Thursday, October 11, 2007

O Homem que Desafiou o Diabo (2007)

José Araújo Filho (Marcos Palmeira) poderia ser o personagem principal de um romance do escritor baiano Jorge Amado. Mas, é bom frisar a palavra poderia... Apesar de ser um bonachão, amante de cabarés, das doses de cachaça e do cangote de uma mulher, chega o momento em que Araújo vira o jogo. Isso acontece quando, cansado de ser dominado pela esposa ciumenta Dualiba (a ótima Lívia Falcão) – com quem foi obrigado a se casar –, ele decide recomeçar a vida com outro nome (Ojuara) e com o propósito de ser o guerreiro que luta em prol do amor e da liberdade.

O filme “O Homem que Desafiou o Diabo”, do diretor Moacyr Góes, segue justamente as aventuras fantásticas de Ojuara, que vai andar pelo sertão nordestino provando sua reputação de herói bom de cama, de briga e de conversas de bar. Nas suas andanças, além de encontrar uma musa inspiradora – a prostituta Genifer (Fernanda Paes Leme) – e de dar de cara com o Diabo (Helder Vasconcelos), Ojuara vai se deparar com muitas outras figuras, como o Zé Tabacão (o cantor Otto), um assassino corcunda (Leon Góes, o irmão do diretor Moacyr Góes), Zé Pretinho (Leandro Firmino da Hora, o Zé Pequeno de “Cidade de Deus”), Mãe de Pantanha (Flávia Alessandra), uma bailarina de um circo (Juliana Porteous), o Coronel Ruzivelte (Sérgio Mamberti) e vários outros que ajudarão a criar esse mito em torno da pessoa de Ojuara.

Baseado no romance “As Pelejas de Ojuara”, do escritor potiguar Nei Leandro de Castro, “O Homem que Desafiou o Diabo” foi inteiramente filmado em locações no Estado do Rio Grande do Norte. O diretor de fotografia Jacques Cheuiche soube muito bem aproveitar o material natural que tinha em mãos e realiza um excelente trabalho. O diretor Moacyr Góes, que tem uma carreira no cinema tão contestada, não compromete. Mas, o final do filme, quando Ojuara tem seu confronto definitivo com o diabo, parece um tanto solto dentro da narrativa adaptada por Góes e Bráulio Tavares. A impressão que fica é a de que “O Homem que Desafiou o Diabo” seria uma obra perfeita para ser transformada em minissérie e muito mais adequada ao universo de um diretor como Guel Arraes, o qual é um mestre no relato de histórias tipicamente nordestinas.

Cotação: 4,0

O Homem que Desafiou o Diabo (O Homem Que Desafiou o Diabo, Brasil, 2007)
Diretor(es):
Moacyr Góes
Roteirista(s): Moacyr Góes, Bráulio Tavares
Elenco: Flávia Alessandra, Marcos Palmeira, Fernanda Paes Leme, Sérgio Mamberti, Lívia Falcão, Renato Consorte, Helder Vasconcelos, Giselle Lima, Antonio Pitanga, Rui Rezende, Juliana Porteous, Deborah Kalume, Leandro Firmino da Hora, Igor Orlando, Otto Ferreira

13 comments:

Museu do Cinema said...

Nem vi o filme e concordo com o que diz no final Kamila, seria mais adequado com o Guel Arraes!

Matheus Pannebecker said...

Moacyr Góes é um diretor medíocre. Dele, me lembro de ter odiado "Dom", pavorosa adaptação.
Esse "O Homem Que Desafiou o Diabo" eu nunca vou ver, já que apenas o trailer foi uma tortura pra mim.

Kamila said...

Cassiano, o tempo todo eu fiquei pensando justamente nisso. Que o Guel Arraes teria feito algo muito melhor.

Matheus, eu só asssiti ao filme para privilegiar a obra de um escritor do meu Estado e para ver um filme que foi todo rodado aqui. Isso não acontece sempre e foi bom ver alguns artistas locais em tela.

Marcus Vinícius said...

Não vi mas pelo jeito é fraquinho mesmo. Deve haver um mecanismo natural de equilíbrio e tals, porque depois de um espetacular Tropa de Elite é certo que serão lançados alguns abacaxis, hahahaha! =P

Beijos, ótimo feriado!

Anonymous said...

Mesmo com o Moacyr Góes na direção, tenho certa curiosidade em relação a esse filme - sem expectativa, claro, já que todos estão falando mal. Geralmente gosto dessas histórias que se passam no Nordeste (como "Cinema, Aspirinas e Urubus", rodado aqui em Pernambuco). Como você adianta no final, esse tipo de trama fica melhor no formato televisivo do que em filmes.

Abraço!

Rafael Carvalho said...

Enquanto assistia ao filme não estava gostando nada, nada do que estava vendo. Uma história apelativa, quase que de baixo nível (parecia que cada palavrão dito era só pra causar impacto) e com uma narrativa por demais abrupta que nem sequer desenvolve bem seus personagens. Quando nos acostumamos com alguns deles, eles desaparece do filme pra nunca mais. Sei que está intimamente ligado à certo tipo de literatura de cordel que é daquele jeito mesmo, mas que na tela grande não me agradou muito não. Destaque único para a bela fotografia.

Kamila said...

Marcus, o cinema brasileiro é justamente apoiado nesse equilíbrio: lançamentos ótimos, lançamentos ruins, uns mais comerciais que outros. E assim vamos indo. :-)

Vinícius, como nordestina, gosto muito desse tipo de filme. Mas, como eu disse, acho que a história funcionaria melhor num formato de minissérie.

Concordo plenamente com seu comentário, Rafael.

Alex Gonçalves said...

Nem é preciso dizer o quanto Moacyr Góes é um péssimo diretor, mas me surpreendi com o sujeito com "Trair e Coçar", um filme que não foi ruim. Vamos ver o que ele aprontou com este "O Homem Que Desafiou o Diabo". Talvez eu veja no festival de filmes brasileiros, que deve ocorrer no próximo mês.

Kamila said...

Alex, o festival de filmes brasileiros é o mesmo que vai ter aqui? Com filmes a 2 reais?

Alex Gonçalves said...

Esse mesmo, Kamila!
Me recordo que consegui bater um recorde pessoal no ano passado, vendo cinco filmes em apenas um dia, rs, rs, rs...

Anonymous said...

Fico imperssionada com a quantidade de preconceito que existe dentro do publico de cinema Brasileiro e talvez do publico em geral. Todos influenciados por um fenomeno de celebridades, o que acontece com o Tropa de Elite. Celebidades, por que sò se olha para a "Bola da vez".Nâo desmereço em nenhum momento esse filme, acho muito bom e muito bem realizado, mas o desequilibrio da midia é gritante, no meio de tantos filmes que foram lançados no fest RIO, sò se falou de Tropa de Elite, nâo dando nenhuma chance para os outros. Acho um absurdo falar dessa maneira. Existem sim mais de um filme de qualidade,sendo lançados e um deles é O homem que desafiou o diabo, por ser um filme que retrata sim o Nordeste, que tem palavrâo sim, como se o povo Brasileiro de todas as elites nâo falasse!; e que por tràs dessas aventuras se encontra uma bonita obra, com bons dialogos, boas interpretaçôes, que valem à pena assistir, nem que seja para fugir desse sistema robòtico da Midia, onde somos totalmente influenciaveis e influenciados./ jP, Rio de janeiro.

Ramon said...

Oi Kamila... obrigado pela dica. Realmente até a capa do filme O Auto da Compadecida. Acredito que o filme deva ser interessante, mas não é uma prioridade.

Anonymous... "sistema robótico da Mídia" não é um termo muito justo para descrever o que acontece com o Tropa de Elite. Antes de a mídia falar qualquer coisa a respeito dele, os camelôs distribuíram o filme no Brasil inteiro. Só isso já prova que o povo brasileiro é muito mais esperto que a mídia.
Sistema Robótico da Mídia seria o caso de esse filme aqui fazer mais sucesso que Tropa de Elite; Atores globais da moda com uma história típica de O Auto da Compadecida tentando fazer um filme comercial.
Respeito sua opinião, mas penso que não devias desmerecer fênomenos comerciais que buscam a reflexão, como o Tropa e Cidade de Deus.

Kamila said...

JP, eu acho que "Tropa de Elite" é um fenômeno. Visto por mais de 3 milhões de pessoas antes mesmo de seu lançamento nos cinemas. É até natural que ele chame a atenção por causa de seu tema e de toda a controvérsia que o filme vem causando. Concordo em partes com seu comentário. "O Homem que Desafiou o Diabo" é um filme divertido, sim. Conta com boas performances (destaco a de Lívia Falcão). Mas, eu acho que, se formos comparar o filme com outros lançamentos brasileiros, ele é somente mediano.

De nada, Ramon. Se você gosta de filmes nesse estilo, vai se divertir o assistindo.