HBO? Onde você viu?

Olhando rapidamente a foto, achei que Gene Hackman estava no filme. hehehe!

Museu do Cinema said...

Bela indicação Kamila, não conhecia esse filme, mas gostei da trama e da discussão que prega. O roteirista é dos melhores tb!

Pena que não vi para poder render mais essa discussão que é muito bem vinda.

Otavio Almeida said...

Mas que filme é esse? Tem roteiro do Peter Morgan......

Kamila said...

Romeika, "Longford" se inspira em uma história real. É um ótimo argumento para um filme e o Morgan se sai muito bem ao mostrar ambos os lados da história, sem querer julgar ninguém. Eu acho que tem que existir um trabalho de ajuda aos presos para que, a partir do momento em que eles sejam colocados em liberade, eles possam se reinserir em sociedade. Mas, no caso de uma Myra Hyndley (mesmo que o papel dela nos crimes nunca tenha sido esclarecido ao certo), sou totalmente contra o concedimento da liberdade condicional.

Ramon, não tenha preconceito com os telefilmes, porque a televisão norte-americana, especialmente a HBO, tem produzido excelentes obras nesse ramo. Como eu disse para o Matheus, "Longford" estreou na semana passada, na HBO Brasil. Deve ficar em cartaz por esse mês. E a caracterização do Jim Broadbent nesse filme é assustadora. Eu tive problemas em reconhecê-lo.

Cassiano, se tiver HBO Brasil, dá uma conferida no filme. Se não, vou torcer para que o DVD com o telefilme seja lançado por aqui.

Otavio, "Longford" é um telefilme produzido pela HBO em parceria com a BBC Films. Foi indicado ao Emmy 2007 e está cotadíssimo ao Globo de Ouro do próximo ano. Acho uma pena que a HBO Brasil não tenha divulgado da maneira correta a estréia do filme.

Romeika said...

Kamila, concordo. Num caso como esse, tb sou contra a liberdade condicional. Penso logo no lado dos pais das crianças assassinadas. Ah, parece ser mesmo um ótimo filme.

Otavio Almeida said...

Droga! Não tenho HBO...

Kamila said...

Romeika, os pais das crianças aparecem no filme, inclusive, em cenas de arquivo. Uma cena poderosa mesmo porque é impossível a gente não se emocionar com ele.

Que pena, Otavio. Então, torço para que o filme seja lançado em DVD.

Ramon said...

Não é preconceito, não. Hehehe... é que eu não tenho HBO. hehe!

Kamila said...

Desculpa, Ramon, se mal interpretei sua afirmação. E que pena que você não tem HBO!

Dewonny said...

Nossa, vi q esse filme tava passando ontem na HBO, mas acabei perdendo e não me importando muito por ñ saber nada dele, legal saber a opinião de alguém q viu, agora fiquei super interessado, vou ficar ligado quando o filme for reprisado, quero muito vê-lo agora..hehe..abs!

Marcelo Hiramatsu said...

Olá, Kamila, comprei o dvd (via site australiano), depois de tê-lo visto na HBO.

Ao assistir os extras, a semelhança entre Broadbent e o real Lord Longford é impressionante.

Mas o que impressiona neste homem é a sua coerência. Mesmo com toda a controvérsia em cima da campanha pró-Hindley, que lhe custou sua reputação, ele continuou a visitar presos até perto de morrer, aos 95 anos.