Quando encontramos Diane Arbus (Nicole Kidman), na primeira cena de “A Pele”, do diretor Steven Shainberg, ela está a caminho de um campo de nudismo, local que seria o objeto principal de sua próxima série de fotografias. Os adeptos do naturalismo foram somente um dos personagens da obra de Arbus. Ela também entrou em contato com anões, pessoas com sérios distúrbios mentais, homens que se travestiam de mulher; bem como retratou elementos rotineiros, como uma decoração de Natal e um jovem em plena passeata pró-Guerra do Vietnã, entre tantos outros.
Todos estes personagens, de uma certa maneira, estão representados pela figura de Lionel Sweeney (Robert Downey Jr.), o vizinho de Diane Arbus, e pessoa que – de acordo com o roteiro de Erin Cressida Wilson, tendo como base o livro de Patricia Bosworth – marcará a grande virada na vida de Arbus: o momento em que ela deixa de ser a assistente de seu marido Allan (Ty Burrell) no estúdio fotográfico familiar que eles mantinham, e vai procurar escutar a sua própria voz, fazendo as suas próprias fotografias.
“A Pele” não é uma biografia convencional, ou seja, não retrata a vida de Diane Arbus pela ótica de seu ambiente familiar (do contato com os pais ricos e donos de uma loja que vendia casaco de peles e roupas femininas; ou do relacionamento estabelecido com o marido Allan e as duas filhas Grace e Sophie), de seu sucesso profissional (a obra de Arbus foi marcada pelo interesse no indivíduo, pela vontade de trocar experiências e de se conectar com outros seres) e de seu trágico fim (ela cometeu suicídio em 1971, aos 48 anos). O objetivo de Erin Cressida Wilson e do diretor Steven Shainberg é fazer um retrato imaginário do momento em que Diane Arbus assumiu o seu gosto pelos indivíduos que viviam às margens da sociedade e que ofereciam um retrato bem mais interessante do que o mundo da cultura de consumo e das necessidades materiais, de riqueza e de luxo (leia-se o mundo em que ela mesma vivia e que era difundido pelas fotografias de seu marido). Neste sentido, o ponto forte do filme se encontra no tipo de troca que Diane estabelece com Lionel e seu estranho grupo de amigos.
É através do relacionamento entre Lionel e Diane que vemos também um dos elementos principais da personalidade da Diane fotógrafa e da Diane mulher. Ela não criava um ambiente para as suas fotografias. Arbus ia onde a foto estava e abordava seus personagens em bares, clubes e ruas. Diane se interessava pelas histórias de vida daqueles a quem ela fotografava. Ela conversava com eles, os deixava completamente à vontade; para, só depois, flagrá-los naquilo que os teóricos chamam de momento decisivo para se fazer a fotografia. Assim como acontecia com a obra de Diane Arbus, com “A Pele”, o diretor Steven Shainberg faz um filme muito interessante do ponto de vista visual (aqui, podemos destacar também o ótimo trabalho do diretor de fotografia Bill Pope, do diretor de arte Nick Ralbovsky e do figurinista Mark Bridges) e que mostra uma visão de mundo diferente e nada imaginária. Ela é totalmente verdadeira com o seu personagem principal.
Cotação: 7,5
A Pele (Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus, EUA, 2006)
Diretor(es): Steven Shainberg
Roteirista(s): Erin Cressida Wilson
Elenco: Nicole Kidman, Robert Downey Jr, Ty Burrell, Harris Yulin, Jane Alexander (1), Emmy Clarke, Genevieve McCarthy, Boris McGiver, Marceline Hugot, Mary Duffy, Emily Bergl, Lynne Marie Stetson, Gwendolyn Bucci, Christina Rouner, Matt Servitto
Todos estes personagens, de uma certa maneira, estão representados pela figura de Lionel Sweeney (Robert Downey Jr.), o vizinho de Diane Arbus, e pessoa que – de acordo com o roteiro de Erin Cressida Wilson, tendo como base o livro de Patricia Bosworth – marcará a grande virada na vida de Arbus: o momento em que ela deixa de ser a assistente de seu marido Allan (Ty Burrell) no estúdio fotográfico familiar que eles mantinham, e vai procurar escutar a sua própria voz, fazendo as suas próprias fotografias.
“A Pele” não é uma biografia convencional, ou seja, não retrata a vida de Diane Arbus pela ótica de seu ambiente familiar (do contato com os pais ricos e donos de uma loja que vendia casaco de peles e roupas femininas; ou do relacionamento estabelecido com o marido Allan e as duas filhas Grace e Sophie), de seu sucesso profissional (a obra de Arbus foi marcada pelo interesse no indivíduo, pela vontade de trocar experiências e de se conectar com outros seres) e de seu trágico fim (ela cometeu suicídio em 1971, aos 48 anos). O objetivo de Erin Cressida Wilson e do diretor Steven Shainberg é fazer um retrato imaginário do momento em que Diane Arbus assumiu o seu gosto pelos indivíduos que viviam às margens da sociedade e que ofereciam um retrato bem mais interessante do que o mundo da cultura de consumo e das necessidades materiais, de riqueza e de luxo (leia-se o mundo em que ela mesma vivia e que era difundido pelas fotografias de seu marido). Neste sentido, o ponto forte do filme se encontra no tipo de troca que Diane estabelece com Lionel e seu estranho grupo de amigos.
É através do relacionamento entre Lionel e Diane que vemos também um dos elementos principais da personalidade da Diane fotógrafa e da Diane mulher. Ela não criava um ambiente para as suas fotografias. Arbus ia onde a foto estava e abordava seus personagens em bares, clubes e ruas. Diane se interessava pelas histórias de vida daqueles a quem ela fotografava. Ela conversava com eles, os deixava completamente à vontade; para, só depois, flagrá-los naquilo que os teóricos chamam de momento decisivo para se fazer a fotografia. Assim como acontecia com a obra de Diane Arbus, com “A Pele”, o diretor Steven Shainberg faz um filme muito interessante do ponto de vista visual (aqui, podemos destacar também o ótimo trabalho do diretor de fotografia Bill Pope, do diretor de arte Nick Ralbovsky e do figurinista Mark Bridges) e que mostra uma visão de mundo diferente e nada imaginária. Ela é totalmente verdadeira com o seu personagem principal.
Cotação: 7,5
A Pele (Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus, EUA, 2006)
Diretor(es): Steven Shainberg
Roteirista(s): Erin Cressida Wilson
Elenco: Nicole Kidman, Robert Downey Jr, Ty Burrell, Harris Yulin, Jane Alexander (1), Emmy Clarke, Genevieve McCarthy, Boris McGiver, Marceline Hugot, Mary Duffy, Emily Bergl, Lynne Marie Stetson, Gwendolyn Bucci, Christina Rouner, Matt Servitto
27 comments:
Pois é Kamila, coincidencia, ou seriam(segundo o Thomas Anderson)destinos entrelaçados? heheh.
Gostei muito do filme também, e pensar que nem conhecia o trabalho dela antes de "A Pele".Ter o Kubrick como fã, como era o caso da "DeeAnn", não é pra qualquer mulher neh..
Bom findi pra vc tb!!
Quero muito ver esse filme!
Excelente texto
Abraços
É Kamila, sua visão do filme é diferente da minha, mas é questão de interpretação, vc foi mais "poética", achando que Lionel na verdade é uma mistura de todas as pessoas fotografadas por Diane!
Legal ter mencionado o trabalho de fotografia do filme, é sensacional mesmo!
Rogerio, foi uma coincidência muito boa a gente colocar posts sobre este filme no mesmo dia. :-)
Entrei em contato com a obra da "DeeAnn" na pós-graduação, quando fiz um trabalho sobre ela. E o que ela fez foi muito interessante, no sentido de que ela foi uma pioneira mesmo no que diz respeito à apresentação de fotos e nos personagens que ela fotografava.
Andressa, o filme é maravilhoso e recomendo.
Cassiano, a impressão que eu tive foi essa. O Lionel representa todos esses personagens "freaks" que a Diane fotografava e ele foi o estopim, como o filme bem coloca. E achei o trabalho visual do filme belíssimo mesmo.
Bom final de semana!
Muitos bombardearam esse filme, mas eu sou um de seus defensores. Apesar de ser cheio de erros (a direção é desastrosa), também tem seus méritos, e um deles é Kidman, que está ótima!
NOTA: 6.5
Não cheguei a odiar esse filme, mas considero um dos piores desse ano. A história tem lá seu interesse, mas não gosto de seu tom pouco convencional - ao menos não da forma como é tratado, para mim sem compromisso algum. E a Kidman e o Downey Jr. estão bem, mas não consegui me encantar com a trama.
Abraço!
Putz, nem vi esse da Nicole Kidman, nem estou vendo muitos filmes últimamente. Você já viu aquela ficção "Invasores" com ela? Uma re-re-refilmagem do filme do Don Siegel?
Kamila, quero muito ver esse filme, e a sua resenha aguçou ainda mais a minha vontade de procurar o dvd pra alugar. Conheço pouco do trabalho da fotógrafa, mas vi algumas fotos na net certa vez, e os fotografados batiam com essa descrição que vc faz no início do texto. A sensação que eu tive foi de um pouco de repugnância, mas mesmo assim de interesse em continuar olhando as outras fotos.
Imagino que mudança ela sofreu na carreira, ao deixar a beleza e o glamour de lado pra produzir um trabalho totalmente diferente.
Matheus, me coloco também no grupo que defende o filme. E a Nicole está ótima como Diane.
Vinícius, me permita discordar de seu comentário. O que "A Pele" tem de melhor é justamente seu formato não convencional. Eu acho que o filme faz muito jus ao que a Diane foi. Gostei bastante de "A Pele".
Thales, ainda não assisti "Invasores", pois o filme não chegou por aqui.
Romeika, as fotos da Diane não me causam repugnância. Elas são até bem interessantes, porque as fotos dela mostram uma felicidade tremenda. O que contrastava diretamente com a imagem que a gente tem de certas coisas e, até mesmo, contrastava com a própria vida da Diane Arbus.
Gostei também, adorei a fotografia, amei as atuações, e apesar das falhas no roteiro e na direção, ficou satisfatório.
Nota 7,0
Concordo, Wally. O resultado do filme é satisfatório.
Kamila, eu posso ter feito uma interpretação errada, mas dessa única vez que eu vi algumas das fotos dela, só pude pensar uma coisa: "parece um show de horrores":-p Mas não estou diminuindo a obra dela, pelo contrário.
Eu não sou um grande adimirador desse filme não. Achei bastante frio e distante, apesar das bizarrices e dos estranhos personagens que surgem na tela. Nicole está sempre bem, mas o roteiro não ajuda muito. Não sei se era melancolia o que a atmosfera do filme queria passar, mas em mim deu foi sono.
Eu ainda não vi o filme, Kamila. Não tive coragem. Mas por sua bela crítica, acho que vou arriscar.
E já escrevi lá no blog sobre O ASSASSINATO DE JESSE JAMES PELO COVARDE ROBERT FORD.
Bjs! E bom domingo!
Romeika, muita gente pensava, a princípio, que a Diane fotografava um show de horrores. Mas, existe algo de mais profundo na obra dela. E, não se preocupe, que eu sei que você não está diminuindo a obra dela.
Rafael, não acho que o filme queria passar melancolia. Acho que o filme queria marcar mesmo este encontro definitivo na vida de Diane. O momento em que ela assume esse gosto pelos personagens que vivem à margem da sociedade.
Otavio, como você pode perceber pelos comentários, "A Pele" foi um filme que dividiu opiniões. Eu adorei o filme e espero saber o que você achou dele.
Beijos e bom domingo!
Kamila, fiz uma análise superficial mesmo, afinal, só vi algumas fotos uma vez e nunca mais. Conhecendo mais da obra dela, tenho certeza que entenderia mais dos seus interesses por trás dos retratos.
Sim, comentei no teu post de "Perfume", passa lá. Beijos e bom domingo tb!
Opa, Romeika. Vou dar uma olhada lá no post.
Kamila. Até concordo que seu estilo faz muito jus ao que a Diane foi, mas não possibilita uma maior indentificação por parte do espectador - ao menos no meu caso. Gostaria que tivessem feito algo como "Em Busca da Terra do Nunca", com fantasia na medida certa, mas também um paralelo real no qual o espectador pudesse se espelhar.
Abraço!
Kamila, sou o primeiro a atirar uma pedra nos escorregões da Nicole, mas realmente não vejo motivo para tanta rejeição de A Pele, ou melhor vejo sim.Shainberg utiliza elementos nada claros para expressar o universo de Arbus, alguns estranhos e bizarras figuras e cenas.Tudo faz parte de uma descoberta e libertação da personagem.A parte tecnica é realmente perfeita principalmente direção de arte, falo do apartamento de Lionel, e figurinos.
A Pele é da série dos filmes incompreendidos e injustiçados!
Ainda não o vi, mas sinto que é um filme rico em detalhes visuais e não visuais....algo feito para ver e desfrutar idéias!
Quero muito assistir...
xD
Beijo!
Vinícius, agora, sim, concordamos. Realmente, o filme não permite a conexão com a personagem e pode fazer mais sentido para aqueles que já conheciam a obra dela. Se o Shainberg tivesse chegado nesse meio-termo entre fantasia e realidade, talvez o resultado geral tivesse sido mais satisfatório.
Wanderley, o filme trata mesmo dessa jornada de libertação da Diane. Acho também que se o Shainberg tivesse pegado menos no lado da fantasia o resultado fosse ser mais satisfatório.
William, você está certo. "A Pele" é riquíssimo do ponto de vista visual.
Beijos.
Gostei da coincidência nas postagens. hehe!Bom para os espectadores que ainda não assistiram o filme. São duas boas opniões. Com certeza darei prioridade à obra.
Muito bem, Ramon. Depois que assistir ao filme, deixa sua opinião.
Filme que valeu muito a pena, adoro a Nicole ela entrega uma ótima performance, como sempre, nunca tinha ouvido falar em Diane Arbus, atravéz do filme que fiquei conhecendo o que é sempre vantojoso e interessante cada vez pegar mais conhecimento, e vendo filmes então, o prazer é grande, Robert Downey Jr. é outro que está bem e sua relação com a personagem de Nicola segura legal as pontas do filme. Nota 6.5!
Kamila, parabéns pelo blog, é a primeira vez que comento aqui, posso indicá-lo no meu? = www.cinedewonny.blogspot.com
Abs!
Dewonny, obrigada pelo comentário. "A Pele" é um ótimo filme e, é claro que, se você quiser, pode indicar o Cinéfila por Natureza em seu blog.
Blz, já indiquei, se der, indica o meu aí = (Cine Dewonny)
Hehe..estarei comentando aqui os filmes q vc postar q eu tenha visto, abs!
Indicação feita, Diego.
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