Saturday, February 10, 2007

A Conquista da Honra (Flags of Our Fathers, 2006)


Os retratos de uma guerra bem que poderiam ilustrar aquelas populares seções de revista que ganham o nome de “Antes/Depois”. É incrível a mudança pela qual passam os soldados que vivenciam uma guerra. Se no momento do embarque vemos imagens de jovens alegres e ansiosos, que estão conscientes e preparados para se tornarem heróis e darem a vida pelo seu país; no desembarque assistimos à chegada de seres que carregam em si as dores e as marcas dos fatos vivenciados na batalha.

Não é todo mundo que tem fibra para continuar a vida depois de testemunhar atos de extrema crueldade e de conhecer o sofrimento na sua mais pura forma. O filme “A Conquista da Honra”, de Clint Eastwood (que além de dirigir, produziu e compôs a trilha sonora original do filme), fala não só sobre um fato isolado da II Guerra Mundial (a batalha que se deu entre japoneses e norte-americanos, em Iwo Jima, no Japão, pelo controle do monte Suribachi), como também sobre os efeitos que o combate teve na vida de três homens: o enfermeiro da Marinha John “Doc” Bradley (Ryan Phillippe) e os soldados Rene Gagnon (Jesse Bradford) e Ira Hayes (Adam Beach).

Os três homens se tornaram um símbolo dentro de seu país graças a uma foto que mostrava um grupo de seis soldados erguendo uma bandeira dos Estados Unidos no monte Suribachi. A foto, nos Estados Unidos, se transformou em um símbolo da vitória, fazendo com que as pessoas recuperassem as suas crenças nas razões que levaram o país à guerra. Alçados à condição de heróis nacionais, Bradley, Gagnon e Hayes (os três sobreviventes do grupo que estava na foto) voltam aos Estados Unidos para fazerem uma turnê em diversas cidades com o objetivo de arrecadar dinheiro para a construção de tanques e navios e para a compra de armamentos e munições.

"A Conquista da Honra” retoma a II Guerra Mundial e a luta no monte Suribachi através de flashbacks – as lembranças de John Bradley, Rene Gagnon e Ira Hayes podem ser trazidas por um simples barulho ou saudação. Além disso, o filme é contado pela perspectiva das pessoas que estiveram em combate com os três heróis – e que são entrevistadas pelo filho de Bradley, James, que só descobriu que o pai foi herói de guerra depois da morte dele (o livro de James Bradley, por sinal, foi a obra que inspirou o roteiro de “A Conquista da Honra”).

Na época de seu lançamento, “A Conquista da Honra” foi muito comparado com o filme “O Resgate do Soldado Ryan”, de Steven Spielberg. A comparação entre os dois filmes chega a ser muito injusta. A única coisa que eles têm em comum é o fato de que se situam na II Guerra Mundial e por terem cenas de batalha extremamente bem dirigidas. Mas, ao contrário do filme de Spielberg, “A Conquista da Honra” mergulha naquele conceito (“seja um herói”) que é utilizado para persuadir jovens a se alistarem para participar de guerras. Afinal, o que é ser um herói? Eastwood mostra, através de seu filme, que construir a figura de um herói é fácil (e os norte-americanos são mestres nisso), mas se manter como herói é muito difícil. “A Conquista da Honra” revela que o heroísmo vem da luta diária e pode acontecer, por exemplo, quando um pai tem que lidar com seus próprios demônios e suas próprias lembranças e tenta proteger aqueles que ama de tudo isso - mesmo que isso venha ao custo de ter que esconder uma parte importante de sua vida deles.

Cotação: 7,2

Crédito Foto: Yahoo! Movies

25 comments:

Museu do Cinema said...

É Kamila, é fácil fazer um herói, dificil é ser um.

Anonymous said...

Gostei da critica Kamila, principalmente da parte inicial sobre o lado psicologico dos soldados apos uma guerra (gostei tanto dessa parte que continuei lendo ateh o fim). Mas nao consegui entender bem pq vc nao gostou do filme.... Foi a direcao que o roteiro tomou sobre a questao do heroismo?

Túlio Moreira said...

Kamila, A Conquista da Honra me remete a toda hora a Nascido em 4 de Julho. Como você disse no primeiro parágrafo, o "antes/depois" de Ron Kovic, quando ele era criança e via os veteranos de guerra se assustarem com o barulho dos tiros e depois ele mesmo se assustava depois de ter servido no Vietnã. No último parágrafo da sua resenha, o conceito de herói: é engraçado como Ron Kovic rejeita suas medalhas. Ou seja, NÃO SÃO AS MEDALHAS QUE FAZEM UM HERÓI. Com o sofrimento da guerra, o personagem de Tom Cruise passa da alienação absoluta (matar pelo Estado) para a militância libertária (dar valor à própria vida). Acho que o filme de Eastwood estabelece um diálogo concreto com a obra de Oliver Stone.

Grande beijo e ótimo domingo.

Kamila said...

Romeika, em nenhum momento eu disse que não gostava do filme. Eu acho que "A Conquista da Honra" é um bom filme, que se difere dos outros do gênero justamente por fazer esse mergulho nos efeitos que a guerra têm nas vidas daqueles que participam dela. O filme divaga muito sobre o conceito de herói. Sobre pessoas que não escolheram carregar esse estigma, mas, inevitavelmente, o fizeram.

Kamila said...

Túlio, não tinha percebido o paralelo entre "A Conquista da Honra" e "Nascido em 4 de Julho", mas você me convenceu. Concordo plenamente com sua afirmação de que não são as medalhas que fazem um herói, e sim o que acontece depois da transformação, depois do evento em si. Posso até estar errada, mas acredito que Eastwood mostra que encontrar uma maneira para sobreviver depois da guerra, depois de serem explorados (mesmo no caso de Ira) é o que fez daqueles três homens seres notáveis.

Beijo e bom domingo para você também.

Túlio Moreira said...

É isso, Kamila. :)

A guerra pôde ter acabado com as vidas dos três soldados de Iwo Jima ou com a do Ron Kovic, mas pelo menos servia para mostrar a eles que o que importa mesmo não é lutar pelo país (esse mesmo país cujos presidentes e demais políticos ficam tranqüilos comendo e bebendo enquanto os soldados estão no campo de batalha). O importante é lutar por aquilo que se acredita de verdade, como os amigos, por exemplo.

Beijo!

Túlio Moreira said...

Resumindo numa frase do filme do Eastwood: "Eles lutam por seu país, mas morrem por seus amigos".

Kamila said...

Exato, Túlio. E isso a gente vê em vários momentos do filme, como nessa frase que você citou e naquela cena em que Mike (Barry Pepper) recusa a promoção à sargento para lutar ao lado de seus homens, porque havia prometido ficar ao lado deles durante a guerra.

Anonymous said...

Ou então, Kamila, naquela que um dos soldados caem no mar. No começo, é só curtição. Mas depois eles ficam tristes ao perceberem o que vai acontecer de verdade. É um filmaço. E espero de Cartas de Iwo Jima mais que isso: espero uma obra-prima.

Beijo!

Wanderley Teixeira said...

Achei um filme frio ao extremo,o q me causou estranheza conhecendo o estilo de Eastwood.Tinha momento extremamente forçosos,impostos para gerar lágrimas que não geraram.Elenco fraquíssimo,inclusive o elogiado por todos Adam Beach.Sinceramente,minha decepção.

Túlio Moreira said...

Wanderley, engraçado porque justamente não vi nenhum destaque no elenco. É um filmaço, não há como negar, mas os personagens - individualmente - não são bem explorados como é de praxe em outras obras de Eastwood, a exemplo de um dos melhores papéis femininos da história em Menina de Ouro ou os atormentados de Sobre Meninos e Lobos.

Kamila said...

Wanderley, "A Conquista da Honra" não é um filme frio. Em muitos momentos, chorei. Também achei o Adam Beach fraco, mas generalizar o elenco como ruim é um exagero.

Túlio, também tenho altas expectativas sobre "Cartas de Iwo Jima". Até porque quero ver a visão de Eastwood sobre o homem que foi contra todos os preceitos japoneses do suicídio como a morte honrosa ao invés de encarar a derrota. Pelo que andei lendo, o General japonês foi um homem que lutou até o último instante.

Museu do Cinema said...

Adoro essa época do ano, o pessoal fica doido no cinema, não sai mais de lá...

Anonymous said...

Kamila, corrigindo: nao entendi porque vc nao gostou MUITO do filme...(visto que a nota ficou abaixo de 8,0). Mas isso vc respondeu, entao. Aqui soh vai dar pra ver quando o cinema de arte em Århus reprisar o filme, como fez com "Bobby", visto que ambos estrearam ano passado e jah sairam de cartaz. E "Cartas de Iwo Jima" (estreia 23/02) nao vai dar pra assistir mesmo=/
Vou ficar sem muito Eastwood na telona:(

Anonymous said...

Tudo bom, Kamila?
Infelizmente A Conquista da Honra não foi exibido na minha cidade, o que me impede de comentar abertamente a respeito do filme. Mesmo sendo dirigido por Eastwood, o filme me transmite uma irritante impressão de que trata-se de mais um filme de guerra dentre centenas já produzidos, mesmo que sua mensagem seja relevante para ser bastante discutida.

Anonymous said...

Ah, respondi teu comentario sobre o Ryan Gosling lah no blog do Cassiano. Boa semana!
=*

Otavio Almeida said...

FILMAAAAAAAAAAAAAAAÇOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Bjs!

Túlio Moreira said...

Romeika, acho que A Conquista da Honra é daqueles filmes que por mais que você goste muito não consegue dar uma nota muito alta... Não sei porque acontece isso, mas me sinto nessa situação.

Kamila, essa "cultura do suicídio" no Oriente sempre me despertou interesse, assim como todos os aspectos das tradições japonesas. E um homem que desafia isso só pode ser a premissa para uma OBRA-PRIMA do cinema!

Beijos pras duas!

Anonymous said...

P.S.: Romeika, fiz um comentário lá no CK em cima do fato de vc não ter gostado tanto de "A Rainha".

Beijão!

Kamila said...

Cassiano, eu também adoro essa época do ano. É a melhor em termos de estréias de filmes. É impossível não querer sair de casa para assistir a um desses filmes.

Alex, sua impressão sobre "A Conquista da Honra" é um pouco equivocada. O filme, claro, fala sobre a guerra, mas trata principalmente dos efeitos da guerra nas vidas daqueles que sobrevivem. Dê uma chance ao filme e obrigada pela visita.

Túlio, também me interesso muito por esse lado da cultura japonesa, pois enquanto muita gente encara o suicídio como algo vergonhoso, os japoneses encaram o suicídio como honra e um ato de coragem. É muito interessante isso.

Anonymous said...

Se não me engano, essa tradição é chamada lá de "seppuku". Inclusive, uns tempos atrás tava acontecendo "ondas de suicídio" coletivo. Que espectador não chegou a pensar que esse seria o destino da Chieko em Babel?

Beijo!

Museu do Cinema said...

Túlio, eu vejo essa história do suicidio japones de outra forma, pelo menos na guerra.

Eles, por tratarem tão mau os prisioneiros de guerra, achavam que sofreriam o mesmo tratamento se capiturados, por isso preferiam se matar do que passar pelos horrores que eles submetiam seus presos.

Kamila said...

Eu pensei que o suicídio seria o caminho escolhido pela Chieko, Túlio.

Anonymous said...

Cassiano, essa hipótese lembra o sistema de defesa natural do escorpião, que prefere se matar a ter que sofrer. A filosofia oriental ainda é um enigma para nós ocidentais. Me lembro agora da primeira vez que vi um filme japonês, o quanto os costumes me chocaram. Hoje não, às vezes tenho até vontade de morar naquele magnífico país - sem desmerecer o nosso, claro.

Abs!

Túlio Moreira said...

Romeika, como não sei como entrar em contato diretamente com vc, deixarei um recadinho aqui. Espero que a Kamila não se importe!

Deixei lá no CK (no post de "A Rainha") uma daquelas perguntinhas que todo cinéfilo adora responder!

Beijo!


Kamila, realmente o Iñárritu conseguiu deixar o espectador com o coração na mão naquele final de "Babel". Não é à toa que é um dos finais mais bonitos de filmes.

Beijo!