Baseado no best-seller mundial de autoria de Khaled Hosseini, “O Caçador de Pipas”, do diretor Marc Forster, é mais do que um relato da saga de uma família afegã, tendo como pano de fundo as diversas mudanças políticas que ocorreram no país (ou seja, o domínio soviético e, posteriormente, o regime talibã). A obra, na realidade, faz uma discussão profunda sobre valores morais e éticos, como a honestidade e a lealdade. Para tanto, utiliza a figura de Amir (Zekeria Ebrahimi quando jovem e Khalid Abdalla quando mais velho), filho de um rico afegão (o ótimo Homayoun Ershadi), e que – durante a infância – omite a verdade a respeito de algo e é esta lembrança que o fará voltar ao seu país natal muitos anos depois de ele e seu pai terem migrado para os Estados Unidos.
Assim como um outro filme baseado numa importante obra literária (“Desejo e Reparação”, de Joe Wright), a trama de “O Caçador de Pipas” é movida pelo desejo de consertar algo do passado. No ano de 1978, na cidade de Cabul (Afeganistão), Amir passava seus dias ao lado do garoto Hassan (Ahmad Khan Mahmidzada, excelente). Filho do criado da família, Hassan era tratado como se fosse um irmão de Amir. No entanto, a vontade de Amir em ser visto como um garoto forte e valente pelo pai fará com que ele tome uma série de atitudes que culminarão com o afastamento de Hassan e seu pai de Amir e seu Baba. 20 anos depois, quando recebe uma ligação de um amigo da família chamado Rahim Khan (Shaun Toub), Amir terá a oportunidade de “ser bom de novo”.
Falando assim parece que “O Caçador de Pipas” possui uma trama bastante simples. Mas, acontece justamente o contrário. O livro de Khaled Hosseini é bem denso e escrito de uma forma que deixa o leitor completamente inserido dentro da realidade de Amir. A adaptação do diretor Marc Forster tem várias qualidades (a música de Alberto Iglesias, a fotografia de Roberto Schaefer e as performances de seu elenco), mas peca justamente no roteiro de David Benioff (“A Última Noite” e “Tróia”). Está óbvio para aqueles que leram o material original que o roteirista teve um enorme respeito com a obra de Hosseini. No entanto, na ânsia de condensar o material, Benioff deixa de fora alguns detalhes que são importantes para compreender o tipo de relacionamento que existia entre Amir e Hassan e que nos ajudam a entender o porquê da volta de Amir ao Afeganistão não ser uma obrigação, e sim uma questão de honra.
Tendo dito isso, o maior problema do filme “O Caçador de Pipas” é não conseguir fazer com que o espectador seja cúmplice de Amir em sua jornada. A gente acompanha tudo por uma distância segura. Se a graça da leitura é a gente mergulhar no universo imaginado pelo escritor, o que a gente espera de um filme é a capacidade de sermos transportados para aquele mundo apresentado pelo diretor durante a projeção. Marc Forster, que já provou ser capaz de fazer isso em filmes como “Mais Estranho que a Ficção” e “Em Busca da Terra do Nunca”, deixou a sensibilidade em casa e fez um trabalho extremamente burocrático. O que é uma pena, pois “O Caçador de Pipas” é um livro que transborda emoção.
Cotação: 7,3
O Caçador de Pipas (The Kite Runner, EUA, 2007)
Diretor(es): Marc Forster
Roteirista(s): David Benioff (com base no livro de Khaled Hosseini)
Elenco: Khalid Abdalla, Homayon Ershadi, Zekeria Ebrahimi, Ahmad Khan Mahmidzada, Shaun Toub, Nabi Tanha, Ali Dinesh, Saïd Taghmaoui, Atossa Leoni, Abdul Qadir Farookh, Maimoona Ghizal, Abdul Salam Yusoufzai, Elham Ehsas, Ehsan Aman, Vsevolod Bardashev
Assim como um outro filme baseado numa importante obra literária (“Desejo e Reparação”, de Joe Wright), a trama de “O Caçador de Pipas” é movida pelo desejo de consertar algo do passado. No ano de 1978, na cidade de Cabul (Afeganistão), Amir passava seus dias ao lado do garoto Hassan (Ahmad Khan Mahmidzada, excelente). Filho do criado da família, Hassan era tratado como se fosse um irmão de Amir. No entanto, a vontade de Amir em ser visto como um garoto forte e valente pelo pai fará com que ele tome uma série de atitudes que culminarão com o afastamento de Hassan e seu pai de Amir e seu Baba. 20 anos depois, quando recebe uma ligação de um amigo da família chamado Rahim Khan (Shaun Toub), Amir terá a oportunidade de “ser bom de novo”.
Falando assim parece que “O Caçador de Pipas” possui uma trama bastante simples. Mas, acontece justamente o contrário. O livro de Khaled Hosseini é bem denso e escrito de uma forma que deixa o leitor completamente inserido dentro da realidade de Amir. A adaptação do diretor Marc Forster tem várias qualidades (a música de Alberto Iglesias, a fotografia de Roberto Schaefer e as performances de seu elenco), mas peca justamente no roteiro de David Benioff (“A Última Noite” e “Tróia”). Está óbvio para aqueles que leram o material original que o roteirista teve um enorme respeito com a obra de Hosseini. No entanto, na ânsia de condensar o material, Benioff deixa de fora alguns detalhes que são importantes para compreender o tipo de relacionamento que existia entre Amir e Hassan e que nos ajudam a entender o porquê da volta de Amir ao Afeganistão não ser uma obrigação, e sim uma questão de honra.
Tendo dito isso, o maior problema do filme “O Caçador de Pipas” é não conseguir fazer com que o espectador seja cúmplice de Amir em sua jornada. A gente acompanha tudo por uma distância segura. Se a graça da leitura é a gente mergulhar no universo imaginado pelo escritor, o que a gente espera de um filme é a capacidade de sermos transportados para aquele mundo apresentado pelo diretor durante a projeção. Marc Forster, que já provou ser capaz de fazer isso em filmes como “Mais Estranho que a Ficção” e “Em Busca da Terra do Nunca”, deixou a sensibilidade em casa e fez um trabalho extremamente burocrático. O que é uma pena, pois “O Caçador de Pipas” é um livro que transborda emoção.
Cotação: 7,3
O Caçador de Pipas (The Kite Runner, EUA, 2007)
Diretor(es): Marc Forster
Roteirista(s): David Benioff (com base no livro de Khaled Hosseini)
Elenco: Khalid Abdalla, Homayon Ershadi, Zekeria Ebrahimi, Ahmad Khan Mahmidzada, Shaun Toub, Nabi Tanha, Ali Dinesh, Saïd Taghmaoui, Atossa Leoni, Abdul Qadir Farookh, Maimoona Ghizal, Abdul Salam Yusoufzai, Elham Ehsas, Ehsan Aman, Vsevolod Bardashev
12 comments:
Coincidência Kamila, acabei de ver esse filme e escolhi a mesma fotografia para ilustrar meu post.
O filme é fraco demais.
Pelo que entendi, o problema foi mesmo a adaptação feita pelo David Benioff. Certamente no livro a história deve ser mais emocionante, pois no filme achei tudo tão distante que foram raros os momentos de emoção - talvez o desfecho, apenas. Muito fraco para os padrões do Marc Forster, que já dirigiu ao menos 3 ótimos filmes.
Abraço!
Cassiano, comentei sobre essa coincidência no seu blog. Não achei o filme tão fraco assim, mas, com certeza, é uma decepção.
Vinícius, o problema é todo do David Benioff. Ele foi respeitoso demais, mas a história perdeu esse aspecto da emoção. No livro, tudo é melhor. E o filme, para o padrão de Marc Forster, é decepcionante.
Abraços!
O filme, bem como o livro de Khaled Hosseini, desanda depois da metade, até perder-se por completo.
O que realmente - como você bem disse no final do seu texto - é uma pena, por que ambos são muito emocionates.
Abraço!!!
Já sabe minha opinião. Fui emocionado e adorei o resultado. Só achei corrido e senti falta de um melhor tratamento entre a amizade de Hassan e Amir no início. Mas achei um belo filme, como o livro, me cativou.
Nota 8,5
Ciao!
Eu também achei este filme cheio de paralelos com "Desejo e Reparação". Não o considero uma obra prima, mas como li o livro, acho que David Beneioff ao menos merecia uma indicação ao Oscar de roteiro adaptado. Ainda que algumas passagens tenham sido um pouco "rasas". Existe mesmo uma falta de emotividade no filme, não toca profundamente o público, e Marc Forster têm um trabalho de direção frio e sem personalidade, absolutamente inverso a filmes maravilhosos como "A Última ceia" e "Finding Neverland". O garoto que faz o Hassan é uma pérola.
Abração!
Nota: 7,5 ou ***
Concordo plenamente com a sua crítica, Kamila. Quando li O Caçador de Pipas, me emocionava a cada segundo e me envolvia cada vez mais com a história. No filme, ficou tudo meio mecânico. E o mais estranho de tudo é que o filme não é nem um pouco comercial.
Pensei que iria ter mais esculacho ... ehehehe
mas um dia quando me derem o dvd ou quando estiver disponivel na net ... irei pensar em assistir ...
beijos
O filme é fraco justamente por isso Kamila, cria uma expectativa que acaba não correspondendo. Mas o texto do livro é bom.
Como n�o li o livro, gostei do filme. N�o amei, gostei. O pai de Amir est� perfeito. Um bom ator e um �timo personagem.
Kamila, ainda bem que não assisti a esse filme, pelo visto o melhor é ler o livro. Nada pior do que uma direção burocrática e sem emoção (se realmente for como vc diz), e isso vindo de um diretor como o Forster, que nos emocionou tanto em "Finding Neverland"..
Pedro, eu discordo de você. Acho que o livro de Khaled Hosseini é bem melhor do que esse filme. A narrativa do livro é excelente, emocionante e completamente diferente da vista na adaptação.
Wally, a gente concorda em relação à correria do roteiro e da falta de uma melhor abordagem na amizade entre Hassan e Amir.
Weiner, não poderia concordar mais com seu comentário. :-) Exceto no que diz respeito à uma possível indicação ao Oscar para o David Benioff.
Matheus, exatamente. O filme não é comercial e nem consegue captar a aura especial do livro.
João, mesmo sendo um filme que carece de emoção, acho que vale a pena assistir "O Caçador de Pipas".
Cassiano, concordo.
Marfil, concordo. Adorei o ator que interpretou o pai de Amir, assim como o garotinho que interpretou Hassan.
Romeika, como eu disse ao João, eu não acho que o filme não merece ser visto. Assista e leia o livro! :-)
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