Monday, December 10, 2007

O Preço da Coragem (A Mighty Heart, 2007)

O documentário “O Jornalista e a Jihad”, dos diretores Ahmed A. Jamal e Ramesh Sharma, faz um retrato completo e detalhado sobre a vida e sobre a conjuntura política e social que levou ao seqüestro e morte, em 2002, no Paquistão, do jornalista norte-americano Daniel Pearl, que era correspondente na Ásia para o jornal “The Wall Street Journal". Ao final deste filme, quando os créditos anunciam o destino dos personagens principais desta história, ficamos sabendo que a esposa de Daniel, a também jornalista Mariane, escreveu um livro chamado “A Mighty Heart”, para que, um dia, seu filho Adam possa ler a obra e saber que tipo de homem seu pai foi.

É este o livro que serviu como base para o roteiro de John Orloff, “O Preço da Coragem”, filme dirigido por Michael Winterbottom. Aqui, acompanhamos as cinco semanas de agonia vividas por Mariane Pearl (Angelina Jolie) durante o seqüestro de seu marido tentando, incessantemente, recriar os passos de Daniel Pearl (Dan Futterman), seus contatos, e tendo um apoio inestimável de um grupo de pessoas de diversas etnias – indianos, franceses, norte-americanos e paquistaneses – unido em prol do retorno seguro do jornalista para casa.

Um dos elementos mais elogiados do filme “O Preço da Coragem” é a atuação de Angelina Jolie como Mariane Pearl. Inicialmente uma escolha contestada (já que a esposa de Daniel Pearl é muito diferente fisicamente da atriz), Jolie impressiona pela maneira como compôs a personagem. Num ambiente dominado pelo stress, pressão e apreensão, ela mostra Mariane como um poço de calma e serenidade. Até que, na cena em que ela descobre a morte de Daniel, Jolie se encolhe e solta um grito doído – a impressão que fica é a de que Mariane está liberando ali, naquele momento, tudo o que ficou acumulado nos outros dias. Esta é uma cena poderosa e que justifica uma possível indicação ao Oscar de Melhor Atriz para Angelina Jolie.

Além da atriz, um outro aspecto que chama a atenção em “O Preço da Coragem” é o estilo documental de filmar do diretor Michael Winterbottom – aliás, esta é uma marca de seu trabalho, vide filmes como “Bem-Vindo à Sarajevo” e “Caminho Para Guantánamo”. Ele é o diretor perfeito para este tipo de filme. Poderíamos destacar também a edição de Peter Christelis que, a partir da linha principal de narração de “O Preço da Coragem”, constrói uma espécie de “filme hipertexto”. Cada informação descoberta por Mariane e seu grupo é uma espécie de link aberto para uma série de elementos novos que nos ajudam a entender as razões por trás do seqüestro de Daniel. O que assistimos na tela é um encadeamento perfeito entre explicação de fatores e a dramatização do que acontece na casa da amiga jornalista de Daniel Pearl, Asra Q. Nomani (Archie Panjabi), o verdadeiro quartel-general de todos aqueles que torceram para que a história dele, de Mariane e do ainda nem nascido Adam tivesse um final feliz.

Cotação: 7,5

O Preço da Coragem (A Mighty Heart, EUA, Inglaterra, 2007)
Diretor(es): Michael Winterbottom
Roteirista(s): John Orloff
Elenco: Dan Futterman, Angelina Jolie, Archie Panjabi, Mushtaq Khan, Arif Khan, Amit Dhawan, Saira Khan, Zafar Karachiwala, Danish Iqubal, Azfar Ali, Ahmed A. Jamal, Denis O'Hare, Perrine Moran, Jeffry Kaplow, Aly Khan

16 comments:

Ramon said...

Oxa... agora fiquei na expectativa!
Kamila, esse filme está nos cinemas?
Quando estreou?

Tenho que conferir a Angelina antes de aprontar a lista dos indicados do ano. O problema é que são muitos filmes nesse final de ano que poderão estar nos indicados.

Belo post!

Kamila said...

Ramon, "O Preço da Coragem" está nos cinemas, sim. Mas, estreou em tão poucas cidades.

Estou também na mesma encruzilhada que você. Final de ano, muitos filmes para conferir e tenho que priorizar algumas coisas.

Infelizmente, muita coisa boa deve ficar de fora da minha lista.

Obrigada.

Victor said...

O filme ainda não estroou por aqui também, isso é um problema...
E minha lista deve ficar devendo algumas coisas boas por isso também, enfim...mas tentando assistir ao máximo que puder..


Beju Kamila!

Otavio Almeida said...

Kamila, achei insuportável. Desculpa. E a Angelina não me convenceu. Na sinopse, eu já sabia o que iria acontecer. Só não sabia que o filme acabaria exatamente como estava escrito na sinopse.

Bjs!

Matheus Pannebecker said...

Como você já sabe, achei o filme bom, ainda que sem sentimentos. Concordo contigo quando fala de Jolie, mas não sei se ela terá uma indicação ao Oscar.
Destaque para a direção de Winterbottom, um dos melhores quesitos do filme.
NOTA: 7.5

Anonymous said...

Winterbottom é discutível, como já comentei no Hollywoodiano, achei O Caminho Para Guantanamo um chocante e urgente documentário, mas um drama superficial e frio. Espero que o mesmo não aconteça com seu novo filme, mas as críticas me levam a crer diferente. Uma coisa é quase unânime: a atuação de Jolie.

Aqui ainda não chegou...

Ciao!

Museu do Cinema said...

Vixe, esse por aqui nem senti o cheiro Kamila!

Kamila said...

Victor, estamos no mesmo barco. :-)

Otavio, não tem problema. Eu achei o filme ótimo. Angelina está bem e concordo com o Matheus: não sei se ela será candidata ao Oscar num ano de atuações femininas tão fortes.

Matheus, acho que a falta de sentimento sobre a qual você fala diz respeito à Mariane. Acho que a gente esperava alguém se descabelando numa situação como a que ela viveu. Surpreende a serenidade com que ela encarou tudo. Mas, na cena do grito, como eu mesma disse, ela solta tudo o que estava guardado. Aquela cena é poderosa.

Wally e Cassiano, esse filme não chegou em muito canto. Assim como "O Assassinato de Jesse James", que tem tido uma distribuição horrorosa no Brasil.

Anonymous said...

Nossas opiniões estão bem parecidas, inclusive minha cotação foi a mesma. O destaque é mesmo a Jolie, espero que seja indicada ao Oscar, só não fiquei muito encantado com o estilo do Winterbottom (apesar de interessante). O interessante foi que, mesmo já sabendo do final, a trama conseguiu me prender durante todo o tempo.

Abraço!

Museu do Cinema said...

Eu não diria horrorosa Kamila, eu diria seletiva, como é nosso país. Em SP ele deve tá passando em vários cinemas.

É a realidade de nosso país Kamila, pro rico tudo.

Dr Johnny Strangelove said...

Um dos melhores filmes que já vi esse ano
Quem adorou Guantanamo se sentiu mais confortavel com o estilo dificil e implacavel.

apenas discordo com a sensação fria de como é condizido O Caminho Para Guantanamo, já que acho que foi bem mais proximo da realidade dos fatos, já que filmes que retratam a dor do terrorismo como o frajuto e manipulador Vôo Sonolento digo United 93 onde se percebe as emoções forjadas de uma situação ficticia.

e só a cena do choro da personagem de Jolie é digna de Oscar

abraços

Kamila said...

Vinícius, o mesmo aconteceu comigo. A trama de "O Preço da Coragem" me prendeu por todo o filme. E a atuação da Jolie é excelente. Espero que ela seja indicada ao Oscar - a indicação ao BFCA deu uma grande ajuda.

Cassiano, isso é verdade. Filmes como esse só passam nos grandes centros, para um público que eles acreditam ser seletivo. A gente que mora no Nordeste que sofre.

João, eu gosto de "Vôo United 93". Acho um baita filme e "O Preço de uma Coragem" segue o mesmo estilo. A cena do grito da Jolie é impressionante.

Dr Johnny Strangelove said...

Apesar de discordar ... United 93 não conseguer ser tão genial quanto A Mighty Heart ou Guantanamo ... mas tente procurar ver Guantanamo ... dica boa mesmo

beijos

Kamila said...

Vou procurar, sim, João, o filme "Caminho Para Guantánamo".

Beijos.

Romeika said...

Kamila, vc teve a mesma impressao que eu sobre o filme. Eh marcante o estilo documental do filme, eh quase cru e seco, por um lado eh bom, pq o filme nunca se rende a um dramalhao barato.

E eh desconcertante a calma da Mariane (parece que foi assim na vida real mesmo), inclusive em suas entrevistas na TV. Acho que ela nao quis dar o gostinho aos terroristas, se manteve sobria acima de tudo.. E a Angelina ha tempos nao entregava uma performance tao boa.

Kamila said...

Romeika, no documentário que eu assisti, a Mariane continuava serena. Se fosse eu na situação dela, acho que eu perderia o chão. Acho que também muito por causa dessa calma dela que a cena do grito toca tão fundo na gente.

E concordo com o que você disse a respeito da Angelina. Ela está ótima no filme.