
Nascida na comunidade de Grasse, no ano de 1915, Edith Piaf era filha de um casal ligado à classe artística. A mãe (que, no filme, é interpretada por Clotilde Courou), uma cantora que nunca obteve sucesso, e o pai (interpretado por Jean-Paul Rouve), um contorcionista, não proporcionaram à Edith o crescimento em um lar estável. Quando criança, era negligenciada pela mãe e foi abandonada pelo pai em um bordel; para depois ser reintegrada ao seu convívio tendo que trabalhar se apresentando nas ruas parisienses para ajudar a sustentar os dois.
A grande virada na vida de Piaf aconteceu quando ela conheceu o empresário Louis Leplée (Gerard Depardieu), o dono de uma casa noturna em Paris. Através dele, Edith foi apresentada a personalidades do mundo da música que iriam acompanhá-la até o dia de sua morte (10 de Outubro de 1963, quando a cantora tinha somente 48 anos, mas com uma aparência – e a fragilidade – de uma mulher de 70 anos) e a transformariam na grande intérprete que ela foi – especialmente Raymond Asso (Marc Barbé), o homem que lapidou o dom que a cantora possuía.
No entanto, a maior sacada do diretor Olivier Dahan, em “Piaf – Um Hino ao Amor”, foi encontrar a verdadeira essência da personalidade de Edith Piaf. Mesmo ela tendo sido uma mulher que foi extremamente magoada durante toda a sua vida e, apesar de ter perdido aqueles a quem mais amava – além de Louis Leplée, que ela chamava de seu segundo pai; foram a prostituta Titine (Emmanuelle Seigner), que a amou como se fosse sua mãe; e o boxeador Marcel Cerdan (Jean-Pierre Martins), que foi o homem de sua vida –, a fé inabalável que ela tinha em Santa Teresa nunca a deixou perder a crença no amor. E ela fez desse sentimento a sua maior inspiração, ao cantar músicas sobre o tema que se tornariam verdadeiros clássicos, como “La Vie em Rose”, “Hymme à L’amour”, “Sous le Ciel de Paris”, “Les Amants d’un Jour”, entre tantas outras – porém, no filme, toda a vida de Piaf pode ser sintetizada por uma outra canção, “Non, Je Ne Regrette Rien”, que ela canta emocionada em sua volta aos palcos parisienses na cena que encerra “Piaf – Um Hino ao Amor”.
Mais do que a sua complexa – e interessante – personagem principal, o melhor motivo para se assistir ao filme “Piaf – Um Hino ao Amor” é a interpretação da – desde já favorita ao Oscar 2008 de Melhor Atriz – francesa Marion Cotillard (antes vista em papéis de pequeno destaque em filmes como “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas”, de Tim Burton, e “Um Bom Ano”, de Ridley Scott). Assim como Judy Davis na minissérie “A Vida com Judy Garland” e Helen Mirren no filme “A Rainha”, Cotillard mergulha fundo na alma de seu personagem. Aqui, não existem limites entre atriz e Piaf. As duas são uma só. E é por ela – e pelo excelente trabalho de figurinos, direção de arte e fotografia, que merecem também uma atenção especial do Oscar – que a gente perdoa os erros de transição cometidos pelo diretor Olivier Dahan.
Cotação: 7,0
Piaf - Um Hino ao Amor (La Môme, França, Inglaterra, República Tcheca, 2007)
Diretor(es): Olivier Dahan
Roteirista(s): Olivier Dahan, Isabelle Sobelman
Elenco: Marion Cotillard, Sylvie Testud, Pascal Greggory, Emmanuelle Seigner, Jean-Paul Rouve, Gérard Depardieu, Clotilde Courau, Jean-Pierre Martins, Catherine Allégret, Marc Barbé, Caroline Silhol, Manon Chevallier, Pauline Burlet, Elisabeth Commelin, Marc Gannot