Em uma das primeiras cenas do filme “Baixio das Bestas”, do diretor Cláudio Assis, dois senhores idosos conversam sobre um programa de televisão que assistiram. Eles estavam espantados com a maneira promíscua como as mulheres se apresentavam e acreditavam que faltava para elas um “homem de peia”, alguém que colocasse as rédeas nos momentos certos. Este é o retrato perfeito da comunidade aonde o filme se passa, a qual vive em meio a costumes retrógrados e decadentes, aonde os homens tratam as mulheres de maneira bastante humilhante.
Para apresentar o roteiro de Hilton Lacerda, o diretor Cláudio Assis utiliza um recurso narrativo que foi visto recentemente no filme “Cão Sem Dono”, de Beto Brant e Renato Ciasca. São vários segmentos dentro de um único filme. Existe uma parte que acompanha os dois amigos Cícero (Caio Blat) e Everardo (Matheus Nachtergaele), que passam o dia bebendo, arrumando encrenca e abusando das prostitutas da região – as quais são representadas pelo trio Marcélia Cartaxo, Hermylla Guedes (de “O Céu de Suely”) e Dira Paes (do seriado “A Diarista”). E temos uma outra que acompanha a vida na localidade descrita no primeiro parágrafo, em especial a de um senhor idoso que mora com a neta Auxiliadora (Mariah Teixeira) e que, nas horas vagas da menina, faz com que ela se exponha no posto de gasolina para atrair a atenção de caminhoneiros dispostos a pagar uma boa nota para somente passar a mão na jovem. No meio disso tudo, temos Maninho (Irandhir Santos), que, para a desgraça do senhor idoso, decide construir uma fossa no quintal dele, expondo toda essa comunidade à podridão humana que, antes, ficava escondida entre quatro paredes.
O diretor Cláudio Assis (que fez “Amarelo Manga”) é um exemplar do tipo que acredita que, no cinema, se pode tudo. Em “Baixio das Bestas”, o diretor abusa da exposição do corpo nu para mostrar que, de uma certa forma, todas aquelas pessoas são somente o reflexo de um choque cultural e do contraste entre o que é considerado moral ou imoral. O tempo todo o diretor brinca com a chegada do futuro. Para os da comunidade descritas no início do texto, o progresso vem da usina que poderá se instalar por lá. Para pessoas como a jovem Auxiliadora, o futuro é ainda mais difícil e representado pelo fato de que ela é a mina de ouro para “cabras safados" como o seu avô e os dois amigos Cícero e Everardo. O problema é que, infelizmente, todas essas boas idéias ficam perdidas dentro de um filme de caráter puramente experimental.
Cotação: 3,8
Baixio das Bestas (Baixio das Bestas, Brasil, 2007)
Diretor(es): Cláudio Assis
Roteirista(s): Hilton Lacerda
Elenco: Caio Blat, Conceição Camaroti, Marcélia Cartaxo, Hermila Guedes, Matheus Nachtergaele, Dira Paes, Fernando Teixeira, Samuel Vieira, Mariah Teixeira, João Ferreira
Para apresentar o roteiro de Hilton Lacerda, o diretor Cláudio Assis utiliza um recurso narrativo que foi visto recentemente no filme “Cão Sem Dono”, de Beto Brant e Renato Ciasca. São vários segmentos dentro de um único filme. Existe uma parte que acompanha os dois amigos Cícero (Caio Blat) e Everardo (Matheus Nachtergaele), que passam o dia bebendo, arrumando encrenca e abusando das prostitutas da região – as quais são representadas pelo trio Marcélia Cartaxo, Hermylla Guedes (de “O Céu de Suely”) e Dira Paes (do seriado “A Diarista”). E temos uma outra que acompanha a vida na localidade descrita no primeiro parágrafo, em especial a de um senhor idoso que mora com a neta Auxiliadora (Mariah Teixeira) e que, nas horas vagas da menina, faz com que ela se exponha no posto de gasolina para atrair a atenção de caminhoneiros dispostos a pagar uma boa nota para somente passar a mão na jovem. No meio disso tudo, temos Maninho (Irandhir Santos), que, para a desgraça do senhor idoso, decide construir uma fossa no quintal dele, expondo toda essa comunidade à podridão humana que, antes, ficava escondida entre quatro paredes.
O diretor Cláudio Assis (que fez “Amarelo Manga”) é um exemplar do tipo que acredita que, no cinema, se pode tudo. Em “Baixio das Bestas”, o diretor abusa da exposição do corpo nu para mostrar que, de uma certa forma, todas aquelas pessoas são somente o reflexo de um choque cultural e do contraste entre o que é considerado moral ou imoral. O tempo todo o diretor brinca com a chegada do futuro. Para os da comunidade descritas no início do texto, o progresso vem da usina que poderá se instalar por lá. Para pessoas como a jovem Auxiliadora, o futuro é ainda mais difícil e representado pelo fato de que ela é a mina de ouro para “cabras safados" como o seu avô e os dois amigos Cícero e Everardo. O problema é que, infelizmente, todas essas boas idéias ficam perdidas dentro de um filme de caráter puramente experimental.
Cotação: 3,8
Baixio das Bestas (Baixio das Bestas, Brasil, 2007)
Diretor(es): Cláudio Assis
Roteirista(s): Hilton Lacerda
Elenco: Caio Blat, Conceição Camaroti, Marcélia Cartaxo, Hermila Guedes, Matheus Nachtergaele, Dira Paes, Fernando Teixeira, Samuel Vieira, Mariah Teixeira, João Ferreira
11 comments:
Kamila, ao ler os dois primeiros parágrafos (nem tinha visto a nota) imaginei que esse poderia ser um bom filme. A premissa é boa e interessante, e o elenco é muito bom (gosto do Nachtergaele e da Dira Paes). Mas, é ruim assim mesmo? Não vi os trabalhos anteriores desse diretor, parece que "Amarelo Manga" foi até elogiado..? Bom feriado amanhã!
Romeika, não é que seja ruim. O filme tem uma proposta boa. Mostra situações de violência. Mostra a podridão. Mas, termina, assim, sem dizer quase nada. A impressão que a gente tem é a de que tinha muita história para ser contada.
Obrigada!
Olha, eu curto muito "Amarelo Manga", muito mesmo! "Baixio das bestas" não tive a oportunidade de ver nos cinemas, mas os meus chegados tem falado bem. Mesmo assim, eu tenho um pé atrás com o Claudio Assis. Assim que o vir, volto aqui pra comentar!
Bjs.
esse é um filme que estou louco para ver ... quanto mais cru e mais proximo da realidade melhor ...
posso até entender a sua nota baixa ... mas tudo bem ...
abraços
Gostei de Baixio das Bestas, Kamila. Mas não foi tanto e isso justamente por ser o Claudio Assis. Gosto muito o trabalho dele como diretor. Ele sabe usar bem os recursos que tem. Mas esse discurso de que o cinema foi feito para chocar e incomodar chega a ser ridículo nas proporções que ele impõe.
Esse filme dividiu opiniões mesmo. O Wanderley, por exemplo, deu 5 estrelas. Pelas críticas negativas que já li (incluindo a sua), posso perceber que os maiores méritos do filme estão na parte técnica, já que as idéias não foram expostas de forma adequada pelo diretor - o Assis tem esse estilo mesmo... Espero conferir em breve.
Abraço!
Oi Kamila, tô querendo ver esse filme, por curiosidade, mas pelo seu texto parece que o filme padece de roteiro né?
Vc não sabe Kamila como quero ver esse filme, muita gente gostou e muita gente odiou. Tô bastante curioso pra saber o resultado. E vai acontecer aqui na minha cidad euma Mostra de filmes brasleiros do qual Baixio das Bestas será exibido. Aguardo ansiosamente.
Dudu, eu não assisti "Amarelo Manga" e acho que nem vou fazer isso depois de assistir "Baixio das Bestas".
João, mas aí é que está o fato: "Baixio das Bestas" não está nada próximo da realidade. O filme se perde nessa intenção de querer chocar, de causar impacto nas pessoas.
Luciano, concordo plenamente com seu comentário.
Vinícius, o melhor mesmo do filme é a parte técnica.
Cassiano, padece um pouco. Como eu disse para a Romeika, a impressão que eu tive foi a de que ainda tinha muita história para contar.
Rafael, assista ao filme e, depois, espero seu comentário.
Bom final de semana a todos!
Baixio das Bestas foi um filme q dividiu opiniões.Eu particularmente enxerguei no filme uma clara e eficaz(por meio do choque das cenas?) crítica ao tratamento da mulher na sociedade.Bom, aquela cena com a personagem da Dira Paes é uma das mais fortes q já vi, e olha q ele só se utiliza das sombras dos personagens.Flando nela , Dira Paes e Caio Blat tem desempenhos louváveis.Gosto bastante desse trabalho do Assis.
A cena da Dira Paes é fortíssima mesmo, Wanderley. Mas, acho que dá para a gente questionar a vontade do Cláudio Assis de nos chocar. Ao querer fazer isso, ele pode causar o efeito contrário: repulsa ao filme dele.
Gostei muito do senhor idoso, o avô da Auxiliadora e das atuações do Caio Blat e da Dira Paes, que é muito boa atriz.
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