O filme “Batismo de Sangue”, do diretor Helvécio Ratton, se passa no final dos anos 60, quando a esquerda brasileira mudou de atitude em relação à ditadura militar. Eles aprenderam que as palavras e as imagens não eram suficientes para bater o regime, e viram que somente com a luta armada eles poderiam ser escutados e fazer com que a situação mudasse de figura. Baseado no livro homônimo de Frei Betto, “Batismo de Sangue” conta a história real de como quatro freis dominicanos – interpretados por Caio Blat, Daniel de Oliveira, Léo Quintão e Odilon Esteves – participaram da resistência contra a ditadura militar brasileira.
O roteiro do filme, que foi escrito pelo diretor Helvécio Ratton e por Dani Patarra, coloca o foco no frei Tito (Blat, ótimo), que junto com os amigos Betto (Oliveira), Fernando (Quintão) e Ivo (Esteves) passam a usar a independência do convento dos frades dominicanos (uma das poucas instituições a não ser controlada pelos militares) para apoiar o grupo guerrilheiro Ação Libertadora Nacional, comandado por Carlos Marighella (Marku Ribas).
Assim como acontecia com todos aqueles que se envolviam com a luta armada, as atividades dos quatro freis dominicanos começam a ser monitoradas pelos órgãos de controle do regime. É nesse momento que a trama de “Batismo de Sangue” se divide em dois eixos: um que acompanha a prisão de Fernando e Ivo e o outro que acompanha Betto no seu papel de ser o atravessador dos envolvidos na luta armada pela fronteira que dividia o Brasil com outros países, como o Uruguai.
“Batismo de Sangue” entra no seu melhor momento quando os quatro amigos se encontram juntos – e presos – nas “delegacias” do regime. Sofrendo horrores com as torturas impostas pelo Papa (Cássio Gabus Mendes, excelente), os amigos vêem os seus ideais cristãos – bem como a amizade e a união existente entre eles – cada vez mais fortes. O viés interessante, neste sentido, é que, enquanto Betto, Fernando e Ivo acreditam piamente que a prisão não tira a liberdade deles; Tito se mostra muito mais frágil emocionalmente e quando é obrigado a viver em exílio na França, se sente numa prisão ainda maior – e dominada pelas péssimas lembranças dos tempos de tortura.
Helvécio Ratton, com “Batismo de Sangue”, realiza um filme muito bom e que tem como ponto forte o retrato cruel das cenas de tortura sofridas por Tito, Ivo e Fernando – as quais chegam a chocar até demais pela realidade com que foram filmadas. Além disso, o filme serve como um documento bem interessante da história do Brasil. Mesmo se passando no final dos anos 60, em uma realidade completamente diferente da que vivemos atualmente, “Batismo de Sangue” revela que os conflitos brasileiros são os mesmos de sempre: existe esse senso de que se tem uma luta constante pelo povo, quando, na realidade, o povo está pouco se lixando para o que está acontecendo.
Cotação: 9,5
Batismo de Sangue (Batismo de Sangue, Brasil, 2006)
Diretor(es): Helvecio Ratton
Roteirista(s): Dani Patarra, Helvecio Ratton
Elenco: Kassia Lumi Abe, Marco Amaral, Júlio Andrade, Ângelo Antônio, José Carlos Aragão, André Arteche, Luiz Arthur, Leonardo Bertollini, Caio Blat, Bya Braga, Rômulo Braga, Léo Brasil, Marcus Brina, Raquel Campolina, Marcelo Campos
O roteiro do filme, que foi escrito pelo diretor Helvécio Ratton e por Dani Patarra, coloca o foco no frei Tito (Blat, ótimo), que junto com os amigos Betto (Oliveira), Fernando (Quintão) e Ivo (Esteves) passam a usar a independência do convento dos frades dominicanos (uma das poucas instituições a não ser controlada pelos militares) para apoiar o grupo guerrilheiro Ação Libertadora Nacional, comandado por Carlos Marighella (Marku Ribas).
Assim como acontecia com todos aqueles que se envolviam com a luta armada, as atividades dos quatro freis dominicanos começam a ser monitoradas pelos órgãos de controle do regime. É nesse momento que a trama de “Batismo de Sangue” se divide em dois eixos: um que acompanha a prisão de Fernando e Ivo e o outro que acompanha Betto no seu papel de ser o atravessador dos envolvidos na luta armada pela fronteira que dividia o Brasil com outros países, como o Uruguai.
“Batismo de Sangue” entra no seu melhor momento quando os quatro amigos se encontram juntos – e presos – nas “delegacias” do regime. Sofrendo horrores com as torturas impostas pelo Papa (Cássio Gabus Mendes, excelente), os amigos vêem os seus ideais cristãos – bem como a amizade e a união existente entre eles – cada vez mais fortes. O viés interessante, neste sentido, é que, enquanto Betto, Fernando e Ivo acreditam piamente que a prisão não tira a liberdade deles; Tito se mostra muito mais frágil emocionalmente e quando é obrigado a viver em exílio na França, se sente numa prisão ainda maior – e dominada pelas péssimas lembranças dos tempos de tortura.
Helvécio Ratton, com “Batismo de Sangue”, realiza um filme muito bom e que tem como ponto forte o retrato cruel das cenas de tortura sofridas por Tito, Ivo e Fernando – as quais chegam a chocar até demais pela realidade com que foram filmadas. Além disso, o filme serve como um documento bem interessante da história do Brasil. Mesmo se passando no final dos anos 60, em uma realidade completamente diferente da que vivemos atualmente, “Batismo de Sangue” revela que os conflitos brasileiros são os mesmos de sempre: existe esse senso de que se tem uma luta constante pelo povo, quando, na realidade, o povo está pouco se lixando para o que está acontecendo.
Cotação: 9,5
Batismo de Sangue (Batismo de Sangue, Brasil, 2006)
Diretor(es): Helvecio Ratton
Roteirista(s): Dani Patarra, Helvecio Ratton
Elenco: Kassia Lumi Abe, Marco Amaral, Júlio Andrade, Ângelo Antônio, José Carlos Aragão, André Arteche, Luiz Arthur, Leonardo Bertollini, Caio Blat, Bya Braga, Rômulo Braga, Léo Brasil, Marcus Brina, Raquel Campolina, Marcelo Campos
15 comments:
Ainda não vi, mas pretendo pois li o livro de Frei Beto e achei sublime. Dizem que a dupla Caio Blat e Daniel de Oliveira está ótima. E além disso eu tenho boas recordações do Helvécio por conta do excelente Uma Onda no Ar, aquele filme sobre a Rádio Favela.
(http://claque-te.blogspt.com): 9 Canções, de Michael Winterbottom.
(http://poemasderodape.blogspot.com): Pequenos Takes de um Mundo Caótico.
Desde que assisti o trailer, estou na expectativa para assisti-lo. Com sua ótima nota, e resenha, fiquei ainda mais ansioso.
Será que rola uma indicação ao Oscar de Melhor Filme estrangeiro, Kamila?
Roberto, a dupla Caio Blat e Daniel de Oliveira está perfeita mesmo. Eu não sabia que o filme era baseado num livro do Frei Betto e fiquei com curiosidade de ler a obra após assistir ao filme.
Ramon, este filme é muito bom mesmo. Não sei se tem chances de indicação ao Oscar, porque primeiro temos que ver qual o filme que deve ser selecionado para representar o Brasil pela comissão do MinC. Mas, eu acredito que a comissão deve privilegiar um filme que estreou este ano nos cinemas.
Fiquei realmente surpreso com seus comentários e sua cotação para esse filme, até porque esperava algo bem ruim (ainda não vi). Muita gente não gostou, mas a trama parece ser interessante. Devo conferir quando o DVD chegar por aqui.
Abraço!
Vinícius, eu assisti "Batismo de Sangue" sem nenhuma expectativa e realmente adorei o filme. E, após assistí-lo, só li coisas boas a respeito dele.
Beijos.
Eu quase vi esse filme quando estava em BH, mas por falta de tempo, acabou não dando. Batismo de Sangue e O Cheiro do Ralo são dois filmes brasileiros dos quais aquardo bastante e verei ambos assim que puder. Sua crítica só me deixou mais ansioso.
Ciao.
Creio que o filme seja bom ... mas esse tema ... está saturado até dizer chega ... assim como vc disse sobre o torture porn, se esse tema tá saturando ... a ditadura militar também está ...
e sim ... novidades no blog ... veja lá
É bom saber que a atual safra de cinema nacional tá sendo boa.
Acho um dos melhores retratos da época mais vergonhosa da nossa história. A única coisa que realmente me irrita é o discurso mecânico de expressões pré-prontas sobre revolução. Você tocou na ferida com seu último parágrafo. Adorei.
Cotação: ****
Cinema nacional cresce cada vez mais, isso é ótimo. Esse aí tá na minha lista e nesse final de semana pretendo ver O Cheiro Do Ralo.
Beijão e bom findi. =D
KAMILA
Talvez seja meu desconhecimento.
Acho seu blog sensacional, mas sinto falta de um recurso que seria superbacana. Digamos que eu queira encontrar seu comentário - ainda dos tempos do e-pipoca - sobre um filme do Woody Allen.
Teria de sair procurando? Se houvesse um procurador dentro do site seria tão mais legal.
Fica a sugestão. E me desculpe se já houver e eu não souber usar.
Abraço. [Caso possa, passe a resposta para o meu luiz_serenini@hotmail.com]
Wally, assisti aos dois filmes que você citou e acho que "Batismo de Sangue" é bem melhor que "Cheiro". Se não assistiu ainda, indico também "O Céu de Suely", que é um filmaço.
João, mas "Batismo de Sangue" apresenta a ditadura por outro prisma. A história da resistência desses freis é muito bonita. E o "torture porn" funciona aqui de maneira muito melhor do que em filmes como "O Albergue".
Cassiano, é ótimo ver o cinema brasileiro nessa boa fase.
Luciano, esses discursos prontos também me irritam bastante. Acho que temos que ser diretos mesmo, sem rodeios e expressões batidas.
Marcus, assista aos dois filmes e também ao "Céu de Suely".
Beijos e bom final de semana!
Esse é outro filme nacional do ano que quero muito ver, embora o tema "tortuna na época da Ditadura" esteja um pouco saturado. Mas quem sabe o diretor conseguiu trazer ao de novo à situação. Pelo Caio Blat vale ver o filme. Até!!
Rafael, o diretor consegue apresentar algo novo. "Batismo de Sangue" é imperdível.
Amigo, voltando as preciosas informações.
Deixo mais esses textos e uma observação a traição de Frei Tito, em Batismo de Sangue, ao país e a igreja é agravado pelo seu suicídio que é um pecado considerado "imperdoável" pela igreja cristã e judaica e os estudos da psiquiatria não autorizam a ligação da sua suposta tortura com sua tendência suicida.
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Sim, suposta tortura porque pode te sido inventada para amenizar seus terríveis pecados criminosos assassinos (batismo de sangue) e seu suicídio absurdo.
Hoje, Frei Betto ainda atuou indicando, para o mensalão, o Ministro marron Barbosão achando que os estudos do excelente Ministro eram de araque e ele seria vaquinha de presépio ao nhonhô Lullarápio. O Ministro está sendo "preto no branco" e agora os bandidos da esquerda (Lulla) dizem que ele é complexado.
Um outro ministro indicado pela quadrilha para o mensalão, José Antonio Dias Toffoli, não passou nem em concurso para juiz simples e ainda esteve envolvido com processos no justiça. Esse, tudo indica é da laia.
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- FREI BETTO E SANDRA STARLING - CARTAS DE EX-PETISTAS QUE NÃO CONSEGUIRAM ACERTAR A GRANA:
http://cinenegocioseimoveis.blogspot.com.br/2012/05/frei-beto-e-starling-de-ex-petistas.html
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Bruce Bueno de Mesquita e Alastair Smith: “Khadafi caiu porque foi bom demais”:
http://cinenegocioseimoveis.blogspot.com.br/2012/08/bruce-bueno-de-mesquita-e-alastair.html
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- O QUE É UM REVOLUCIONÁRIO OU A MENTE REVOLUCIONÁRIA?
http://cinenegocioseimoveis.blogspot.com.br/2012/08/o-que-e-um-revolucionario-ou-mente.html
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- O DETETIVE E A ORIGEM DA PALAVRA POLÍTICA E a ÉTICA:
http://cinenegocioseimoveis.blogspot.com.br/2012/08/o-detetive-e-origem-da-palavra-politica.html
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Abraço a Todos
Osvaldo Aires
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